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O coração que ora

Arthur Wallis

“Arai o campo de pousio; porque é tempo de buscar ao Senhor, até que ele venha, e chova a justiça sobre vós” (Os 10.12).

O campo de pousio [terra dura, não cultivada] enquanto não é arado nos parece sugerir um estado de complacência e de permanência, como se sempre tivesse estado nessa condição estéril e não houvesse nenhuma probabilidade de ser diferente. Entretanto, quando o arado faz o seu trabalho, que aspecto diferente nos apresenta! É verdade, ainda é estéril, mas em vez de mostrar um ar de complacência, vê-se agora um ar de expectativa, de esperança, de desejo. Antes, o campo endurecido conservava a umidade e não tinha necessidade ou desejo de chuva, mas, depois de arado, ficou com sede, como se clamasse aos céus por chuva. Assim, a ligação entre arar o campo de pousio e buscar o Senhor é clara. Só um coração profundamente arado pode produzir o tipo de oração que prevalece com Deus e traz avivamento.

Assim era o coração de Neemias, em plena harmonia com o coração do Eterno, batendo em sintonia com o pulso celestial. Desde o primeiro capítulo de seu livro, quando ele recebe a notícia, lá do distante cativeiro, contando as desolações de Sião, o coração desse homem de Deus é desnudado para nós. “Os restantes, que não foram levados para o exílio e se acham lá na província, estão em grande miséria e desprezo; os muros de Jerusalém estão derribados, e as suas portas, queimadas.” (Ne 1.3). Esta foi a situação que gerou tal encargo para orar no coração de Neemias.

Visão da necessidade

Essencial para uma intercessão poderosa, capaz de trazer avivamento, é uma visão clara da necessidade. O que foi que comoveu tão profundamente este homem de Deus? Em primeiro lugar, foi o fato de o povo de Deus estar “em grande aflição e opróbrio”. Ele viu “Icabode” escrita sobre toda a nação: “foi-se a glória de Israel” (1 Sm 4.21). As pessoas que tinham sido tão poderosamente libertas pela mão estendida de Deus estavam novamente na escravidão. No passado, as nações as viam como um povo glorioso, poderoso e livre, mas depois foram vergonhosamente rebaixadas. Esse era o estigma que Neemias continuamente enfrentava ao iniciar o trabalho para restaurar o povo à posição desejada por Deus.

“Zombaram de nós, e nos desprezaram” (Ne 2.19); “Que fazem estes fracos judeus?” (4.2); “Ouve, ó nosso Deus, pois estamos sendo desprezados; caia o seu opróbrio sobre a cabeça deles” (4.4). Uma vez que eles eram o povo de Deus e chamados pelo seu nome, a vergonha deles era uma vergonha para Deus. A glória de Deus estava envolvida. Esta é a situação hoje. Deus tem ciúme pelo seu grande nome porque a sua Igreja, que deveria ser “formosa como a lua, pura como o sol, formidável como um exército com bandeiras” (Ct 6.10), está, muitas vezes, em cativeiro e aflição, motivo de escárnio e chacota de todo mundo.

Em segundo lugar, Neemias visualizou “os muros de Jerusalém… derribados“. O muro era a linha de demarcação que separava os que eram de dentro daqueles de fora. Uma cidade sem muros estava indefesa, uma presa fácil para qualquer inimigo saqueador. Em grande medida, hoje as muralhas da cidade estão destruídas, a Igreja perdeu sua marca de separação e suas defesas sumiram, deixando-a vulnerável aos ataques de Satanás.

Por fim, “as suas portas, queimadas“. Os portões eram a chave para o controle de toda cidade. Nos portões ficavam os magistrados da cidade, os anciãos, os nobres e os juízes (Dt 22.15; Jó 29.7-10; Pv 31.23). Quando os portões eram queimados, a autoridade e o governo da cidade desmoronavam e as pessoas eram subjugadas por inimigos. Nos dias da igreja primitiva “as portas da cidade” estavam intactas. O povo de Deus sabia que tinham autoridade no nome de Jesus e a utilizavam plenamente na pregação, na oração e no trabalho. Quão raramente essa autoridade e poder são exercidos hoje! São poucos aqueles de quem se possa dizer com verdade: “Não será envergonhado, quando pleitear com os inimigos à porta” (Sl 127.5).

Antes que se possa ver quais são realmente as potencialidades do momento, precisamos receber uma visão da necessidade. Poucos se dispõem a encarar os fatos; o estado da Igreja em geral é tão semelhante à condição de seus próprios corações que as pessoas se tornam insensíveis à necessidade que existe em ambos. Tais são “cegos, vendo só o que está perto” (2 Pe 1.9), a quem o Senhor deseja dizer: “Dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu” (Ap 3.17).

