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Identidade Barnabé

Angelo Bazzo

Há muitas lições que podemos aprender refletindo sobre as ações de Barnabé relatadas nas Escrituras. Antes disso, no entanto, eu gostaria de propor uma reflexão sobre a identidade dele. Na Bíblia, diversas pessoas tiveram o nome mudado ou receberam, já desde o nascimento, um nome que expressava a missão que tinham na Terra. Há casos, no Velho Testamento e no Novo, que mostram pessoas recebendo um novo nome que, na verdade, traduzia uma nova identidade dada por Deus.

Um exemplo muito conhecido é o de Abraão. No começo de sua trajetória, ele se chamava Abrão, mas depois teve o nome mudado para Abraão. É importante dizer que essa mudança só ocorreu quando houve uma transformação em sua identidade e caráter. Além de Abraão, muitos outros casos poderiam ser mencionados como, por exemplo, o de Sara, Jacó e Pedro. Claramente, nome, identidade e chamado estão fortemente interligados.

Barnabé – filho da consolação

A vida de Barnabé se encaixa plenamente nesse padrão. O texto bíblico diz que José (seu nome original) recebeu, da parte dos apóstolos, um apelido, um sobrenome, Barnabé (At 4.36). Neste mesmo texto, descobrimos que ele era um levita, natural de Chipre; ele entra em cena no palco das Escrituras com uma atitude de rendição financeira, depositando sua oferta (proveniente da venda de um terreno) aos pés dos apóstolos.

Apesar de ser uma ação muito admirável, eu gostaria de dar atenção ao seu nome. A passagem mostra que os apóstolos o chamam de “filho da consolação” ou (como aparece em outras traduções) “filho da exortação”. A palavra no original grego para consolação ou exortação é paraklesis, da qual também temos o termo grego parakletos, utilizado em João 16.7 para definir a pessoa do Espírito Santo. Quando o Espírito Santo é chamado por Jesus de consolador, o termo utilizado ali é exatamente parakletos. Então, da mesma forma que o Espírito Santo recebeu esse nome da parte de Jesus, Barnabé foi chamado pelos apóstolos de “filho da paraklesis”. A palavra paraklesis significa convocação, aproximação, súplica, solicitação, encorajamento, consolação, admoestação, conforto ou, ainda, aquele que proporciona conforto e descanso.

Podemos concluir que os apóstolos perceberam em Barnabé algo que os fez dar-lhe um novo nome. O que os apóstolos viram? Creio que tenham visto um estilo, um jeito de ser, muito semelhante à maneira como o Espírito Santo trabalha. O Espírito de Deus é um parakletos, ou seja, um consolador, um ajudador, alguém que exorta. Por isso, quando pensamos na pessoa de Barnabé, devemos enxergá-lo como alguém que possui uma personalidade semelhante à do Espírito Santo, com um caráter de encorajamento, consolo, conciliação.

Barnabé – filho da profecia

Mas o nome Barnabé não significa apenas “filho da consolação”. Se olharmos a origem aramaica, não encontraremos exatamente filho do descanso ou da consolação, mas um significado ligado a profecia ou profeta. A palavra nabi, da qual vem o termo nabas (literalmente o nome é “Barnabas”), significa vidente. Em diversas passagens, a Bíblia se refere a profetas como videntes. Portanto, o nome Barnabé não significa apenas “filho da exortação”, mas também “filho da profecia”.

Eu acredito que a união dessas duas características nos dê uma imagem mais ampla do tipo de ministério exercido por Barnabé. É como se ele possuísse uma identidade profética que lhe conferisse uma missão: um ministério de conciliação, exortação e encorajamento. Acredito que a vontade de Deus hoje seja levantar homens no meio da Igreja que possuam visão profética, que entendam o tempo que estão vivendo. E, por ter compreensão do tempo que estão vivendo, posicionam-se como filhos da consolação.

