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Entrevista – O Teste da Fé

Ruth Bancewicz é autora e organizadora do livro e projeto O Teste da Fé. Para compilar o livro, ela procurou dez cientistas, perguntou-lhes sobre sua espiritualidade cristã e transformou os relatos num livro cheio de vida. PhD em genética pela Universidade de Edimburgo, na Escócia, Ruth atuou por algum tempo como pesquisadora, mas encontrou sua satisfação como secretária da Christians in Science ou CiS [Cristãos na Ciência] – uma associação britânica de cientistas cristãos dedicada a estudos avançados sobre fé cristã e ciência, sobre o papel da ciência na cultura e sobre a evangelização entre cientistas. Como secretária, viajou por todo o Reino Unido conhecendo diversos cientistas cristãos, o que lhe deu a inspiração inicial para o projeto.

Durante todo o mês de setembro de 2013, Ruth Bancewicz e Guilherme de Carvalho (tradutor do livro O Teste da Fé para o português e fundador do projeto O Teste da Fé no Brasil) lideraram uma turnê do projeto no Brasil. A dupla esteve em Minas Gerais, São Paulo, Brasília, Pará e Pernambuco. Por meio de palestras e debates em universidades, igrejas e grupos universitários, Ruth Bancewicz incentivou o diálogo entre fé e ciência, falou sobre o conceito de beleza como algo transcendental e mostrou por meio de um breve relato histórico como o cristianismo contribuiu para o avanço científico. Durante sua passagem por Campinas, SP, ela concedeu uma entrevista para a revista Impacto. Aguarde, numa próxima edição, a entrevista feita com o Pr. Guilherme de Carvalho.

Revista Impacto – Quando alguém vê o título do livro, talvez pense num livro cheio de argumentos científicos; mas não, é uma obra inspirativa, cheia de histórias e relatos que transmitem vida. Por que você escolheu esse enfoque para o livro O Teste da Fé?

Ruth Bancewicz – Eu penso que as histórias de vida das pessoas falam poderosamente. E inspirar pessoas é algo muito importante. Quando eu era estudante universitária, o que mais me ajudou foi descobrir que havia cristãos maduros que eram cientistas de sucesso. Isso era tudo o que eu precisava saber naquela época! Penso que é importante para todos nós ouvir como pessoas desse calibre se tornaram cristãs, como são suas convicções, e chegar à conclusão: “ele ou ela é um cristão assim como eu”. As duas perguntas que fiz aos cientistas entrevistados no livro foram: “Como você se tornou cristão?” e: “Como sua ciência afeta sua fé e como sua fé afeta sua ciência?”. Descobri que é possível ser cientista e, ao mesmo tempo, cristão. O livro é uma espécie de pano de fundo geral, enquanto o DVD aborda os pontos mais controversos.

Revista Impacto – As histórias mostram que muitos desses cientistas eram agnósticos ou ateus sem ao menos ter considerado as evidências sobre o cristianismo, ou seja, nem mesmo “testaram a fé”. Em sua opinião, por que os cientistas, normalmente, não ousam fazer esse teste?

Ruth Bancewicz – Eu imagino que seja pelas mesmas razões que qualquer pessoa rejeita a fé. Eles querem viver de certo modo e pensam que o cristianismo tem a ver com regras às quais não querem obedecer. Esses cientistas não percebem o quanto Deus é extraordinário e Jesus é maravilhoso. Pode ser que, para esse tipo de cientista, a fé esteja ligada à necessidade de fechar os olhos e lançar-se no escuro, acreditando em algo inexistente ou imaginário. Eles ainda não encontraram pessoas que realmente pensaram a respeito de sua fé, que leram a Bíblia, leram outros livros, fizeram perguntas e investigaram o “porquê”. E enquanto não conhecerem alguém assim, continuarão pensando: um cientista não pode simplesmente desligar o cérebro e ser um cristão aos domingos. Talvez seja isso.

Revista Impacto – Lendo a história de Alister McGrath, percebe-se que, às vezes, as pessoas têm dificuldade de conciliar ciência e fé porque simplesmente não conhecem bem a fé e, ao mesmo tempo, possuem uma compreensão mais profunda somente de uma área limitada da ciência. Consequentemente, não conseguem avaliar de maneira mais ampla as divergências ou mesmo as questões fundamentais. Qual seria a solução nesses casos?

Ruth Bancewicz – Sim, nós afirmamos isso com frequência. Cientistas são sempre muito especializados em seu campo respectivo, o que é algo necessário nestes dias. Eles entendem o básico do trabalho um do outro, mas não os detalhes. Estão acostumados a testar algo de uma forma que produza certo resultado; depois, testam de outra forma, de frente, de cabeça para baixo, para garantir que o que eles pensam estar lá realmente esteja lá. Então, quando se aproximam da fé, querem testar da mesma forma. Mas isso só é correto até certo ponto. Podemos analisar o cristianismo para entendê-lo mais apropriadamente. Porém, não se pode fazer isso de forma científica. É preciso se abrir, ter a mente tão aberta quanto teria para conhecer uma pessoa nova.

Para conhecer alguém, podemos até reunir dados científicos sobre ele (seu gênero, a cor de seus olhos, sua altura, etc.), mas isso jamais seria suficiente. Afinal, há outras formas muito mais eficazes de se conhecer uma pessoa – falando com ela, fazendo coisas juntos, compartilhando interesses. O mesmo acontece em relação a Deus.

As pessoas precisam estar atentas do que estão fazendo quando levantam questões sobre Deus. Quando você procura provas estritamente científicas, é como entrar num relacionamento com alguém com uma fita métrica ou uma régua, tentando verificar o tamanho dele. É um pouco estranho, não? Ainda bem que Deus é tolerante conosco.

