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CAP 4 – O DIVINO MANIPULADOR ?

Fiquei chocado quando ela entrou em meu escritório. A aparência era de uma pessoa cansada, os olhos pareciam velas se apagando, como se toda expectativa por algo bom estivesse extinta. Usava uma bolsa enorme para esconder os hematomas e arranhões. Estava inquieta e nervosa, tropeçando nas palavras, quando ofereci um copo de café, pra aliviar. Então, ela começou a contar sua história: “eu convivi com esse cara”. O que veio depois foi uma lista de crueldades ditas e feitas a ela por aquele cara nos últimos seis meses. E como se ela não tivesse dito nada, quase numa irreverência, saiu de sua boca: “mas eu sei que ele me ama”. A percepção de amor daquela jovem demonstra um dos maiores erros que nossa geração comete sobre o amor. O que mais me incomoda é ver milhares de mulheres e homens feridos, com esta crença patética, de que o amor não precisa ser gentil e amável para ser autêntico.

Isso me fez lembrar as crianças famintas que aparecem na TV, reduzidas a pele e osso, de barriga inchada, os lábios feridos, com moscas voando ao redor, agachadas na rua esperando a morte. A aparência destas crianças, sem brilho algum, é a mesma daquela jovem em meu escritório. Quão terrível a vida precisa ser para que a pessoa nem mesmo espante as moscas em sua boca? Será que a vida é tão pálida que não valha a pena gastar energia fazendo isso? A imagem destas crianças na TV se tornou algo comum e aceitável para muitos americanos, da mesma forma que a crueldade nos relacionamentos. Talvez isto seja como as moscas nos lábios para uma geração faminta do verdadeiro amor. Pode ser até irritante para a alma, ou humilhante, mas a pessoa não se acha digna de não permitir esta prática.

Nos desviamos para tão longe do afeto que esquecemos o que ele realmente é. Para cada atributo do amor, existe uma falsificação, que parece e tem até o cheiro do amor, mas é exatamente o oposto. A gentileza foi substituída por uma falsificação que engana até as pessoas mais experientes, tanto dentro como fora das igrejas. O maior problema em engolir esta mentira é que interpretamos o coração de Deus da mesma forma e fechamos a porta para a compreensão do que realmente está no coração do Pai.

A grande falsificação do afeto é a manipulação

Quando o oposto do afeto, a manipulação, está presente, a verdadeira amabilidade é anulada. Para o afeto ser autêntico, não deve haver nenhuma motivação escondida. Caso isto esteja presente, deixa de ser afeto e se torna manipulação. Como nos acostumamos com a mentira, diante de um ato de afeto as pessoas perguntam: “o que você quer de mim?” Não conseguimos entender uma atitude carinhosa livre de qualquer interesse escondido. Ficamos intimidados e confusos quando experimentamos uma verdadeira atitude de carinho.

Já vi centenas de vezes em minha vida quando um homem fala palavras doces para uma mulher e logo em seguida a convida para sair. Ela fica receosa, mas convence seu coração que as palavras que ouviu foram sinceras e verdadeiras. Ao recuperar o bom senso, desfaz o relacionamento, e em poucos meses o fato se repete, quando um novo rapaz fala as palavras doces que seu coração gostaria de ouvir. O maior problema é que, convivendo com o afeto artificial, adaptamos nosso paladar a ele. Quando em contato com o verdadeiro, o rejeitamos, por ter um sabor diferente. Inevitavelmente isto afetará nosso relacionamento com Deus e até desenvolvermos o apetite pela afeição verdadeira, interpretamos sua personalidade de acordo com nosso paladar espiritual alterado.

Somos uma geração de cristãos viciados num “sabor do amor de Deus” que não tem nada a ver com o que ele realmente é. Pintamos um quadro tão distorcido e feio de Deus que qualquer pessoa normal não ficaria perto dele, e treinamos nosso paladar para preferir o que é falso e não o verdadeiro. É o que faz muitos homens pensar que as mulheres devem ser tratadas com dureza, e muitas sentem atração por isso. Estranhamente, este padrão doentio de amor faz parte da teologia de muitos cristãos. Quanto mais abusivo, mais atraídos eles sentem. Estes desprezam a mensagem da graça e não sentem atração alguma por ela.

Muitos encaram a religião como um relacionamento abusivo entre o marido e a esposa. Como a mulher em meu escritório, as pessoas são agredidas, espancadas, abusadas e, em vez de encarar o problema, preferem culpar a si mesmas. Dizem que se fossem melhores cristãs, isso não aconteceria, ou que este sofrimento faz parte de seu crescimento espiritual. Por causa de uma visão distorcida, entende isto como uma evidencia do amor, em vez de sua completa ausência.

A prova que os cristãos americanos entendem desta forma é claramente vista quando se unem para limpar pichações ou recolher o lixo da vizinhança. Por trás desta falsa manifestação de bondade, está o interesse escondido de levar os vizinhos para sua igreja. Eles agem assim pensando que Deus também faz da mesma forma.

