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Família – Ícone da Trindade

Por Pedro Arruda

Podemos saber a natureza de uma determinada coisa verificando a sua origem. Assim, um cão tem sua natureza animal porque se originou dos animais. Uma flor é de natureza vegetal, pois nasceu de um vegetal e assim por diante. Aplicando o mesmo raciocínio à família, vamos descobrir que sua natureza é espiritual, ou seja, foi concebida por Deus. Quando Deus criou o homem (Gn 1.26,27; 2.18,24), fê-lo à sua imagem e semelhança e refletiu nele sua natureza triúna (Pai, Filho e Espírito Santo), dando-lhe um corpo, uma alma e um espírito. Essa trindade garantiria o equilíbrio do homem, pois com seu espírito, relacionar-se-ia com Deus, com sua alma, com os outros homens e, com seu físico, poderia subjugar a natureza.

Ao oferecer a família ao homem, compondo-a com pai, mãe e filhos, Deus preservou e ampliou a representação da sua imagem trinitária. Dessa forma, o homem deveria refletir a imagem da pessoa de Deus, enquanto a família, a imagem da família de Deus, funcionando como um ícone da Trindade. Podemos ilustrar isso com o exemplo de uma famosa rede de lanchonete que estampa sua logomarca através de um enorme “M” amarelo num fundo vermelho. Toda vez que é vista, imediatamente remete aos hambúrgueres, refrigerantes e batatas fritas, etc. A família foi constituída para ser a logomarca da Trindade.

O homem recebeu a missão de dominar sobre toda a terra, sujeitando-a à autoridade de Deus a quem representava (Gn 1.28). Não se tratava de uma missão aleatória a ser cumprida solitariamente, pois, além da missão, Deus deu também as estratégias para executá-la: frutificar e multiplicar para encher a Terra. Adão, portanto, não seria um imperador solitário a reinar sobre a terra de um instante para o outro. Tratava-se de uma conquista que iria se consolidando à medida que sua família fosse ocupando a Terra. Nesse sentido, é bom lembrar que a incumbência da sujeição foi dada ao casal.

A união matrimonial é-nos apresentada como um casal que se ajuntou para tornar-se uma só carne, tal qual era Eva em Adão antes de ser formada. Essa comunhão era indispensável para a conquista da Terra, pois mantinha intacta a hierarquia proveniente de Deus e, ao mesmo tempo, carregava a unidade da Trindade que representavam.

Instrumento de Deus na História

Deus sempre usou a família como seu canal na Terra. Criou a humanidade a partir da família de Adão; preservou-a através da família de Noé; formou a nação eleita a partir da família de Abraão; e escolheu a casa (família) de Davi para, séculos depois, enviar seu Filho. Quando chegou o momento da encarnação, Jesus também foi recebido no seio de uma família preparada para tal, à qual demonstrou total respeito, reconhecendo em José, o chefe da família. Maria, o instrumento direto da encarnação, também era submissa ao seu marido, a quem Deus deu orientações sobre como proceder para proteger o menino Jesus.

Foi numa casa que o Espírito Santo foi recebido no dia de Pentecostes, ocasião em que Pedro, citando as palavras do profeta Joel, inaugurou o cumprimento da promessa feita a Abraão de abençoar todas as famílias da Terra, através do derramamento do Espírito Santo sobre toda a carne, num contexto familiar:
“… (pais) vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e os vossos velhos sonharão sonhos… ” (At 2.17-18). Foi na casa de Cornélio que esta bênção efetivamente estendeu-se aos gentios. Sem dúvida alguma, foi nas casas que a igreja ganhou vida e se reuniu, funcionando como centro operacional.

Família – Base da Igreja

É considerável como a terminologia do Novo Testamento recorre aos termos familiares, devido à fusão existente entre igreja e família. Somente Paulo usa mais de uma centena de vezes a expressão irmão(ã), além de pai, mãe, filho. As qualidades de um ministro deveriam ser provadas por sua conduta familiar, pois era nesse âmbito que ele iria atuar. Ou seja, aquele pai que tinha o respeito de sua família por cuidar bem dela, era um candidato a cuidar da comunidade como a extensão de sua família e obtendo dela igual respeito. Não havia por que se requerer qualidades profissionais necessárias a uma instituição externa à família, como hoje se vê nos currículos pastorais.

Os desvios que a igreja fez de seu curso original estão diretamente ligados ao seu afastamento das casas e do âmbito familiar e, portanto, a correção de rota se fará com a volta ao lar. Mas, para isso, faz-se necessário corrigir o conceito que hoje temos sobre família, restaurando a sua natureza espiritual e possibilitando entender a verdadeira razão para a qual ela foi criada. Só assim ela estará apta a cumprir a sua missão que, atualmente junto com a igreja, continua sendo a mesma conferida ao primeiro casal no Jardim do Eden: encher a Terra e dominar sobre ela, estendendo o reino de Deus até aos seus confins.

