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História da Igreja – Parte 17 – O Sacerdócio dos Crentes na História

Raízes: Lições da História da Igreja Para os Nossos Dias
O Sacerdócio Dos Crentes Na História

Por Christopher Walker

A questão dos limites que se deve colocar à obediência aos superiores dentro da igreja não é uma dificuldade apenas dos nossos tempos atuais. Tampouco é um problema enfrentado apenas por líderes ou teólogos evangélicos. Veja a seguir uma pequena amostragem dos desafios no passado:

São Tomás de Aquino (1225–1274), teólogo católico:

A Igreja ensina que a obediência faz parte da justiça, uma das quatro virtudes cardinais, as quais, por sua vez, estão subordinadas às virtudes teológicas de fé, esperança e amor. Fé é superior à obediência! Portanto, se a obediência prejudicar a fé, o cristão tem o dever de não obedecer ao seu superior.

Algumas vezes, as coisas que são ordenadas por um superior são contrárias a Deus; daí que os superiores não devem ser obedecidos em todas as coisas. (Summa Teológica II – IIQ.104).

“Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos anunciamos, seja anátema” (Gl 1.8).

Muitos cristãos acham que obediência é absoluta, e que só possui um oposto, a desobediência. Estão enganados. A verdadeira obediência tem dois opostos: erro por deficiência, que é desobediência; e erro por excesso, que é obediência falsa ou obediência cega.

Martinho Lutero (1483-1546), reformador protestante:

Um dos pilares da reforma de Lutero é a doutrina conhecida como “sacerdócio de todos os crentes”. Baseando-se em 1 Pedro 2.9, e contrapondo-se ao sistema clerical e hierárquico da Igreja Católica, Lutero defendia a liberdade de todos os cristãos exercerem o sacerdócio, ou seja, de estarem diante do trono de Deus, pelo sangue de Jesus, sem necessidade de mediadores.

Pelo batismo, ele ensinou, os cristãos se tornam povo de Deus, irmãos de Cristo, consagrados junto com ele como sacerdotes. Usando João 10, mostrava que as ovelhas conhecem a voz do Bom Pastor e não seguem o estranho. Dessa forma, os membros leigos da igreja tinham o direito de julgar doutrina, pois “as ovelhas terão de discernir se estão ouvindo a voz de Cristo ou uma voz estranha”. Isso não era apenas um privilégio da congregação, mas um dever solene.

Lutero chegou a afirmar que os cristãos não só eram todos sacerdotes, mas ministros da Palavra, com o sagrado dever de ensiná-la. Abolindo, assim, praticamente toda distinção entre clérigo e leigo na igreja, ele realmente tentou implantar essa doutrina na prática.

Existe, porém, uma grande distância entre revelação e prática. Uma sucessão de crises mostrou que o modelo de pura igualdade de todos os crentes diante de Deus, como sacerdotes que ouviam plenamente a voz do Mestre, não funcionava. Houve revolta dos camponeses, anarquia, o surgimento dos chamados entusiastas ou fanáticos e a falta de sustento para aqueles que se dedicavam ao ministério pastoral.

Como freqüentemente acontece, foi preciso adaptar a doutrina à prática. Ao analisar as mensagens e escritos de Lutero, percebe-se que, com o passar dos anos, ele foi mudando seus conceitos e aumentando a distinção entre sacerdócio e ministério. Em 1523, ele havia afirmado que todos os cristãos eram tanto sacerdotes como ministros. Já em 1535, pregou que “embora todos sejamos sacerdotes, nem todos podem ensinar, pregar ou governar na igreja”.

A forma de tornar-se ministro também foi mudando. No início, o chamado ao ministério só precisava ser reconhecido pela própria congregação. A importância do chamado de Deus nunca diminuiu para ele, pois era nisso que via a diferença entre um pastor e um leigo. Porém, o reconhecimento do chamado era visto como sendo “por meio de homens, mas não de homens”. Precisava realmente ser um chamado de Deus, mas o instrumento humano para confirmar ou manifestar o chamado poderia incluir autoridades eclesiásticas e até civis.

Assim, pouco a pouco, o sacerdócio de todos os crentes foi sendo transformado na prática em mais uma estrutura com aquela enorme lacuna entre ministério e povo. Lutero, porém, não se sentiu satisfeito com esta situação até o final de sua vida. A Reforma havia mostrado o sacerdócio universal dos crentes, mas não conseguira colocá-la em prática.

Nossa situação hoje não é muito diferente. Vemos o ideal, o propósito de Deus, aquilo que foi conquistado e disponibilizado pela Nova Aliança (veja Hebreus 8-10). Procuramos colocá-lo em prática com diferentes modelos e ênfases, mas ainda não temos a solução final. E, muitas vezes, acabamos adaptando a doutrina à nossa prática limitada e incompleta.

Não devemos nos acomodar, contudo, nem nos desanimar. “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor” (Os 6.3), até que “todos conheçam o Senhor, desde o menor até o maior” (Jr 31.34).

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