Exemplos da atuação de Barnabé

O primeiro exemplo que temos de Barnabé nessa função de encorajamento está em Atos 9.27. Foi o momento em que ele encontrou Paulo, recém-convertido. Na ocasião, os outros cristãos ainda não acreditavam na conversão de Saulo – afinal era um temido perseguidor da Igreja. Então, diante dessa situação, Barnabé, tendo visão profética e percebendo que Paulo era de fato um irmão em Cristo, com uma postura conciliatória (como a do Espírito Santo), conectou Paulo com a Igreja. Ou seja, ele viu, percebeu, discerniu a realidade da conversão de Paulo e o juntou ao Corpo, o que foi uma bênção muito grande. Barnabé era alguém com discernimento, mas também com o dom de conciliar.

Outra atuação de Barnabé acontece durante o avivamento em Antioquia, relatado em Atos 11. O versículo 22 diz que, quando a notícia desse avivamento chegou aos ouvidos da igreja em Jerusalém, eles enviaram Barnabé até Antioquia. Ao chegar lá, “ele se alegrou ao ver a graça de Deus e exortava a todos a perseverarem no Senhor com firmeza de coração”.

Perceba: da mesma forma que ele inicialmente viu a graça de Deus no apóstolo Paulo, como indivíduo, agora esse “filho da profecia” vê e percebe a graça de Deus em toda uma comunidade.

É desse tipo de ministério que precisamos hoje, pessoas que consigam chegar a uma comunidade e ver onde a graça de Deus está atuando. Infelizmente, muitos profetas hoje conseguem ver apenas aquilo que Deus não está fazendo nas igrejas, são profetas da desgraça. Mas Barnabé era um vidente que enxergava a graça de Deus. Certamente, a igreja de Antioquia não era perfeita, nem madura. Mas ele viu a graça de Deus e percebeu que havia algo tremendo naquele lugar – tão tremendo que ele passou a fazer aquilo que o Espírito Santo faria: alegrou-se e exortou (versículo 23).

A palavra usada nessa passagem é a mesma para “filho da exortação”. O “filho do paraklesis” estava ali convocando e “parakletando” os irmãos a seguirem aquilo que o Espírito Santo estava fazendo entre eles. Esse “ministério de Barnabé” é um tipo necessário de ministério que discerne o que Deus está fazendo num lugar e exorta os irmãos a permanecerem naquele mover ou direção.

Mas ele não parou por aí. O avivamento em Antioquia era grande e maravilhoso, mas Barnabé não quis ficar ali sozinho. Ele sabia que, para o avivamento continuar, aprofundar-se e amadurecer, havia necessidade de outro ministério: o daquele homem que ele mesmo ajudara a conectar à igreja após sua conversão espetacular, Saulo.

“Então, Barnabé partiu para Tarso, em busca de Saulo. Tendo-o achado, levou-o para Antioquia. E durante um ano inteiro reuniram-se naquela igreja e instruíram muita gente” (At 11.25,26). Naquela comunidade, havia um avivamento, mas também havia necessidades. E Barnabé conhecia um obreiro que podia ajudar nessas situações. Até então, Paulo não tinha exercido nenhum ministério. Era um ministro em potencial que ainda não fora liberado. Barnabé era aquele tipo de pessoa que vê alguém com um dom ou chamado e, ao mesmo tempo, vê a necessidade de uma comunidade e conecta uma coisa à outra. É tão profético e tão necessário esse tipo de ministério nos dias de hoje!

É interessante perceber no versículo 30 do mesmo capítulo que Barnabé e Paulo receberam doações para levar dos irmãos de Antioquia para a igreja da Judeia. Receberam o encargo de fazer fisicamente o que Barnabé já fazia espiritualmente. A igreja de Antioquia tinha suprimento, e a igreja da Judeia tinha necessidades. Logo, ele foi uma ponte para levar o suprimento até a necessidade – um verdadeiro ajudador para a Igreja. E mais uma vez, vemos características do Espírito Santo em sua identidade.

