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Líderes ingleses defendem uma nova forma de liderança na igreja aliada à busca constante pela “coisa nova” que Deus prometeu

Você pode não conhecer John Noble, mas ele e a esposa Christine foram pioneiros em dois grandes movimentos recentes da história da Igreja: o Movimento Carismático e o Movimento de Igrejas nos Lares. Quando a maioria dos cristãos não acreditava que era possível ser batizado no Espírito Santo, em pleno século 20 ele foi batizado e começou a pregar sobre dons, mesmo sendo rejeitado pela maioria das igrejas tradicionais. Quando a maioria das pessoas achava que a igreja se resumia a prédio e reuniões, ele começou a falar que igreja eram pessoas, passou a reunir-se nos lares e a buscar uma forma mais orgânica de comunhão. E, quando os ministérios mais proeminentes nas congregações eram apenas os de pastor e mestre, ele se juntou a outros irmãos que pregavam sobre a necessidade de apóstolos e profetas na Igreja atual.

E, mesmo com tanto pioneirismo, ele permanece nos bastidores até hoje. Apesar de ter um ministério para a igreja como um todo, ele e a Christine dedicaram grande parte do seu tempo, durante muitos anos, para cuidar de uma comunidade de pessoas que moravam em sua própria casa. Nos últimos anos, o casal tem atuado no apoio a diversas redes de igrejas na Inglaterra e em outros países. Mesmo assim, Noble ganha a vida discretamente vendendo selos a colecionadores em Londres.

Semelhantemente, Jim Holl é um líder com muita experiência e pouca visibilidade. Após ter sido batizado no Espírito Santo, no início de sua jornada cristã, entrou em contato com o Movimento Carismático e teve de abandonar sua congregação tradicional. Foi fundador e pastor por 30 anos de uma igreja carismática na cidade de Bromley, na Inglaterra, onde mora até hoje. Apesar dos anos de pastorado, Holl também tem ampla vivência de igreja orgânica nos lares e, também, em denominações um pouco mais tradicionais. Desde a década 1980, tem trabalhado junto a John e Christine Noble.

Desde a década de 60, você tem sido líder e, até mesmo, pioneiro em relação a diversas práticas e verdades que a Igreja tem, aos poucos, experimentado. Também, passou por diversos movimentos que marcaram a história da Igreja. Levando em consideração toda essa bagagem e experiência, qual tem sido a sua percepção daquilo que Deus está fazendo hoje?

John Noble – Há quatro anos, eu e minha esposa, Christine, nos perguntamos qual a próxima coisa que o Senhor vai fazer. Temos pensado bastante a respeito da passagem de Isaías que diz: “Eis que faço coisa nova, que está saindo à luz; porventura não o percebeis?” (Is 43.19). Não queremos apenas fazer parte da História, queremos participar da nova coisa que o Senhor está gerando. Pagamos um preço pelo que fizemos na década de 60 e 70 e, talvez, tenhamos de pagar um preço novamente pelos passos a serem dados agora. Estou perguntando: onde estão os profetas que vão anunciar esse algo novo de Deus? Arthur Wallis costumava dizer: “Descubra o que Deus está fazendo hoje e una-se a ele nisso”. Isto é o que estou procurando: qual é essa nova coisa?

Em suas palestras, você tem comentado bastante sobre a necessidade do surgimento não só de líderes com uma nova visão para a Igreja, mas também de cristãos com uma atuação diferente para conquistar o mundo. Ainda é difícil encontrar pessoas assim no meio da Igreja?

John Noble – Eu sou um observador de pássaros. Em minhas observações, procuro aves raras; não é fácil, mas às vezes consigo encontrar algumas. Essa procura de cristãos, de santos com algo novo de Deus para o nosso tempo, é semelhante à minha pesquisa por aves raras. É difícil achá-las, mas elas existem e podem ser encontradas se houver perseverança e bastante empenho. No meio dos santos de Deus que estão por aí, estamos procurando algo raro, o novo de Deus no seu povo. Quando viajamos, encontramos pessoas muito especiais, que fazem o nosso coração saltar de alegria e pensamos: “Sim! Essas pessoas foram chamadas por Deus para buscar aquilo que ele tem para essa geração”.

Hoje em dia, tem-se falado mais sobre os ministérios de apóstolo, profeta, evangelista, pastor e mestre. Como você enxerga o trabalho dos cinco ministérios?

John Noble – A resposta mais simples está em Efésios 4.11, em que Paulo diz que o trabalho principal dos cinco ministérios é equipar a Igreja para a obra. Mas, infelizmente, após os Movimentos Pentecostal e Carismático, com a explosão de dons e o surgimento de grandes homens de Deus, a maioria das pessoas passou a focar mais nos ministérios e nos ministros do que na própria Igreja. O objetivo de um profeta ou um evangelista é fazer com que seu trabalho se torne desnecessário, que ele mesmo não tenha mais serviço porque todos na igreja já estão funcionando. Jesus ensinou seus discípulos andando com eles na prática e passou-lhes a mesma unção que ele tinha. Se seguirmos os passos de Jesus, nossa ênfase ministerial será a mesma: transmitir aos nossos discípulos a nossa unção. E se esse processo for levado até o fim, toda a Igreja se tornará apostólica, profética, evangelística, pastoral e assim por diante. Depois que a Igreja chegar a esse ponto de maturidade, o próximo passo será começar a discipular as nações.

