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Especial: Aconteceu em Littleton

No dia 20 de abril de 1999, dois estudantes, Eric Harris, de 18 anos, e Dylan Klebold, de 17, entraram no colégio onde estudavam, Columbine High School, em Littleton, Colorado, E.U.A., insultaram, atormentaram e massacraram doze colegas e um professor, e feriram a mais 23. Foi algo que abalou a cidade, o país, e o mundo, não só pela tragédia, mas pelas pessoas que a causaram. Apesar das tentativas para explicá-lo, os pronunciamentos dos políticos soaram cada vez mais vazios e sem verdadeira solução, enquanto até jornalistas e apresentadores de televisão sentiam que as questões em jogo eram bem maiores que aquilo que conseguiam enxergar.

A tragédia foi dissecada em muitas partes menores: controle de armas, acesso sem restrições a informação perigosa na Internet, a cultura violenta na mídia, a cultura fechada e elitista das escolas, a falta de supervisionamento pelos pais, a separação de estado e religião. Todas de certa forma fazem parte, mas não explicam nem revelam ainda este algo maior.

Foi para tentar sondar um pouco mais as razões e raízes desta e outras tragédias que uma jornalista da revista conceituada Christianity Today, Wendy Murray Zoba, viajou para o local do acontecimento e conversou com pais e colegas de vítimas. Extraímos e adaptamos a seguir alguns trechos da sua reportagem.

1. Depoimento de John e Doreen Tomlin, pais de John, de 16 anos, morto na biblioteca.

A primeira notícia que receberam da escola foi através do seu outro filho Pat, que viu uma nota na televisão. Doreen ligou imediatamente para sua irmã em outro estado, pedindo que orasse. Nos quinze minutos seguintes, as notícias ficavam cada vez piores. Os pais de alunos foram instruídos a ir a uma outra escola primária que ficava próxima de Columbine, onde receberiam notícias de seus filhos. Os alunos que haviam saído da escola estavam sendo encaminhados para a escola primária.

Chegar ao local já era difícil por causa do trânsito, cheio de sirenes, e ambulâncias, além de helicópteros sobrevoando. Não parecia que tudo isso realmente estava acontecendo.

Quando chegaram ao local, ficaram aguardando numa sala, enquanto alunos subiam num palanque para procurar os pais. Quando seu filho não aparecia, John e Doreen começaram a sentir inveja dos outros pais que recebiam os seus, gritando os nomes com emoção. Doreen pensava: “Ah, se eu pudesse gritar o nome do meu filho!” Depois ela chegou num ponto em que já não se levantava mais para ver se era o filho dela que estava chegando. O Senhor estava mostrando ao seu coração que o filho estava morto.

O pai, John, comentou com sua esposa que se fossem convidados a levantar e ir para uma outra sala, não seria um bom sinal. E logo, foi justamente isto que aconteceu. Ainda deram a esperança de ter mais um ônibus, mas este ônibus nunca chegou. Quando o xerife falou que a maior parte das mortes ocorrera na biblioteca, a mãe sentiu desespero. “John sempre ia na biblioteca”, ela disse. “Senti que ia desmaiar, e saí para voltar para casa e ficar com meus outros filhos. Quando cheguei em casa, estavam lá algumas pessoas do seu grupo de jovens, e o pastor de jovens também. Falei com eles que acreditava que John estava morto. Subi para o banheiro, e orei com cada partícula do meu ser: ‘Senhor, obrigada pelos 16 anos que tive com John. Que isto glorifique o teu nome. Que sua morte não seja em vão. Que nenhum de nós fique com amargura. Enche-nos com o Espírito Santo. Que isto não prejudique nosso casamento.’ Fiz esta oração com tudo em mim que pudesse clamar a ele, e visualizei uma fonte – na hora que pedi para me encher com seu Espírito – era uma fonte que jorrava abundantemente com água, jorrava e jorrava cada vez mais.”

