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Série “Comunhão Nossa de Cada Dia”-Parte II-Discernindo a Comunhão

Por: Pedro Arruda

Este artigo é o segundo de uma série sobre o tema da comunhão. É muito importante ler toda a seqüência para compreender a linha de pensamento de forma mais completa. Caso não tenha a edição anterior da revista com o primeiro artigo da série, acesse www.revistaimpacto.com para obtê-lo no site.

É bem provável que nesta seção você leia algumas coisas abordadas de forma diferente de como são tratadas na literatura cristã em geral. Sem desmerecer a capacidade crítica de cada um, proponho que se não houver uma aceitação imediata, não a refute de pronto: antes, com paciência, considere o que está sendo exposto e vá guardando tudo até que cheguemos ao final da série. Muitas vezes, quando é difícil, de saída, compreender um pensamento de forma linear, no final podemos nos surpreender com a descoberta de um belo mosaico diante de nós, no qual pensamentos rejeitados isoladamente começam a se complementar mutuamente.

Um exemplo disso é o modo em que termos como comunhão, relacionamento, amizade e afinidade (e outros) são usados indistintamente por autores como sinônimos. A dificuldade maior em se distinguir entre duas coisas está no grau de semelhança e proximidade entre elas. Por isso é bom insistirmos um pouco mais sobre a diferença que há entre os termos acima citados.

Segundo propõe Watchman Nee (acertadamente a meu ver), comunhão é uma função do espírito (O Homem Espiritual, Ed. Betânia). Conseqüentemente, para se exercer essa atividade há necessidade de que o espírito do homem esteja vivo. Ora, sabemos que a sentença preanunciada por Deus ao homem foi que no dia em que comesse do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, ele morreria. Isso de fato aconteceu, pois, ao pecar, o homem imediatamente morreu espiritualmente. A morte física, porém, veio mais tarde. A solução para a morte espiritual foi o novo nascimento, e para a morte física, a ressurreição – ambas possibilitadas através de Jesus.

Portanto a primeira condição para uma pessoa participar da comunhão é ter nascido de novo. Isso supõe que ela tenha crido em Jesus, recebendo o perdão de seus pecados e a habitação do Espírito Santo em seu interior.

A segunda condição para a prática da comunhão é haver pelo menos duas pessoas nessa mesma condição para se relacionarem. Ou seja, duas pessoas nas quais se manifeste o Espírito Santo, de uma para a outra.

A comunhão é também diferente de um acordo. Acordo demanda que as pessoas abram mão de sua vontade própria em determinados pontos, acolhendo a vontade alheia e obtendo a mesma atitude em retribuição de outra. Na comunhão legítima, a vontade humana é excluída. As pessoas em comunhão devem abrir mão totalmente da vontade própria para juntos acolherem, em seu lugar, a vontade de Deus.

Afinidade e Cumplicidade

Comunhão também difere de afinidade, que diz respeito aos aspectos da alma. Dizemos que pessoas são afinadas quando se identificam com os mesmos pensamentos, preferências, sentimentos etc. Nesse caso, as questões pessoais estão mais presentes do que nunca, o que pode relegar a vontade de Deus para um segundo plano. Com facilidade, a afinidade pode desembocar em cumplicidade, e esta, em oposição declarada à vontade de Deus. Como exemplo, podemos citar Ananias e Safira, que entraram em acordo entre si para mentir ao Espírito Santo; ou a mãe de Tiago e João, que buscava obter privilégios aos filhos, assegurando os lugares mais próximos ao Rei.

Por outro lado, vemos que Jesus não fez concessão à afinidade. Ele foi explícito ao recusar o conforto que Pedro lhe oferecia para se desviar da perspectiva da cruz, para permanecer no monte da transfiguração e para evitar a sua prisão no Jardim do Getsêmani, nesta última vez, inclusive, vendo seu discípulo agindo intempestivamente como um segurança pessoal. Embora Pedro fosse seu amigo verdadeiro e houvesse manifestado verbalmente uma disposição à prova de qualquer sacrifício para defendê-lo, Jesus recusou as propostas dele a seu favor, porque eram contrárias à vontade do Pai.

O próprio Pedro nos antecipa um trailer da experiência de comunhão na cena em que Jesus pergunta: “E vós, quem dizeis que eu sou?”. “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!”, responde Pedro. Na complementação de Jesus, há uma explicação do que é comunhão: “Não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai que está nos céus!”. O Filho Jesus (Deus) pergunta a Pedro. Quem dá a resposta é o Pai (Deus), através de Pedro. Deus perguntou a Pedro e Deus respondeu através de Pedro.

