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Última Palavra: Duas Estratégias do Inimigo

Por: Christopher Walker

A história de Balaão (Números 22–24) sempre me fascinou. Não apenas pela misteriosa figura do próprio Balaão, que desafia qualquer tentativa de ser definido ou enquadrado, nem tampouco pelo espetáculo inimaginável e cômico de uma jumenta que enxergava mais que o profeta e que ganhou a honra única de poder falar e repreendê-lo.

O que me empolgava, isto sim, era como explicar por que Deus disse “sim” quando Balaão pediu permissão para aceitar o convite de Balaque (Nm 22.20), e depois ficou irado, e mandou um anjo para cercar o seu caminho, quando ele foi! Só depois de ver que Deus havia respondido “não” a primeira vez (Nm 22.12), e que Balaão insistira em pedir permissão outra vez quando Balaque aumentou a proposta, é que comecei a entender que este “sim” de Deus não era um “sim” da sua boa e perfeita vontade, mas um consentimento constrangido. E aí comecei a entender o que ocorre quando nós também insistimos com Deus até conseguirmos a resposta que queremos. Deus permite que façamos aquilo que realmente queremos, mesmo quando não é para o nosso bem, quando nosso coração não está reto diante dele, e não estamos buscando os interesses do seu reino.

Mas a última vez que estudei esta passagem, uma outra verdade me saltou. Era sobre o que esta história nos diz a respeito da estratégia do inimigo de Deus, que tentava desesperadamente nesta ocasião impedir o avanço do povo de Israel rumo ao seu destino e à sua herança prometida. Depois de quarenta anos no deserto, finalmente o povo estava pronto a ser conduzido por Deus a vencer os últimos obstáculos e entrar (em figura) no reino de Deus na terra, na prática da sua aliança eterna com os homens, e na consumação do seu grande plano.

Balaque, rei de Moabe, figura de uma potestade das trevas, tinha visto como Israel vencera os reis vizinhos, Seom e Ogue, e sabia que não tinha poder para enfrentá-lo em batalha. Por isto, recorreu à estratégia de chamar Balaão, mestre de encantamentos, para usar forças espirituais para o derrotar.

Ele desencadeou, desta forma, uma outra espécie de guerra contra Israel, diferente das guerras que este acabara de ganhar contra as outras nações. Sem dúvida alguma, esta é uma figura dos grandes conflitos espirituais que virão neste final de época, de acordo com as Escrituras, quando a igreja também se posicionará para entrar na sua herança através de guerras em lugares celestiais (veja Ef 3.10; 6.12; Ap 12.7-12).

Conhecemos bem a história. Balaão conseguiu a permissão de Deus, e foi com os mensageiros de Balaque. Sabemos que Balaão estava atrás das “recompensas da injustiça”  (2 Pe 2.15; Jd 11), e por isto queria agradar a Balaque e achar um jeito de passar por cima das restrições de Deus.

Mas Deus não o permitiu, e quatro tremendas profecias de bênçãos foram proferidas pelo profeta, inclusive sobre a vinda do Messias, e a vitória de Deus através do seu povo até o fim da história. Balaque ficou irritado e irado, e Balaão, com uma falsa aparência de fidelidade a Deus, foi embora sem o seu galardão.

O que aconteceu, então, nesta guerra espiritual? Deus mesmo se encarregou dela, e o próprio Balaão teve de reconhecer que “não há encantamento contra Jacó, nem adivinhação contra Israel” (Nm 23.23). Como Moisés relatou depois ao povo, os moabitas “subornaram contra ti a Balaão, filho de Beor, …. para te amaldiçoar; porém, o Senhor teu Deus não quis ouvir a Balaão, antes trocou em bênção a maldição, porque o Senhor teu Deus te ama” (Dt 23.4,5; veja também Js 24.9; Ne 13.2).

Se você estava querendo descobrir como se deve fazer para entrar em guerra espiritual, e como nós podemos ganhar as chaves para lutar contra estas forças do mal, a lição aqui pode desapontá-lo! Ninguém precisou fazer nada! Nem Moisés teve que interceder ou ajuntar o povo, ou declarar estado de crise; não houve jejum – na verdade, pelo que está registrado, ninguém ao menos ficou sabendo do que estava passando, até que tudo acabasse.