Nas devoções de família que normalmente eram feitas de manhã, mas que naquele dia não fora possível, na leitura de Spurgeon para aquele dia, estava escrito assim: “Filho de Deus, deixe de sentir temor da morte. Vivendo perto da cruz do Calvário, você pode pensar na morte com prazer…. É doce morrer no Senhor…. Não estamos longe do lar – em um momento podemos estar lá… Quando os olhos se fecham na terra, abrem-se no céu.” Na leitura vespertina, tinha uma frase assim: “Nunca houve um dia em que o cristianismo estremeceu mais do que agora.”

John foi sepultado no seu estado natal, Wisconsin. Depois de voltarem, uma moça que estava embaixo da mesa com John na biblioteca, veio visitar seus pais. Primeiro, escondera-se embaixo de uma outra mesa perto de John, ela lhes contou, mas não se sentiu confortável lá, e perguntou-lhe se podia ficar junto com ele. Enquanto os dois rapazes estavam atirando, ela estava falando com John, e ele colocou sua mão sobre a boca dela e disse: “Psiuuu!” Depois seguraram as mãos, e viram os pés dos assassinos vindo em direção à sua mesa. Ela os conheceu pelas suas vozes, e sentiu a maldade e crueldade como se fosse uma presença ali. Ela disse que se não fosse o John, ela não estaria viva, mas não explicou por que. Estava muito traumatizada, pois vira John e outros morrerem, e ficar deitados no seu sangue. Ela mesma levara cinco tiros, mas sobrevivera.

De tudo que contou aos pais de John, o mais marcante foi: “Ele estava super calmo durante o tempo todo. Eu sei que a presença do Senhor estava ali com ele.”

“A presença do Senhor estava com ele.” Esta frase e sentimento surgiu vez após vez durante as entrevistas e conversas com pais, alunos, pastores e outros ligados aos acontecimentos daquele dia. Os alunos permaneceram calmos, antes, durante, e depois do massacre; outros heroicamente usaram seus corpos para proteger amigos e parentes; e vários carregaram feridos a um lugar seguro. Ao mesmo tempo, as mesmas pessoas testemunharam de uma presença igualmente inconfundível do mal.

Aquele “algo maior” que todos pareciam estar procurando tem a ver com o mundo espiritual. Fora disso, nada faz sentido. Os dois assassinos eram moços de classe média, ambos com pai e mãe em casa que ganhavam bem, e ambos eram bons alunos na escola, inteligentes e respeitados pelo corpo docente por causa das suas habilidades em informática. Mas entraram naquela escola e assassinaram 13 pessoas – não há outra explicação senão o poder de Satanás.

2. A Seqüência de eventos daquele dia

O pesadelo começou por volta das 11:20 daquela terça-feira. De acordo com um pai, os primeiros tiros foram direcionados a Mark Taylor, um cristão que estava falando de Jesus para dois mórmons naquele momento. A bala entrou na sua perna esquerda, e ele caiu sobre a grama. Rachel Scott, 17 anos, estava lanchando com Richard Castaldo, quando foi baleada no braço, perna e peito. Castaldo também levou vários tiros. Depois de acertar várias outras pessoas, uma delas, Lance Kirkland, gritou deitado no chão: “Ajude-me!” Um dos assassinos se aproximou e disse: “Claro, eu ajudo”, e então atirou no seu rosto.

Rachel Scott ficou ferida no chão, chorando. Segundo amigos, o assassino chegou para ela, e puxou sua cabeça pelos cabelos, e fez a pergunta: “Você crê em Deus?” Quando ela respondeu que sim, colocou a arma na sua cabeça e a matou.

