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O Incenso Sagrado

Por Maurício Bronzatto

Desde que a comunhão das tardes do Éden sofreu uma interrupção, o maior negócio de Deus tem sido procurar o homem para reatar o relacionamento e contar com ele na execução dos seus planos. Deus tem tomado muita cautela, ao longo da história, para que sua aproximação não se transforme numa experiência de juízo consumidor.

Uma dessas iniciativas foi a construção do tabernáculo, um santuário para que a distância pudesse ser encurtada (Ex 25.8). A planta dada a Moisés deveria seguir à risca o modelo celestial revelado no monte (Ex 25.40). Tendo pensado em todos os detalhes e no caminho que percorreria com o homem desde o altar do holocausto até o propiciatório (o trono de misericórdia) dentro do véu, não faltaram instruções cuidadosas para o tipo de adoração que deveria estar acontecendo nesta casa.

A adoração seria oferecida pelos ministros do tabernáculo, mas Deus planejou a sua natureza e a sua composição. Ele não se ocupou apenas com o altar da adoração, mas também com a adoração que estaria sendo oferecida ali.

Composição de acordo com a fórmula divina

As misturas aromáticas que deveriam ser queimadas no altar de ouro e produzir, além do véu, uma nuvem de incenso de cheiro agradável sobre a arca do testemunho foram cuidadosamente receitadas por Deus (Ex 30.34). Não se constituíam de substâncias juntadas ao acaso. Eram, antes, uma química que, ao ser queimada, exalaria o cheiro que as narinas de Deus estavam procurando. Era um perfume segundo a arte do perfumista (v.35). Com isso, aprendemos que Deus quer ser adorado com o conteúdo que ele mesmo preparou para que lhe oferecêssemos.

Davi sempre soube disso. Depois de diligentemente preparar todo o material e o funcionamento para o templo de Salomão, seu filho, oferecendo inclusive ouro e prata de sua propriedade particular, reconheceu: “Toda esta abundância que preparamos para te edificar uma casa ao teu santo nome vem da tua mão e é toda tua” (1 Cr 29.16). Não restava outra coisa senão devolver as dádivas que recebera de Deus. É o retorno da Palavra que não pode voltar vazia para Deus: volta para o seu destino, depois de prosperar naquilo para o que foi enviada a fazer (Is 55.11). Volta em forma de conteúdos, motivações e atitudes que ela mesma gerou no coração do homem.

Deus também disse que o incenso precisaria, além das substâncias odoríferas, ser temperado com sal, puro e santo (Ex 30.35). O que uma substância não aromática estava fazendo no meio daquela mistura perfumadíssima? Em Levítico 2.13 temos uma pista. Deus pede que o sal da aliança não falte às ofertas de manjares. Ele diz isso três vezes, dando real importância à presença do sal.

As ofertas de manjares representavam a comunhão prazerosa entre o Deus santo e o pecador redimido no altar. Era um momento de satisfação em que a alma perdoada banqueteava-se com o Altíssimo, comia à sua mesa. E os manjares deveriam conter o sal da aliança.

Há, pelo menos, três implicações sobre o uso do sal nos altares. A primeira era que Deus queria adoração e ofertas responsáveis. Não se tratava de uma adoração cega, inconseqüente, espasmódica. Deveria haver o elemento da preservação na adoração. A aliança é evocada aqui. Exige-se mais do que pulação, “oba-oba”. Tem de haver compromisso com o plano eterno de Deus. O adorador precisa saber por que está adorando. Não pode continuar em detrimento da responsabilidade que a aliança exige. Não pode continuar porque tais momentos provocam-lhe êxtase, frenesi.

A segunda implicação encontramos no conselho de Paulo aos colossenses. Ele está dizendo que as nossas conversas, para serem agradáveis, precisam vir temperadas com sal (Cl 4.6). Quando adoramos a Deus com palavras (sejam elas musicadas ou não), elas precisam representar alguma coisa, ter sabor. Não podem ser um caudal de tolices, frases atiradas ao vento. Deus não gosta de conversa fiada.

A terceira implicação encontramos no imperativo de Jesus a nós: “Tende sal em vós!” (Mc 9.50). Jesus nos ensina como podemos nos tornar salgados: pelo fogo (v.49). O sal é o elemento que permanece depois que o fogo vai embora. Não pode ser destruído. Vai o fogo e fica o sabor. Todo adorador precisará esquecer sua vida no altar do holocausto. Se não tivermos o sal da preservação e do sabor, o que restará quando o fogo começar a arder, queimando a palha?

Deus também disse a Moisés que parte do incenso deveria ser reservada para estar diante do Testemunho na tenda da congregação (Ex 30.36). Que coisa tremenda temos aqui! Deus preserva sempre diante de sua santa presença uma lembrança da nossa adoração que o agradou. Ele faz isso para que sinta saudade das vezes que visitamos o trono da graça e fique ansiando pelo dia que nossa oferta nos representará diante dele novamente. Ele quer aspirar o bom perfume de Cristo que volta de nossas vidas a ele.