A necessidade da hora é de homens de calibre, como Neemias, para tocarem a trombeta em Sião e soarem um alarme no monte santo de Deus, a fim de abrir nossos olhos para que possamos ver “a miséria em que estamos, Jerusalém assolada, e as suas portas, queimadas“, e trazer o desafio: “vinde, pois, reedifiquemos os muros de Jerusalém e deixemos de ser opróbrio” (Ne 2.17).

Reação à necessidade

Tendo eu ouvido estas palavras, assentei-me, e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus” (Ne 1.4). Na reação à necessidade espiritual, o estado do coração é revelado. O Salvador não conseguia olhar para as multidões desgarradas, como ovelhas sem pastor, sem ser movido por compaixão. Ele não conseguia contemplar, sem lágrimas, a cidade de Jerusalém, que, mesmo ouvindo sua palavra e testemunhando seu poder, rejeitava a sua mensagem.

Como precisamos orar: “Senhor crucificado, dá-me um coração como o teu”. Tal coração tinha Neemias. Se tivesse sido outro, ele poderia ter acalmado sua consciência e seus sentimentos com o pensamento de que Jerusalém estava longe, que ele estava sendo muito bem tratado em Susã, a capital, e que as desolações de Sião não eram culpa dele; por que, então, ele precisaria se preocupar?

Ele poderia ter argumentado que essa situação era consequência do pecado do povo – de outras pessoas; e que cabia a elas, e não a ele, corrigir a situação. Ele poderia ter-se fortalecido na indiferença, afirmando que o fim daquela era (do período de cativeiro) estava iminente, que o julgamento sobre a apostasia do povo tinha sido previsto e, portanto, que não havia esperança de recuperação ou avivamento antes da vinda do Messias. Mas como foi diferente a sua atitude!

Se era um tempo em que Jerusalém estava tentada a dizer: “O Senhor me desamparou, o Senhor se esqueceu de mim.”, então Deus também estava pronto para responder com a ternura de uma mãe que amamenta seu filho: “Eis que nas palmas das minhas mãos te gravei; os teus muros [ainda que sejam caídos] estão continuamente perante mim“(Is 49.14-16). Foi o homem segundo o coração de Deus que recebeu a inspiração de escrever muito antes: “Orai pela paz de Jerusalém! Sejam prósperos os que te amam.” (Sl 122.6).

Por estar em sintonia com Deus, o coração de Neemias não conseguia contemplar as aflições de Jerusalém sem luto, nem era capaz de amá-la sem chorar. Para prevalecer em oração é necessário ter um coração compassivo e sensível, um profundo anseio pela glória de Deus e o bem do seu povo. Neemias chorou e lamentou. Enquanto nossa oração for fria, formal e sem lágrimas, não podemos esperar que Deus trabalhe em nosso favor, assim como o fez por Neemias. Aquele que “sai andando e chorando” é quem pode ter esperança de voltar “com júbilo, trazendo os seus feixes” (Sl 126.6). “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mt 5.4).

Em face de tanta necessidade, a tristeza de coração por si mesma não é suficiente, pois lágrimas não podem remediar a situação. A tristeza segundo Deus, no entanto, se for gerada pelo Espírito, moverá a vontade e a levará à ação. Disse Neemias: “estive jejuando e orando perante o Deus dos céus“.

Raramente a Igreja hoje recorre, mesmo diante de sua imensa necessidade, a esse remédio antiquado, porém ainda bíblico. Outros santos do Antigo Testamento, como Davi (Sl 109.24), Josafá (2 Cr 20.3), Esdras (Ed 8.21) e Daniel (Dn 9.3), não hesitaram em jejuar nos momentos de grande pressão ou quando a necessidade da hora o exigia. Jesus não só jejuou ele próprio (Mt 4.2; Jo 4.31-34), mas nos deu importante ensinamento sobre o assunto.

É necessário salientar que o Salvador disse: “Quando jejuardes” (Mt 6.16), não “se jejuardes”. Ele tomou como certo que haveria momentos em que seus seguidores sentiriam essa necessidade e, por isso, profetizou: “Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo, e nesses dias hão de jejuar” (Mt 9.15).