Depois começaram a atirar pelas janelas do refeitório, na tentativa de detonar as bombas. Em seguida, entraram no refeitório, jogando bombas caseiras no ar, e atirando aleatoriamente. De lá, subiram as escadas, encontrando um professor, que estava guiando alunos para fora da escola, e o balearam nas costas. Quando chegaram na biblioteca, a professora responsável havia mandado todos ficarem embaixo das mesas. Kacey Ruegsegger, 17 anos, havia se transferido para Columbine naquele ano, e testemunhou o que aconteceu ali. “Não sei como descrever, mas havia uma espécie de batalha espiritual sendo travada, que dava para sentir. Assim que os dois rapazes entraram, podia-se sentir a presença do mal naquela sala. Ao mesmo tempo, eu podia sentir a presença de Deus, ou de anjos, junto comigo.”

“Eles foram entrando e atirando,” ela continuou contando. “O primeiro a ser baleado foi Kyle Velasquez. Estavam rindo, e dizendo como estava divertido. Disseram: ‘Vamos explodir esta biblioteca’, e: ‘Hoje é seu dia para morrer’. Lembro que um deles colocou seu casaco de exército no chão perto de mim, e uma arma na mesa ao lado da minha. Em seguida, o vi se agachando bem ao lado da cadeira atrás da qual eu estava sentada, e atirou em Steven. Depois atirou em mim, e comecei a gemer. Ele falou para parar com esta lamúria, e temi que atirasse de novo. Então inclinei-me no cubículo, fingindo estar morta.”

Kacey fora baleada à queima-roupa, abrindo um buraco de uns sete centímetros no seu ombro, estilhaçando o osso e seu polegar. Mas ela sobreviveu.

Continuaram atirando e atormentando as pessoas. Acharam um rapaz negro, e falaram: “Olhe aí, aquele pretinho!” Atiraram nele três vezes, e pararam para ver se estava realmente morto. Chegaram para Cassie (ver seu testemunho a seguir), e perguntaram: “Você crê em Deus?” Houve uma pequena pausa, depois ela respondeu: “Sim”.  Sua voz estava firme, e depois perguntaram: “Por quê?”, mas não esperaram a resposta e a mataram.

Quando chegaram perto de uma outra moça, alguém que estava lá a ouviu falando: “Ó meu Deus, ó meu Deus!” Perguntaram para ela também se cria em Deus, e ela também respondeu que sim, e em seguida atiraram nela.

No final havia dez pessoas mortas na biblioteca, e vários outros feridos. Depois de saírem da biblioteca, Harris e Klebold voltaram para lá, onde se mataram também. No intervalo, Kacey e outros sobreviventes saíram correndo.

3. Depoimento do pastor da família Klebold

O Pastor Don Marxhausen, da Igreja Luterana Saint Philips de Littleton, teve a difícil missão de conduzir o serviço funerário de Dylan Klebold. Ele usou o Salmo 130 (“Se tu, ó Senhor, observares as iniqüidades, ó Senhor, quem subsistirá?”) como leitura responsiva, e para o sermão o texto de 2 Samuel 18.28-33, onde o Rei Davi lamenta a morte do seu filho Absalão, e diz que desejaria ter morrido no lugar dele.

“Quem sabe por que nossos filhos e filhas às vezes fazem o bem e às vezes fazem o mal?”, ele perguntou na pregação. “Quem sabe por que nós mesmos às vezes fazemos o bem e às vezes o mal?”

De acordo com o Pastor Marxhausen, os pais de Dylan não tinham idéia alguma que isto viria a acontecer. Num vídeo gravado no baile de fim de semestre, no sábado anterior à terça fatídica, Dylan meio desajeitado, arrumando as mangas da camisa, dizia: “Pai, nós vamos dar risadas disto daqui a vinte anos!”

Não é fácil definir o mal, de acordo com Marxhausen. “Para mim, o mal é um corte total de ligações com outros. Se fomos criados à imagem de Deus, seu propósito para nós é que tenhamos relacionamentos. Se integridade é estar ligado, o mal seria o contrário – relacionamentos totalmente quebrados. Num sentido, a última luz de sanidade ocorreu quando os dois rapazes falaram com um amigo no estacionamento: ‘Vá embora, e não volte’. Daí em diante foi caos e maldade. Estavam atirando, matando e desmembrando pessoas conhecidas. Isto certamente foi a destruição total de interligação e relacionamento.

