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Última Palavra: A Morte Antes da Morte

Por: Luiz Cláudio Montanini

Ao longo desta edição da revista Impacto você leu a respeito de diversas experiências de pessoas que, no momento da morte, enxergaram o estado de suas almas e exprimiram os prazeres ou os terrores que estavam prestes a experimentar, quando ultrapassassem os portais eternos.
Também leu relatos de pessoas que, por alguma razão que ainda desconhecemos, voltaram a viver. Experimentaram literalmente a morte, mas voltaram para dar o testemunho do que viram e ouviram.

Relatos como esses trazem sensações imediatas ao incrédulo e ao crente em Cristo Jesus: no incrédulo produz inevitável temor e no crente, enche seu coração de fé e confiança em Cristo, a ponto de levá-lo a desejar esse momento — o da morte física, para desfrutar em plenitude de toda a herança de Deus, seu Pai.

Estar para sempre com Cristo deve ser esperança viva no coração de qualquer cristão. É desejo legítimo.
A questão é saber se já estamos preparados para este encontro. Por mais paradoxal que possa parecer, a morte é o pré-requisito de Deus para que se tenha acesso a sua vida.

“…Quem não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (Jo 3.3). Nascer de novo? O que isto significa? Há, certamente, um ponto de partida: ninguém nasce de novo ainda vivo. Da mesma forma que, segundo uma conhecida lei da física, dois corpos não podem ocupar um mesmo espaço ao mesmo tempo, não é possivel acondicionar duas vidas em um mesmo corpo. Um deve sair — morrer, no caso — para dar lugar a outro.
A vida cristã, portanto, é um convite à morte do fôlego natural, a fim de que a essência de Cristo se manifeste. Ninguém nasce de novo se não estiver morto.

O Chamado

Há vinte anos, uma pessoa que conheço refugiou-se, sozinha, em certa praia de Santa Catarina, numa busca interior por encontrar a verdade.
Ela tinha 22 anos, 1m73 e 72 quilos. Estava no melhor de sua forma física e possuía talento para praticar certo esporte de massa.

Embora não tivesse ainda encontrado a Cristo como seu Salvador e Senhor, o jovem acreditava em Deus, a quem chamava de Providência. E a Providência — tinha certeza — guiava seus passos.

Num daqueles dias, o rapaz viu-se à frente de um grande e velho livro. Ele sabia que o tal livro era chamado a Palavra de Deus e raciocinou: Ora, se a Providência é Deus e dizem que este livro é a Palavra de Deus, então a Providência fala por meio deste livro.

Abriu as Escrituras e a palavra para ele foi mesmo providencial: sem rodeios, Jesus — a Providência tinha nome próprio — dizia em Lucas 9.23: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me”.

Aquela frase saltou das Escrituras em três dimensões, tomou forma de espada, entrou, afiada, em seu coração e o matou.

Seus olhos foram abertos e ele entendeu o que bastava para aquele momento: se alguém quisesse ser discípulo de Cristo, isto é, ser filho de Deus, deveria negar-se a si mesmo e ir para a cruz. A exemplo de Jesus, deveria morrer.

Foi o suficiente — por ora. O jovem havia encontrado algo melhor que qualquer benefício resultante da fama e do dinheiro. Ele havia encontrado a pérola de grande valor.

Por causa dela, abriu mão de quaisquer outros tesouros que porventura viesse a possuir.

Já naquele dia o jovem passou a ter consciência das implicações daquele convite. Reparou que o texto de sua conversão dizia que tomar a própria cruz a cada dia era pré-requisito para qualquer candidato a cidadão dos céus.

Em resumo, se ele quisesse ter vida, teria que morrer. E além de morrer, precisaria morrer diariamente. É, a pérola deveria ter mesmo valor inestimável…

O braço de Deus auxiliou o jovem e ele pôde renunciar aos sonhos egoístas. Renunciou à vida da alma e, por mais contraditório que pareça, experimentou de forma sobrenatural a morte do homem natural. Lembra-se que, em segundos, viu como um filme passar diante de seus olhos. Todos seus atos e passos pecaminosos apareceram diante dele e foi se arrependendo, um a um. Até que, finalmente, encontrou paz para sua alma. Compreendeu que estava crucificado com Cristo.