Sem querer forçar nenhuma aplicação exagerada ou fora de contexto, nem tentar dizer que esta passagem contém todos os princípios da guerra espiritual, não podemos negar que aqui Deus quis mostrar que ele é capaz de transformar maldição em bênção sem nenhuma ajuda da nossa parte. Não creio com isso que devamos ignorar as forças malignas, ou os poderes da maldição, da magia negra, do espiritismo, ou de qualquer fonte demoníaca. Mas aqui Deus anulou tudo isto soberanamente, e independentemente de qualquer justiça,  fidelidade, merecimento, ou busca especial por parte do povo de Israel. É um grande exemplo e marco histórico, que deve aumentar tremendamente nossa confiança e descanso em Deus, como seu povo de aliança!

Mas, infelizmente, a história não terminou aqui. O inimigo foi derrotado, mas ainda tinha outro truque para usar. Balaão foi embora para sua terra (Nm 24.25), mas continuou cobiçando o “prêmio da injustiça”. E finalmente ele encontrou um jeito de se desviar das proibições de Deus, e de agradar a Balaque.

Em Números 25, lemos que o povo de Israel se entregou à prostituição com as filhas de Moabe, que por sua vez levaram os israelitas a participar do culto idólatra a Baal-Peor. Mas isto não aconteceu por acaso. De acordo com Números 31.16 e Apocalipse 2.14, as mulheres tentaram os filhos de Israel por conselho de Balaão. E nesta estratégia, ele obteve muito mais sucesso do que da primeira vez.

É impossível usar adivinhações e encantamentos para tirar a bênção de Deus do seu povo. Mas quando o inimigo usa tentações carnais e materiais para desviar-nos de servir a Deus, é muito mais perigoso. Pela primeira vez na história de Israel, aparece este falso deus Baal, que nos séculos posteriores viria a ser uma fonte contínua de sedução e contaminação do povo de Deus, e o maior concorrente à verdadeira adoração de Deus.

Esta guerra já não deixou o povo de fora. Deus ficou irado, responsabilizou os líderes (Nm 25.4), causou a morte de 24.000 pessoas numa praga, e precisou de uma ação drástica e radical por parte de Finéias, filho do sacerdote, para deter a ira de Deus. E no julgamento que Deus ordenou contra os midianitas (Nm 31), Balaão foi morto também (v. 8).

Outra vez, não é uma questão de ignorar a existência de guerra espiritual, ou de se basear apenas num texto para concluir que nunca precisaremos nos envolver com isso. Mas esta história sem dúvida está aqui para contrastar as duas estratégias do inimigo. Quando se trata de atacar no nível espiritual os propósitos de Deus para o seu povo, ou amaldiçoar quem ele abençoou, não precisamos temer. O próprio Deus derrotará todas as estratégias do inimigo, pois ele mesmo afirmou que “toda arma forjada contra ti não prosperará” (Is 54.17).

Mas quando o inimigo nos ataca através de tentações e outros deuses, outros objetos para nossa afeição e adoração, a guerra fica bem mais complicada. Aqui, trava-se uma guerra no campo do nosso coração, que certamente nos envolve. Não cabe no escopo deste artigo nos aprofundar no mistério de como se vence esta guerra, estamos apenas identificando a área de perigo.

Aquilo que o inimigo não consegue na área de forças espirituais, maldições e encantamentos, ele tem muito maior potencial de alcançar no terreno de tentações carnais e desvio após outros deuses. Cabe-nos ficar alertas, identificar o pecado como pecado que é, não deixar nosso coração e mente sem muralhas, e assumir a posição radical que Jesus ensinou de cortar fora da nossa vida tudo que causa tropeço e abertura para o pecado (Mt 18.6-9).

Num momento em que grandes números têm se ajuntado nas igrejas cristãs, e em que muito se tem falado sobre posições de destaque e triunfo do cristianismo no mundo atual, precisamos nos atentar para as duas estratégias que o inimigo usará para nos derrotar, e para a nossa área de verdadeira vulnerabilidade.

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