Por causa da nossa crença no falsificado, acreditamos que as bênçãos de Deus são proporcionais ao montante que ofertamos. Mudamos a autêntica generosidade que diz “de graça recebeste, de graça dai” (Mt 10:8) por “se der, você recebe”. Isto reflete a personalidade do diabo, e atribuímos esta horrenda deformação a Deus, sem nenhum questionamento. A maioria dos cristãos de hoje são mais aptos para atribuir a Deus as coisas nocivas a nossas vidas do que quando acontece algo prazeroso. Outro problema desta mentalidade é que ela não conduz a um relacionamento verdadeiro.

Muitas pessoas acreditam que Deus é manipulador e egocêntrico em tudo o que faz. Se tivermos maus hábitos ou estamos fazendo algo errado, não devemos esperar nada de bom da parte dele. Se ele nos abençoa, imediatamente desejamos lhe dar algo em troca.

O afeto sempre vem do coração e a imitação vem da carne ou da mente. Como as pessoas não entendem a diferença entre o coração e a mente, são enganadas facilmente com coisas que fazem sentido para a mente, mas nenhum sentido com a verdade que está nos corações. O afeto é parte do amor, e por isso é eterno. Mas a amabilidade falsa é temporária. Por acreditarmos no falso, acreditamos que Deus valoriza as coisas temporárias e a medida de seu amor por nós é relacionada no tanto que ele beneficia nossa carne. As bênçãos financeiras são as maiores, e julgamos uma pessoa que está tendo lutas financeiras como se estivesse andando errada diante de Deus. A bondade de Deus não exige nada em troca e desafia a lógica humana. Quando alguém recebe a verdadeira generosidade, fica inseguro e parece que viu um fantasma. A sensação de humildade que o verdadeiro afeto produz em nossos corações é esmagadora e nos assusta, e por isso que desejamos retribuir. Somente após sermos capazes de receber o verdadeiro amor é que teremos condições de conhecer o coração de Deus.

As pessoas preferem a gentileza ao afeto. A gentileza pergunta como estamos, mas só o afeto quer saber a resposta. A gentileza dá um tapinha nas costas, mas o afeto invade o coração. A gentileza nos traz um sorriso, mas o afeto pode nos fazer chorar, pois expõe coisas intimas que estavam escondidas por toda nossa vida.

As pessoas ficam confusas quando Deus fala com elas. Elas pensam que ele quer confrontá-las com uma lista de pecados, mas Deus age de forma inesperada, mostrando como elas são amadas e que ele tem orgulho delas. Deus é desse jeito porque sabe que a causa de nossas lutas pessoais está no coração. Ele não vai confrontar as manifestações externas de um coração sobrecarregado ou abatido, mas ele se preocupa com nosso interior. Uma pessoa pode receber dez mil dólares no exato momento que precisava, sem ser tocado em seu coração, enquanto outro recebe um boneco de pano é levado às lágrimas. Deus prometeu nos prover de todas as coisas que precisamos mas, em seu amor, ele cuida de nossos corações. Onde a bondade é aplicada, ela sempre produz excelentes resultados. Derruba fortalezas, destrói todo tipo de vícios, quebranta os arrogantes. Você saberá que este amor é autêntico porque as porções mais profundas de seu ser serão sacudidas e transformada na presença dele.

O inferno fica sempre em nossa cabeça por causa daqueles pregadores que acham que o espírito humano é motivado pelo medo. Muitos dão mais poder ao medo do que à bondade. A brutalidade pode funcionar por um tempo, mas chega um momento em que perde seu poder. Respondemos melhor ao afeto, pois vem de Deus. Por sermos criados à imagem de Deus, respondemos melhor para o que vem dele, o que é eterno.

Minha vida mudou completamente quando entendi que meu coração é o centro das atenções de Deus. É como um diamante valioso que o joalheiro lava e fica examinando o brilho e a beleza. Tudo o que Deus faz contigo está relacionado em polir e trazer mais brilho ao teu coração. Quando ele fala contigo, ou te toca, é no coração que ele faz. E quando é tocado por ti, é através do teu coração. Deus é sempre gentil e seu amor move em nossos corações sem nenhuma manipulação e sem o desejo de ter algo em troca. Ele deseja desesperadamente se dirigir para a parte mais intima do teu ser. Deus quer tocar nossos corações a ponto de nos deixar pasmos e sem fala. O motivo pelo qual ele não exige nada em troca é que não temos como fazer nada em troca por sua generosidade. A única coisa que podemos fazer é parar e receber. Deus nos leva para uma dimensão além de qualquer possibilidade de retribuição onde somente a completa aceitação é adequada. E o coração humano só é plenamente realizado quando tocado por Deus, e ele é perfeito nisso. Conhecendo esta verdade muda todas as coisas.

Tradução e resumo do cap. 4 de Misundersood God, de Darin Hufford

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4 respostas

  1. Ezequiel, meu amigo… Você deixa a gente com vontade de quero mais com a tradução desse livro. Será que é possível encontrá-lo em espanhol?

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