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Como usar a espada da Palavra contra as aflições

 William Gurnall (1617 – 1679) 

O cristão está vulnerável a tormentas e tempestades de todas as direções. Ele não é como uma casa cercada que é bem protegida por colinas ou bosques de forma que o vento só a atinja de uma direção. Como o vento estranho que “atingiu os quatro cantos” da casa de Jó (Jó 1.19), as aflições do cristão não deixam nenhum canto ileso. Muitas vezes, ele é atacado por pressão financeira, problemas físicos e um espírito ferido, tudo de uma só vez. E quando tantos mares de tristeza se encontram, não é fácil para o coração do cristão permanecer intacto diante de suas ondas violentas.

Deus permite que seus filhos passem por muitas provações e tentações diferentes: “Muitas são as aflições do justo…” (Sl 34.19). Mas a Escritura é um jardim que contém uma promessa consoladora para cada tristeza. Um cristão sábio reúne uma de cada tipo e as anota como um médico que mantém registros de prescrições experimentadas e comprovadas para todo tipo de doença.

Minha tarefa aqui é aconselhá-lo para saber como usar a espada da Palavra para defesa e consolo em qualquer aflição que possa atacá-lo. Conheça o seu direito às promessas de Deus. Este é o ponto fundamental que determinará como a disputa entre você e Satanás desenrolará no dia da angústia. Quão patético para um cristão é ficar à porta da promessa na noite mais escura da aflição e ter medo de girar a maçaneta! Esse é o exato momento em que devemos entrar e encontrar abrigo assim como uma criança corre para os braços do pai. “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira” (Is 26.20).

Medite nas promessas de Deus

É da natureza humana pensar mais sobre o problema do que sobre a promessa de Deus. Mas a promessa tem poder em si mesma de restaurar o espírito. Quando um bebê que está chorando toma o alimento de que precisa, ele adormece no seio. E o cristão deixa de reclamar de sua aflição assim que toma posse da promessa e desfruta de sua doçura em seu coração: “Nos muitos cuidados que dentro de mim se multiplicam, as tuas consolações me alegram a alma” (Sl 94.19).

Quando um enxame de abelhas se desaloja, elas ficam confusas, voando em todas as direções desordenadamente, até entrarem em sua colmeia novamente. Nesse momento, o alvoroço termina, e elas voltam a trabalhar tão pacificamente como antes. O mesmo ocorre no coração do cristão. Deus, por meio da promessa, é a colmeia da alma. Quando o filho de Deus solta seus pensamentos, estes entram num turbilhão com medo da aflição ou tentação diante dele. Mas assim que recolhe seus pensamentos perdidos e fixa seu coração na promessa, ele recupera seu consolo. O Espírito de Deus faz um chamado para que se retire dos pensamentos perturbados e se refugie nele, onde acha quietude e confiança: “Descansa no SENHOR e espera nele (Sl 37.7).

O coração do cristão assume a cor que seus pensamentos mais permanentes o tingiram. Ideias transitórias, mesmo que sejam confortavelmente neutras, não têm muito efeito na alma, seja pela alegria ou seja pela tristeza. O veneno não mata e a comida não nutre, a menos que permaneça no corpo. Mas quando os pensamentos de uma pessoa estão impregnados de tristeza todos os dias e temores amargos penetram em seu coração, ele provavelmente ficará abatido com “um espírito de enfermidade” (Lc 13.11). Nesse caso, ele se torna incapaz de desviar seu coração do pensamento de sua cruz para meditar na promessa renovadora da ressurreição.

Por outro lado, a promessa de Deus funciona eficazmente quando o crente acorda e caminha com ela ligada ao coração. Nenhuma dor que ele sinta nem o perigo que tema podem retirar-lhe a promessa; mas assim como Sansão seguiu seu caminho comendo o favo de mel, o cristão deve alimentar-se da doçura da promessa. É por isso que um filho de Deus pode passar as horas de sua aflição cantando e louvando enquanto outros suspiram e murmuram.