“O mais difícil”, ele continuou, “é sentar com esta família, pessoas excelentes, e desligar aquela pergunta na minha cabeça, do por quê, e simplesmente escutar o que estão passando, e como estão lidando com tudo isto. Os pais simplesmente não conseguem entender, pois não guardavam armas em casa, e não incentivavam nenhum tipo de anti-semitismo.

“Esta é a minha teoria”, diz Marxhausen. “Primeiro, começa-se a acumular ira através dos anos por causa de ser diferente, rejeitado, ou envergonhado. Neste caso, existe uma história em que constantemente foram insultados no ano anterior por um valentão (de campeonatos de luta livre) e seus amigos, que os chamavam de maricas. Segundo, estes moços tinham uma tremenda capacidade de esconder sua ansiedade. Os pais deles não sabiam de nada. Terceiro, o mal cresce progressivamente; não fica estático. Quarto, surge um plano. A pessoa pega sua ira, o mal, e o plano que surge, e em algum ponto atravessa a linha e se perde. O livro de Jó não oferece respostas sobre o por quê do mal. Não há como tirar conclusões lógicas. A insanidade cai como um meteoro atinge uma casa. E fica a pergunta: O que fazer, ou como reagir, agora?”

4. Como explicar?

Talvez o aspecto que mais perturba de todo esse episódio foi o prazer que estes rapazes sentiam dos seus atos perversos, junto com o fato que podiam ter sido filhos de qualquer um de nós. Como podia sair tanta maldade de jovens que tinham tanto a seu favor? Será que teria sido menos horrível, se Eric e Dylan não estivessem rindo e atormentado suas vítimas? Mas estavam no epicentro da maldade, totalmente desvinculados da sua comunidade, de suas famílias, e do Autor de tudo que é bom. O que, além de escárnio, poderia motivá-los?

C. S. Lewis argumenta no seu livro The Abolition of Man (A Abolição do Homem), que quando jovens são criados num ambiente educacional que rejeita qualquer “valor objetivo” (a convicção de que certas atitudes são realmente certas e outras realmente erradas), o resultado é um sistema que cria “Homens Sem Coração”. Segundo ele, “a cabeça governa o apetite através do coração, que é a sede de magnanimidade, de emoções organizadas por hábito em sentimentos estáveis… Sem o auxílio de emoções treinadas, o intelecto é impotente diante do organismo animal, e o resultado prático de tal educação forçosamente é a destruição da sociedade que a adota.”

O choque que reverberou através da nação, e do resto do mundo, foi o temor de que esta geração faz parte deste sistema descrito acima, de pessoas sem coração, destituídos de magnanimidade, impelidas por desejos animais. O fato de que os assassinos introduziram Deus nos acontecimentos, mais de uma vez, fez do episódio mais do que uma outra chacina numa escola. Talvez quando mataram Cassie Bernall antes que ela pudesse explicar por que cria em Deus, pensavam que podiam derrubar Deus do seu trono.

Mas a palavrinha de três letras (sim) foi suficiente para mudar a maré. Como Martinho Lutero disse no seu hino: “O príncipe do mal, com seu plano infernal… vencido cairá por uma só palavra”. Isto reformulou o significado dos eventos.

Primeiro, desafiou os conceitos prevalecentes da cultura atual. Quando a geração pós-guerra alcançou a maturidade, criou-se uma identidade baseada em liberdades individuais, perda de inibição, e questionamento de autoridades institucionais. O padrão mental ficou tão humanista e baseado em si mesmo, que a revista Time publicou uma matéria de capa (6 de abril de 1966) perguntando: “Deus Está Morto?”