A igreja primitiva cumpriu essa profecia de Cristo. Foi a partir de um tempo de jejum que saíram aquelas poderosas viagens de Paulo para fundar igrejas que virou o mundo de cabeça para baixo. Ele e Barnabé foram separados para um ministério especial “servindo eles [com os outros profetas e mestres em Antioquia] ao Senhor e jejuando” (At 13.2). Foi com mais jejum e oração que foram enviados pela igreja e pelo Espírito Santo (At 13.3-4). Foi “em jejuns frequentes” que o grupo apostólico se recomendava a si mesmo como ministros de Deus para que não houvesse ocasião de tropeço (2 Co 6.3-5; 11.27).

“Sede meus imitadores“, exorta o apóstolo, “como também eu sou de Cristo” (1 Co 11.1). Muitos que foram poderosamente usados em avivamentos, bem como outros cujos nomes jamais serão conhecidos até o dia da revelação, seguiram o exemplo de Cristo e dos apóstolos e se entregaram inteiramente à oração dessa forma.

Nenhuma regra pode ser imposta porque não há regra alguma sobre jejum nas Escrituras. Fatores de saúde e força e circunstâncias gerais devem ser levados em consideração. Cada um deve ser guiado neste assunto pelos ditames do Espírito. Mas lembremo-nos de que uma situação desesperada exige medidas desesperadas. O jejum é uma indicação de que estamos falando sério com Deus. “Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração”, diz o Senhor (Jr 29.13).

Intercessão pela necessidade

Neemias registra o conteúdo da oração que ele, diante da situação, ofereceu, a qual certamente deve ser incluída entre as maiores orações das Escrituras. Observe, em primeiro lugar, quão majestosa é a sua concepção de Deus. Sua avaliação da enorme necessidade de Israel é mais do que compensada pela sua apreciação da grandeza do seu Deus para lidar com ela. Se não fosse essa visão da grandiosidade do Senhor, a imensidão do problema diante de Israel o teria levado ao desespero.

Ouça, então, a sua oração: “Ah! Senhor, Deus dos céus, Deus grande e temível, que guardas a aliança e a misericórdia para com aqueles que te amam e guardam os teus mandamentos!” (Ne 1.5). Aqui está um coração cheio de reverente admiração por Deus e daquele temor do Senhor que é o princípio da sabedoria (Pv 9.10). Neemias pôde, inclusive, se incluir entre os “servos que se agradam de temer o teu nome” (Ne 1.11).

Quão raro é encontrar tal atitude para com Deus hoje, mesmo entre os santos! Como uma verdadeira marca de avivamento, entretanto, ela será encontrada onde quer que haja cristãos que paguem o preço pela consagração; também se alastra por toda parte quando Deus desce para a Terra em poder. Tal temor de Deus só é possível encontrar naqueles que têm uma visão clara da majestade e santidade do Senhor, por um lado, e do seu amor e fidelidade, por outro.

Para Neemias, Deus não era apenas “glorificado em santidade, terrível em feitos gloriosos, que operas maravilhas” (Êx 15.11), mas também “compassivo e cheio de graça“(Sl 86.15), “o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que o amam” (Dt 7.9). Neemias prevalecia em oração porque considerava Deus fiel e invocava suas promessas. Lembrou-lhe o que se comprometera a fazer por aliança (Ne 1.8) e pressionou-o a cumpri-lo.

Essa é uma alavanca espiritual que nunca deixa de mover a mão que move o mundo. Esse grande princípio caracterizou a oração de Abraão, Moisés, Elias e Daniel. Toda intercessão poderosa em todos os tempos que já abalou o reino das trevas foi baseada nas promessas de Deus. Por que devemos esperar que Deus faça o que ele não concordou em fazer? Por que devemos esperar que ele faça menos do que prometeu?

Duncan Campbell escreveu a respeito dos fiéis que estavam buscando a Deus em favor de um avivamento em Lewis antes de 1949: “Eles estavam tomados pela convicção de que Deus, sendo um Deus de aliança, só pode manter seus compromissos firmados na aliança. Não havia ele prometido derramar ‘água sobre o sedento e torrentes, sobre a terra seca’ (Is 44.3)? Aqui estava algo que para eles existia no campo da possibilidade; por que não o estavam experimentando na prática? Mas eles chegaram em tempo ao lugar em que puderam clamar, com uma só voz, junto com os servos do Altíssimo da antiguidade: ‘Nosso Deus … pode … e ele o fará’ (Dn 3.17)” (The Lewis Awakening / O Depertamentdo da Ilha de Lewis).

A partir dessa oração de Neemias, duas outras características importantes surgiram. Em primeiro lugar, a seriedade e a firmeza que caracterizaram sua oração. “Estejam, pois, atentos os teus ouvidos … à oração do teu servo, que hoje faço à tua presença, dia e noite” (v. 6). Não vemos aqui paixão ou entusiasmo momentâneos, que desapareceria com o passar do tempo; nem tampouco uma súplica que pudesse ser reduzida ao silêncio por reveses e decepções. Havia a vontade e a determinação de perseverar até chegar à vitória completa, como se vê pelo fato de que ele orava sem cessar.

