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Minha História – Prisão e Resgate

H. C. Morrison

Foi durante a semana do Natal que fui detido e arrastado para o tribunal. Eu era apenas um garoto, no meu décimo quarto ano de vida. Fui pego em flagrante; não havia nenhuma desculpa. Parecia não ter qualquer atenuante, ajuda ou esperança. Eu era culpado. Fui empurrado para o banco dos réus, a portinha foi fechada e um policial enorme ficou olhando para mim, apoiado na portinha, com uma expressão de satisfação por ter-me arrancado das ruas e saber que logo receberia o castigo merecido.

Senti-me totalmente impotente. Não conseguia sequer chorar. Já havia chorado todas as lágrimas que havia no meu organismo. Estava esgotado e sem emoções, apenas me sentindo totalmente esmagado com um enorme senso de culpa e sem esperança. O juiz estava sentado em sua cadeira imponente, mas nem ousei olhar em sua direção. Eu não tinha esperança de misericórdia e sabia que a justiça seria minha ruína.

O tribunal estava lotado. As pessoas olhavam para mim, encolhido num canto do banco dos réus, com expressões que pareciam dizer: “Juiz, dê-lhe a penalidade total da lei e poupe a sociedade de maiores problemas”.

Finalmente, o escrivão anunciou a abertura da sessão, e o meu processo foi o primeiro a ser anunciado. O juiz perguntou se o garoto tinha alguém para representá-lo. “Representar” era uma palavra nova para mim. Achei que o meu representante seria o meu executor. O escrivão respondeu que eu não tinha ninguém.

O juiz, então, apontou para um advogado e disse: “Nomeio você para representar esse garoto”. O advogado levantou-se e caminhou lentamente, por entre as cadeiras, aproximou-se do banco dos réus, empurrou levemente o policial para um lado, abriu a portinha e se colocou ao meu lado.

Tremendo de medo, totalmente encolhido, com olhos arregalados de terror, olhei para o meu advogado. Ele tinha um rosto maravilhoso; tinha traços fortes, porém era calmo, cheio de bondade e tinha uma beleza singular. Observei que havia uma lágrima suspensa num dos seus cílios. Aquela lágrima me ajudou extraordinariamente. Em seguida, sentou-se ao meu lado e colocou o braço no meu ombro. Parecia que até os meus ossos haviam-se deslocado de suas juntas. Mal conseguia respirar.

Meu advogado me puxou para perto dele. A pressão foi tão suave e, ao mesmo tempo, tão forte. Parecia restaurar e reajustar meus ossos e relaxar os nervos. Comecei a respirar mais profundamente. Abaixando-se, sua barba sedosa roçando levemente meu rosto queimado pelo sol, colocou seus lábios perto do meu ouvido e sussurrou: “Meu amiguinho, você é culpado?”

Eu não poderia ter mentido para ele, nem que fosse para salvar minha vida.

Com a voz trêmula, respondi: “Sim, senhor, sou culpado de muito mais do que o senhor imagina”.

“Bem”, ele disse, “não acha que seria melhor para nós admitir o delito e lançar você para a misericórdia do tribunal?”

Eu não imaginava o que significava ser lançado para a misericórdia do tribunal, mas tinha certeza de que se era ele que estava me lançando, eu cairia no melhor lugar possível. Respondi imediatamente que sim. Meu advogado me deu um tapinha carinhoso na cabeça e se colocou em pé de frente para o juiz.

“Meritíssimo”, ele começou, “tem sido meu privilégio advogar durante muitos anos neste tribunal e sempre constatei, com muita satisfação, que, desde que o objetivo da justiça fosse garantido e a sociedade protegida, Vossa Excelência se prontifica a usar a prerrogativa da função e mostrar misericórdia. Agradeço ao tribunal por ter-me nomeado para defender os interesses deste garoto. Ele confessa que é culpado. Seu coração está partido. Está totalmente contrito. Tem sido um órfão desde a infância, é dependente, não dispõe de recursos e suplica por compaixão.”

Estendi meus dedos esqueléticos e encardidos em sua direção e agarrei a ponta do seu paletó. Agarrei-me a ele com a sensação de que se eu conseguisse continuar segurando ali, ele me tiraria do meu dilema. Achei que ele já tivesse concluído sua defesa, mas era apenas uma introdução. Um silêncio profundo caiu sobre o grande ajuntamento, e sua voz branda e bondosa cresceu em volume até encher todo o recinto com o mais maravilhoso apelo. Ele falou de crianças órfãs, de sua solidão, de sua falta de proteção, das tentações a que eram sujeitas, de sua desolação – de como eram cordeiros sem pastor num mundo cheio de lobos vorazes prontos para devorá-los.

