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Lições Aprendidas com Pobres Brasileiros

Por: Pedro Arruda

Ajudados Por um Bêbado

É de se imaginar que saibamos o que um cristão pode fazer por um bêbado. Porém, talvez nunca pensamos em como um bêbado pode mudar a vida de um cristão. Isto somente é possível quando alguém se dispõe a não só se aproximar de pessoas deste tipo, mas a ir além e se envolver com elas. É a partir desse envolvimento que começamos a receber de Deus através delas, pois é um confronto vivo com a prática da Palavra de Deus e não apenas com a teoria. Na teoria podemos questionar, adiar decisões, justificar as nossas omissões. Na prática, no entanto, ficamos apenas diante do sim ou não, da aceitação ou da recusa, e sem muito tempo para se tomar uma atitude.

Essa é a experiência de um professor universitário e sua família que se mudaram para o interior do Paraná para lecionar numa Universidade Pública. Pareciam estar prontos para atender os planos de Deus pois possuíam uma vasta experiência na liderança de grupos de oração, retiros, encontros, vigílias e outras atividades próprias, além de serem dizimistas fiéis. Todas estas estruturas se mostraram totalmente ineficazes para se estabelecer naquele lugar um grupo para servir a Deus. Ao serem conduzidos por Deus para a realização de um trabalho junto aos pobres, passaram então a partilhar com estas pessoas. Não demorou muito para perceberem que a contribuição financeira não poderia mais ser limitada em percentual de 10% de seu salário, muito menos haveria um momento especial numa reunião para se fazer entrega solene de sua contribuição. A necessidade do próximo passou a falar mais alto como fator decisivo do valor e do momento da contribuição.

Nesta lição foi decisivo um encontro com um bêbado. Como tradicionalmente, nos dias de carnaval, o professor preparou uma escola para realizar um encontro de evangelismo. Fez muitos convites na cidade e era grande a expectativa de que muitas pessoas comparecessem. Não foi o que aconteceu e, para dificultar ainda mais, apareceu um bêbado. Entre o constrangimento de contê-lo para que não atrapalhasse demasiadamente, disparou o conselho de repreensão: “Você precisa mudar de vida!”

O que não estava preparado para ouvir foi a resposta: “Eu quero mudar mas você me ajuda?”

Não restava alternativa senão de oferecer a ajuda. Levou o bêbado ao local onde morava: uma lona que o abrigava junto com a família. Ao deixá-lo ali, pediu que voltasse à reunião no dia seguinte sem beber para ser ajudado. Não havia muitas esperanças, mas para a surpresa de todos no dia seguinte lá estava ele com a família. A partir de então passou a buscar a Deus, e ao mesmo tempo lutando para deixar o vício, arrumou emprego e começou a experimentar uma vida de dignidade. Somente através do envolvimento com o pobre, podemos destruir as estruturas religiosas tão rigidamente formadas durante a vida. Este é um tipo de bênção que o pobre, mesmo não sabendo, pode nos oferecer. Deus fala alto através da necessidade do pobre, não para nos causar embaraços mas para nos ajudar a sermos verdadeiramente cristãos, desde que aceitemos isso como sendo de Deus. Ao mudar a vida daquele homem preso ao vício da bebida, também libertou um cristão que não dava conta de estar preso à rotina religiosa.

Encontramos o Messias!

Esta frase de André a Pedro após ter passado algumas horas com Jesus, expressa com exatidão o sentimento de alguns irmãos chamados por Deus para trabalhar com um assentamento rural no interior do Estado de São Paulo.

Um engenheiro de uma multinacional com sua esposa professora, e dois irmãos dela, mudaram-se para esse local por necessidades profissionais.

No entanto, buscavam incessantemente a verdadeira razão da mudança para aquela cidade, ou seja, o motivo que interessava mais diretamente ao reino de Deus. Buscavam um povo com o qual pudessem servir a Deus. Inúmeras tentativas revelaram-se inúteis até o dia em que os dois irmãos da esposa encontraram um vendedor de caldo de cana. Após conversarem um pouco enquanto saboreavam a bebida, o vendedor se apresentou como pertencente a um grupo de oração, e os convidou a participar das reuniões. A identificação foi tão grande que correram contar para o casal. A sensação de todos parecia ser como a expressão daqueles discípulos: “Encontramos o Messias!”.

