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caminho que Jesus trilhou

Última Palavra: Quando Deus nos Visitou!

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Por: Mateus Ferraz de Campos

Quando se fala em acampamento de jovens, as opiniões se dividem. Alguns acreditam que se trata de uma espécie de escapismo inútil e que a igreja deveria ir para as ruas em épocas de Carnaval para pregar o evangelho ao invés de se esconder em retiros. Outros interpretam os acampamentos como uma espécie de colônia de férias, onde  os jovens mais se divertem do que falam de Deus.

Respeito as igrejas que possuem um ministério forte de evangelização em épocas críticas como o carnaval, mas como pastor de jovens, sou um defensor dos acampamentos. Provavelmente porque boa parte das marcas mais significativas que tenho em minha história com Deus aconteceu em momentos como este. No entanto, de todos os acampamentos que participei e realizei, nunca presenciei algo parecido com o que aconteceu em fevereiro de 2003.

Toda nossa equipe desenvolve uma expectativa muito intensa em relação aos acampamentos que realizamos, mas os preparativos para este ano pareciam assustadoramente diferenciados. Deus nos havia direcionado a usar o livro “Os Caçadores de Deus” como base de nossas reflexões e como tema do acampamento. As experiências narradas, especialmente no início do livro, nos impactaram poderosamente. Sugeri que toda a liderança lesse alguns capítulos selecionados do livro para que todos pudéssemos estar no mesmo espírito ao ministrarmos.

Depois de ler os episódios narrados por Tommy Tenney em seu livro, alguns líderes da minha equipe me procuraram assustados, dizendo: “Você realmente espera que isso aconteça em nosso acampamento?”

Bem, o temor de meus amigos era compreensível; afinal o livro narrava experiências de pessoas sendo jogadas a metros de distância pelo impacto da presença de Deus, púlpitos rachando ao meio, pessoas se jogando ao chão clamando por arrependimento – e tudo aquilo parecia um tanto quanto assustador.

Minha intenção era claramente definida. Eu queria que buscássemos a face de Deus. Não estava interessado em como isso aconteceria ou quais seriam as evidências da presença de Deus – o que queríamos era experimentar algo vivo da parte de Deus.

Será Que É Pedir Demais?

No início do acampamento, antes mesmo dos acampantes chegarem, fiz uma pergunta direta a Deus: Por que o Senhor se manifestaria aqui? Não estamos em um lugar consagrado (o local onde estávamos não é usado normalmente para fins espirituais), temos aqui somente jovens e adolescentes (que não constituem um dos públicos mais conceituados no meio evangélico) – será que não estou pedindo demais?

Vivenciar estes momentos de manifestação da presença de Deus já não é algo tão comum. Muitas vezes nossos templos parecem ter o teto de chumbo e o mais próximo que nos sentimos de Deus é quando uma bela canção nos leva a refletir sobre o seu amor! Nossas experiências são tão limitadas! Acabamos simplesmente analisando teologicamente os grandes encontros de homens de Deus, como Moisés e Davi, como se fôssemos crianças olhando a bicicleta favorita na vitrine da loja, sem poder tocá-la! Se é difícil na igreja, pensava eu, por que deveria esperar que isso acontecesse ali?

A resposta de Deus veio clara em meu coração. Porque Jesus nasceu em uma manjedoura. Porque o seu amor foi revelado mais plenamente em uma rude cruz. Porque suas maiores lições foram aplicadas na casa de pecadores. Porque sua presença se manifesta nos lugares mais inesperados, a pessoas que se consideram as mais indignas.

Creio que o mover de Deus está entre os jovens. Não porque são fortes, cheios de energia e capazes de alcançar mais pessoas para Cristo, por terem mais fôlego do que os demais. Não creio que a virtude dos jovens seja o seu potencial revolucionário de causar mudanças. Não creio que seja sua capacidade de se manterem atualizados com  o mundo e de contextualizarem melhor sua mensagem.

Creio que a maior virtude do jovem é a sua fraqueza, sua “falta de dignidade”, sua “insegurança”, sua visão clara de suas debilidades e limitações. Creio que Deus vai agir através de jovens e adolescentes por causa de sua insuficiência. E também creio que esse mover de Deus, tirando força da fraqueza, possa ser um recado para a igreja.

A seguir, vou narrar um pouco das experiências que tivemos naquele acampamento, usando três palavras que expressaram bem nosso sentimento.

Fome

Ao chegarmos no acampamento, fiz um desafio a todos que ali estavam. Eu disse: “Em todos os acampamentos, o foco de nossa equipe é você.

Ficamos preocupados em satisfazer suas necessidades, curar seus traumas interiores, restaurar seus relacionamentos familiares, demonstrar-lhes o quanto vocês são amados e valorizados – e quero que vocês entendam que tudo isso fazemos de coração. No entanto, esse encontro será diferente. Não estamos aqui pensando em vocês. Pode parecer egoísta de minha parte, afinal sou seu pastor, mas não consigo pensar em outra coisa a não ser buscar a face de Deus. Se precisa rem de nós, estaremos todos aqui para ajudá-los e aconselhá-los durante os momentos livres; mas quando estivermos nesse local de culto, acredite, não estaremos olhando para você, e sim para Deus.”

Isso foi uma libertação para toda a equipe. Não estávamos mais ali como “babás espirituais” de ninguém, só queríamos Deus. Queríamos buscar sua face. Queríamos que ele nos encontrasse e não somente que estivéssemos facilitando o encontro dele com outras pessoas. Creio que essa é a grande questão a respeito da manifestação da presença de Deus. As pessoas vão à igreja com suas mentes voltadas a todo tipo de coisa: a busca de bênçãos, de chamados ministeriais, de encontros com pessoas e muitas outras.

