Compreenda e abrace o
caminho que Jesus trilhou

Poder Através da Impotência

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Por: Dennis Kinlaw 

O artigo a seguir foi adaptado de uma mensagem proferida na conferência “Heart-Cry for Revival” (Clamor do Coração por Avivamento), em abril de 2004, em Asheville, Carolina do Norte, EUA.

Na segunda carta de Paulo aos Coríntios, do capítulo 10 ao capítulo 13, temos uma passagem muito interessante que nos revela fatos sobre o apóstolo os quais não temos em nenhum outro lugar. Vemos ali seu coração de pastor e seu cuidado com relação a um rebanho ao qual tivera o privilégio de apresentar o evangelho e, depois, de conduzir à fé em Jesus. Eram seus filhos e, no capítulo 11, ele abre seu coração em palavras comoventes e afetuosas, revelando o sonho e anseio que o moviam: apresentá-los “como virgem pura a um só esposo, que é Cristo” (v.2). Que filosofia interessante de ministério pastoral é esta: apresentar seu povo como virgem pura a Cristo!

Em Atos 18, lemos a respeito da sua primeira visita a Corinto e de como iniciou pregando na sinagoga, até que o expulsaram de lá. Quando isso aconteceu, Deus o orientou a não sair daquele lugar porque coisas maiores aconteceriam. E assim continuou na cidade por mais um ano e meio, ensinando a Palavra de Deus. Na ocasião em que escreveu sua segunda carta aos coríntios, Paulo estava se preparando para visitá-los pela terceira vez.

A preocupação que move o coração de Paulo em toda a carta é o bem-estar desses seus filhos em Cristo. O problema era que mestres estavam entrando e ensinando coisas contrárias ao que haviam aprendido. Paulo queria lhes advertir que essas pessoas estavam apresentando outro Cristo, outro espírito e outro evangelho. Em toda essa carta e, especialmente, nos últimos quatro capítulos, sua ênfase era a preservação da pureza do evangelho no meio dessas pessoas que foram conduzidas a Cristo por intermédio dele.

Veja comigo a introdução do capítulo 11 a fim de captar um pouco da sua paixão. “Quisera eu me suportásseis um pouco mais na minha loucura” (2 Co 11.1). Em sua argumentação, Paulo precisou falar um pouco a respeito de si mesmo, fazendo algo que lhe era muito desagradável. Por isso diz: “Quisera eu me suportásseis um pouco mais na minha loucura. Suportai-me, pois. Porque zelo por vós com zelo de Deus”.

É importante salientar o fato de que a palavra zelo na Bíblia quase sempre seria melhor traduzida por ciúme. Paulo tinha ciúme do afeto e da lealdade de seus filhos espirituais quando eram desviados do seu verdadeiro alvo.

E aí vem este texto maravilhoso: “…visto que vos tenho preparado para vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo. Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo. Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais. Porque suponho em nada ter sido inferior a esses tais apóstolos” (2 Co 11.2-5).

Numa passagem como esta, podemos sentir a paixão de Paulo pela proteção da pureza do Evangelho. Isso deve ter grande significado para nós hoje que buscamos o avivamento, pois nunca houve um avivamento em que a teologia não fosse restaurada. Nunca houve um avivamento em que Cristo não fosse reconhecido como o eterno Filho de Deus, o Deus que desceu até nós.

Paulo estava defendendo seu apostolado de maneira até atípica em relação aos seus outros escritos. Mas seu interesse não era se exaltar e, sim, defender a pureza do Evangelho. Os coríntios estavam dizendo que havia outros apóstolos maiores que ele, superapóstolos (2 Co 11.5, NVI). O problema não era a superioridade deles, mas o tipo de doutrina que estavam ensinando, o tipo de espírito e o tipo de evangelho. Para combater essas falsas idéias, Paulo precisou falar de suas próprias experiências, o que nos forneceu dados biográficos que não teríamos se não fossem esses falsos obreiros (veja 2 Co 11.21-33).

Por que Paulo precisou defender seu apostolado e falar de suas credenciais pessoais? Porque o próprio Jesus identificava o Evangelho com seus servos e seus servos com o Evangelho. Quando enviou os doze em Mateus 10, ele disse que quem recebia seus discípulos recebia aquele que os enviou, e quem recebia Jesus recebia o Pai (Mt 10.40). Se o povo rejeitasse os discípulos, ficaria sem Jesus, e, sem Jesus, não teria tampouco o Pai. Era assim que Jesus identificava o servo de Deus com o próprio Deus. Isso pode ser confirmado também em João 13.20. Conseqüentemente, não há lugar para frouxidão espiritual na vida de um servo do Senhor. Se eu não estiver limpo, o que passarei aos outros?

Paulo estava pronto para defender seu apostolado porque sentia uma identificação entre sua mensagem e sua pessoa. Não era uma questão de exaltação, mas de proteção ao Evangelho. Se o Evangelho fosse prostituído, o prejuízo seria de Jesus, e havia uma paixão em Paulo por Jesus que o impedia de ficar passivamente observando enquanto o Evangelho era diluído ou alterado. Se quisermos ver um avivamento, precisamos estar interessados na teologia que o tornará possível.

