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História da Igreja – Parte 3 – O Que Temos a Oferecer?

Raízes – Lições da História da Igreja Para os Nossos Dias

É um princípio indiscutível que, para se descobrir o propósito da existência de um indivíduo, entidade, nação ou até mesmo de toda a humanidade, é preciso começar analisando a sua história, suas raízes. Não é diferente em relação à Igreja, que na verdade é o conjunto de pessoas que atenderam ao chamado de Deus para sair para fora de um mundo cada vez mais à deriva no caos e degeneração resultantes do pecado, a fim de reencontrar mediante a obra redentora de Jesus o caminho de volta ao propósito original de Deus para a humanidade e para toda a criação.
É nosso objetivo através destas crônicas sobre épocas passadas da história da Igreja descobrir algumas das nossas raízes, e compreender melhor a razão da nossa existência
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O Que Temos a Oferecer?

A igreja dos primeiros séculos era uma igreja não conformada com a cultura paga em que vivia, conforme vimos no primeiro artigo desta série. Foi conseqüentemente duramente perseguida pelas autoridades do império romano, e foi o testemunho dos cristãos pelo martírio que (depois de um tempo) causou o maior impacto sobre a sociedade contemporânea (parte 2 da série).

Mas, além deste testemunho, que outras oportunidades os cristãos tinham para influenciar seu mundo com o tipo de vida que levavam?

Vida Alternativa

De fato, apesar da perseguição e do próprio mistério que conseqüentemente cercava certos aspectos do culto cristão, muitos pagãos eram atraí dos à igreja, não só pelas promessas espirituais de salvação e vida eterna, mas também por causa de bênçãos concretas e presentes que viam entre os cristãos. Entre estas, a principal era que, numa sociedade onde não existiam serviços sociais, os cristãos cuidavam uns dos outros.

No final do segundo século, Tertuliano escreveu que as religiões pagas usavam seus recursos em “festas e bebedeiras”, enquanto os cristãos gastavam para “sustentar e sepultar os pobres, e suprir as necessidades de crianças, órfãos e idosos”.

No ano de 251, o bispo de Roma mencionou numa carta que havia mais de “1500 viúvas e pessoas carentes” sendo mantidas pela sua congregação. Até o imperador pagão Juliano reclamou que aqueles “galileus impiedosos não só sustentam seus próprios pobres, mas os nossos também”.

A disposição dos cristãos de cuidar dos outros foi testada dramática e publicamente nas duas ocasiões em que grandes pragas varreram o império, a primeira em 165 e a segunda em 251. A taxa de mortalidade passou o marco dos 30%. Os pagãos procuravam evitar todo contato com os contamina dos, chegando até a jogar pessoas ainda vivas nas valas e sarjetas. Os cristãos, pelo contrário, cuidavam dos doentes, mesmo que isto custasse para alguns a própria vida. Sem dúvida alguma, isto abriu muitas portas para a mensagem de Cristo.

O espírito de servir dos cristãos se evidenciava também durante os freqüentes desastres naturais, como terremotos, fomes, e enchentes, e nos tumultos sociais, como guerras civis, invasões, e revoltas.

Outro aspecto da vida cristã era o tratamento dado às mulheres. Ainda havia bastante infanticídio de bebês do sexo feminino, e abortos com grande risco de vida. Os cristãos não praticavam nem infanticídio, nem aborto, e davam um tratamento mais digno às suas mulheres. Nos meios cristãos, as garotas não eram obrigadas a se casar tão novas e com homens bem mais velhos como ocorria entre os pagãos. Além disso, os cristãos eram contra o divórcio e o sexo extraconjugal tão comuns naquela sociedade.

As cidades eram densamente povoadas, sem a infra-estrutura que temos hoje. O resultado eram condições péssimas de higiene e de moradia. Antioquia, por exemplo, tinha uma densidade de pessoas por quilômetro quadrado, três vezes maior que a de Nova Iorque hoje! A tensão entre grupos étnicos era muito grande e havia constantes conflitos e brigas como ainda ocorre atualmente.

Para os desabrigados e necessitados, o cristianismo oferecia apoio e esperança. Para os estranhos e recém-chegados, os cristãos davam comunhão e amizade. Para os órfãos e as viúvas, a igreja pôde levar o calor e a união de uma família mais ampla.