Cassie e Rachel e outros responderam esta pergunta. “Deus”, graças a Eric e Dylan, está agora no centro da discussão cultural que questiona o espírito moderno. Afinal, os assassinos representaram o amadurecimento total do pensamento moderno (iniciado com Machiavelli), que desacredita em absolutos morais, e que nega qualquer verdade neles. Eric Harris escreveu: “Eu acredito que se digo alguma coisa, terá que acontecer. Eu sou a lei…. Não sinta remorso, nem tenha qualquer sentimento de vergonha.” Aí está a culminância, o fim, da modernidade. Conforme escreveu Charles Colson sobre este acontecimento: “Littleton nos fez confrontar com duas cosmovisões opostas competindo para obter nossa fidelidade”.

Segundo, o sim heróico destes jovens, com a arma apontada na cabeça, parece ter se tornado um grito de guerra para os demais da sua geração. Assim como a cosmovisão da geração pós-guerra (baby boomers, como são conhecidos em inglês) foi gerada por uma série de momentos decisivos (como os assassinatos do Presidente Kennedy, e de Martin Luther King, e os conflitos com mortes na Universidade Kent State), este evento está se tornando um momento de decisão para esta geração de jovens.

A constância, velocidade, níveis de choque, e vácuo moral da maior parte do mundo em que os jovens de hoje vivem, moldou-os para agirem em extremos. A cultura consumista despertou um anseio de pertencer a algo maior e mais importante que os apetites que servimos mas não conseguimos saciar. Esta tendência foi demonstrada negativamente por Eric Harris e Dylan Klebold, e positivamente em Cassie Bernall, Rachel Scott, e outros, (incluindo Val Schnurr que foi baleado por ter respondido “sim”, mas sobreviveu). O mal que foi solto naquela escola, tentando zombar e afrontar Deus, surgiu dos “nossos garotos”. Mas o heroísmo também veio deles.

Terceiro, os alunos mortos aquele dia não eram santos, e os pais deles resistem à tendência de colocá-los num pedestal. “Eram jovens normais”, disse Doreen Tomlin. “John tinha atitudes erradas comigo.” Rachel Scott lutava para vencer o cigarro; Cassie Bernall tinha várias lutas na sua vida (veja o testemunho dela). Mas todos estes elementos humanos fazem com que o exemplo deles seja mais acessível ainda a todos os jovens da sua geração. A morte de pessoas por confessarem fé em Deus tem acontecido por toda a história, mas o importante para os jovens, de acordo com Heather Miller de 18 anos, é que é muito raro ouvir sobre mártires jovens.

5. Frutos Espirituais

Não existem estatísticas seguras sobre o aumento de espiritualidade entre jovens como resultado da tragédia de Columbine. A tendência de buscar valores espirituais e de freqüentar igrejas já estava em ascendência antes deste acontecimento. Mas existem muitos testemunhos que comprovam resultados diretamente ligados.

A namorada de John Tomlin participou de diversas viagens com o irmão de John, Pat, em outro estado. Quando pensavam que falariam com 20 a 30 jovens, encontravam mais de 300. Mais de mil jovens de 28 estados se ajuntaram num congresso em Littleton, comprometendo-se a pegar a tocha de fé deixada por Rachel, Cassie e os outros na sua morte. De acordo com Darrell Scott, pai de Rachel, num outro evento mais de mil jovens caíram de joelhos e aceitaram Jesus. Ao viajar e falar em eventos jovens, Darrell muitas vezes lê alguns trechos do diário de Rachel. Num lugar ela escreveu para Deus: “Quero que as cabeças virem nos corredores quando eu passar. Quero que olhem para mim, desejando a luz que tu colocares na minha vida. Quero que meu cálice transborde com teu Espírito…. Quero que me uses para alcançar os perdidos.”

Deus respondeu esta oração, Darrell diz. “Columbine foi uma ferida que abriu os corações dos jovens neste país. Estamos sabendo de milhares de pessoas que aceitaram Jesus, depois da tragédia. O Cristianismo institucional não conseguiu fazer isto em décadas.”

