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Vida Interior: Um Homem Segundo o Coração de Deus

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Por: Mateus Ferraz de Campos

Nossas vidas deixam marcas. De uma forma ou de outra, todos nós deixamos nesse mundo alguma espécie de característica que define nossa existência. Essa marca pode ser uma grande realização, uma contribuição significativa para a sociedade, a invenção de algo valioso e útil, vidas de pessoas que ajudamos, coisas que tivemos, erros que cometemos, enfim, sempre seremos lembrados por aquilo que fizemos e raramente por aquilo que fomos.

A lista é imensa quando falamos de biografias marcantes, e normalmente uma frase ou palavra é suficiente para lembrar-nos dos grandes ícones da história. Santos Dumont, inventou o avião. Nero, pôs fogo em Roma. Einstein, formulou a teoria da relatividade. Pedro Alvares Cabral, descobriu o Brasil. Martin Luther King, lutou pelos direitos dos negros. Martinho Lutero, iniciou a reforma protestante. Judas, traiu Jesus. Sejam grandes ou pequenas, são sempre as realizações que definem a biografia de um homem. Levi-Strauss, inventou a calça jeans. Adolf Hitler, foi o vilão da Segunda Guerra Mundial. Gregório XIII, criou o calendário. Henry Ford, inventou o automóvel.

Todos, de uma forma ou de outra deixaram marcas. Todos nós deixamos. Todos temos uma nota biográfica. Talvez não tão pomposa quanto a de alguns, nem tão dramáticas quanto a de outros, mas de certa maneira, nossas vidas ficam registradas pelos pequenos e grandes atos que envolvem nossa passageira existência. Qual seria a marca da sua vida? João, o homem que conseguiu emagrecer 20 quilos em um mês. Marcos, que gostava de comer sorvete com carne. Patrícia, mãe de quadrigêmeos. Joana, conheceu 57 países. Cláudio, urinou na cama até os dezoito anos. Antônio, tocava violão com as cordas invertidas.

Ou talvez biografias mais comuns. Felipe, permaneceu casado e feliz durante cinqüenta e sete anos. Paulo, o mais querido professor da faculdade. Mário, pastoreou fielmente a mesma igreja durante 23 anos. Júnior, levou seu colégio à conquista do campeonato de basquete. Marta, ensinou 123 crianças na escola dominical.

Todos somos de certa forma lembrados. Todavia, somos especialmente lembrados pelos erros que cometemos. A Bíblia é cheia de exemplos. Tomé, o incrédulo. Jonas, o profeta fujão. Um exemplo clássico é o do apóstolo Pedro. Apesar de ter sido uma das principais colunas da igreja primitiva, a primeira lembrança associada ao seu nome é “o discípulo que negou a Jesus”. A memória humana é tragicamente tendenciosa a julgamentos. O que fica registrado são nossas atitudes, nossos feitos, nossas contribuições históricas ou nossos fracassos.

O personagem que quero enfocar neste artigo é um destes homens lembrados de várias maneiras. Davi, o pequeno pastorzinho de ovelhas. O adolescente que lutava com leões e ursos. O mais esquecido de sua família. O valente que derrotou o gigante. O rei que conquistou os povos ao seu redor. O rei adúltero. O rei assassino. O pai desleixado. Talvez essas sejam suas principais descrições do ponto de vista humano.

No entanto, o que verdadeiramente nos interessa é sua nota biográfica escrita pelo Senhor da História. Como Deus o via? Como o Pai celestial o enxergava? Sendo Deus o autor de sua nota biográfica, o que ele escreveu? Será que atentou aos seus grandes feitos? Impressionou-se com seu grande potencial de guerra? Usou seus erros e fracassos para escrever uma tese sobre o pecado? O que o grande autor da vida escreveu sobre este homem de feitos históricos?

Todas as hipóteses descritas acima são, sem dúvida alguma, perspectivas humanas. Se a biografia de Davi fosse deixada sob a responsabilidade de qualquer um de nós, seus feitos e fracassos seriam a base para definirmos esse homem. Feitos notáveis, fracassos mais notáveis ainda.