Esse é certamente um fator indispensável para a oração eficaz. Muitos que oram nunca alcançam a resposta porque não perseveram. “Porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos” (Gl 6.9). Isso certamente é válido em relação à oração. Muitos, infelizmente, desfalecem e desistem da batalha que começaram tão bem, porque o “tempo devido” não chegou tão logo quanto esperavam, ou porque o preço provou ser mais do que estavam dispostos a pagar. Não existe “oração que prevalece” sem esse forte propósito gerado no coração pelo Espírito. Oh, que Deus nos conceda a persistência inabalável que marcou a oração do cenáculo (At 1.14) e da igreja primitiva (At 2.42; 6.4). “Porque é tempo de buscar ao Senhor, até que ele venha, e chova a justiça sobre vós.”

Em segundo lugar, houve uma confissão de Neemias no meio das petições. “Faço confissão pelos pecados dos filhos de Israel” (Ne 1.6-7). Ele não reclamou com Deus que estavam sendo duramente tratados nem fez menção de sua aflição e opróbrio; ao invés disso, ele expôs a raiz do problema – o pecado do povo, escancarando-o diante de Deus em confissão. Essa era a condição para haver restauração do cativeiro (1 Rs 8.46-49). Não poderia vir restauração alguma sem arrependimento.

Mesmo não podendo forçar os outros a confessar, Neemias podia confessar no seu lugar. Essa é uma característica importante na obra de intercessão: identificar-se não só com a necessidade, mas também com o pecado das pessoas em favor de quem a intercessão é feita. Moisés fez isso (Êx 32.31-32; 34.9) e também Daniel (Dn 9.4-14). Mas Neemias também confessou que tanto ele quanto o seu círculo imediato estavam envolvidos, pois afirmou: “pois eu e a casa de meu pai temos pecado. Temos procedido de todo corruptamente contra ti“.

Ele estava pronto para reconhecer que tanto ele quanto sua família haviam contribuído com uma parcela dessas iniquidades do povo que Deus estava julgando. Nem mesmo ficou satisfeito com uma mera generalização, mas especificou em que aspectos haviam pecado, revelando a triste história de mandamentos, estatutos e juízos quebrados (v.7). Em nossas confissões, devemos ser tão específicos e claros quanto o somos nas petições.

A resposta divina

Quando Neemias começou a buscar a Deus, provavelmente não fazia muita ideia de como suas orações seriam respondidas e a situação recuperada. De uma coisa ele poderia estar certo: Deus seria fiel às suas promessas. Mas, enquanto continuou persistindo no seu caso diante dos tribunais celestes, foi gerada nele, pelo Espírito, a convicção de que ele próprio seria o instrumento para a resposta de suas orações, e de que Deus lhe tinha dado esse lugar de influência no palácio persa para que o usasse para o bem de Jerusalém. Uma nova nota entra em sua oração: “Concede que seja bem-sucedido hoje o teu servo e dá-lhe mercê perante este homem. Nesse tempo eu era copeiro do rei” (v.11).

Esse avivalista “procurou a paz de Jerusalém; orou por ela, e estava disposto a sacrificar riqueza, facilidade, segurança e até mesmo a própria vida, se ele pudesse ser o instrumento de restaurar as desolações de Israel” (Treasury of Scripture Knowledge/ Tesouro de Conhecimento das Escrituras). Talvez, até mesmo Neemias não tenha previsto todas as dificuldades e perigos, aflições e tristezas que viriam assolar seu caminho antes que a visão fosse cumprida, mas ele estava preparado para passar por tudo isso com Deus, entregando o futuro desconhecido a ele. “Se … Deus to mandar … poderás suportar” (Êx 18.23).

Um intercessor não pode esperar que prevaleça a menos que esteja disposto a ser o instrumento, se Deus assim desejar, para o cumprimento da própria oração. Moisés, sem dúvida, ofereceu mil orações pela libertação do seu povo da escravidão no Egito e, por isso, seu coração deve ter-se alegrado muito diante da sarça ardente, quando o Senhor lhe disse: “Desci a fim de livrá-lo” (Êx 3. 8). Ao mesmo tempo, que susto deve ter levado quando Deus acrescentou: “Vem, agora, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel” (v.10). Da mesma forma, com os discípulos, Jesus ordenou que orassem para que Deus enviasse trabalhadores para a colheita; em seguida, porém, enviou os próprios doze para que eles mesmos se tornassem a resposta de suas orações (Mt 9.38-10.1).

