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Impacto na História-O Púlpito e as Lágrimas

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Na vida dos grandes pregadores, a relação entre o púlpito e as lágrimas sempre foi um fato real. Não lágrimas derramadas durante a mensagem – essas, muitas vezes, não passam de encenação –, mas lágrimas de verdade, trazidas pela compunção oriunda da responsabilidade de entregar uma mensagem da Palavra de Deus. Lágrimas que são derramadas por causa do peso que o Espírito Santo coloca sobre os ombros do pregador.

Essas lágrimas não são derramadas diante do público, mas em secreto, na comunhão que o pregador busca com o Senhor antes de cumprir o seu encargo como mensageiro. Ou lágrimas derramadas depois da mensagem, fruto da impotência do pregador diante da realidade de que nem todos os seus ouvintes atenderão ao apelo que o Espírito quis transmitir.

Alguns exemplos representativos:

Charles Finney (1792-1875)

Eis um trecho de um livreto escrito pelo famoso pregador, Charles Finney:

Na manhã de domingo, levantei-me cedo e me refugiei num bosque fora da vila, a fim de derramar o coração diante de Deus suplicando-lhe uma bênção sobre os trabalhos do dia. Não pude exprimir em palavras a angústia da minha alma, mas lutei com gemidos e muitas lágrimas durante uma ou duas horas, sem encontrar alívio. Voltei para o meu quarto no hotel, mas quase em seguida fui de novo para o bosque. Fiz isso por três vezes. Da última vez obtive completo alívio, já na hora da reunião. Charles G. Finney, UMA VIDA CHEIA DO ESPÍRITO, Ed.Betânia.

Kathryn Kuhlman (1907-1976)

Kathryn Kuhlman, pregadora muito conhecida na segunda metade do século XX, principalmente pela ocorrência de milagres de cura nos seus cultos, não fazia segredo das suas lágrimas. Jamie Buckingham, biógrafo autorizado da vida dela, relata o seguinte:

A despeito dos comentários de Kathryn de que vivia “em oração”, houve momentos em que se retirava e agonizava em oração. […] De acordo com Maggie Hartner e outros, ela muitas vezes voltava exausta para casa, depois de um culto de milagres, e caía no chão aos prantos.
O primeiro culto de milagres do qual participei foi em 1968. Depois de pelejar para conseguir andar por entre mais de 2 mil pessoas que enchiam o Carnegie Hall, cheguei empurrado à entrada do palco e me vi em um pequeno corredor por trás dos bastidores que acompanhava a largura do prédio. Os auxiliares de Kathryn estavam em cada canto do hall, cuidando para que ninguém a incomodasse. Ela estava andando, de um lado para o outro, ora com a cabeça para cima, ora com a cabeça para baixo, ora com os braços para o alto, ora com as mãos cruzadas nas costas. Seu rosto estava coberto de lágrimas e, quando ela se aproximava, eu podia ouvi-la:
“Terno Jesus, não retires de mim o teu Espírito Santo”
.

Virei-me e corri, pois senti que havia me intrometido na mais íntima de todas as conversas entre duas pessoas que se amavam, e minha simples presença era uma abominação.

A própria Kathryn Kuhlman conta o que aconteceu quando de uma conversa com uma repórter de Kansas City:

“Sabe, as pessoas poderiam pensar, depois de um culto de milagres semelhante a esse, quando muitos foram curados, que eu deveria ser a pessoa mais feliz do mundo. Estou grata por ter visto a manifestação do poder de Deus, mas ninguém conhece a dor e o pesar que tenho por aqueles que não foram curados. Pergunto-me se eu talvez tivesse sabido como cooperar mais com o Espírito Santo, poderia ter realizado mais para Deus”. Eu não podia conter a profusão de lágrimas, e, finalmente, a repórter conseguiu sair de maneira despercebida. Jamie Buckingham, KATHRYN KUHLMAN, UMA BIOGRAFIA AUTORIZADA, Ed. Danprewan.

John Hyde (1865 – 1912)

John Hyde, missionário à Índia, foi mais conhecido pela sua vida de oração do que pelas pregações. Suas lágrimas e angústia de alma em favor da ação do Espírito Santo nos corações dos homens traziam, muitas vezes, resultados poderosos na ministração de outras pessoas. Veja este testemunho de J. Wilbur Chapman:

Numa das nossas campanhas na Inglaterra, a freqüência estava muito baixa. Parecia impossível reverter a situação, mas recebi um bilhete dizendo que um missionário americano estava chegando à cidade e que ia orar para que a bênção de Deus chegasse sobre o nosso trabalho.
Quase que instantaneamente houve uma mudança brusca. O salão ficou lotado, e cinqüenta pessoas atenderam ao meu primeiro apelo para entregar suas vidas a Jesus Cristo.
Quando estávamos saindo da reunião, falei: “Sr. Hyde, gostaria que orasse por mim”. Fomos juntos para o meu quarto, e ele caiu de joelhos. Durante cinco minutos, sequer uma sílaba saiu dos seus lábios. Eu podia ouvir os batimentos do coração dele e as fortes pancadas do meu. Senti as lágrimas ardentes escorrendo pelas minhas faces. Eu sabia que estava na presença de Deus. Então, com o rosto levantado, as lágrimas vertendo copiosamente, ele disse simplesmente: “Ó Deus!”.
Depois, durante mais cinco minutos pelo menos, ele ficou em silêncio novamente. Quando tinha certeza de que estava conversando com Deus, ele colocou o braço nos meus ombros, e saíram das profundezas do seu coração intensas súplicas em favor dos outros quais nunca antes ouvira em toda minha vida. Levantei-me dos meus joelhos sabendo o que era verdadeira oração. Francis McGaw, JOHN HYDE: APÓSTOLO DE ORAÇÃO, Worship Produções.