Baseado nessa visão do trabalho dos cinco ministérios, como seria então a função do pastor?
Jim Holl – Precisamos mudar o nosso entendimento do que é um pastor e de como ele atua. Os pastores existem para encorajar e equipar as ovelhas a exercerem seu ministério. Por exemplo, se alguém tem talento para falar, o pastor pode encorajá-lo a pregar. Seu maior objetivo é encorajar toda a igreja a fazer o trabalho do ministério. E não só isso; é também transmitir o seu dom a outros. Um pastor nunca vai conseguir cuidar de todas as pessoas de uma congregação, e nem deveria. Por isso, ele deve discipular outros e ensiná-los a pastorear uns aos outros. Muitas pessoas acham que o pastor é responsável por tudo na igreja, desde a pregação até o trabalho com crianças. Mas não é verdade. Eu, particularmente, não consigo me comunicar bem com crianças. Então, tenho muita alegria em deixar outras pessoas cuidarem desse ministério. Minha visão é que toda igreja deve ter uma liderança plural, ou seja, ter uma equipe pastoral em que cada um, de acordo com os dons, seja designado a uma área. Depois, se surgir alguma coisa mais séria que esta equipe não conseguir resolver, será possível chamar alguém de fora com mais experiência.

Muitos pastores hoje parecem gastar mais tempo pregando do que realmente pastoreando.
John Noble – Os pastores estão precisando de um novo entendimento sobre suas funções no ministério. É preciso reconhecer que o que dá credibilidade ao ministério pastoral é a qualidade do rebanho. Um dos grandes mestres no Reino Unido foi Martyn Lloyd-Jones. Ele pregou por anos e escreveu mais de dez livros só sobre Romanos. Mas após ter-se aposentado, ele decidiu visitar todas as igrejas onde havia pregado para ver como estava a situação do rebanho e acabou muito desapontado. Além de as igrejas não terem crescido, ele viu pregadores que o imitavam, porém sem o seu dom. As pessoas que estão debaixo de um ministério pastoral desse tipo, muitas vezes, tornam-se passivas, cheias de conhecimento, mas que não fazem nada. O papel de um pastor é levar a igreja a funcionar. Muitas pessoas pensam que pastores são como enfermeiras num hospital. É claro que, se há um soldado ferido, é preciso fazer o trabalho de enfermaria. Contudo, deve ser algo temporário. Depois de fazer os curativos, as armas devem ser devolvidas para que o soldado possa voltar ao trabalho. É claro que muitas pessoas que estão pregando hoje não são pastores, e sim mestres. Mas se são mestres, onde estão os verdadeiros pastores? 

Atualmente, quando se fala em igreja caseira ou igreja orgânica, muitas pessoas pensam numa igreja sem liderança ou, até mesmo, sem estrutura. Qual seria a visão correta de liderança numa igreja local?
Jim Holl – Eu creio em liderança plural na igreja local, é algo bíblico. Toda vez que vemos presbíteros na Bíblia, é sempre plural; isso significa que não há apenas um homem que é inspirado para fazer todas as coisas. A responsabilidade de uma igreja deve ser compartilhada por uma equipe de presbíteros. Mesmo com a melhor boa vontade, quando estamos sozinhos corremos um risco maior de tomar decisões erradas. Liderança plural é uma necessidade na igreja, é algo que traz equilíbrio e segurança. Trabalhando em conjunto, nossas responsabilidades podem ser compartilhadas de acordo com os dons de cada um, e isso acaba com a expectativa que a maioria das pessoas tem de que um líder principal vá fazer todo o trabalho.

E como lidar com as estruturas?
Jim Holl – Estrutura é algo necessário para que haja um bom funcionamento. O meu corpo, por exemplo, só existe porque minha estrutura óssea lhe dá sustentação. Muita estrutura pode causar danos, mas a resposta não é ir para o outro extremo de caos e anarquia. Nós precisamos apenas da quantidade e do tipo correto de estrutura. Algumas igrejas correm sério perigo porque não dão liberdade para as pessoas ouvirem de Deus. Precisamos saber como permitir e incentivar todos os membros a ouvirem de Deus e, ao mesmo tempo, manter uma estrutura que dê ordem, libere as pessoas e lhes proporcione saúde espiritual.

