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Alguém está chorando hoje?

  Leonard Ravenhill

A igreja que conhecemos hoje parece estar a mais de um milhão de quilômetros da igreja do Novo Testamento. Pode ser uma generalização exagerada, mas ainda penso que seja possível defendê-la. Há um abismo tão imenso entre o cristianismo “normal” que é experimentado hoje e aquele que foi vivido no tempo dos apóstolos que deixaria o Grand Canyon (desfiladeiro enorme nos EUA que chega a 1,6 km de profundidade) parecendo uma mera cárie no dente de alguém.

O que está faltando nas nossas igrejas? Para usar um termo do Antigo Testamento, falta-nos o encargo do Senhor (como em Jr 23.33-38 – traduzido como sentença pesada, oráculo ou peso; significa uma mensagem específica de Deus para um momento e um povo específicos, que transmite o que Deus pensa e sente a respeito daquela situação). Uma das tragédias desta hora é que a voz do profeta não é mais ouvida entre nós. Será que ainda tem alguém lamentando os perdidos? Isaías era um homem que sentia um encargo muito forte por seu povo e o pecado deles. Assim também era Jeremias: sua preocupação pelo povo o fazia chorar dia e noite.

O último avivamento mencionado no Velho Testamento está no livro de Joel. O profeta Joel proclamou uma assembleia solene e disse: “Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, entre o pórtico e o altar” (Jl 2.17). Vamos falar a verdade: alguém ainda chora pela igreja?

Precisamos de um avivamento na igreja, mas seria um grande erro colocar o peso desse encargo sobre os membros em geral. De acordo com a minha leitura das Escrituras, Deus coloca essa responsabilidade sobre a liderança. Precisamos de pregadores que sejam focados na eternidade, que cheguem ao púlpito encurvados sob o peso do pecado do mundo e, talvez, sob o peso do pecado da congregação. Ao contrário disso, temos hoje uma mensagem mais ou menos assim: “Venha, ajoelhe-se aqui por cinco minutos e veja o que vai receber: seu nome escrito no Livro da Vida do Cordeiro, uma mansão particular na Avenida Central da cidade celestial, uma coroa com cinco diademas, autoridade para governar cinco cidades e uma entrada gratuita para a Ceia das Bodas do Cordeiro!”.

Anseio ouvir a voz que declara o juízo de Deus sobre a impiedade que impera à nossa volta. Onde tem um pregador que sinta a mensagem de Deus fervendo no seu sangue, assim como aconteceu com Jeremias (20.9)? A maioria parece incapaz de transmitir mensagens de Deus como se fossem uma erupção vulcânica. Os sermões se tornaram entretenimento religioso e não levam os ouvintes a lágrimas de arrependimento.

O verdadeiro profeta de Deus não está incomodado em primeiro lugar com a nação ou, nem mesmo, com a igreja. O que mais o afeta é o fato de Deus ser insultado abertamente, de suas leis serem quebradas, de seu Filho ser rejeitado – e tudo isso em lugares aparentemente saturados com o Evangelho. No entanto, todos os dias, milhões de pecados são cometidos, o nome de Jesus é tomado em vão milhares de vezes, enquanto, paralelamente, a população é inundada com mensagens religiosas.

Lembre-se: Sodoma não tinha pregadores, nem programas de rádio. No mundo ocidental, temos milhares de estações de rádio e uma boa parte delas, em algum momento do dia, transmite um programa evangelístico. Mas quantos realmente escutam? As luzes estão piscando no mundo à nossa volta; nossa civilização está às margens do desastre e a uma batida de coração do juízo final. Quem, porém, está nos advertindo?

Quando Alexander Maclaren (ministro escocês do século 19) foi convidado para assumir uma grande igreja Batista em Manchester, na Inglaterra, ele foi conversar primeiro com os diáconos e disse: “Senhores, há um assunto que precisamos acertar antes que eu possa aceitar essa posição. Vocês querem minha cabeça ou meus pés? Podem ter uma coisa ou outra, mas não as duas. Posso correr para lá e para cá, resolvendo questões variadas, tomando chá e conversando com as pessoas, se assim quiserem. Neste caso, entretanto, não esperem de mim algo que possa impactar esta cidade”.

Deus não chama os pregadores para se tornarem “pau para toda obra”, fazendo serviço de office-boy. São chamados para se prostrarem diante da face do Senhor. Os diáconos do Dr. Maclaren entenderam o recado; contudo, quem está se prostrando diante de Deus hoje?

Quando falo com pregadores, como tenho feito frequentemente nos últimos anos, costumo dizer-lhes: “Vocês não têm obrigação nenhuma, de acordo com a Bíblia, a não ser o mandato de Atos 6, a dedicação contínua ao ministério da Palavra e à oração”. Na carta aos tessalonicenses, o apóstolo Paulo escreveu que estava orando por eles “noite e dia”. Por quem estava orando? Não pelo mundo perdido ou para derrubar o Império Romano. Ele disse: “… orando noite e dia, com máximo empenho, para vos ver pessoalmente e reparar as deficiências da vossa fé” (1 Ts 3.10). Eles tinham fé, mas ela ainda era deficiente. É a tarefa do pastor (ou do ministro) suprir essa falta.