Paulo não estava à vontade ao falar desse modo. Disse que falava como um louco, mas que “vocês me forçaram a falar assim”. Os tais apóstolos, os super-apóstolos estavam ridicularizando Paulo mais ou menos desta forma: “Ele é totalmente desprezível quando você o vê pessoalmente. Ele escreve essas epístolas impressionantes que impactam profundamente a quem lê. Mas espere vê-lo em pessoa. Não impressiona ninguém”. Ainda mais, diziam que no fundo não era um bom pregador. Nunca fora treinado pelos mestres da retórica, portanto não era um perito em técnicas de pregação.

Esse era o ponto principal dos seus acusadores porque, como o objetivo destes era persuadir as pessoas a segui-los, o estilo e a técnica eram tudo para eles. Já Paulo não tinha muito interesse em estilo, mas em conteúdo. Seu interesse era na verdade do que estava dizendo. Eu tenho tomado muita coragem a partir desse fato. Posso não estar falando algo muito inteligente ou eloqüente, mas se a Palavra de Deus estiver presente, Deus pode usá-la para fazer uma diferença na vida das pessoas.

Paulo se Gloria na Fraqueza

As pessoas que criticavam Paulo claramente se sentiam espiritualmente superiores a ele. Há indícios de que tinham bastante orgulho das suas experiências espirituais e que falavam muito de visões e revelações.

A resposta de Paulo foi relatar uma grande experiência sua. A história foi contada na terceira pessoa, talvez por ser sagrada demais para contar na primeira (2 Co 12.1-6). Um homem, ele disse, foi arrebatado ao terceiro céu, catorze anos antes, e esteve no próprio paraíso, ouvindo coisas que ninguém seria capaz de descrever, proibidas de serem repetidas. Porém Paulo não queria falar sobre visões ou experiências espirituais, mas sobre Cristo. Era como se tivesse escrito: “Quero falar sobre ele e vou fazer isso mostrando o contraste entre mim e ele”. Paulo disse que se gloriava não no seu apostolado, não nas suas visões, experiências pessoais ou habilidades de pregação. Antes queria falar a respeito de suas fraquezas.

Nos últimos quatro capítulos de 2 Coríntios, as diversas formas da palavra fraco (ser fraco, fraqueza, fraquejar) aparecem treze vezes. A palavra no grego é asthenos. O prefixo “a” é um elemento negativo, como em ateu (aquele que não crê em Deus, theos). A palavra sthenos significa força, portanto asthenos é a ausência de força.

Se sou fraco, preciso ser fortalecido, mas se não tenho força alguma, preciso receber força. Por quase toda minha vida, pedi: “Senhor, fortalece-me para fazer tua obra; levanta-me e torna-me eficaz; assim conseguirei realizar a obra”. Mas Paulo está dizendo o contrário: “Tire todas as minhas forças do caminho para que não haja dúvida alguma sobre quem está fazendo a obra”.

Paulo estava dizendo que queria gloriar-se na sua impotência. Sua visão era esvaziar-se a si mesmo e livrar-se da mistura de suas habilidades humanas mais a operação de Deus. Tinha de tirar tudo isso do caminho para que Deus pudesse ser glorificado.

Veja em Zacarias 4.6 como esse era um antigo tema bíblico. Quando Deus queria fazer algo por seu povo, ele disse: “Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos”. As duas palavras usadas aqui – força e poder – representam todas as capacidades humanas.

Veja também Gálatas 2.20: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne…” É algo incrivelmente complexo, porque não sou eu, mas ainda estou aqui. Não eu, mas Cristo em mim.

Chegando ao Fim de Nós Mesmos

Lemos em Isaías 40.31: “Os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam”. No hebraico, o texto literal é assim: “Os que esperam no Senhor trocam [no sentido de permutar] suas forças”. Esta palavra hebraica, chalaph, implica uma permuta de forças em que você cessa de fazer as coisas usando sua força natural e recebe, em substituição, o poder e a força do Espírito, que começa a fluir e a operar em sua vida.

Em síntese, nós nunca somos as causas; apenas as ocasiões. Nunca somos a causa de algo que tenha significado eterno, somente uma ocasião. Você não vai querer interferir no agir daquele que é a causa, pois ele precisa estar no controle absoluto. Quando isso acontece, o resultado é maravilhoso. Ao chegar ao ponto em que o Espírito Santo está livre e pode fluir e realizar sua obra, você descobrirá que este é o maior momento que já viveu.

Paulo fala no capítulo 8 de Romanos sobre a carne e o Espírito. Você pode viver na carne e produzir morte, ou viver no Espírito e ter vida. Cristo veio para que eu pudesse viver no Espírito. Essa é a maior ênfase de Paulo nesta passagem.

