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Série “Comunhão Nossa de Cada Dia”–Parte XII-Comunhão e Vontade de Deus

Por Pedro Arruda

Chegamos, finalmente, à questão central do assunto de comunhão: a vontade de Deus.
Conhecer e praticar a vontade de Deus passou a ser considerado algo raro, privilégio e dever apenas dos mais consagrados. A grande maioria considera tal conhecimento um mistério, fora de seu alcance. Na verdade, as pessoas em geral nem sequer se esforçam para conhecê-la, a fim de evitar qualquer risco de comprometer-se com ela. Preferem ignorá-la, pois imaginam que indicará uma direção em rota de colisão com a vontade própria, trazendo a exigência de abrir mão de algum prazer pessoal.

Quem vive dessa forma julga, equivocadamente, que o homem é livre para escolher uma dentre três possibilidades: a vontade de Deus, a vontade do diabo ou a vontade própria, a qual se localizaria numa zona intermediária entre as outras duas. Nesse caso, a pessoa pretende optar, obviamente, pela vontade própria, já que tal alternativa (nem tanto do céu, nem tanto do inferno) seria o arranjo ideal. Se não está servindo verdadeiramente a Deus, tampouco está sujeita ao diabo. Imagina-se num campo de neutralidade espiritual; afinal, a virtude não se encontra nos extremos. Acima do bem e do mal, pensando não estar fazendo nada de errado, estaria isenta de qualquer direito de intervenção em sua vida, quer de Deus quer do diabo. É exatamente o ambiente de temperatura morna!

Quem deseja evitar a vontade de Deus é porque a vê com desconfiança, como ameaça à felicidade nesta vida. No entanto, ela é fundamental para uma vida de comunhão.

O que é, realmente, o paraíso?

O conceito popular que o cristão tem de céu e inferno não difere daquele que se vê em outras religiões. De acordo com essa ideia, o céu é o lugar paradisíaco onde se pode passar a eternidade em absoluto prazer, com permissão de fazer tudo o que se deseja. Já o inferno é o lugar onde o diabo reina de maneira absoluta e mantém todos os que ali conseguiu reunir sujeitos à vontade dele. Há até quem, por cautela, evite se indispor com o diabo, pois isso não seria interessante caso não consiga fugir ao inferno como destino final.

Mais uma vez se comprova que, biblicamente, a voz do povo não é a voz de Deus. Um dos piores castigos – senão o pior – que o homem pode sofrer é quando Deus o abandona à sua própria vontade, aos seus desejos, pensamentos e sentimentos (Rm 1.24,26,28). Se houvesse um lugar onde a vontade do homem reinasse de maneira absoluta, este, com certeza, não seria um lugar de prazer, mas de intenso sofrimento. Por outro lado, o inferno também não é um lugar de prazer e devassidão total sob o domínio absoluto do diabo, porque isso jamais ocorrerá. Pelo contrário, é o lugar em que se reúne toda a rebeldia frustrada e onde a vontade própria, elevada ao ápice de desejo, culminará com a impossibilidade total de realização.

Comparando o conceito popular de céu e inferno com o que a Bíblia diz, é como se Satanás, tentando enganar os homens, tivesse trocado as placas das portas.

O céu é, de fato, o paraíso. Mas só é paraíso porque ali a vontade de Deus reina de maneira absoluta e incontestável! Só ela pode oferecer-nos prazer absoluto. Há três situações em que o paraíso manifestou-se na Terra. Primeiro, no Éden, onde Adão e Eva viveram antes de pecarem, ou seja, antes de contestarem a vontade divina. A segunda manifestação se deu na encarnação de Jesus, a expressa imagem de Deus. Todos que o viam, viam o Pai, porque ele nasceu, viveu, agiu, sofreu, morreu e ressuscitou estritamente dentro da vontade do Pai. A terceira expressão da presença do paraíso na Terra é possível por meio da Igreja. Na verdade, para ser coerente com o seu chamado, esta seria a única finalidade para sua existência: dar continuidade à vida de Jesus e manifestar o céu na Terra.

A Igreja como paraíso

A vocação da Igreja, portanto, é ser o paraíso – um lugar sem pecado, onde a vontade de Deus não é contestada, mas amada e desejada acima de todas as coisas. É justamente a supremacia dessa vontade que faz da Igreja um lugar paradisíaco no qual o homem e Deus podem descansar, pois um não peleja contra o outro.