Barnabé e Marcos

Já em Atos 13, vemos um novo momento na vida de Barnabé e Paulo, que foram enviados pelo Espírito Santo para uma obra específica. As pessoas chamam a viagem que fizeram a seguir de “a primeira viagem de Paulo”, mas, na verdade, Paulo foi enviado mais como assistente de Barnabé. Mas o interessante aqui é notar que, depois de Barnabé passar um bom período trabalhando com Paulo (Atos 13 a 15), surge uma desavença entre os dois que resulta em separação. O motivo da desavença foi Marcos, o primo de Barnabé. Paulo, certamente um homem mais colérico e determinado, não queria levar Marcos na segunda viagem por causa de algumas falhas que o jovem havia cometido. Mas Barnabé, que talvez estivesse vendo a graça de Deus no primo, a mesma graça que havia visto no próprio Paulo e em Antioquia, decidiu manter o jovem e separou-se de Paulo.

Barnabé, então, voltou para a sua terra e provavelmente discipulou Marcos com resultados muito positivos. De acordo com a tradição histórica, Marcos tornou-se o homem que auxiliou o apóstolo Pedro e escreveu um dos evangelhos. O evangelho de Marcos exerceu uma influência muito grande, sendo uma das fontes que Mateus e Lucas usaram para escrever os outros evangelhos.

Se não fosse Marcos, não teríamos um dos documentos mais importantes do cristianismo. Por outro lado, nunca haveria o evangelho de Marcos se Barnabé não tivesse visto a graça de Deus na vida desse jovem.

A graça de achar graça nos outros

Uma das características do Espírito Santo é ser aquele que capacita os filhos de Deus para o serviço, ou seja, fornece poder para fazermos, além da vontade, a obra do Pai (At 1.8). As Escrituras nos dizem, em 1 Coríntios 12, que, por meio do Espírito Santo, o Senhor concede dons à sua igreja. A palavra “dons”, no original, é charisma, da qual deriva a palavra “graça”. Ou seja, os dons dados por Deus são, na verdade, graça da sua parte. Barnabé era um homem com olhos atentos para a graça de Deus. Seus olhos estavam abertos para ver os dons de Deus na vida de outras pessoas.

Mas os dons também são para a edificação do Corpo de Cristo – sua Igreja. Sabemos pouca coisa sobre Barnabé. As Escrituras nos falam muito mais, por exemplo, sobre Paulo e o evangelho de Marcos. Isso me leva a pensar que Barnabé, assim como o Espírito Santo, estava com os olhos fitos na principal obra de Deus: a Igreja. Assim como há um amor, um agir e um trabalhar do Espírito nesta atual dispensação para edificar a Igreja de Cristo mediante os dons e ministérios, houve também em Barnabé um amor e uma visão de edificar a Igreja do primeiro século.

Nesses dias, Deus está procurando e levantando homens com a personalidade parecida com a do Espírito Santo. O Espírito Santo não procura glória para si, não procura aparecer; procura sempre mostrar Jesus. Da mesma forma, Deus quer levantar filhos dessa consolação e dessa exortação, pessoas que tenham olhos para ver os outros, e não a si mesmas. Que tenham uma visão profética sobre o Corpo de Cristo e que não tenham medo de colocar em evidência outros ministérios e outras pessoas por amor a Cristo e à sua Igreja.

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7 respostas

  1. Que palavra impactante!
    Uma verdadeira manifestação de Deus!
    Nunca tinha observado o ministério de Barnabé desta forma. Percebo nele agora um excelente exemplo para aqueles que estão servindo o senhor da Consolidação da Igreja.

    Louvo a Deus pela sua revista!

  2. Vejo hoje que tem muitos líderes aparecendo mais que o próprio Jesus e Sua palavra, preocupados com status, etc. Que o Espírito Santo possa ter liberdade nos corações como teve no coração de Barnabé vendo graça naqueles que estão próximos e venha ter as mesmas atitudes de Barnabé, uma história que aos nossos olhos é pequena mais suficiente para Deus.

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