O encargo ou mensagem do Senhor que os profetas traziam no Antigo Testamento não era dirigida aos amalequitas, heteus, perizeus ou jebuseus; a principal preocupação de Deus era com Israel. Da mesma forma, nenhuma epístola no Novo Testamento foi endereçada aos perdidos; todas foram escritas para cristãos. Dr. Orton Wiley chama atenção ao fato de que a epístola aos Hebreus não contém uma palavra para homens ou mulheres perdidos. Por quê? Porque somente uma igreja forte na fé, uma igreja avivada, pode ser usada por Deus para alcançar os perdidos.

A enfermidade da igreja, eu acredito, é dupla. Em primeiro lugar, temos ensinado as pessoas a testemunhar e a trabalhar, mas não as ensinamos a adorar. Os cristãos não tiram tempo para estar diante de Deus para vê-lo em glória, majestade e santidade. Conheço pregadores que não pensam duas vezes para tirar três dias para caçar ou pescar, mas que não se importam suficientemente com a condição espiritual das pessoas para deixar tudo de lado e jejuar, orar e buscar a face de Deus. Conheço diáconos que começam a ficar inquietos se o culto de domingo passar cinco minutos do horário, porque querem correr para casa e assistir ao jogo favorito. Como eles pensam que suportarão a adoração durante toda a eternidade?

A segunda causa da enfermidade da igreja é que a reunião de oração já se tornou quase totalmente obsoleta. Já visitei algumas das mais famosas igrejas no mundo e descobri algo curioso sobre os cultos no meio da semana. A maior parte da “reunião de oração” (se é que ainda existe) é realmente um estudo bíblico. Faz-se uma oração (ou duas) no final, e acabou. Paulo dizia que sentia dores de parto em oração. Será que somos maiores do que Paulo? Ele disse: “… por quem de novo sofro as dores de parto” (Gl 4.19). Não creio que alguém tenha direito de pregar sobre o texto: “Importa-vos nascer de novo”, se não tiver primeiro “sofrido dores de parto” para que pessoas possam nascer de novo.

Alguns pastores me dizem que a igreja deles é uma igreja do Novo Testamento. Deixe-me descrever uma igreja do Novo Testamento, usando Atos 4: as pessoas se reuniam todos os dias; oravam todos os dias; partiam o pão todos os dias; levavam pessoas a Jesus todos os dias. Todo diácono naquela igreja do Novo Testamento era separado e testado para ver se estava cheio de fé e do Espírito Santo.

O que é, então, o encargo do Senhor para nós hoje? Ele se sente incomodado por causa de pecadores que são rebeldes, que levantam o punho para desafiar a Deus. Ele se incomoda pelos pregadores que não pregam o juízo divino. E ele se sente mal por causa da sua Igreja, a noiva para quem está voltando.

As pessoas, às vezes, me perguntam: “São estes os últimos dias?”. Eu respondo que não. Penso que estamos nos últimos minutos desta dispensação, ou talvez nos últimos segundos, de acordo com a maneira como Deus conta o tempo.

No entanto, se eu pudesse, convocaria milhares de pregadores de diferentes países no mundo para passar uma semana em oração por avivamento. Gostaria que recebessem instrução em oração – não seminários sobre oração, mas exortação para orar. Passaríamos a semana toda em oração, com alguns intervalos. Creio que esse poderia ser um detergente na vida da igreja. Seria um processo de purificação.

Poderíamos voltar para nossas igrejas e talvez adiar um pouco o juízo iminente. Assim, Deus poderia trazer o avivamento de que precisamos. Antes de Jesus voltar, estou convencido de que veremos um grande e abrangente Pentecostes que será mais pentecostal e poderoso do que o próprio Pentecostes. Deus derramará seu Espírito sobre toda a carne, conforme disse Joel. Nossos filhos e filhas profetizarão. Deus produzirá uma raça de gigantes espirituais para a grande e poderosa colheita.

Hoje, Deus já tem esses líderes, porém ainda estão escondidos. Antes do grande Dia do Senhor, ele os revelará, e os últimos serão os primeiros.

Minha oração é que esse dia venha logo!

Extraído de “America is too young to die” (A América é jovem demais para morrer), por Leonard Ravenhill (1907 – 1994). Copyright © 1979, 2012 por Offspring Publishers (www.offspringpublishers.com). Publicado com permissão.

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3 respostas

  1. Mensagem maravilhosa! Que Deus desperte todos os cristãos para que estejam anelando e apressando a vinda do Senhor! Que Ele assim nos abençoe!

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