Imagine um lugar onde você pudesse experimentar o amor de Deus fluindo em todos à sua volta, onde ninguém tivesse ódio nem maquinasse o mal contra o outro, onde a resposta antecipada a qualquer falha no outro fosse o perdão, onde ninguém tivesse medo de passar falta alguma, pois haveria suprimento imediato para cada necessidade invariavelmente. Um lugar onde não houvesse acusações, onde jamais fosse necessário disfarçar-se, evitar alguém ou ser evitado. Esse lugar existe. Deus o concebeu, trouxe à luz e o chamou de Igreja! Um lugar de delícias, de comunhão.

Contudo, o homem preferiu aperfeiçoá-lo à sua maneira e, assim como ocorreu no Éden, a primeira providência foi a de substituir a vontade de Deus pela vontade própria. O resultado também foi idêntico: inviabilizou a comunhão. Ironicamente, depois de estragarmos o projeto original que Deus gerou, produzindo a Igreja que existe hoje, ainda nos achamos no direito de criticar Adão e Eva como se eles fossem os culpados pelas nossas mazelas atuais!

Quando a Igreja era esse paraíso, as pessoas queriam fazer parte dela ainda que isso lhes custasse a vida. Foi essa experiência que levou Paulo a qualificar a vontade de Deus para o homem como boa, agradável e perfeita, mesmo passando por naufrágios e padecendo sede e fome, perseguição e sofrimento. Assim, quando ele e Silas receberam açoites em Filipos, sentindo imensa dor por causa dos vergões, ainda puderam cantar louvores (At 16.16-26). De igual modo, Pedro e João também se alegraram depois de açoitados por ordem do Sinédrio. Viver nesse paraíso fazia com que toda tribulação se tornasse leve e momentânea (2 Co 4.16-18).

Trocar a vontade de Deus pela nossa é agir de maneira mais idiota e patética do que os participantes daqueles programas de televisão que ficam isolados numa cabine acústica e, orientados por sinais luminosos, respondem sim e trocam um carro novo por um par de sandálias usadas e arrebentadas.

Sendo também enganados, vemos a vontade de Deus como empecilho à nossa felicidade, quando, na verdade, ela é o maior presente que podemos receber de Deus. Viver de acordo com a vontade de Deus é desfrutar da graça em plenitude. É por ela que recebemos capacitação sobrenatural para superar a lei e, também, a nossa vontade. Por isso, devemos almejar viver a vida de Cristo e não a nossa, pois ele morreu exatamente para salvar-nos de nós mesmos!

Quem ficou com a melhor parte?

Veja nestas palavras de Jesus o contraste entre a consequência da vontade de Deus e a da vontade dos homens: “Jerusalém, Jerusalém! que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! quantas vezes quis eu [vontade de Deus] reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas [figura da comunhão], e vós não o quisestes [vontade do homem]! Eis que a vossa casa [nossa igreja, antiga igreja de Deus] vos ficará deserta [sem a presença dele](Mt 23.37-38, destaques inseridos). Pela falta de comunhão, a casa deixa de ser de Deus e passa a ser nossa, deserta, sem vida, sem ele e sem nós!

Erroneamente, atribuímos o título herói da fé a alguém que, de alguma forma, sofreu perda neste mundo. Ora, herói é aquele que se sacrifica, ficando com a pior parte para que outros desfrutem da melhor. Mas os homens que andaram pela fé fizeram exatamente a escolha da melhor parte, pois nada do que deixaram de desfrutar poderia ser superior ao que experimentaram. Na verdade, eles não agiram como idiotas, mas como verdadeiros sábios, fazendo o melhor negócio da vida. Trocaram qualquer falso e temporário prazer que a vontade humana poderia lhes oferecer pelo verdadeiro e eterno prazer proporcionado pela vontade de Deus.

Quando Cristo santificar a Igreja, “purificando-a com a lavagem da água pela palavra” (Ef 5.26), para torná-la gloriosa, sem mácula, sem ruga ou coisa semelhante, santa e irrepreensível, será um duplo prazer para ele e para nós; marcará, de maneira definitiva, a instalação do paraíso – um lugar de delícias a ambos. Precisamos entender, de uma vez por todas, que o prazer de Deus é o nosso único prazer. Assim como Deus tem seu maior prazer no homem, o homem jamais conseguirá outra fonte de verdadeiro prazer que não seja no Senhor.

Isso é comunhão. Por que, então, vacilaríamos em entregar a nossa vontade e receber a do Senhor?

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