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caminho que Jesus trilhou

Paternidade – 2

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Por: Jamê Nobre

“A ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele que está nos céus” (Mt 23.9).
“Todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos” (1 Co 8.6).
“Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai, de quem toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra” (Ef 3.14,15).
“Porque, ainda que tivésseis milhares de preceptores em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais; pois eu, pelo evangelho, vos gerei em Cristo Jesus” (1 Co 4.15).
“Meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós” (Gl 4.19).
“Eis que, pela terceira vez, estou pronto a ir ter convosco e não vos serei pesado; pois não vou atrás dos vossos bens, mas procuro a vós outros. Não devem os filhos entesourar para os pais, mas os pais, para os filhos” (2 Co 12.14).
“E sabeis, ainda, de que maneira, como pai a seus filhos, a cada um de vós, exortamos, consolamos e admoestamos” (1 Ts 2.11).

Há um clamor em meu coração, uma inquietação muito forte. Eu me refiro ao fato de que hoje, na igreja, temos líderes (até escola de líderes), bons expositores da Bíblia, pregadores, discipuladores – mas poucos pais.

Sei que há um conflito aparente entre a busca por pais e o texto de Mateus 23.9, em que Jesus diz que não devemos chamar ninguém de pai, para que não tome o lugar do único e verdadeiro Pai que é Deus. No entanto, conforme outros textos (1 Co 4.17; Fp 2.22; 1 Tm 1.2,18; 2 Tm 1.2; 2.1; Tt 1.4; Fm 10), vemos que Paulo não se constrangia em ver-se como pai, nem em chamar Timóteo, Tito, Onésimo e os coríntios de seus filhos!

Entendo que Jesus esteja nos ensinando pelo menos duas coisas nesse texto: a primeira é com relação à tentação de querermos nos apoderar de pessoas, dominando-as como se, pela geração no evangelho, tivéssemos direito sobre elas. A segunda é a questão dos títulos que estabelecem distinções entre as pessoas por causa de posição. Ele quer ensinar-nos que, no Reino de Deus, há um só que é digno de títulos, que tem posição de autoridade.
O pai, de acordo com a postura de Paulo, é um servo e não um déspota. É alguém que geme, que sofre, que sente dores de parto (conquanto seja pai!), que está disposto a dar a vida pelos filhos.

A Igreja é a família de Deus – portanto, deve relacionar-se como família e não como instituição religiosa. Na instituição, aqueles que estão na liderança assumem uma postura de mando. Na família, ainda que o pai tenha função de comandar e dirigir, seu papel mais saliente é de servir. Jesus deixou esse exemplo para nós.

Nem todo líder tem coração paternal. Por isso, devemos abolir a ideia de líder e adquirir uma consciência de paternidade. Paternidade é essencialmente diferente de paternalismo (veja o quadro nesta página).

A Igreja se ressente da falta da figura paterna. Na família natural, a figura do pai está confusa, apagada. O pai tornou-se mero provedor da casa e não dos corações. Ele se esforça para dar aquilo de que os filhos precisam, sem dar o que realmente necessitam. Parece que o mesmo fenômeno chegou à Igreja.

A paternidade de Deus é algo inerente à sua natureza. A Bíblia tem muitas referências a Deus na forma de adjetivos e títulos e muitas figuras para ensinar sobre quem ele é. Porém, quando fala de Deus Pai, não fala meramente de título nem como se fosse uma figura. Fala da essência de quem ele é.

Deus é Pai. Jesus o chamou assim, numa base de relacionamento, quando ensinou a orar, quando falou do trabalho que fazia olhando para ele e no seu momento de maior angústia. Antes de deixar os discípulos, prometeu que o Espírito Santo viria e os moveria a falar a mesma coisa: ABA.

A paternidade entre os seres criados é emprestada de Deus Pai. A paternidade tem um aspecto físico que é a geração (reprodução), mas tem aspectos transcendentes que são o emocional, o afetivo e, também, o espiritual.