Mas voltando à questão original, qual foi o critério de Deus? Certamente não foram as vitórias de Davi que chamaram a atenção do Todo Poderoso. Afinal, o que são algumas batalhas vitoriosas para o Senhor dos Exércitos? Felizmente não foram também os desastrosos erros de Davi que o tornaram conhecido nos céus. A biografia escolhida por Deus, não se detém em feitos ou fracassos. Deus não nos olha com a mesma perspectiva dos homens. Ele não está interessado no que fazemos, e sim no que somos. E sob esta perspectiva, Davi obteve talvez a mais bela nota biográfica de toda a Bíblia. A de homem segundo o coração de Deus.

O rei que Deus escolheu. O homem que escolheu a Deus. Davi poderia ser tido como exemplo para todos nós por diversos motivos. Mas não quero analisar aqui o que nossos olhos humanos tendem a ver, e sim olhar para Davi, se possível, pela perspectiva de Deus. Não é a sua capacidade de liderança que queremos olhar. Nem tampouco sua determinação e coragem diante do gigante Golias. Não queremos analisar a imponência de seu império. E também vamos deixar de lado suas catástrofes morais. Vamos tentar olhar para o coração de Davi, porque esse é o maior exemplo a ser seguido. Um coração que se inclinava para Deus.

Ser um homem segundo o coração de Deus, é uma dádiva a ser perseguida. Sonhar o que Deus sonha, amar o que Deus ama, querer o que Deus quer. Ir além do nosso egoísmo. Odiar o que Deus odeia. Chorar pelo que ele chora. E respeitando sua magnificência, buscar com ousadia o que o ser humano talvez nunca consiga em sua plenitude, entrar no coração de Deus.

Embora seja uma tarefa impossível e um ideal utópico, é esse sentimento que nos levará a ter um coração segundo o coração de Deus. Porque somente aquele que tem sede, busca a fonte das águas. Somente aquele que busca tesouros tem coragem suficiente para mergulhar nos profundos mares ou garimpar as mais difíceis minas. Nas palavras de Tommy Tenney, precisamos ser “caçadores de Deus”. Desesperados por ele. Buscá-lo como a jóia mais preciosa no meio de tantas semi-jóias que o mundo nos oferece. Você está disposto?

Satisfação e Apostasia

“(…) e tornemos a trazer para nós a arca do nosso Deus; porque não a buscamos nos dias de Saul.” (1 Cr 13:3)

Davi surge em um contexto agitado. Ser rei em Israel era novidade. Não existia uma dinastia de reis que tivesse durado gerações. Ele era na verdade o segundo rei. Toda essa história monárquica começou em Israel quando o povo procurou o profeta Samuel para requisitar um rei.

“Então todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram ter com Samuel, a Ramá, e lhe disseram: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam nos teus caminhos. Constitui-nos, pois, agora um rei para nos julgar, como o têm todas as nações. Mas pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei para nos julgar. Então Samuel orou ao Senhor. Disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não é a ti que têm rejeitado, porém a mim, para que eu não reine sobre eles.” (1 Sm 8.4-7)

“Queremos um rei!” disse o povo ao profeta. “Queremos ser como as outras nações! Todos têm um rei, queremos também um rei!”

O povo não somente estava pedindo um rei, como estava negando o reinado de Deus sobre eles. Queriam ser iguais aos outros. Queriam ter um trono visível com um rei de carne e osso com uma pomposa coroa sobre a cabeça, diante do qual pudessem se ajoelhar e reverenciar. Note que o pecado por trás desse pedido é a idolatria. Queriam substituir a Deus. Colocar no trono de Deus um homem. Entregar em mãos humanas o governo pertencente a Deus. Toda essa loucura tinha uma justificativa: As outras nações têm seus reis.

Que tristeza, quando o povo escolhido para ser propriedade particular de Deus deseja se tornar como os outros. Aqueles que foram escolhidos para ser modelo das nações, menina dos olhos de Deus, agora desejam ser confundidos com os outros povos da Terra. Atitude reprovável, não?
No entanto, o apóstolo Paulo é claro em dizer que os erros cometidos por Israel são espelho para nós todos. Um sábio filósofo disse: “A história sempre se repete, porque ninguém presta atenção”. O erro desastroso do povo de Israel é hoje perpetuado na Igreja.