Exclusiva para Deus

O incenso jamais poderia ser fabricado para o deleite do homem. “Santo será para o Senhor. Quem fizer tal como este para o cheirar será eliminado do seu povo” (Ex 30.37-38). Deus está dizendo a Moisés que o incenso não é para o nariz do homem, mas para o de Deus. Essa mistura de conteúdos que Deus gera no homem precisa glorificar a Deus. O incenso não podia ficar passando de mão em mão, muito menos ficar purificando o ambiente das residências dos hebreus. Era composição santa para o Senhor. E quem usasse o incenso para si seria eliminado.

Deus não reparte sua glória com ninguém. “Dai a Deus o que é de Deus…” (Mt 22.21). O que seria da igreja, hoje, se Deus resolvesse eliminar os “adoradores” que ficam inalando o perfume de Deus? O problema começa com o fato de não estarmos recebendo a verdadeira fórmula de Deus para queimar-lhe no altar. O que se oferece hoje é um perfume em que faltam substâncias, principalmente o sal da aliança.

Quando falta o sal, o que se tem é uma adoração corrompida, desprotegida dos verdadeiros interesses para os quais ela foi criada. Sem o sal, sobram elementos egoísticos, estranhos, que produzem cheiro desagradável quando queimados no altar. Sem os elementos certos, não há a nuvem se formando sobre a arca da aliança e o testemunho de Deus fica incompleto: temos o sangue no propiciatório, a palavra dentro da arca, mas falta o testemunho do Espírito (I Jo 5.8) e a casa de Deus não pode ser edificada assim. Sem a nuvem do incenso, Deus não aparece entre os querubins e ficamos sem a sua palavra viva.

A mistura errada, em vez de produzir satisfação em Deus, deixa-o enjoado. Quando isso acontece, Deus vomita tanto a falsa adoração quanto os falsos adoradores.

Ser eliminado do povo também tem a ver com viver uma vida medíocre, sem sentido nem propósito para o plano eterno de Deus. Quem continua viciado no cheiro do perfume de Deus e se recusa a queimá-lo no altar, continua morto, afastado da universal assembléia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus (Hb 12.22-23).

Que Elias venha e junto com ele o fogo do ourives e a potassa dos lavandeiros para purificar os perfumistas. “Então, a oferta de Judá e de Jerusalém será agradável ao Senhor como nos dias antigos e como nos primeiros anos” (Ml 3.1-4).

Maurício Bronzatto reside em Mogi-Mirim – SP e é um dos coordenadores de uma comunhão de grupos espalhados por várias cidades e estados no Brasil.

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DEFINIÇÕS RÁPIDAS

“Adoração é vislumbrar a beleza de Deus e parar para contemplar em reverente admiração”
(desconhecido).

“Se a adoração não nos transformar, ela não é adoração. Estar diante do Santo da eternidade é transformar-se… Se a adoração não nos impulsionar para maior obediência, não é adoração. Assim como a adoração começa em santa expectação, ela termina em santa obediência”
(Richard Foster, Celebração da Disciplina, Ed).

“Adorar é amar a Deus mais do que tudo (Mt 22.34-40). Tem mais a ver com o coração do que com a ação”
(Pr Massao Suguihara).

“Adoração é reconhecer a presença e soberania de Deus e honrar essa presença de alguma forma. Adorar é obedecer ao Espírito Santo, dando a Deus aquilo que ele quer receber. E não aquilo que ‘’eu’’ quero dar. Adorar é render-se, dobrar-se diante da vontade de Deus”
(Nívea e Gustavo Soares).

“Adoração é viver e andar no Espírito (Gl 5.22). É vida de Deus, vida por Deus e vida para Deus (Rm 11.36)”
(Daniel Souza).

“A verdadeira adoração flui de uma vida de busca e rendição a Deus, e não existe adoração se não houver arrependimento. A verdadeira adoração é o veículo que nos conduz à presença de Deus. Na realidade, a verdadeira adoração é gerada pelo próprio Deus em nós, mediante uma revelação da pessoa dele”
(Christie Tristão).

“Deus deseja que o adoremos. Ele não precisa de nós, pois não poderia ser um Deus auto-suficiente e ainda precisar de algo ou de alguém; no entanto, ele nos deseja. Quando Adão pecou, ele não clamou: ‘Deus, onde estás?’. Foi Deus quem clamou: ‘Adão, onde estás?’ ”
(A. W. Tozer).

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4 respostas

  1. Muito edificante! Realmente o sal não tem lógica para compor a mistura, mas a lógica de Deus é acima da lógica humana. Jesus disse: “vós sois o sal da terra” Mt 5.13. Nossa vida associada à adoração agradável à Deus produz excelente testemunho!

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