O Dia Seguinte

Naquele dia, o rapaz começou sua jornada com Deus — embora o Todo Poderoso já tivesse começado sua caminhada com ele desde a eternidade. O jovem sabia que tinha nascido de novo e agora estava em Cristo, e Cristo nele. E tinha sido destinado a alcançar vitórias em Deus.

Mas ele também sabia que havia o dia seguinte. Se o convite de Deus era para morrer a cada dia, caso esta morte não ocorresse, o risco de fracasso na jornada era real. Percebeu então que o caso era de vida ou morte. E ambas eternas. Havia nascido de novo, era verdade. Mas a partir de agora tinha que diariamente exterminar suas inclinações carnais e considerar-se morto para o pecado.

Fazer o quê? Negar a si mesmo ou virar as costas para Deus e experimentar, por um pouco o prazer do pecado? O pecado tem seu prazer — passageiro, é verdade — mas seu sabor está ali, a um estender da mão.

Nem sempre o jovem resistiu. Qualquer pessoa sobre a terra sabe muito bem: tanto negar-se quanto esperar é difícil.

Mas mesmo quando errava o alvo, e achava lugar de arrependimento, encontrava um advogado no trono de Deus e reunia forças  para se levantar e continuar a caminhar. Sabia que Deus permite que os homens sejam provados a cada dia, mas para isso providencia da mesma forma o maná do céu, também a cada dia e também a um estender das mãos.

O Segredo

Certo dia, o homem leu em Apocalipse 3.2 que há necessidade de ser vigilante e confirmar o restante que está para morrer. E refletiu muito sobre o texto de João 12.24: “Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só, mas se morrer, produz muito fruto”. Constatou, ao avaliar a própria vida,  que o grão de trigo não caíra totalmente na terra. E o resultado é que, como dizia o texto, ele ficara só. Sempre próximo a pessoas, mas terrivelmente só.

Nesta crise, o homem descobriu a pólvora. Algo tão banal para muitos, mas escondido para ele. Entendeu que grãos vivos de trigo não frutificam. É necessário que morram.

Não havia alternativa senão morrer definitivamente. Só assim a vida de Cristo apareceria. Mas surgiu um problema: ninguém premedita a própria morte. Ninguém decide morrer e pronto. Isto é suicídio. Como morrer sem que seja necessário dar cabo da própria vida?

Sabe-se que vários homens de Deus experimentaram o morrer para si mesmo. O exemplo de Watchman Nee é, talvez, o mais conhecido e pungente. Um dia, lendo o livro de Romanos ele entendeu que o corpo do pecado havia sido desfeito na cruz por Cristo, e que ele, Nee, havia sido crucificado com Jesus no Calvário, assim como toda a raça adâmica. Foi uma revelação que mudou sua vida. E ele saiu gritando, eufórico: “Eu morri, eu morri…”

O que isto nos ensina? Que precisamos da revelação de Deus até mesmo para morrer. Há diversos textos na Palavra de Deus que falam sobre morrer para si mesmo para encontrar a vida. Veja alguns: Rm 8.13; Rm 6.11 e Jo 12.25. Mas sem que esta palavra seja vivificada pelo Espírito, será apenas letra que incha e mata.

Chega de esforço humano para morrer. Chega de tentar cometer suicídio. Para quê, se já estamos mortos? O último Adão, Cristo,  acabou com a raça pecaminosa do primeiro. Há agora um novo homem, criado segundo o DNA de Deus, à sua imagem e semelhança. (Gn 2.7; Jo 20.22; 1 Co 15.45).

Nossa única alternativa é render-se dia após dia diante do Pai e permitir que o Espírito Santo vá mortificando as obras da nossa carne, por meio do quebrantamento. A nós cabe nos humilhar debaixo da potente mão de Deus e permitir que seu martelo desça sobre a pedra dura do nosso coração e a faça em pedaços. (Jr 23.29). “Levando sempre por toda a parte o morrer do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus também se manifeste em nossos corpos”. (2 Co 4.10).

Luis Cláudio Montanini é jornalista e é responsável pelo jornal eletrônico Jornal Hoje e o portal www.jornalhoje.com.br.

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