Logo em seguida veio uma das experiências mais marcantes: A evangelização num acampamento rural que pouco tempo depois transformou-se num assentamento de reforma agrária. Estes assentados eram, em sua grande maioria, pessoas de fora da localidade e por isso eram vistas com muita desconfiança pelos moradores locais e vice-versa. Quando o Evangelho lhes foi anunciado, muitos abriram o coração e começaram a participar regularmente das reuniões de oração.

Quando estive com eles, na época do carnaval deste ano, realizamos as reuniões num local que até às vésperas servira de moradia para uma das famílias. A desocupação da casa foi pelo fato da família haver se mudado para uma casa de alvenaria construída ao lado, graças ao resultado da última safra. A casa transformada em local de reunião de oração era coberta de telhas de amianto. As paredes eram de pau a pique e por fora uma lona plástica fazia a vedação, garantindo a temperatura ambiente: muito frio no inverno e muito quente no verão. Nesta sala de mais ou menos trinta metros quadrados reuniram-se umas sessenta pessoas de todas as idades. Cada um batia palma e cantava no ritmo e tom próprios. No entanto, em todos havia alegria e uma atenção à palavra que não se vê nos grandes centros. Ao cumprimentarmos os adolescentes sentia-se a mão forte de quem estava acostumado a trabalhos pesados, mas o sorriso estampado revelava a experiência e a plena disposição de seguir Jesus como quem não tem falta de nada, embora tendo muito pouco. No intervalo serviu-se um lanche simples: pão com salsichas, bolo de milho, suco de maracujá. Tudo preparado pelos próprios assentados e na sua maioria com produtos do próprio assentamento. Era uma festa para celebrar o amor, não com palavras mas com alegria de coração. Ministrei-lhes uma palavra, mas eles ministraram vida a mim. Pude conferir como meus amigos estavam felizes porque verdadeiramente havíamos encontrado o Messias nestas pessoas!

Inauguração de Um Chuveiro

A paisagem é característica do sertão de Minas Gerais, próximo à divisa com o Estado da Bahia. Busca-se água no rio para abastecer a casa. Nesse mesmo rio reúnem-se as lavadeiras para o trabalho. Há residências que são acessíveis somente a pé ou a cavalo. Energia elétrica apenas em algumas casas mais centrais. Emprego quase inexiste. Em todas as famílias há filhos que partiram para os grandes centros em busca de melhores oportunidades. É neste cenário que há pessoas que atravessam muitos quilômetros a pé, carregando criança de colo, para participar de uma reunião de oração, sabendo que voltarão tarde da noite, caminhando somente sob a luz do luar. Neste ambiente vemos florescer com grande intensidade os valores comunitários. Todos têm muito pouco mas sempre repartem o que têm com muita hospitalidade e generosidade. Entre eles não há distinção entre a porta da sala ou da cozinha, ambas servem de acesso para quem chega. Os lugares mais disputados para se sentar são os degraus das portas entre os cômodos em desnível.

Na primeira vez que visitei essa comunidade, tive uma grata surpresa: o privilégio de inaugurar o chuveiro! A família não o tinha até então, mas conseguiram instalar um por causa de nossa visita. Foi uma demonstração de muita consideração e amor. Eles sempre demonstram muita gratidão e felicidade com nossa presença mas parece impossível convencê-los de que na verdade o visitante é quem é muito mais abençoado ao receber a disposição e alegria que estes deixam transbordar pelo Senhor. A maneira como superam as dificuldades é sempre uma lição de ânimo para todos que os visitam! Volta-se sempre com mais disposição para se trabalhar para o reino e mais rico da graça de Deus!

Pedro Arruda reside em Barueri – SP e é um dos coordenadores de uma comunhão de grupos espalhados por várias cidades e estados no Brasil.

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