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Transferência Geracional

Por: Eric Mumford

Bob Mumford tem, hoje, 81 anos de idade e mais de 55 anos de ministério. Seus ensinamentos e percepções proféticas foram marcantes durante décadas na Renovação Carismática, no movimento de discipulado e em todo o Corpo de Cristo. No Brasil, seu livro A Patrola de Deus, compilado de uma série de sete mensagens, foi um dos primeiros lançamentos do ministério de literatura John Walker (hoje Impacto Publicações), há 36 anos, e até hoje está tocando muitos corações. É exemplo vivo de alguém que não ficou parado no passado, que continua abrindo o coração ao que Deus quer fazer hoje e que tem uma mensagem sempre viva e atual.

No final de 2010, numa reunião com a equipe do seu ministério de publicações, mensagens gravadas e seminários de ensino chamado Lifechangers (Transformadores de vida), Bob compartilhou que Deus estava retirando dele o encargo de viajar e proclamar o Reino. Embora sua paixão e lealdade pelo Reino estivessem mais fortes do que nunca, ele sentia claramente que uma etapa importante de sua vida estava chegando ao fim.

Ao mesmo tempo, uma nova etapa, profetizada 30 anos antes, estava começando. Seu filho, Eric, 42 anos, estava pronto para “pegar o bastão” e assumir o encargo numa verdadeira transferência geracional.

Em 1980, Eric estava acompanhando o pai numa viagem ministerial em Toronto, no Canadá. Depois do culto à noite, o Espírito Santo caiu poderosamente sobre os dois no quarto do hotel, declarando que havia sobre eles um chamado ministerial compartilhado, semelhante ao que acontecera com Davi e Salomão. Davi tivera um propósito apaixonado de edificar uma casa para o Senhor, porém não pôde fazê-lo durante sua vida. Então, ele passou o encargo para o filho: “Agora, pois, meu filho, o Senhor seja contigo, a fim de que… edifiques a casa do Senhor teu Deus, como ele disse a teu respeito…” (1 Cr 22.11).

Para entender melhor esse processo de chamado ministerial intergeracional, entramos em contato com Eric Mumford, que nos concedeu a entrevista a seguir.

A Redação

ENTREVISTA ERIC MUMFORD

O que é transferência geracional e qual a sua importância hoje?

“Pensamos , ó Deus, na tua misericórdia [exaltando a natureza ágape de Deus – 1 Jo 4.8] no meio do teu templo [‘o Deus eterno é a tua habitação’ – Dt 33.27]… Percorrei a Sião, rodeai-a toda, contai-lhe as torres; notai bem os seus baluartes, observai os seus palácios, para narrardes às gerações vindouras que este é Deus…” (Sl 48.9, 12-14).

Meu pai ensinou-me que compreender o Reino de Deus e fazer parte dele é uma jornada rumo à intimidade com o próprio Deus. Tenho experimentado essa jornada pessoalmente como a exploração pioneira de uma “esfera” infinita, feita não de tijolos e cimento, nem de ruas de ouro, mas de uma “infraestrutura” de relacionamento, constituída pelo próprio Pai, Filho e Espírito – os eternos e irredutíveis Três que habitam um no outro, mutuamente. Nós, como seres humanos, fomos convidados a entrar e participar do Reino eterno desse Deus triúno na Pessoa do Filho, o Deus-Homem Jesus Cristo.

Tenho descoberto também, tanto pela experiência quanto pelas Escrituras, que o segredo (mistério) do Reino de Deus vem sendo revelado para a humanidade progressivamente através dos séculos. Para descobrir a realidade dessa “esfera” infinita, precisamos não só entrar nela, mas também explorá-la como pioneiros. Precisamos “emigrar” para o Reino, à semelhança do nosso pai na fé, Abraão, e também de Davi, Paulo e muitos outros.

Essa descoberta pioneira não pode ser efetuada em uma só geração. Transferência geracional é essencial, porque aquilo que uma geração descobre precisa ser transmitido de maneira fiel e consciente como dádiva (ou herança) para as gerações subsequentes, a fim de que tenham a oportunidade de abrir novos horizontes ainda mais profundos e participar mais amplamente da plenitude celestial e relacional que é o próprio Deus.