O que caracteriza, de fato, uma igreja?
John Noble – Jesus disse: “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18.20). Em outras palavras, podemos dizer que, quando duas, três ou mais pessoas são reunidas por Jesus, isso constitui uma igreja. O que impede muitos cristãos de realmente se tornarem igreja é o interesse que têm em si mesmos. Vários cristãos individualistas juntos não formam uma igreja. É muito fácil encontrar grupos de pessoas reunidas em torno de um ministério. Normalmente, quem lidera é alguém com muito carisma, capaz de juntar até dez mil pessoas. Mas, se ele sair deste agrupamento, todos serão dispersos. O que isso significa? Que aquele grupo de pessoas não foi reunido por Jesus, mas apenas por um líder. Ser reunido por Jesus deve fazer parte dos nossos valores. O objetivo final é saber a quem pertencemos e firmar aliança de trabalhar juntos. No final do dia, ainda estaremos juntos. Talvez estejamos espalhados pelo mundo inteiro, mas ainda estaremos juntos. Jesus reuniu doze homens, os doze apóstolos que a Bíblia afirma ser os alicerces da Nova Jerusalém. Veja, Jesus os reuniu há mais de dois mil anos, mas ainda estarão juntos no fim.

 O que seria “ser reunido por Jesus”?
John Noble – Para explicar isso, eu uso três palavras: revelação, redução e realidade. Tudo começa com a revelação de que Deus está me unindo a alguém. É quando sinto que Deus fez algo especial, percebo que sou aceito e estou ligado a determinada pessoa. Porém, logo depois, a revelação passa pelo processo de redução, que é quando eu descubro como o outro realmente é – os defeitos, as falhas e tudo aquilo que possa me irritar. Se a revelação veio realmente de Deus, então conseguiremos atravessar o período de redução e chegar à realidade. Eu chamo de realidade porque é quando eu conheço o irmão a quem Deus me ligou como ele realmente é, e, ainda assim, permanecemos juntos.

Frequentemente, falamos tanto do propósito de Deus para a nossa vida que nos esquecemos de que existe um propósito pelo qual estamos reunidos como igreja. Como lidar corretamente com o individual e o coletivo?
John Noble – Vamos falar primeiro sobre o individual. Cada indivíduo deve ter um chamado e um destino pessoal, mas, ao mesmo tempo, também deve fazer parte de um grupo. O grupo também tem um chamado, uma identidade e um destino. Mas a pergunta é: como o individual se encaixa no coletivo? Algumas igrejas caseiras cresceram porque Deus as multiplicou, mas muitas não possuem nenhuma conexão entre si, são extremamente individualistas. Podem até ter uma visão dada por Deus, mas se esquecem de se perguntar como isso faz parte do propósito divino com a cidade onde estão, por exemplo. Para explicar como lidar com o individual e o coletivo, eu costumo usar a figura da orquestra. Nem sempre todos os instrumentos tocam de uma vez. Em determinado momento, os trombones devem silenciar-se para dar espaço aos violinos, e, depois, o maestro pode retomar e juntar os dois instrumentos. Precisamos depender de Deus como os músicos de uma orquestra dependem de um maestro. O Senhor pode nos indicar como cada um, em cada grupo, vai contribuir para o propósito que ele tem na Igreja como um todo. Isso leva tempo, além de ser necessário dar espaço para ouvir de Deus.

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4 respostas

  1. O que precisamos é dar espaço para Deus, nosso Pai. Assim, caminharemos com Ele, pelo simples fato de reconhecermos sua voz.

    1. “(…) Assim, caminharemos com Ele (…)”. Não é essa a chave para a perfeição: “(…) anda na Minha presença e sê perfeito”.

  2. “Assim como o ferro ao ferro se afia, assim é o amigo ao seu amigo”.
    Após discussões calorosas e perdões impensáveis, hoje tenho o privilégio de dizer que tenho um amigo! Acabo de atravessar boa parte da fase de “redução” e estou contemplando a “realidade” do amor philia (φιλια). Como desejei este dia!!! Posso ser eu mesmo, sem defesas…
    Deus está mudando as regras do “jogo”: Igreja nos lares, liderança plural, ministérios diversos… O novo modelo antigo enfim sendo revelado paulatinamente. Estamos avançando com maturidade para o novo, sobre a base aprendida ao longo da história. Igreja 2.0, não vejo a hora de contemplá-la, linda, como Ele sonhou…

  3. Eu tenho sonhado com o dia que a Igreja nos lares se torne realidade!!!
    Este artigo veio de encontro com minhas expectativas!! Realmente, quando nos unimos em Jesus, passamos por estas três etapas. Revelação, redução e realidade!!
    A aceitação traz o tirar do véu isto é paramos de viver de aparências, passamos a ser nós mesmos sem necessidade de fingir o que não somos para agradar e sermos aceitos. Quando Jesus nos uni, aceitamos o outro com suas limitações e defeitos, não criticando mas nos ajudando mutuamente e crescendo juntos em amor.
    Se tiramos as máscaras não precisamos estar sempre com medo de que alguém descubra como somos na realidade.
    Que Deus abençoe a todos

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