Até mesmo as perseguições, que tinham o efeito de peneirar a igreja, afastando aqueles que eram apenas curiosos ou que tinham interesses secundários nos benefícios mais palpáveis, contribuíam para criar um ambiente mais unido com laços mui to fortes entre os que permaneciam. Qualquer pessoa que já participou de uma causa que exige grande sacrifícios entende a satisfação intensa e coletiva que gera entre os participantes. Um risco compartilhado une as pessoas de forma poderosa, e este senso de comunidade e família são os atrativos mais fortes que a igreja tem para oferecer ao mundo solitário e vazio de sentido.

Assim, o preço de ser cristão apesar de ser elevado, de fato era uma barganha, por causa de tudo que recebiam. E embora o cristianismo não pregasse que todos pudessem ou devessem ser social ou politicamente iguais, ensinava que todos eram iguais aos olhos de Deus, e que os mais afortunados tinham a responsabilidade de ajudar os mais necessitados.

Boas Novas – Um Deus de Misericórdia

É importante neste contexto lembrar que o conceito de um Deus misericordioso e amoroso era totalmente estranho para os pagãos. Aristóteles havia ensinado que os deuses não podiam sentir amor por meros humanos. E um Deus de misericórdia era inconcebível, já que os filósofos diziam que misericórdia era uma emoção patológica, um defeito de caráter a ser superado e vencido. Como então Deus se importaria com a maneira que os homens tratam uns aos outros, ou como ele nos ordenaria a amar uns aos outros?

Se para alguns esta mensagem era absurda, para outros era realmente boas novas. E principalmente porque não era apenas teoria, pois os cristãos a demonstravam de forma prática na sua vida.

Assim, embora ainda houvesse alguns missionários e pessoas dedicadas a implantar igrejas novas, a maior parte do evangelismo ocorria de forma natural, através do testemunho prático da igreja e da diferença de vida que encontravam ali.

O Longo Caminho da Catequese

Mas depois que alguém demonstrasse interesse na fé, o caminho para tornar-se membro comprometido da família não era tão simples. Principalmente por causa da perseguição, as igrejas faziam uma triagem cuidadosa para selecionar aqueles que eram sérios e para recusar os curiosos ou delatores.

De acordo com Hipólito, um grande apologista e escritor cristão de Roma (170 – 235), os candidatos eram examinados detalhadamente sobre suas vidas e as razões por que desejavam abraçar a fé. O cristão que era responsável por trazer o candidato à igreja devia testificar também dizendo que este era apto a ouvir a palavra.

Alguns queriam excluir pessoas de determinadas profissões, como inaptas a ser até candidatas para o batismo, se não mudassem de atividade. Entre essas eram escultores ou pintores de ídolos, atores, professores de escolas pagas, gladiadores, sacerdotes pagãos, comandantes militares, magistrados civis, astrólogos, videntes, meretrizes e mágicos.

Depois deste exame inicial, o restante do processo de iniciação levava aproximadamente três anos, e em alguns lugares, até seis anos, com o objetivo de garantir um compromisso autêntico. No quarto século, de acordo com Agostinho, o curso de catecúmeno incluía a mensagem da história da salvação, desde a Criação até a Segunda Vinda!

Os catecúmenos só podiam participar dos cultos de pregação ou ensino. Eles não podiam participar da eucaristia que era celebrada depois da pregação, e em alguns casos nem podiam estar presentes.

Conclusões

A maior força do evangelismo não está em nossa conformidade com o mundo, mas em viver a vida alternativa do reino de Deus. As pessoas não querem ver se nossas músicas, nossas idéias e nosso estilo de vida são bem semelhantes aos que eles têm, porque estão cansados de tudo isso. A igreja contemporânea no mundo livre tem perdido em grande parte a sua prática de uma vida alternativa, e por isto procura se assemelhar ao mundo para conseguir ser mais aceita. Mas quanto mais semelhante, menos tem do reino de Deus, e menos tem para oferecer.

Um dos aspectos importantes desta vida alternativa foi a prioridade que se colocava sobre cuidar uns dos outros, e especialmente dos pobres, necessitados e abandonados. Num mundo onde já existe tanta miséria, e onde as crises dos finais dos tempos só tendem a aumentar, a igreja que não tem isto como sua visão e prioridade (prioridade concreta de tempo e recursos), não terá muito para anunciar ou pregar. Poderíamos argumentar que o processo catequético prolongado que a igreja desenvolveu nestes primeiros séculos era um desvio das práticas da igreja apostólica. Por outro lado, a superficialidade com que as massas entram na igreja hoje são um desvio bem pior. E na falta do poder da pregação apostólica que resultava em conversões profundas e definitivas, o processo seletivo e sério que a igreja aplicava, longe de afastar candidatos sedentos e ansiosos por algo real e genuíno, simplesmente lhes dava mais certeza que estavam no caminho certo.

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