Tenha cuidado, caro cristão, para praticar este dever de meditação. Não apenas converse de passagem com a promessa, mas, como Abraão com os anjos, convide-a para ficar na porta de sua tenda para que você consiga desfrutá-la plenamente. É assim que os santos através dos séculos fizeram com que sua fé triunfasse sobre os problemas mais trágicos. “O meu amado”, disse a mulher, “passa a noite entre os meus seios” (Ct 1.13). Em outras palavras, quando as tristezas pressionam para causar medo, ela passa a noite meditando no amor e na beleza de Jesus, em sua beleza e ternura para com ela. Quando você aprender a fazer isso, não sentirá a gravidade da aflição mais do que sentiria o frio cortante do vento norte enquanto permanece na frente de uma lareira ardente.

Quando um cristão pode ficar de pé sobre esta Pisga de meditação (monte de onde Moisés avistou a terra prometida – Dt 34.1) e contemplar com o olho da fé o panorama das grandes e preciosas coisas que o fiel Deus preparou para ele, é fácil desviar-se do amor e da rejeição do mundo. Mas é difícil para alguns de nós chegarmos lá, porque nos cansamos depois de apenas alguns passos subindo em direção ao monte de Deus. É quando devemos clamar: “Leva-me para a rocha que é alta demais para mim” (Sl 61.2). Quem nos elevará até este monte sagrado de meditação, mais alto do que as ondas que surgem com força lá embaixo e nos castigam? O Espírito de Deus nos carregará em seus braços eternos e nos levará até lá.

Se pudéssemos aproveitar melhor as horas que dedicamos a prazeres inferiores e entretenimento carnal, o Espírito certamente viria ao nosso encontro. Mas se cedermos somente a uma luxúria para nos divertir – mesmo que seja por um momento de lazer – Satanás estará lá para “ajudar”. Em vez disso, devemos abrir as velas dos nossos barcos e deixar que o Espírito Santo as encha com o seu próprio sopro.

Se formos sacerdotes dispostos e colocarmos a madeira e o sacrifício em ordem no altar, o fogo do céu descerá. Mas tenha cuidado para fornecer combustível – juntando verdades das promessas divinas para meditação e focando seus pensamentos nelas. Então, o Espírito de Deus acenderá suas afeições: “Enquanto eu meditava”, disse Davi, “ateou-se o fogo; então, disse eu com a própria língua” (Sl 39.3).

Suplique as promessas no trono da graça

A meditação preenche o coração com conteúdo celestial, mas é a oração que permite descarregar o peso e derramá-lo sobre Deus, movendo-o para dar o alívio desejado. Embora seja um conforto para uma pessoa sem dinheiro ler suas declarações contábeis e descobrir que alguém lhe deve dinheiro, isso por si só não trará pão para a próxima refeição. O pagamento da dívida é que o fará. Ao meditar na promessa de Deus, podemos ver que há libertação da aflição; mas isso não acontecerá até que a oração da fé cobre a dívida: quanto a vós outros que buscais a Deus, que o vosso coração reviva” (Sl 69.32). “Contemplai-o e sereis iluminados (Sl 34.5). Se você retiver sua oração, Deus reterá sua misericórdia.

A meditação é como a preparação do caso pelo advogado a fim de pleiteá-lo no tribunal. Depois de ter visto a promessa e disposto o coração para as riquezas dela, corra ao trono da graça e exponha-a diante do Senhor, como Davi fez: “Lembra-te da promessa que fizeste ao teu servo, na qual me tens feito esperar” (Sl 119.49).

Aja na fé de que Deus cumprirá suas promessas

A segurança do cristão está na fidelidade e força de Deus que é quem prometeu; mas essa segurança não será uma realidade a menos que a fé acredite que ele realizará a sua Palavra. A razão pode tentar desencorajá-lo e, se sua fé for fraca ou baseada apenas no sentido e na razão, você tirará pouca satisfação da promessa. Muitos cristãos estão amarrados por medos porque sua fé não tem força ou ousadia para agir em confiança em um Deus poderoso.