Deve ficar mais fácil agora entender o equívoco existente quando cristãos dizem ter mais comunhão com pessoas não-cristãs de seu ambiente familiar, do trabalho ou da escola. É muito comum jovens cristãos desenvolverem relacionamentos que desfecham em namoro com pessoas não-convertidas, alegando ter mais comunhão com elas do que com irmãos da igreja. Ora, podemos chamar isso de amizade, afinidade, relacionamento positivo etc., mas jamais dizer que se trata de comunhão. O fato de serem pessoas que não nasceram de novo torna impossível o recebimento da plena luz de Deus para conhecerem a vontade dele. Ora, sem conhecer a Deus não há como conhecer a vontade de Deus, a qual só será revelada a quem está disposto a cumpri-la.

A comunhão na história entre Deus e os homens

O que Abraão, Moisés e Davi mantinham com Deus não pode ser qualificado como comunhão no sentido mais preciso que estamos querendo dar à palavra, mas como relacionamento. Embora fosse sobremodo excelente, assemelhava-se à situação de Adão sem Eva, antes do pecado. Era um relacionamento bilateral, que não contemplava a condição de haver, no mínimo, duas pessoas através das quais o Espírito de Deus pudesse se expressar de uma para a outra.

Isso não é negar que esses homens experimentaram algo muito maravilhoso; no entanto ainda não se pode comparar com o que está disponível à igreja nestes dias. A eles couberam as experiências preliminares, enquanto que à igreja está reservada a principal. Era sombra do que haveria de vir. Individualmente, jamais alcançaremos o ministério de qualquer um deles, mas como igreja – em comunhão – faremos não somente as obras que Jesus fez, mas até mesmo maiores que aquelas (Jo 14.12). Isso pode ser assustador a ponto de nos causar um grande temor, mas é a verdade!

Para ajudar nossa compreensão, podemos observar na história os períodos em que relacionamento e comunhão se intercalam entre Deus e o homem. O primeiro período é o da criação inconclusa, no qual só houve relacionamento; compreende desde a criação de Adão até a apresentação de Eva. Foi um período de insatisfação, pois, de um lado, Deus concluía que não era bom o homem estar só e, do outro, o homem não achava uma companheira idônea para si. Com Eva, a criação se completa, e inicia-se o segundo período. Nele, o homem e a mulher desfrutarão da comunhão com Deus, um vendo a imagem de Deus no outro. Esse período findou-se com o cometimento do primeiro pecado do homem.

Entramos, a seguir, num terceiro período, já que para o homem, com seu espírito morto, não era mais possível a prática da comunhão. A convivência com Deus ficava restrita ao relacionamento, como se pode ver no diálogo logo após o pecado, a respeito da constatação e das providências tomadas por Deus (Gn 3.9-19). Também podemos observar as conversas com Caim, Noé, Abraão, Moisés, Davi e muitos outros, particularmente com os profetas, todas restritas ao relacionamento. Este período vigorou até o dia de Pentecostes.

No final desse terceiro período, logo antes do início do quarto, situa-se o ministério de Jesus. A maior obra de Jesus foi sua obediência total ao Pai. Muito embora seus milagres nos encham os olhos e sua pregação nos deixe extasiados, nada disso teria algum valor se apenas, numa única questão menor, ele optasse por fazer algo de si próprio, independentemente do Pai. Desobedecer é pecado, e Jesus viveu como homem sem pecar. Fazer a vontade do Pai era mais importante que comer, beber ou se vestir. Ele viveu apenas para obedecer e, por isso, também, morreu. Da obediência desse último Adão resultaram as condições para o surgimento de uma nova raça na humanidade, a de homens sem pecado. Não porque não os tivessem cometido, mas porque foram redimidos pelo sangue do Cordeiro.

O Pentecostes marca o final desse terceiro período e o início do quarto, com a vinda do Espírito Santo. A partir desse ponto, com o Espírito de Deus habitando no homem nascido de novo, nascido do Espírito, restaura-se a possibilidade da comunhão e, conseqüentemente, de o homem realizar as suas atividades em conformidade com a vontade de Deus, exatamente como Adão fizera antes do pecado e como fez Jesus durante toda a sua permanência na Terra.

Podemos dizer que a próxima mudança de período se dará com a volta de Jesus, quando os ressuscitados e os vivos que tiverem seus corpos transformados entrarão em atividade numa condição definitiva do exercício de plena comunhão, enquanto que aqueles que continuarem a viver em corpos mortais ainda poderão ser limitados ao nível de relacionamento, até ao final do milênio.

Por fim, na eternidade, todos os salvos gozarão de comunhão, com a prevalência exclusiva da vontade de Deus. Teremos, então, chegado ao ápice e ao objetivo final daquilo que Deus sempre planejou para o homem, desde antes de sua criação. Dali em diante, relacionamento será apenas algo que se passou na história.

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