Exatamente um ano antes da morte de Rachel, no dia 20 de abril de 1998, ela escreveu: “Estou com coração pesado, e um peso nas minhas costas, que não sei o que é. Tenho vontade de chorar, mas não sei por quê.”  Duas semanas depois, no dia 2 de maio, ela escreveu: “Este será meu último ano, Senhor. Tenho aproveitado o possível. Obrigada.”

Darrell acredita que sua filha Rachel, junto com os outros, foram escolhidos por Deus para ser seus instrumentos neste momento tão espiritualmente significativo. “Ela sabia que era seu último ano. Ela estava preparada. Creio que este foi um evento espiritual. Deus tem o poder para evitar tais coisas. Ele protegeu meu filho Craig, que estava dentro do prédio, na sala onde os outros morreram. Rachel devia ter escapado, pois estava fora do prédio. Foi uma guerra espiritual, mas Deus nunca perde o controle do que está acontecendo.”

“Tudo está nas mãos de Deus”, disse Brian Rohrbough, pai de outro aluno morto na tragédia. “Ou você confia nele, ou não. Seus juízos serão absolutamente justos.”

No dia 20 de abril de 1999, o mal que jaz latente nas sociedades e culturas cada vez mais relativistas e sem fundamento moral levantou sua cabeça bem alta através das atrocidades brutais praticadas; Cassie hesitou, e depois disse “sim” com firmeza e convicção, e a resposta foi dada, e a verdadeira batalha foi ganha. Por um lado, foi a tragédia perfeita, pois foi o momento quando tudo deu errado, mas por outro, foi o momento quando tudo aconteceu como deveria acontecer, pois Deus sabia exatamente o que queria.

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Amor Severo salvou Cassie

No livro que Misty Bernall escreveu (She Said Yes –  Ela Disse Sim), ela chama sua filha Cassie “uma mártir improvável”. Isto é porque para ela e para seu marido Brad, Cassie era antes de tudo uma jovem. Como a maioria das jovens adolescentes, Cassie lutava com questões profundas de fé e testemunho, ao mesmo tempo que desejava perder uns quilinhos e chamar um pouco mais a atenção dos rapazes do seu grupo de mocidade.

Durante um breve mas excruciante período de rebelião, de acordo com uma colega dela, ela disse que havia entregue sua alma a Satanás. “Não há como eu possa amar a Deus”, ela disse a esta amiga. Entretanto, posteriormente ela teve um encontro com Deus, e enfrentou muitas batalhas, algumas que provavelmente ninguém conhecerá, na sua nova vida com Cristo.

No dia 20 de abril de 1999, os pais e irmão de Cassie acordaram para um mundo normal. Na hora do almoço, este mundo havia desmoronado. Houve momentos quando se perguntaram o que teria acontecido se Cassie tivesse respondido “Não” à pergunta “Você crê em Deus?” Mas com a arma encostada à sua cabeça, Cassie pausou, depois respondeu com um “Sim” decisivo. De acordo com sua mãe, Cassie disse sim a Deus em cada dia da sua curta vida de conversão.

Cassie fazia parte da mesma sociedade que produziu Eric Harris e Dylan Klebold. Por pouco, ela poderia ter caminhado na mesma direção de autodestruição e rebeldia que aqueles seguiram. A seguir, alguns trechos da entrevista que a jornalista Wendy Murray Zoba fez com os pais dela, e que mostra onde foi o ponto decisivo de virada.

Quando vocês souberam que o assassino da Cassie perguntou-lhe se ela cria em Deus antes de atirar nela?

Misty: Foi Dave McPherson, o pastor da mocidade, que estava na escola procurando pela Cassie, e ouviu uma moça que estava passando por ali dizer: “Ó meu Deus, perguntaram para ela se cria em Deus, e quando ela respondeu que sim, atiraram nela”. Aí Dave pensou: “Quem mais poderia ser, senão a Cassie?”