“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;” (1 Pe 2.9)

É lamentável que o povo de propriedade exclusiva de Deus, tem freqüentemente feito barganhas com o sistema corrupto de nossos dias, baseado na justificativa fajuta de que todos os outros são iguais. Muitas vezes temos perdido nossos valores, que custaram tempo e muitas vezes sangue, para serem mantidos. E nossa justificativa é sempre a mesma. “Não é tão ruim assim, todos fazem”, ou “Vivemos em uma sociedade moderna, não podemos manter esses antigos tabus”. Todas as vezes em que o povo de Deus tenta se assemelhar ao mundo, ele perde a comunhão com Deus.

Essa verdade é clara na história de Saul. Ele era o rei que o povo exigiu. Representava a satisfação do povo. Com um rei estabelecido, o povo de Israel agora se sentia satisfeito com sua posição diante das outras nações. Agora eles tinham um rei! No entanto, estar satisfeito nem sempre é sinônimo da aprovação divina. Por diversas vezes, a satisfação precede a apostasia. Veja novamente as palavras de Davi:

“(…) e tornemos a trazer para nós a arca do nosso Deus; porque não a buscamos nos dias de Saul (1 Cr 13.3).

Antes da escolha de Saul, o povo já havia perdido a arca de Deus. Pior do que isso, ela havia caído nas mãos dos seus inimigos. A arca simbolizava a presença de Deus. Em outras palavras, o povo de Israel havia deixado a presença de Deus ir embora, e o novo rei não fez nada para trazê-la de volta. Pelo contrário. Ninguém se manifestou para buscá-la, ninguém sentiu falta dela. Todos estavam satisfeitos com o novo monarca. “Por que precisaríamos daquela caixa por aqui, se temos uma coroa”? Por que precisaríamos de Deus, se temos um rei?

Assim, a presença de Deus foi esquecida e o povo entrou em um longo processo de apostasia.

A satisfação nem sempre é boa. Estar cheios nem sempre é sinal de bênção. Muitos têm trocado a presença de Deus pela sensação de saciedade. Muitos têm deixado a presença de Deus ser levada por inimigos, sob a justificativa de que tudo vai bem. Temos medido o favor de Deus pelas aquisições financeiras. Temos chamado materialismo de bênção. Somos a geração da falsa satisfação. A geração cuja satisfação tem que ser imediata. Faça uma ligação telefônica e sua pizza chega em poucos minutos. Acesse a Internet e tenha acesso ao mundo todo no digitar de seus dedos. Acesse os sites corretos e poderá obter sua satisfação sexual. Somos a geração que busca saciedade.

E o povo de Deus tem importado essa mentalidade para dentro da Igreja. Deus não é mais um rei a ser adorado. Receio que em alguns lugares ele mais se parece com um garçom estendendo o Menu para escolhermos o prato do dia (promoção no emprego, carro do ano, bênção financeira, etc). Estamos muito satisfeitos.

Nossos templos são bonitos, nossas igrejas estão lotadas, nossos congressos possuem uma grande bancada evangélica, não precisamos da presença de Deus. Não precisamos mais buscar sua face. Parece evidente que ele está contente conosco. Estamos vivendo os dias de Saul.
Amado, Deus está nos chamando para buscá-lo novamente. Temos que responder ao chamado de Deus feito através de Davi:

“Tornemos a trazer para nós a arca do nosso Deus.” Saiamos do nosso comodismo e dessa falsa sensação de saciedade e tornemos a sentir a urgência de buscar a presença de Deus.

Todos estavam satisfeitos, menos o homem segundo o coração de Deus. Ele tinha tudo para estar. Era o novo rei. A sensação da nação. O herói que todos aplaudiam. Tinha a coroa sobre a sua cabeça. Tesouros. Proteção. Tudo o que qualquer homem pudesse desejar estava nas mãos de Davi. Mas ele não estava satisfeito, pelo contrário, ele estava infeliz. Faltava o principal. Ele não queria substituir a Deus. Não queria assumir o lugar do seu Amado. Ele queria trazer de volta a presença de Deus à nação. Queria buscar a arca. Queria trazer Deus de volta à vida de Israel.

Isso é o que deu a Davi a sua divina nota biográfica.

Deus não o avalia por seus sucessos militares, também não busca um homem infalível. Louvado seja o seu nome por isso! O que ele enxerga é o coração. E quando olhava para o coração de Davi, ele via um vazio. Um vazio do tamanho de Deus!

Mateus Ferraz é pastor na Igreja do Nazareno em Americana.

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