Famílias Preparadas Para a Vinda do Reino

Certa ocasião, Jesus enviou seus discípulos para que fossem adiante dele de casa em casa preparando a sua chegada. Essa preparação também foi o centro do ministério de João Batista. Há que acontecer também uma preparação para a volta do Senhor, na qual a família terá o papel principal. A restauração de todas as coisas referida por Jesus no ministério de Elias (Mt 17.11) é tratada por Malaquias como a restauração do coração dos pais aos filhos e dos filhos aos pais (Ml 4.5,6). Daí a família surgir como questão central nestes dias, já que, por outro lado, haverá também a traição entre irmãos, pais e filhos, sogra e nora (Mt 10.34-37). Se de um lado há unidade, de outro há divisão.

Jesus declarou que não veio trazer paz à Terra, mas, sim, a guerra. Ou seja, ele não veio assinar um tratado de paz com o diabo, mas, sim, enfrentá-lo e derrotá-lo definitivamente. Mas, infelizmente, no transcorrer do tempo, a igreja tem às custas de muitas concessões, aceitando outras concepções de família e dando a elas o mesmo valor original.

Estas duas palavras, conversão e traição, são as que predominarão nestes dias finais. Obviamente aqueles que cuidarem apenas de sua salvação individual estarão mais expostos à traição do que aqueles cujas famílias forem formadas com a principal finalidade de servir ao reino de Deus.

Há muitas famílias que são admiradas pelo modo como se conduzem. Os pais são trabalhadores respeitados e bons cidadãos que não medem esforços para que não falte nada à boa formação que oferecem aos seus filhos; as mães também trabalham e se preocupam de modo especial com o seu desempenho na escola. Sentem-se compensados ao verem seus filhos protegidos, livres das drogas e bem encaminhados. No entanto, à maioria dessas famílias exemplares, falta o componente espiritual da missão central de se constituir uma família para servir a Deus, antes de servir a si mesma ou à sociedade. Não basta apenas formar boas famílias voltadas para o próprio umbigo. A preocupação de prover o alimento espiritual deve anteceder a do alimento material, e o acompanhamento do rendimento escolar não pode ser mais intenso do que a assistência espiritual que se dá aos filhos.

Os filhos que superam o sucesso secular de seus pais são motivo de orgulho para estes. Isso produz a evolução material a cada geração, possibilitando à ciência oferecer um mundo cada vez mais confortável. Infelizmente, não se percebe o mesmo entusiasmo quanto à vida espiritual, com pais desejando que seus filhos sejam mais consagrados do que eles. Pelo contrário, na maioria, há um receio de que essa consagração comprometa o sucesso na vida material e, com isso, Deus fica para depois das outras obrigações. O resultado é que produzimos gerações cada vez mais fortes materialmente e mais fracas espiritualmente.

Todos devem ter a clareza de que pertencem à família, mas, antes disso, que pertencem a Deus. Muitos consagram a sua vida a Deus e abandonam a família, enquanto outros se consagram à família, mas relegam Deus a um segundo plano. A solução é a família consagrada, consciente da missão, preparada para ser o canal de Deus para o homem, como sempre foi no decorrer da história. Neste momento decisivo, porém, servirá de suporte para oferecer uma base sólida à igreja gloriosa, que então poderá abrir mão de todas as facilidades institucionais adquiridas ao longo de sua existência.

Uma Palavra de Esperança

A esta altura é de se perguntar como fazer com as famílias que já estão desfiguradas em relação ao modelo original proposto por Deus, e cujos lares sofreram abandonos ou foram constituídos a partir de um segundo casamento. A situação não é de desespero, mas de confiança na misericórdia de Deus. As pessoas que eram marginalizadas pela sociedade, como os publicanos e as prostitutas, eram vistas por Jesus como as primeiras da fila a entrar no reino dos céus. São os doentes que precisam de médicos e, ainda, os que muito foram perdoados, os que muito vão amar. De um monte de ossos secos, Deus suscitou um exército. Pessoas nessas condições, com arrependimento e quebrantamento, são muito mais preciosas ao reino de Deus do que as outras que tenham um proceder correto, porém com um espírito errado. Ninguém está previamente excluído e sempre será tempo de encontrar seu lugar no corpo de Cristo.

Extraído do livro “Ser Igreja: A Missão da Família”, a ser publicado em breve.
Pedro Arruda reside em Barueri-SP e é um dos coordenadores de uma comunhão de grupos espalhados por várias cidades e estados do Brasil.

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