Saber sobre sua confissão de fé ofereceu-lhes alguma consolação?

Misty:  Na entrevista que fizemos no Show Oprah (na TV), a primeira coisa que perguntaram para mim foi: “Você gostaria que ela tivesse respondido não?” Depois que eu soube que uma moça suplicou para ser poupada, e foi solta, é natural pensar: E se ela também tivesse suplicado?  Mas não posso imaginar uma forma mais honrosa de morrer do que professando sua fé em Deus. Estávamos muito orgulhosos dela no seu testemunho por Cristo, antes disto acontecer. Ela respondeu sim a Cristo em cada dia do seu caminhar. Nem sempre isto era muito fácil para ela.

Quais foram às lutas pessoais e espirituais que Cassie enfrentou após sua conversão?

Brad: Ela estava crescendo a passos largos no Senhor. Descobrimos isto depois da sua morte, quando começamos a examinar suas gavetas, lendo os bilhetes que escrevia para suas amigas, e seus diários. Ela era uma cristã bem madura. A profundidade das cartas entre ela e as amigas era extraordinária.

Apesar disso, nem tudo era fácil para ela. Ela não gostava de ter que ficar tanto tempo fazendo tarefas de escola. Além de ir para a igreja, ela só fazia tarefas de escola – às vezes até três a cinco horas por noite. Por estar meio frustrada assim, às vezes sentia-se distante de Deus. Parecia que estava fazendo algo errado para estar tão infeliz.

Misty: Quando cortamos o contato dela com os velhos amigos, e ela se entregou para Jesus, apesar de participar do grupo de mocidade da igreja, e de ser uma nova pessoa, ela estava tentando descobrir quem era esta nova pessoa. Muitas vezes, não era muito segura de si. Lutava para se ajustar socialmente.

Quando fez 16 anos, demos permissão para ela namorar. Falei que se ela desse uma abertura, alguém apareceria. Mas ela não queria fazer isso. Era muito exigente sobre o tipo de pessoa que queria namorar. Ela nunca namorou.

Portanto, não era uma vida muito fácil. Eu admirava sua perseverança no Senhor, mesmo sem ter uma vida perfeita.

Você disse que “cortaram o contato dela com os velhos amigos”. Como foi que descobriram que seu comportamento durante o período de rebeldia exigia uma intervenção drástica?

Misty: Em dezembro de 1996, resolvi tirar tempo para estar um pouco mais com a Cassie. Lembro-me que tentava descobrir por que suas amigas não gostavam de nós. Entrei no quarto da Cassie para bisbilhotar, e achar sua Bíblia teen, e descobrir alguma coisa para me ajudar a entender se isto era normal. Encontrei uma gaveta cheia de cartas de uma amiga da Cassie. O teor das cartas era que Cassie deveria matar seus pais, e todos seus problemas seriam resolvidos. Havia desenhos sobre como podiam fazer isto. Conversavam sobre cheirar cola e fumar maconha, sobre beber durante o almoço, sobre ocultismo, e sobre um rapaz que poderia ajudá-las a matar-nos, para que a Cassie pudesse fazer o que quisesse. Não tivemos acesso às cartas que Cassie escreveu para ela, mas deviam ser iguais.

Vocês confrontaram Cassie com as cartas?

Misty: Tiramos cópias das cartas, mandamos um conjunto para o xerife, e outro para os pais da colega. Quando a Cassie chegou em casa da escola, nós a confrontamos. A primeira coisa que disse foi: “Não íamos fazer nada. Por que estão levando isto tão a sério?” Ela ficou muito, muito brava conosco. Nas semanas seguintes, sua hostilidade aumentou.

Tivemos uma reunião com o xerife e os pais da outra moça. O xerife achou que as cartas eram a pior coisa que tinha visto em dez anos trabalhando com menores, e que os pais deveriam levar isto muito a sério. Mas o outro pai só disse que era nossa forma de romper uma amizade de cinco anos. Cortamos totalmente o relacionamento da Cassie com suas amigas.