Vamos pensar numa ilustração bíblica. Lembra-se das duas ocasiões em que Moisés tirou água da rocha? Em Êxodo, Moisés contou para Deus que o povo estava se queixando de sede. Deus mandou que ferisse a rocha com a vara e a água sairia. E foi assim que aconteceu (Êx 17.1-7). Em Números 20.1-13, o povo estava murmurando outra vez. Irritaram a Moisés e ele ficou impaciente e irado. Deus mandou falar com a rocha e a água sairia. Moisés se colocou diante do povo que estava em contenda com Deus, falou duro com eles e feriu a rocha com a vara duas vezes. A água fluiu, mas Deus disse a Moisés e Arão que cometeram um grande erro. “Não fareis entrar este povo na terra que lhe dei”.

Acho que entendo por que Deus disse isso. Se ele deixasse Moisés entrar na terra prometida, a mensagem seria contaminada. A fonte da água não é obra de Deus e obra minha. É somente obra de Deus. Deus não podia deixar que essa mensagem ficasse contaminada. Não há salvação em coisa alguma que eu e você façamos, a menos que Deus esteja nela, operando através de nós. Precisa ficar muito claro que só Deus pode salvar.

O Espinho na Carne

De acordo com o relato em 2 Coríntios 11.21-33, Paulo se sacrificara muito em favor de Cristo e recebera visões dos céus (2 Co 12.1-6). Para evitar que se exaltasse além da medida e pensasse de forma muito soberba acerca de si mesmo, foi-lhe enviado um espinho na carne, um mensageiro de Satanás para esbofeteá-lo (2 Co 12.7).

Paulo não gostou do espinho e pediu a Deus três vezes que o retirasse. No fim, deixando claro que não deveria mencionar esse pedido mais uma vez sequer, Deus lhe disse: “A minha graça te basta”. O poder de Deus “se aperfeiçoa na fraqueza”, ou seja, na impotência.

Eu creio que em algum ponto na vida de cada um de nós neste mundo caído, para alcançarmos qualquer medida de graça, algo terá que acontecer para nos mostrar que precisamos ser totalmente dependentes de Deus e não dos dons ou de qualquer outra habilidade que tivermos.

Por que Deus nos envia essas coisas que nos causam desgosto e sofrimento? Para nos conduzir à verdadeira dependência dele. Ele quer nos manter na posição em que o tom do nosso testemunho não seja corrompido, mas que tenha a pureza que vem dele.

Conclusões Importantes

Em conclusão, devemos pensar sobre três coisas. A primeira é a importância da pureza do Evangelho, porque se o Evangelho não for puro, não há esperança. Isso fica dramaticamente claro em alguns contextos eclesiásticos. Nesses lugares, nunca haverá avivamento enquanto não houver uma mudança radical na teologia.

Em segundo lugar, a graça não pode ser armazenada. Depois de estar na vida cristã há tanto tempo quanto eu, é fácil dizer: “Eu já sei o suficiente sobre a graça. Posso lidar com esta situação”. Não, você não pode lidar com coisa alguma sem Deus. Um dos motivos que pregadores se enredam em pornografia ou outros laços malignos é que pensam que têm uma grande conta bancária de graça divina que lhes valerá em qualquer crise. Porém, não se pode armazenar graça. Isso não é ruim, contudo; é benéfico, porque ajuda-nos a manter contato constante com Deus e a sempre andar perto dele.

A terceira coisa é que precisamos de um mestre – e Deus nos deu um: o Espírito Santo. Isso significa que devemos viver sensíveis aos impedimentos do Espírito em nosso interior, andando no Espírito, prontos a atender quando ele quer nos advertir, estimular ou bloquear.

Há também algumas perguntas que devemos fazer. Você está limpo ou há algo no seu interior que precisa ser purificado? Como Paulo, meu desejo é apresentar você como virgem pura a Cristo, de forma que o seu amor por ele não seja contaminado com outras coisas e torne-se o fator dominante da sua vida. Você está limpo? “Purificai-vos, os que levais os utensílios do Senhor”, disse Deus em Isaías 52.11. Há poder no sangue de Jesus que pode purificar até os mais profundos recessos do coração humano.

A segunda pergunta é: Você sabe por que Deus o colocou no lugar em que você está? Ele tem um propósito para você ali e uma obra para fazer. Isso está bem claro para você? Que fardo ele lhe deu para carregar?

E, em terceiro lugar, você já fez aliança com o Senhor de pagar qualquer preço que seja necessário para completar o encargo que lhe deu? Já se comprometeu, dizendo: “Senhor, tudo que tenho está no altar a fim de que possas realizar o propósito para mim aqui”? Seu coração está dividido? Já fez a oração de George Matheson: “Cativa-me, Senhor, e então serei livre”? Ele é o único que pode cativar a totalidade do nosso coração.

Que possamos dizer: “Senhor, estou fazendo uma aliança contigo. Vou apegar-me a ti até que teu propósito se cumpra, seja qual for o preço, Deus, seja qual for o preço!”

Dennis Kinlaw é o fundador da “Francis Asbury Society”, sediada em Kentucky, nos EUA. Participou de um avivamento na Faculdade Teológica de Asbury em 1970, da qual era presidente na época. Mais informações sobre o seu ministério no site: www.francisasburysociety.com/kinlaw.htm.

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