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Exortação: Visão de Si Próprio

Por Valdir Ávila Jr.

Produto Falsificado

Atualmente não é necessário ser tão original ou verdadeiro. Basta que uma pessoa venha para uma igreja, aceite as doutrinas, freqüente algumas reuniões ou apenas se envolva com algumas obras – e será o suficiente para acalmar a alma.

A pior coisa que tem acontecido nas igrejas é o fenômeno das conversões sem arrependimento. A igreja atual não tem visão do pecado, nem do arrependimento. O importante é a pessoa querer se agregar. Imagine a situação de Faraó no Egito, quando disse a Moisés: “Interceda também por mim”; se fosse nos dias atuais, estaríamos dizendo: “Olhe! Ele pediu oração, será que não está se convertendo?”. E ficaríamos presos definitivamente no cativeiro.

O cerne do problema está na conversão sem arrependimento, páscoa sem sangue, pentecostes sem fogo. O povo bate palmas, levanta as mãos, tem o vocabulário certo, mas em muitos casos não há realidade; possuem algo que parece idêntico ao produto original, mas é falsificado. Creio que nunca, em toda a história, tivemos tantas coisas falsificadas como hoje. A cópia é tão bem feita e tão mais barata que é melhor adquirir o falsificado, pois ninguém irá notar a diferença e não irá sequer “doer” nos nossos bolsos. A graça também ficou barata e quase parecida com a verdadeira, mas é cópia.

O compromisso com o real, com o original e com a verdade tem sido diluído em nossa sociedade. É melhor comprar um Rolex “pirata”, pois, se nos roubarem, diremos: “Não era verdadeiro mesmo…”. Mas acontece que se o Rolex não for roubado e o tempo passar, acreditaremos que aquele produto no nosso pulso é verdadeiro. Esta é uma situação que enfrentamos dentro do evangelho atual, pois as pessoas fazem o mesmo.

O coração do homem é enganoso, diz a Bíblia. O homem é a imagem de Deus. Ele não é Deus, é apenas a imagem; contudo, o tempo passa e ele acaba acreditando que pode ser Deus ou que pode disfarçar-se em Deus. As igrejas que vivem julgando, separando e dividindo não conseguem ver seu próprio pecado. Em Isaías 6, vemos que o verdadeiro encontro com Deus leva o homem a olhar para si mesmo. Antes desse encontro, Isaías falava: “ai desse, ai daquele, ai daquele outro”, mas somente após uma experiência com a revelação de si mesmo é que ele disse: “ai de mim”.

Oferecendo Fogo Estranho

De acordo com os relatos bíblicos, servir e ministrar a Deus sem essa revelação é muito perigoso. Veja, por exemplo, as histórias de Nadabe e Abiú (Lv 10.1,2), e de Coré e seu grupo (Nm 16.1-7, 18, 31-35). Esses homens não apenas acenderam o fogo por conta própria, mas também ofereceram fogo estranho na presença do Senhor e, ainda por cima, prepararam seu próprio incenso e o misturaram ao incenso puro. Creio terem ficado demasiadamente acostumados com os privilégios sagrados e acharam que poderiam melhorar o plano divino. Até imaginaram que não importava o que fizessem, bastaria apenas fazer. Quanta coisa não se faz na “obra de Deus” hoje dessa mesma forma!

Outra pessoa que agiu sem temor de Deus foi o rei Uzias, que também quis oferecer incenso, sem preparação, sem pertencer à tribo de Levi, escolhida por Deus para este ofício. Era um rei da tribo de Judá, e tinha sido usado por Deus. Mas agora desejava mais honrarias, queria proeminência, reconhecimento. Porém, o sumo sacerdote resistiu-lhe e disse: “Não será honrado por Deus, o Senhor.” (2 Cr 26.18). E na mesma hora, na presença deles, diante do altar de incenso no templo do Senhor, surgiu a lepra na sua testa. Expulsaram-no imediatamente do templo, mas isso nem seria necessário, pois, totalmente envergonhado, ele mesmo ficou ansioso para sair. Permaneceu leproso até o dia da sua morte.

“Imundo, Imundo!”

E foi justamente no ano em que o rei Uzias morreu que aquela visão maravilhosa foi concedida para Isaías (Is 6.l). Parece que a referência tem a intenção de enfatizar o contraste. Isaías viu o Senhor assentado num alto e sublime trono e as abas de suas vestes enchiam o templo. Ele viu os serafins, ouviu a voz deles e, lembrando-se do juízo que caíra sobre Uzias, sentiu também que era leproso diante de Deus. “Sou um homem de lábios impuros”, exclamou, comparando-se com o leproso que cobre os lábios, e grita: “Imundo, imundo.” (Lv 13.45). Isaías teve a visão de si mesmo, viu quem ele realmente era e acordou.