Como pode um pai fazer isso?

Brad: Matriculamos a Cassie numa escola cristã. Atendíamos o telefone sempre que estávamos em casa. Tiramos todos os seus privilégios. Ela podia ir no grupo da mocidade, mas só isto. Colocamos um monitor de telefone, para podermos saber o que ela estava fazendo.

Falamos que ela perdera toda a confiança que investimos nela, e que agora teria que reconquistá-la. A única maneira de fazer isso era sendo obediente. Foi difícil no início, porque a pegávamos transgredindo e tínhamos que confrontá-la. Saíamos de casa com o telefone sem fio, e perto de casa ligávamos o telefone e a apanhávamos conversando. Finalmente ela viu que não íamos ceder.

Misty:  Tomei a decisão de sair do meu emprego, e assim ficar mais constantemente com ela. Vigiávamos constantemente. Revistávamos sua mochila, seu quarto, monitorávamos seus telefonemas. A vida não era fácil para ela. Durante este tempo, ela ficava tão brava conosco que ameaçava se suicidar. Passava por crises em que gritava e berrava conosco. Lembro de uma vez quando ela estava sentada na cama gritando comigo, e eu estava sentada no chão. Coloquei minha mão no joelho dela, e comecei a orar por ela até que sua ira recuou. Sabíamos que era uma batalha de vontades, mas também era uma batalha espiritual.

Então vocês apóiam a idéia de que os pais devem bisbilhotar se acham que há motivo para isto?

Brad:  Mesmo que não haja motivo, faça isto ocasionalmente. É um direito que os pais têm. Os jovens podem ser muito elusivos, e sabem dissimular muito bem.

Vocês já perguntaram o que poderiam estar fazendo melhor como pais?

Brad: Não. Sempre senti que éramos bons pais. Criamos a Cassie bem. Ela só começou a tomar algumas decisões ruins. Começou a trocar nossas regras, morais, e valores por aqueles das suas colegas.

Misty: Lembro-me que tive uma sensação de ter sido traída – que a amávamos tanto e ela estava rejeitando nosso amor, concordando com esta colega que os pais dela eram ruins, e que deveriam ser apagados. Brad e eu criamos nossos filhos na igreja, e superamos algumas fases difíceis no nosso casamento porque sentíamos que era importante para as crianças ter os dois pais. Apesar do meu serviço, eu levava os filhos para a escola de manhã, e Brad os buscava à tarde. Estávamos ali para eles.

Você contou, Misty, como Deus lhe deu um certo entendimento sobre a morte de Cassie.

Misty:  Poucos dias depois da sua morte, eu estava secando meu cabelo, e de repente ouvi Deus me dizer que tinha de ser algo grande, porque se não fosse grande, ninguém ouviria. E que ele estivera preparando a Cassie para isto o tempo todo, e que ele cuidaria dela. Lembro que tive que parar o que estava fazendo, e sentar. Eu sabia que não vinha de mim mesma, porque fiquei meio dormente. Antes disto eu acordava chorando e perguntando por quê. Como podiam fazer isto? Então não veio de mim.

O que os espera agora enquanto reconstroem suas vidas?

Misty: Não sabemos para onde Deus está nos levando. Mas estamos à sua disposição. Sabemos que ele escolheu a Cassie, e queremos manter a integridade da sua vida. Quando a Cassie entregou sua vida de volta para Cristo dois anos antes de morrer, eu pensei: Senhor, sei que vais usar isto. Eu orava pedindo a Deus uma forma de testemunhar por ele e ajudar famílias. Nunca imaginei que fosse responder dessa forma.

A morte da Cassie é uma mensagem que precisamos estar prontos. Mesmo se você estiver numa biblioteca de escola, você precisa estar pronto para se encontrar com o Senhor.  

Extraído e adaptado da Revista Christianity Today de 4 de outubro de 1999.

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