Revista Impacto – Qual é a sua avaliação do clássico Cristianismo Puro e Simples, de C. S. Lewis, e da sua contribuição no meio científico? Há algum outro autor ou pensador que também tenha contribuído positivamente para aproximar a razão ou a ciência da fé?

Ruth Bancewicz – C. S. Lewis apertou um botão ali que realmente funciona para pessoas que precisam de evidências sólidas e racionais. Tenho dois amigos cientistas que me disseram: “Este livro é maravilhoso! Leio vez após vez e me faz pensar em Deus”. O livro não trabalha com evidência científica, propriamente dita, mas com evidência de outro tipo, extremamente necessária.

Outro livro que tem sido muito influente e de grande ajuda particularmente para mim é Who Moved the Stone? (Quem moveu a pedra?), do advogado Frank Morison. Depois de fazer uma investigação minuciosa, ele viu que só os quatro evangelhos já tinham uma boa defesa legal em favor da ressurreição. Além desse, eu indicaria qualquer obra de Alister McGrath. Eu sou uma grande fã dele, pois gosto muito de sua abordagem cautelosa em relação à ciência.

Revista Impacto – A solução que esses cientistas encontraram para resolver possíveis divergências entre a Bíblia e a ciência é entender que os relatos de Gênesis não devem ser interpretados literalmente. No entanto, existem cientistas que acreditam na interpretação literal (como, por exemplo, os Criacionistas da Terra Jovem). Como você vê essa linha de pensamento e como manter a fé na veracidade das Escrituras diante de tantos pensamentos diferentes no meio cristão?

Ruth Bancewicz – Eu, particularmente, tenho visto as coisas se tornando mais claras em muitos campos da ciência. Algumas coisas que os Criacionistas da Terra Jovem diziam que a ciência não explicava têm mudado. Hoje, há muito mais evidências de que a Terra é antiga. Então penso que os argumentos da Terra Jovem agora são muito mais teológicos; dizem, por exemplo, que aquilo que vemos na ciência é uma aparência de antiguidade, mas não é de fato tão antigo.

Eu, particularmente, não ensinaria esse tipo de ciência criacionista; não conseguiria fazer isso com integridade, pois não penso que seja correto. Não creio que os Criacionistas da Terra Jovem façam uma interpretação correta do texto bíblico. Mas, é claro, tenho muitos amigos que creem nisso e são tão cristãos quanto eu. Existem muitas formas diferentes de interpretar.

O importante, creio, é ficar com o principal: o fato de Deus ser o criador. Isso é inegociável. Os cristãos acreditam que Deus é o criador e que a Bíblia é verdadeira. Os debates sobre os dias da criação (se seriam seis dias literais ou bilhões de anos), embora significativos, são questões secundárias.

Na Igreja, por exemplo, existem várias outras questões secundárias: como praticamos os dons do Espírito Santo, se mulheres podem atuar no ministério e muitas outras. Podemos ser cristãos adorando a Deus juntos sem deixar que nossas divergências nos impeçam.

Isso acontece na minha própria igreja. Um dos líderes, na verdade, o que mais tem contato comigo, é um criacionista, mas ele respeita o meu trabalho e está orando por mim, inclusive agora nesta minha turnê. Ele fica um pouco decepcionado com minhas convicções, é verdade, mas há plena cooperação entre nós. Creio que precisamos amadurecer e aprender a ter uma discussão madura com os outros cristãos.

Revista Impacto – Lendo os relatos, o leitor percebe alguns dos principais argumentos da apologética cristã e dos princípios do Evangelho que foram decisivos para mudar a cosmovisão desses cientistas. Para você, quais as principais verdades cristãs que têm sido esquecidas, mas são fundamentais para a apologética no meio cientifico?

Ruth Bancewicz – A maioria das pessoas não cristãs acha que sabe o que está na Bíblia, acha que sabe o que é o cristianismo, mas na verdade não sabe. Existem poucas pessoas não cristãs no mundo que conseguiram entender de fato o conteúdo essencial da mensagem cristã. Eu creio que devamos voltar ao básico. As pessoas precisam saber sobre a graça, precisam descobrir que o cristianismo não é sobre “seguir algumas regras para Deus deixá-lo entrar no céu”. Cristianismo não é sobre isso. As pessoas precisam ler a Bíblia e enxergar quem foi Jesus, tendo em mente que ele é Deus, é Deus revelando a si mesmo para nós. Os cientistas precisam saber que Deus nos deu um mundo bom, e devemos subjugá-lo para poder usá-lo, explorá-lo e investigá-lo; a ciência tem grande participação nisso. Creio que é muito importante encorajar os cientistas não cristãos, mostrando que o cristianismo é pró-ciência.

Revista Impacto – Este livro tem um apelo maior para um público cristão ou pelo menos para quem acredita em Deus e não sabe como conciliar a fé com afirmações científicas ou com uma carreira nessa área. Mas você pensou que o livro poderia alcançar outro público, de ateus, por exemplo?

Ruth Bancewicz – Sim. Tem pessoas que escrevem para leitores ateus, mas meu ministério principal é para cristãos e para seus amigos que estão abertos ao cristianismo. Mesmo assim, tive esperança de que não cristãos pudessem ler o livro também. Imaginei que um cristão poderia ler e dizer para um amigo do tipo que não iria a um culto de domingo à noite: “Você me perguntou sobre a ciência; então, tome aqui este livro!”. Como tive esperança de que isso acontecesse, não usei muito jargão cristão no livro.

Entrevista realizada por Carolina Sotero Bazzo com assistência de Harlindo Souza na tradução e transcrição das gravações.

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