Ele continuou falando até que os espectadores mais severos amoleceram e homens idosos começaram a gemer audivelmente. Depois de um tempo, enquanto ainda falava, vi que lágrimas escorriam pelas faces do policial que, agora, olhando para mim com ternura, perguntou em tom suave se eu não queria um copo d’água. Porém, eu estava focado demais, agarrando-me ao paletó do meu advogado, fixando o olhar no seu rosto maravilhoso e prestando atenção em suas palavras eloquentes; não cabia nenhum outro sentimento de necessidade ou desejo. Eu estava respirando profundamente. Vida e esperança renovadas estavam permeando gradativamente meu interior. Além de tudo, mesmo sem entender conscientemente, estava brotando no meu coração um profundo e genuíno sentimento de amor por meu advogado.

Finalizando sua petição, meu advogado disse: “Meritíssimo, se Vossa Excelência, no espírito de misericórdia, recusar as acusações e absolver o garoto, comprometo-me a me tornar seu guardião, a garantir que terá um lar com a devida proteção. Prometo acompanhá-lo para que tenha uma boa educação e entregarei à sociedade um cidadão bom, capaz de contribuir de forma positiva.”

Mal consegui me conter de tanta alegria. Parecia que meu coração estava explodindo dentro de mim, de tanta gratidão. Senti que se permitissem que eu colocasse meus sapatos furados em cima do banco onde estava sentado e me lançasse, com minhas roupas maltrapilhas, no pescoço do meu advogado e beijasse seu rosto ao menos uma vez, poderiam até me levar para fora e me enforcar, que eu morreria jubiloso.

No meio do seu maravilhoso discurso, em alguns momentos, meu advogado havia se dirigido ao juiz como “meu pai” ao invés de usar o tratamento “Vossa Excelência”. Isso me comoveu profundamente. Percebi que se o juiz havia nomeado o próprio filho para me defender, era mais do que provável que ele atenderia sua petição e mostraria misericórdia em meu favor.

Havia homens por todo aquele tribunal em prantos. Eu estava segurando o paletó do meu advogado com as duas mãos. O policial já tirara seu quepe e, com o lenço, estava cobrindo o rosto banhado em lágrimas. Era um momento muito emocionante. Meu advogado estava chegando ao auge de sua petição.

“Meu pai”, ele exclamou, “esta criança por quem estou suplicando não é outro senão meu irmão!”

Percebi neste instante que se o juiz era o pai do meu advogado, e o advogado era meu irmão, então o juiz também era meu pai!

Não consegui mais me conter. Com um brado de alegria, saltei do banco dos réus, fui correndo para a mesa do juiz e me lancei no seu peito. Ele me abraçou longamente com força e ternura que pareciam atravessar o meu ser de ponta a ponta, me tornando uma nova criatura.

Cercando-me com seus braços, ele ficou em pé e disse: “Alegrem-se comigo, pois meu filho que estava morto reviveu; estava perdido e foi encontrado”.

Toda a multidão no tribunal irrompeu em lágrimas e risos. As pessoas se abraçavam. Todo mundo parecia querer pegar na minha mão. Congratularam meu advogado, e todos nós rimos, choramos e rejubilamos juntos.

Não preciso explicar que o tribunal era uma Igreja Metodista, que o julgamento era um avivamento no estilo antigo, que foi a Palavra de Deus que me deteve e me arrastou, condenado e culpado, para o tribunal de justiça. O Pai eterno era o Juiz no trono e o Senhor Jesus Cristo foi o Advogado que apresentou a petição, ganhou a causa, conquistou minha absolvição e assegurou minha eterna salvação.

Recordo-me com muita ternura daquela memorável ocasião em que, encurvado e sobrecarregado de culpa e escravizado pelo pecado, Jesus Cristo interveio em meu favor, quebrou minhas correntes, apagou totalmente minha culpa e, no trono do universo, assegurou para mim plena e graciosa absolvição, bendito e glorioso perdão e revelou a espantosa verdade de que o grande Deus – o Juiz de toda a Terra – era e é meu Pai no Céu.

Não imagine que seus pecados sejam numerosos demais ou negros demais!

“Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados são como o escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que são vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã” (Is 1.18).

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