A história de Ezequias (2 Reis 20.12-19) contém uma ilustração clara do que acontece quando não há transferência geracional positiva. Apesar de ter sido um bom rei, no final de seu reinado ele agiu insensatamente para impressionar os emissários de Babilônia. O profeta Isaías lhe disse que o dia viria em que todos os seus filhos seriam levados para o exílio. A resposta de Ezequias foi: “Boa é a palavra do Senhor que disseste. Pois pensava: Haverá paz e segurança em meus dias”. Seu desdém egoísta das gerações subsequentes roubou Deus da oportunidade de realizar nelas os próximos passos do seu plano em desenvolvimento.

De que forma houve transferência geracional do seu pai para você?

Eu tinha 12 anos de idade quando o Senhor falou com meu pai e comigo por meio de 1 Crônicas 22.7-18, dando-nos um chamado conjunto, em que eu daria continuidade ao mandato de proclamar o Reino que fora confiado ao meu pai. Ele tem sido, há muitos anos, um poderoso embaixador do Reino, consumido pelo encargo do Senhor, e, para mim, era quase impossível imaginar que um dia eu pudesse ver ou comunicar aquilo que ele via com a mesma paixão e autoridade que ele tinha. Entretanto, o dom e a paixão vieram, pouco a pouco, sobre minha vida.
Percebi que, embora meu pai deva ser reconhecido e honrado por seu grande empenho, fidelidade e perseverança, o dom e o encargo que estavam nele e que agora passaram para mim pertencem, de fato, ao Senhor, que colocou esse tesouro em “vasos de barro”.

Como isso aconteceu na prática?

Jesus não exagerou quando disse: “O meu reino não é deste mundo”. Tentar descrever o governo, as leis, a estrutura social e a cultura do Reino, totalmente estranhos para cristãos que têm uma mente natural presa a este mundo, é extremamente difícil. Sentindo a necessidade de um “micromodelo”, meu pai sempre dizia: “Ainda não achei um para colocar na minha casa e mostrar como tudo isso funciona!”

Em 1994, depois do nascimento da minha segunda filha, o Senhor me perguntou: “Você pode ser um pai para meus filhos?” Não era uma ordem, mas um convite, e eu sabia que ele estava dizendo que eu não teria mais filhos naturais. Seis anos depois, em 2000, fui à Ucrânia e vi dois irmãos num orfanato. Ali, o Senhor repetiu o mesmo convite e me disse: “Estes são seus filhos!”

Nos anos seguintes, o Senhor gerou um micromodelo da natureza familiar do Reino de Deus, chamado Father’s House (Casa do Pai). Nesse lar, pudemos acolher, na nossa família e no afeto do nosso coração, dez crianças ucranianas e 13 ugandenses. Esse mandato serviu como um “laboratório de vida”, no qual tudo o que meu pai transmitiu-me como legado espiritual pôde ser desenvolvido e amadurecido para formar uma compreensão mais ampla do Reino. Com isso, até ele está aprendendo coisas novas.

Quais são as dificuldades que podem ser enfrentadas nesse processo?

Elias era um homem solitário que dizia: “Só fiquei eu [como profeta]”. Tinha uma tendência de centrar a atenção em si mesmo, de dirigir o espetáculo sozinho (“one-man-show”) e demonstrou certa indiferença até mesmo para com seu sucessor designado, Eliseu. Por outro lado, Eliseu era um homem de relacionamento que investiu sua vida no mentoreamento dos “filhos dos profetas”. Esses dois exemplos são importantes. Muitas vezes, meu pai me tirava até das aulas para acompanhá-lo em viagens de ministério, e um alicerce firme e precioso foi lançado na minha vida. Em retrospecto, porém, penso que meu pai gostaria de ter feito um discipulado mais intencional comigo.

Houve fases diferentes no processo de transição?