George Whitefield (1714-1770)

O Século XVIII pode ser chamado A Idade Áurea dos Pregadores. Os nomes mais conhecidos são Jonathan Edwards, John Wesley e George Whitefield, mas havia muitos outros. Ao ar livre, sem recursos eletrônicos modernos, sem cantores, conjuntos ou corais, a pregação simples e poderosa da Palavra de Deus comovia enormes multidões e resultava em conversões e profundas mudanças na sociedade.

Nem todos tinham o mesmo estilo. Talvez os dois mais opostos entre si tenham sido Jonathan Edwards e George Whitefield. O primeiro, ministro Congregacional, culto, refinado, pregava com intensidade, porém sem emotividade, demonstrando seus argumentos com lógica e convicção, praticamente sem mudar o seu tom de voz. Isso não implicava, porém, que seus sermões fossem secos ou monótonos. Edwards possuía uma habilidade incomum de pintar quadros com suas palavras. No sermão que, de longe, foi o mais famoso do seu ministério, “Pecadores nas mãos de um Deus irado”, Edwards comparou o pecador a um inseto suspenso por um fio muito fino acima das chamas da ira divina. Sem querer, os ouvintes se agarravam a colunas e bancos para não caírem no abismo. Com a mesma habilidade, ele também pintava quadros da beleza do céu e do amor e misericórdia de Deus.

Em contraste, George Whitefield, pouco acadêmico, mais afinado com o teatro do que com seminários, tinha um estilo dramático e visual e apelava mais para as emoções do que para a mente. Sabendo que ele precisava competir com tantas outras distrações para ganhar a atenção do povo de sua época – e para persuadi-lo –, Whitefield desenvolveu um estilo de pregação dinâmica, até então desconhecido. Freqüentemente assumia uma personagem bíblica: ria, chorava, subia em árvores, pulava. Atirava verdades bíblicas com uma voz que estrondava como se fosse trovão, seus olhos lampejando (mesmo que um deles estivesse sempre meio fechado, seqüela de sarampo).

“Admiro aqueles que trovejam a Palavra”, ele disse certa vez. “O mundo cristão está tomado por profunda sonolência. Só uma voz poderosa será capaz de despertá-lo.”

Todas as classes sociais eram tocadas por suas pregações. Antes de completar 26 anos, Whitefield se tornara a figura mais popular tanto na Inglaterra como nas colônias norte-americanas. É famosa a história como o proeminente cientista, empresário e político de Filadélfia, Benjamin Franklin, homem racional e cético, assistiu a uma de suas pregações. Percebendo que Whitefield pretendia levantar uma oferta para uma causa social, Franklin foi logo tomando sua resolução de não permitir que a retórica do pregador lhe afetasse. À medida que ouvia, porém, ele foi amolecendo. Primeiro abriu mão das moedas de cobre, de valor inferior. Depois, aceitou entregar junto as moedas de prata. No fim, esvaziou o bolso e ofertou tudo que tinha.

Talvez o tributo mais eloqüente que Whitefield recebeu veio de um homem da sociedade, David Garrick, considerado o maior ator shakespeariano do século XVIII.

Um pregador, certa vez, perguntou para o ator: “Como é que vocês atores conseguem produzir efeitos tão fortes com cenas de ficção, enquanto nós pregadores no púlpito conseguimos resultados tão insignificantes com a verdade?”.
“Suponho”, respondeu Garrick, “que seja porque nós apresentamos ficção como se fosse verdade, enquanto vocês apresentam, muitas vezes, a verdade como se fosse ficção!”.
Quando se tratava de ouvir Whitefield, porém, Garrick tinha outra opinião. Admitindo que amava ouvir o pregador, Garrick deu o seguinte testemunho: “Enquanto eu ouvia Whitefield pregar, percebi sua paixão e intensidade. Sabia que ele acreditava que sem Cristo as pessoas iriam para condenação eterna. Chegando a um ponto em que não conseguia dizer mais nada, ele ergueu aqueles poderosos braços, e sua voz mais parecia uma trovoada enquanto suplicava com profundo anelo ao povo , dizendo ‘Oh!, Oh!’. Se ele estivesse num palco, conseguiria fazer toda a platéia tremer e chorar, dizendo aquela única palavra. Eu daria uma grande quantia em dinheiro se eu conseguisse dizer ‘Oh!’ assim como ele”.
David Holdaway, THE BURNING HEART (O Coração Incendiado), Life Publications, www.lifepublications.org.uk

Diz um provérbio árabe que orador é aquele que consegue transformar os ouvidos dos homens em olhos. Era isso que acontecia nas pregações de Whitefield e de alguns outros de sua geração. E pode acontecer de novo, porque essa habilidade não era deles. Antes, porém, talvez tenhamos de abrir mão das nossas técnicas e habilidades humanas.

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