Esta é a sensação da revelação dos nossos pecados, a revelação de si mesmo, o verdadeiro sentimento de ser indigno. Esta atitude lhe trouxe a visão de Deus e, no mesmo lugar onde Uzias fora ferido de lepra, Isaías recebeu purificação mediante uma brasa viva tirada do altar.

Quando uma pessoa julga a outrem, é porque ainda não teve a visão de si mesma. Temos a tendência de olhar os pecados dos outros e apontar seus erros. Eles têm determinados erros que eu não possuo e acho que é isso que me dá direito de condená-los. Porém, eu tenho muitos erros que me condenariam e que aquela pessoa pode até não ter. Mesmo assim, eu o condeno e passo meu julgamento, pois estou cego. Quando se tem a visão de si mesmo, é possível enxergar que a graça nos alcançou e que o Senhor precisa ter misericórdia de todos nós.

Enganando a Nós Mesmos

Há certas confissões que fazemos que servem apenas para aliviar a alma, e não para um arrependimento verdadeiro. Pode ser um artifício da alma para que eu me sinta bem, pois é possível usar minha alma a fim de mentir para mim mesmo e ficar aparentemente de bem com Deus.

Temos o poder de fazer as coisas acontecerem até o ponto de nos sentirmos satisfeitos. Um líder que quiser ser forte vai conseguir seu objetivo, mas estará muito mais propenso a cair; com o poder de sua força natural, consegue se enganar e se convencer de que é Deus que está agindo. É por isso que ainda há muito barulho e pouca adoração a Deus; é por isso que há muita atividade e pouco fruto do Espírito; é por isso que há muita força humana e pouca presença de Deus.

É melhor viver em crise do que numa falsa paz, porque aquele que é falso engana a todo o mundo e ainda a si próprio. Para proteger-nos contra este estado, devemos sempre fazer estas perguntas: Será que é para Deus que estou fazendo isso? Será mesmo? Por que entrego palavras a pessoas? Será que é porque Deus mandou ou foi porque eu mesmo quis fazer?

Um dos sinais de que o Espírito Santo está agindo e produzindo realidade na minha vida é quando ajo com falsidade e fico mal com Deus. Por outro lado, se vivo constantemente me justificando e me defendendo ou defendendo minhas teologias e doutrinas, ainda há muita chance de erro em mim. Se não sou capaz de receber instrução de outros, ainda sou muito vulnerável à operação do erro. É preciso pedir a Deus para trazer luz, pois o Espírito Santo traz a luz e é através dessa luz que ainda temos esperança.

A vida natural, a alma humana, é perita em nos manipular. A tendência é abafarmos os problemas que nos perturbam, isto é, apenas resolvemos os pequenos conflitos, mas deixamos a raiz principal lá. E esta é a essência da conversão sem arrependimento, tão abundante na igreja atual. Ainda existem muitos pedidos de perdão sem arrependimento.

Usando um Atalho ou o Caminho Verdadeiro?

João 14.6 diz: “Eu (Jesus) sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim”. No sentido inverso, podemos afirmar assim: O diabo é o atalho (caminho mais rápido para se conseguir qualquer coisa), a mentira e a morte, ninguém chegará ao inferno senão por ele. Romanos 1.25 diz: “Pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador”. Se ouvirmos a mentira, não conseguiremos ouvir a Deus. João 18.37 diz: “Eu (Jesus) para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz”. E, em João 8.32: “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, mas se conhecermos apenas a mentira, a mentira nos escravizará.

O arrependimento vem do céu, a igreja precisa e vai ter uma visão dela mesma e da sua sujeira. O maior filme de terror ainda está para começar – no momento em que pudermos ver a nós mesmos. Será a nossa conversão pessoal e neste ponto é “ai de mim”, pois humilhação tira nossa roupa, mostra quem realmente somos e o quanto precisamos da misericórdia de Deus e de nossos irmãos.

O apóstolo Paulo fala que ministrou em Corinto em grande fraqueza (1 Co 2.3). Paulo tinha autoridade e andava com Deus, mas as fraquezas estavam tão presentes nele que tomou a decisão de abandonar as palavras de persuasão. Isso deve acontecer conosco, precisamos esperar e buscar isso. Não é possível convencer pessoas com argumentos, é preciso viver o evangelho e praticar a verdade.

Precisa haver em nós uma postura verdadeira, não uma fachada falsa, sem verdadeira humildade. Se não nos humilharmos perante Deus, seremos humilhados pelo mundo e, aí sim, seremos expostos. Não devemos pregar com tanta segurança em nós mesmos. Passe a mensagem de fraqueza pessoal real, permita aos outros conhecer quem você realmente é; ainda não sabemos tudo nem temos todo poder; entretanto, se eu posso experimentar a presença de Deus, é através da fraqueza, pois é na fraqueza que Deus nos usará.

Valdir Ávila é um dos integrantes do Ruach Ministério de Louvor e da Igreja Bíblica em Botucatu.

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