Servi no ministério como pastor durante 11 anos antes de unir-me com meu pai no ministério Lifechangers. Durante os anos, houve várias tentativas de trabalharmos juntos que fracassaram e nos causaram muita dor. O inimigo percebeu a importância do nosso chamado intergeracional e, por isso, atacou-o violentamente com ciúme implacável. É um milagre da graça de Deus que estejamos servindo ao Pai juntos hoje. Atualmente, estamos mais próximos do que nunca. Atribuímos essa intimidade ao fato de estarmos vivenciando e praticando a própria mensagem que fomos incumbidos de proclamar. O fruto do nosso relacionamento de pai e filho compartilhando o mesmo Pai é a maior evidência de que aquilo que Deus nos deu realmente funciona!

Desde 2001, o grande encargo que estava sobre meu pai começou a vir, progressivamente, sobre mim. Pude sentir o peso nos meus ombros aumentando até mesmo de um mês para o outro. Nos últimos anos, o Senhor começou a me dar uma visão além daquilo que meu pai já havia recebido; ao mesmo tempo, meu pai esteve do meu lado, o tempo todo, para ajudar-me a interpretar e administrá-la. Sinto-me até humilhado pela honra de ver o Senhor alimentando e ensinando meu próprio pai por meu intermédio, depois de ter-me alimentado espiritualmente, por tantos anos e de forma tão abundante, por meio dele.

Como se faz uma boa transição de uma geração a outra?

O fundamento de uma boa transição é ver a sua geração como coadministradora de um testemunho eterno. Paulo disse: “… nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus que dá o crescimento”. Tenho procurado honrar meu pai sacrificialmente, de todas as formas imagináveis, sentindo o grande prazer que o Pai celestial tem nisso. Enquanto isso, meu pai também tem disposto o coração para ajudar-me a transmitir esse testemunho com tudo o que é e tudo o que tem. O que faz a parceria funcionar é que ambos compartilhamos o mesmo “núcleo”: “o Filho do ágape do Pai” (Cl 1.13), Jesus Cristo.

Que atitudes a geração mais velha deve adotar a fim de abrir o caminho para a geração mais nova entrar em sua vocação?

Eliseu queria uma porção dobrada. Elias respondeu-lhe basicamente assim: “Se você estiver comigo quando o Senhor me tomar, a porção dobrada será sua”. Josué permanecia na presença do Senhor mesmo quando Moisés havia terminado e deixado o local. A geração mais velha precisa abrir espaço para Deus poder falar e agir de maneira nova com a geração mais jovem. Tem sido difícil, muitas vezes, para meu pai compreender as direções do Senhor que me trouxeram ao lugar em que estou agora, mas, em retrospecto, ele tem entendido que a maioria delas veio mesmo de Deus. Porém, mesmo quando não compreendia, ele quase sempre me deu apoio.

Que tipo de atitude a geração mais jovem precisa tomar? Como podem aprender a morrer para ambições e sonhos próprios a fim de realizar o propósito do Pai?

Deus não tem netos. A geração mais jovem não terá um mandato que tenha verdadeira durabilidade se não vier diretamente do Pai. Porém, se o receberem mesmo de Deus, já que a unidade entre gerações provém do mesmo Espírito atuando nas duas, haverá coesão geracional, sinergia e harmonia, e isso gera revelação e grande poder de vivificação.

“[Deus] nos disciplina para… sermos participantes de sua santidade [natureza livre de eros ]” (Hb 12.10). Só Deus Pai consegue disciplinar alguém para purificá-lo de ambição; entretanto, um mentor experimentado saberá cooperar com o Senhor nesse processo sem exercer pressão humana. O processo geracional e relacional é uma “ciência imprecisa” que, em última análise, só pode ser realizado pelo “zelo do Senhor”. Muitos erros são cometidos, mas a grande e insaciável sede pelo Reino compartilhada pelas duas gerações as instigará a perdoar, vencer juntas e CONTINUAR AVANÇANDO!

Anote em sua agenda: Conferência especial em Sorocaba, 1-4 de novembro, 2012, com Eric Mumford e Gino Iafrancesco sobre A Trindade e o Reino de Deus.

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