Todos que quiserem interceder pelo avivamento precisam enfrentar as possíveis implicações de suas orações. Para muitos, um sonho ou anseio precioso pode ser abalado. Para outros, um caminho suave de facilidades e segurança pode ter de ser trocado por um caminho espinhoso, cercado de perigos, aflições e censuras. Não ore para um derramamento do Espírito a menos que, como Neemias, você esteja disposto a ir até o fim com Deus. Talvez, se alguns soubessem o que estava envolvido, estariam implorando a Deus para não enviar o avivamento. “Mas o povo que conhece ao seu Deus [e pode, portanto, confiar nele] se tornará forte e fará proezas” (Dn 11.32).

Perguntaram-me certa vez ao final de uma reunião: “Você acha que uma pessoa sozinha pode trazer um avivamento?” “Sim”, respondi, “porque Deus disse: derramarei água sobre o sedento e torrentes, sobre a terra seca‘”(Is 44.3). Este primeiro capítulo de Neemias nos mostra “o sedento”, e os capítulos seguintes descrevem as “torrentes sobre a terra seca”. Neemias foi bem-sucedido diante do rei, e foi a Jerusalém para examinar as ruínas da cidade. Reuniu os nobres e governantes e, depois de apresentar-lhes a situação, disse: “Vinde, pois, reedifiquemos os muros de Jerusalém e deixemos de ser opróbrio (2.17).

As águas já tinham começado a fluir do coração sedento para a terra seca com o seu poder vivificante. Disponhamo-nos e edifiquemos, eles responderam. “E fortaleceram as mãos para a boa obra” (v.18). A espátula (ou colher de pedreiro) foi preparada, a espada foi polida; em seguida, começaram o trabalho. Muitas mãos dispostas estavam lidando agora com a situação, os propósitos de Deus estavam avançando a bom ritmo, mas não nos esqueçamos das orações, das lágrimas e da angústia de um homem que prevaleceu com Deus. Nós precisamos dos dons de Neemias hoje para preparar nossos corações, buscar ao Senhor e prevalecer. É assim que o avivamento vem.

Outra lição da história de Neemias é que não há nada transitório sobre o fruto do verdadeiro avivamento. Ele é tipificado aqui pela figura do edifício. É o propósito de Deus que algo sólido e estável, capaz de resistir ao teste do tempo e da eternidade, nasça das turbulências espirituais do avivamento. A emoção vai diminuir, certas características do movimento podem passar, mas o edifício, que é obra do Espírito e que é o verdadeiro objetivo de Deus, permanecerá. Na emoção dos aspectos secundários, é essencial manter o propósito divino em foco e edificar de acordo com o padrão. Neemias não precisou de um arquiteto para planejar onde os muros deveriam ficar. Só teve de construir sobre as fundações antigas e reconstruir os muros e portões, exatamente como eram desde os tempos antigos.

Assim, também, Deus deseja construir hoje de acordo com o padrão apostólico. Há pedras escondidas pelo lixo acumulado dos séculos que ainda aguardam para serem redescobertas. “Renascerão, acaso, dos montões de pó as pedras que foram queimadas?”, perguntou um Sambalate escarnecedor e incrédulo (Ne 4.2). Renascerão sim – e foi assim que aconteceu! Acabou-se, pois, o muro […] temeram todos os gentios nossos circunvizinhos e decaíram muito no seu próprio conceito; porque reconheceram que por intervenção de nosso Deus é que fizemos esta obra” (6.15-16). Aqui, então, está o fruto de um coração que ora – uma obra claramente forjada por Deus.

A história épica de Neemias demonstra o que Deus pode efetuar através de apenas um homem corretamente relacionado com ele. O Senhor não está à procura de homens; está à procura de um homem. Seus métodos não mudaram desde o dia em que disse por meio de Ezequiel: Busquei entre eles um homem que tapasse o muro e se colocasse na brecha perante mim, a favor desta terra (Ez 22.30).

O leitor está preocupado que ninguém mais na igreja local, na cidade ou na região parece sentir um encargo diante da necessidade de avivamento? A situação parece estar sem esperança? Dê ao Senhor a disponibilidade de uma alma sedenta e não haverá limite para o que ele pode fazer. Deus está à procura de um homem, uma mulher para entrar na brecha; você será esta pessoa?

Reproduzido de In The Day Of Thy Power/ No dia do teu poder por Arthur Wallis, © 1956. Usado com permissão de sua família.

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