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Por: Christopher Walker

Uma das questões mais delicadas na hora de analisar assuntos como chamado, vocação ou realização pessoal é encontrar o equilíbrio certo entre os extremos que tendem a polarizar o entendimento. Como a vida não pode ser reduzida a fórmulas ou regras universais, e como Deus jamais permitirá que o homem descubra um “segredo” que reforce ainda mais sua inclinação à independência e à auto-suficiência, o máximo que podemos fazer é reunir os diversos fatores que fazem parte do processo e procurar mantê-los em equilíbrio. Assim como a doença física geralmente resulta de deficiência ou excesso de algum elemento essencial, desvios na vida espiritual decorrem de causas semelhantes.

No caso específico de vocação e realização, precisamos do equilíbrio de dois fatores essenciais: a vontade de Deus (pois para isso fomos criados) e a participação ativa e espontânea da vontade humana. Se enfatizarmos demais a vontade ou os desejos humanos, cairemos no egocentrismo, com o homem no centro do universo. Por outro lado, se só admitirmos a vontade de Deus e sufocarmos a resposta alegre e espontânea do homem (cruz, renúncia, sacrifício), teremos uma religiosidade de imposição, apatia e obrigatoriedade.

Os dois fatores são necessários. Não podemos achar verdadeira alegria sem passar desejos e ambições pela cruz, sem aprender a discernir a vontade própria da vontade de Deus. Tampouco a encontraremos se não descobrirmos como a verdadeira vocação, preparada por Deus, toca o fundo do nosso ser, despertando desejos puros e originais e causando reações espontâneas e apaixonadas.

A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra”, disse Jesus (Jo 4.34). “Agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus” (Sl 40.8).

Precisamos encontrar nosso mais profundo desejo e anseio, sim, porque, com certeza, o chamado de Deus está vinculado a ele; para chegar lá, porém, é necessário livrar-nos dos desejos falsos e obsessivos da natureza carnal.

Para ajudar a alcançar esse equilíbrio, citamos a seguir dois textos de Henri Nouwen, brilhante professor universitário (Notre Dame, Yale e Harvard), que encontrou sua verdadeira vocação vivendo junto com deficientes físicos e mentais na comunidade Daybreak (Amanhecer) no Canadá.

Para que fomos chamados

Não é fácil distinguir entre fazer aquilo para o qual fomos chamados e aquilo que desejamos. Nossos muitos desejos podem facilmente desviar-nos do curso da nossa ação verdadeiramente necessária. A verdadeira ação leva-nos ao cumprimento da vocação. Trabalhando em um escritório, viajando pelo mundo, escrevendo livros ou fazendo filmes, cuidando dos pobres, liderando pessoas ou cumprindo tarefas comuns, a pergunta não deve ser: “Qual é o meu maior desejo?”, mas sim: “Qual é a minha vocação?”.

A posição de maior prestígio na sociedade pode ser uma expressão de obediência ao nosso chamado – ou de sua negação, uma recusa de seu verdadeiro dever. E a posição de menor prestígio pode ser a resposta ao nosso chamado – ou uma forma de evitá-lo…

Quando estamos submetidos à vontade de Deus e não à nossa própria vontade, descobrimos que grande parte do que fazemos não precisa ser feita por nós. O que fomos chamados a fazer nos traz alegria e paz…

Ações que levam ao excesso de trabalho – à exaustão e à destruição – não podem louvar e glorificar a Deus. Aquilo que Deus nos chamou para fazer não só pode ser feito, como trará satisfação. Ouvindo em silêncio a voz de Deus e falando com nossos amigos, podemos saber, com confiança, o que fomos chamados a fazer; e o faremos com coração agradecido.

Meditações com Henri J. M. Nouwen“, Editora Habacuc

Sem Pretensão

Jean Vanier, fundador das comunidades L’Arche, uma rede de comunidades como Daybreak (*), gastou 14 anos sozinho, orando, lendo e buscando a direção de Deus. Nunca planejou uma grande organização, mas, em algum momento daqueles encontros com Deus, decidiu convidar duas pessoas deficientes para viverem com ele e formarem uma comunidade de fé, serviço e adoração. Ele não disse: “Tenho de ajudar o maior número possível de pessoas”. Ele não proclamou: “Vamos fazer algo por todos os deficientes mentais do mundo”. Antes, ouviu a voz que simplesmente lhe disse: “Tome duas pessoas pobres e comece a viver com elas”.

Vanier foi a uma instituição de saúde e encontrou ali dois homens que sofriam de síndrome de Down, duas pobres pessoas, sem pai, mãe ou família, sem visitas ou amigos. Alugou uma pequena casa e disse: “Vamos criar uma atmosfera de família aqui”. Eles a chamaram de Arca por causa da Arca de Noé na Bíblia (L’Arche, em francês, língua-pátria de Jean Vanier). E, naquele singelo princípio, tendo sido incubada num período de solitude na presença de Deus, nasceu uma rede de comunidades que conta agora com 3 mil membros, somando-se os deficientes e seus assistentes, em pequenos lares por todo o mundo.

(*) Daybreak (Amanhecer) é um dos lares da comunidade Arca, localizado perto de Toronto, no Canadá, e onde o autor Henri Nouwen passou os últimos dez anos da vida servindo os deficientes daquela comunidade.

Transforma Meu Pranto em Dança”, Henri Nouwen, Textus.

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