No entanto, Deus não se revelará a não ser que sua presença seja uma verdadeira e real necessidade. Ele se revela quando os ministros estiverem interessados em buscá-lo por eles próprios e não só em apontá-lo aos outros; quando as pessoas buscarem sua face e não suas mãos; quando o desejo de estar com ele for maior do que o desejo que o culto acabe; e quando sua presença for desfrutada e celebrada ao invés de ser usada como uma espécie de analgésico para crise de consciência.

Não posso dizer que todos naquele recinto tinham consciência dessas realidades, embora esse fosse meu desejo. Mas pude ver jovens com seus olhos banhados em lágrimas ao cantarem: “Senhor, eu te quero mais!” Seria isso fome? O resultado foi que nos primeiros dias não conseguíamos encerrar os cultos. As pessoas simplesmente não iam embora! Muitas vezes, por ser muito tarde, tínhamos que literalmente expulsá-los, para que pudéssemos dar seqüência às atividades do outro dia.

Medo

Uso a palavra “medo”, em parte porque creio que, pelo excesso de uso, perdemos o impacto da palavra “temor”, e em parte porque o que sentimos naquele dia nos assustou.

Tínhamos tudo planejado. No domingo falaríamos sobre arrependimento. Deixaríamos para falar sobre pecado nesse dia, porque queríamos bombardear os jovens com mensagens, peças teatrais, músicas e reflexões nos grupos pequenos, que os levassem a um arrependimento genuíno.

No entanto, a agenda de Deus era outra. No sábado, ao ministrar, tive o cuidado de não falar sobre pecado, para não nos tornarmos repetitivos nas ministrações. Falei sobre fome de Deus. Ao terminar, convidei as pessoas que queriam passar um tempo buscando a face de Deus para se aproximarem do altar. Quase todos se ajoelharam e começaram a buscar arduamente a presença de Deus.

Após algum tempo, fiquei temeroso de que caísse no erro de manipular a situação; por isso, dispensei aqueles que desejavam ir embora e deixei livre para quem desejasse permanecer. E simplesmente afastei-me do microfone.

Então aconteceu. Subitamente o clima mudou. O ar parecia ficar cada vez mais pesado e o choro dos jovens se intensificava, tornando-se quase um gemido. Uma convicção de pecado tomou o ambiente e todos pareciam atemorizados. A esposa do pastor titular de nossa igreja levantou-se e se aproximou do altar, quase carregada por um jovem que a acompanhava. Sua expressão era de dor e pavor. Chorando, começou a falar do peso que estava sentindo pelo pecado naquele lugar.

Logo depois, minha esposa veio da mesma forma, chorando como eu nunca a havia visto chorar. A dor era expressa em seus gemidos. Jovens começavam a passar uns por cima dos outros, clamando por arrependimento. Alguns chegavam aos gritos, clamando: “Preciso confessar o meu pecado!”  A nítida impressão que eu tinha era que poderíamos ser consumidos! E comecei a questionar o que estava acontecendo.

Então lembrei-me de que todas as vezes que a presença de Deus se manifestou na história, o resultado mais imediato era uma forte necessidade de arrependimento. Muitas vezes não vivenciamos o melhor do nosso relacionamento com Deus, porque não entendemos a dimensão do nosso pecado. Creio que a base para o perdão é o arrependimento, mas muitas vezes agimos como se o pecado fosse uma travessura de criança que Deus compreende. Quando ele se aproxima, então percebemos que sua santidade não pode coexistir com o pecado. Só poderemos desfrutar de um pleno relacionamento com o nos so Salvador, quando percebermos quão desesperadamente precisamos de salvação.

Essa experiência me fez pensar. Quanto mais poderíamos provar de Deus, se tivéssemos como igreja essa expressão de arrependimento? Enquanto nos escondermos atrás de nossas justificativas e nossas máscaras de santidade, continuaremos nos enganando e deixaremos Deus cada vez mais longe.

Intimidade

Tudo isso terminaria como um filme de terror se não fosse pelo que aconteceu depois. Eu temia que as pessoas deixassem de buscar a Deus com medo do que poderia acontecer, mas foi interessante ver que aquilo havia gerado um desejo ainda maior de buscar a Deus. O que aconteceu nos dias seguintes é difícil de descrever, porque o que caracterizou nossos momentos com Deus daí em diante foi exatamente a ausência de nossas palavras. Tudo o que fazíamos era desfrutar de uma intimidade inexplicável com o Deus que nos havia perdoado. Era uma sensação de alívio e gozo.

Muitas coisas aconteceram em decorrência desses acontecimentos. Jovens deixaram drogas, pornografia e fornicação, outros entregaram suas vidas a um compromisso sério com Deus. Outros reataram seus relacionamentos familiares, foram curados de enfermidades e abençoados em seus trabalhos. Tudo isso sem nenhuma ministração específica sobre nenhum desses assuntos. Tudo porque um grupo de jovens e adolescentes desejava buscar a Deus.

Alguns podem não acreditar que isso cause um impacto permanente. Alguns crêem que não passou de uma experiência que em pouco tempo cairá no esquecimento. De fato, alguns podem até deixar que isso aconteça. No entanto, tenho visto frutos convincentes desse mover de Deus.

Não creio que tenha sido uma obra completa e, sim, um começo – e não sei de que maneira Deus continuará nos visitando. Também não estou preocupado com quando será a próxima manifestação sobrenatural de Deus em nossas vidas. Pois sei que o mais sobrenatural continua acontecendo: ele continua cada dia mais real!

Cada vez mais percebo que Deus quer se revelar. A pergunta é: Nós queremos que ele se revele?

“Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração” (Jr 29.13).

Mateus Ferraz de Campos é pastor de jovens da Igreja do Nazareno em Americana – SP.

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