Por que sois tímidos, homens de pequena fé?” (Mt 8.26). Aqui você pode ver o vazamento onde a água entrou para afundar seus espíritos – eles tinham “pouca fé”. Não é o que Deus é, mas o que achamos dele que faz a diferença entre vitória e derrota. Se um homem acha que sua casa vai desmoronar em um tornado – mesmo que seja imóvel como uma rocha – essa pessoa provavelmente ficará desprotegido do lado de fora na tempestade, em vez de confiar no abrigo para resguardá-lo.

Para manter a energia da fé no poder das promessas de Deus, teremos de dispensar, de certa maneira, o sentido e a razão como nossos conselheiros. Por que Abraão não vacilou em sua fé, embora a promessa fosse tão estranha? “Não atentou para o seu próprio corpo já amortecido (Rm 4.19, ARC). E, por outro lado, o que fez Zacarias vacilar? Ele ouviu o conselho da razão e achou que era velho demais para ter um filho. Como Tomé, estamos propensos a levar nossa fé nas pontas de nossos dedos – confiando em Deus só até onde as mãos dos nossos sentidos podem alcançar. Deus está muitas vezes a caminho para cumprir uma promessa e entregar boas novas aos seus servos aflitos, quando os sentidos e a razão fecham o caso como sendo sem esperança.

Sentido, razão e fé são entidades separadas que não devem ser confundidas uma com a outra. Sabemos algumas coisas pelos sentidos, mas não podemos entendê-las pela razão. Outras realidades são aceitas pela razão, mas não podem ser discernidas pelos sentidos, como o tamanho do sol que excede a circunferência da Terra – ao mesmo tempo em que, avaliado pelo olho, o sol pode ser coberto com um chapéu. Ainda outras coisas, que vão além do sentido e da razão, são totalmente claras para a fé. Pela fé, Paulo sabia, mesmo quando toda a esperança se tinha ido, que nenhum homem morreria na tempestade do mar: tende bom ânimo! Pois eu confio em Deus que sucederá do modo por que me foi dito” (At 27.25).

Quando o anjo tocou Pedro e lhe disse: “Levanta-te depressae segue-me”, Pedro não deixou a razão responder à impossibilidade da situação (At 12.7-8). Como ele poderia andar rapidamente estando acorrentado? E o portão de ferro que o prendia? Ele não deu ao senso comum a chance de fazer perguntas, mas se levantou e viu suas correntes caírem – pouco antes de o portão se abrir sozinho! Portanto, não diga que é impossível suportar sua aflição ou escapar de uma certa tentação. Dê liberdade total à fé para seguir a promessa, e Deus soltará os nós que a razão e o sentido amarraram.

Lutero admoestou os cristãos em toda parte a crucificarem a palavra “como” – como você conseguirá passar por este problema ou resistir a um ataque tão árduo? Deus não tem sido fiel em dar muitas promessas que impedem o mal de alcançá-lo? “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei” (Hb 13.5); e “A minha graça te basta (2 Co 12.9). Nada “poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.39).

Um provérbio judaico diz: “Feche as janelas e a casa será iluminada”. Em outras palavras, não julgue pelos sentidos, mas pela fé em um Deus onipotente. O maior ato de fé é acreditar naquelas coisas que parecem mais improváveis; e o maior ato de amor, por causa de Cristo, é suportar pacientemente as coisas que trazem dor. Ao fazer isso, estamos negando o raciocínio carnal que contesta o poder e a força de Deus.

– Do livro de 2002 The Christian in Complete Armour (O Cristão em Armadura Completa); Volume Três, de William Gurnall. Reproduzido com permissão de Banner of Truth, P.O. Box 621, Carlisle, PA 17013, EUA.

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Uma resposta

  1. Enxergar o invisível, acreditar no improvável é a descrição da fé, que Deus tenha misericórdia de nós, por duvidarmos tanto dEle. Obrigado por mais este artigo abençoador.

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