No aspecto físico, qualquer ser macho sadio pode tornar-se pai. Não depende de fatores de alma, espírito ou coração. Na outra dimensão, a paternidade envolve o coração e os afetos, necessita de responsabilidade e depende de vontade e decisão. Precisa ser aprendida, aperfeiçoada, cultivada com cuidado constante. É produto de maturidade e experiência.

A paternidade é sinônimo de perda, de desgaste e renúncia. Ser pai é morrer para ser multiplicado em outros que nascem de si. O pai se dilui nos filhos, desaparecendo para que eles apareçam. Se a semente da paternidade não morrer, a vida dos filhos (que são frutos com sementes) não poderá crescer.

A paternidade inclui a morte a cada dia. No paternalismo, quando se dá, é com o intuito de receber mais tarde, seja satisfação emocional, seja um futuro tranquilo.

Quando Jesus disse que nos havia escolhido para que déssemos frutos permanentes, tenho a convicção de que ele falava de semente, pois nenhum fruto é permanente. Todos apodrecem e acabam. A única forma de um fruto permanecer é em sua semente. Ele gera, nutre e protege a semente para que ela produza outro fruto que produza semente. Quando a semente está pronta para ser plantada, o fruto morre.
A paternidade não tem futuro senão nos filhos. Por isso, só é permanente na permanência dos filhos.

A paternidade não é uma relação imposta. Primeiro, ela nasce no coração de quem gerou, num processo de adoção. Os filhos naturais, mesmo eles, precisam ser adotados. Com o nascimento do filho e o cuidado e afeto que o pai lhe dedica, a criança aprende que aquele é seu pai e o adota como tal. Primeiro, o coração do pai é convertido ao filho para que, então, o coração do filho se converta ao pai.

Que o Senhor nos ajude a criarmos filhos que sejam maiores que nós, façam obras maiores que as nossas, saibam mais que nós, cresçam mais que nós, vão mais longe que nós, conheçam a Deus mais que nós, preguem melhor que nós, profetizem mais e melhor que nós, vejam mais que nós. Que sejam uma geração melhor que a nossa!

A bênção dos servos de Davi é uma lição maravilhosa que precisamos aprender na nossa paternidade:

E também os servos do rei vieram abençoar a nosso senhor, o rei Davi, dizendo: Faça teu Deus que o nome de Salomão seja melhor do que o teu nome; e faça que o seu trono seja maior do que o teu trono. E o rei se inclinou no leito. 1 Rs 1.47

Tomemos lição no fato de que Satanás está querendo acabar com a paternidade. A paternidade traz a referência, o sentido profético da família, assim como a mãe é o lado pastoral. Onde não há profecia, onde não há paternidade efetiva, a família se corrompe, se perde.

Filhos precisam de pais – não somente no ambiente da família, mas na igreja também!

Jamê Nobre mora em Jundiaí, SP, é casado com Irani e tem três filhas casadas, um filho e quatro netos. Ele dá assistência espiritual a diversas igrejas e lideranças no Brasil e no exterior.

QUADRO: PATERNIDADE / PATERNALISMO

Paternidade:

Pai entesoura para os filhos
Pai alegra-se na realização dos filhos
Pai prepara o filho para caminhar livre
Pai desaparece para que os filhos sejam notados
Pai espera que os filhos sejam bem-sucedidos
Pai perde para o filho ganhar
Pai ensina tudo aos filhos, não há segredos
Pai leva filhos a experimentar riscos

Paternalismo:

Filhos enriquecem os pais
A glória é dos pais
Pai prende os filhos e não os libera
Pai “precisa” ser honrado
Pai procura garantir segurança para si mesmo na velhice
Forte competição entre pai e filho
Pai tem “cartas na manga”, não revela tudo
Pai não confia em seu ensino, nem nos filhos; por isso superprotege

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