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Ciência e Fé: O Universo Sobrenatural

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Por: Elenir Eller Cordeiro

Estive meditando sobre o capítulo 5 do livro Verdadeira Espiritualidade de Francis Schaeffer: “O Universo Sobrenatural”. O que é a realidade para o cristão e o que é a realidade para o não-cristão? Como o cristão vê o universo e como o não-cristão o vê? Schaeffer diz que a realidade, segundo o ponto de vista bíblico, é formada de duas partes: o mundo natural e o mundo sobrenatural; enquanto para o não-cristão a realidade consiste apenas deste mundo natural.

Podemos entender a exortação de Paulo em Romanos 12 de não nos conformar com este século como sendo de não nos conformar com o espírito deste século. E este século está impregnado com o conceito de uniformidade de causas naturais num sistema fechado, ou seja, só existe este mundo natural e suas leis impessoais, e só é verdadeiro aquilo que posso provar através dos cinco sentidos e do raciocínio humano. Mas para o cristão, existe o mundo sobrenatural e existe uniformidade de causas naturais mas num sistema aberto, ou seja, a qualquer momento Deus pode invadir pelo Espírito o mundo natural e nos fazer entrar em contato com o mundo sobrenatural.

Se o mundo sobrenatural não existe, nenhuma doutrina cristã faz sentido – nem a morte redentora de Cristo nem o juízo final. Schaeffer diz que se removemos a realidade objetiva do universo sobrenatural, nosso cristianismo não será mais do que uma mera ferramenta, um auxílio psicológico e sociológico. “Toda a realidade do cristianismo repousa sobre a realidade da existência de um Deus pessoal e sobre a realidade da perspectiva sobrenatural do universo total”, ele afirma.

Mas do ponto de vista da Bíblia, a parte “sobrenatural” não é mais incomum no universo do que aquela que costumamos chamar de natural. A única razão por que usamos este termo sobrenatural é pelo fato de raramente ser visto. Mas, de fato, o universo sobrenatural existe e não está longe. Está perto. A qualquer momento podemos levantar uma perpendicular na linha do tempo e entrar nesta esfera sobrenatural, onde, como diz a letra de um hino famoso, anjos estão descendo para trazer de cima ecos de misericórdia e sussurros de amor (versos de Fanny Crosby).

Há uma nuvem de testemunhas nos observando para ver como estamos agindo e reagindo neste mundo natural. Corremos o perigo de ter uma fé mental no mundo sobrenatural e ainda viver como se só existisse o mundo natural. Schaeffer diz que a maioria dos cristãos só pensa no mundo sobrenatural na hora do novo nascimento e na hora da morte. No restante do tempo, vive como não-cristãos – com a mente saturada deste conceito de uniformidade de causas naturais num sistema fechado, e passando a maior parte de sua vida como se a parte sobrenatural não existisse.

Portanto, para Schaeffer a realidade compõe-se de duas metades como se fossem duas metades de uma laranja – a parte sobrenatural, que não vemos, e a parte natural, que vemos. Só temos a laranja completa se temos as duas metades, assim também só temos uma visão completa da realidade se entendemos que é formada da parte sobrenatural e da parte natural.

Outra ilustração que ele usa é a de duas cadeiras – a cadeira da fé e a cadeira da falta de fé. Quem senta na cadeira da fé vê a realidade total do universo – o natural e o sobrenatural. Quem senta na cadeira da falta de fé só enxerga a parte natural do universo. Ambas as posições não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Uma é verdadeira; a outra é falsa.

O que é chocante é que, sem perceber, podemos estar vivendo uma hipocrisia. Podemos dizer que estamos sentados na cadeira da fé, enquanto na prática temos a visão de quem está na cadeira da falta de fé – só se preocupando com o mundo natural e mais nada. Não é à toa que nossa vida cristã acaba perdendo sentido, perdendo propósito. Schaeffer diz que “vida cristã significa viver nas duas metades da realidade: na parte natural e na sobrenatural”. Como disse outro irmão, é viver naturalmente no sobrenatural ou sobrenaturalmente no natural.

Comece a ler a Bíblia tendo isto em mente e verá como sua leitura pode se tornar estimulante. Em Gênesis 14.18-24, Abraão acabara de sair de uma guerra contra vários reis (quer coisa mais natural do que uma guerra?), quando, de repente, surgiu diante dele Melquisedeque, rei de Salém, trazendo a primeira ceia com pão e vinho mencionada na Bíblia, e uma tremenda revelação do nome de Deus: o Deus Altíssimo, que possui o céu e a terra. E foi com esta revelação do nome de Deus que ele venceu a tentação do rei de Sodoma, que representa o mundo espiritual do mal, que queria lhe oferecer bens e riquezas.

A Bíblia não cita os antecedentes de Melquisedeque, mas certamente veio do mundo sobrenatural para abençoar Abraão e trazer-lhe revelação do nome de Deus. Mais tarde, no livro de Hebreus, Jesus seria chamado sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque e não segundo a ordem de Levi.  Você percebe como o mundo sobrenatural entrelaça-se com o mundo natural?

Temos outro exemplo disso em Gênesis 32.1, 2 com Jacó. Logo após a aliança feita entre Jacó e Labão, este o deixou em paz para prosseguir seu caminho. A Bíblia diz que Jacó estava andando e anjos de Deus saíram a encontrá-lo. Ao vê-los, Jacó disse: “Este é o acampamento de Deus”. E chamou àquele lugar Maanaim. Dá para perceber quão próximo estamos do mundo sobrenatural e como é possível a qualquer momento o mundo natural ser invadido por ele?

Schaeffer diz em seu livro que o nome hebraico “Maanaim” significa “duas hostes” ou “dois acampamentos”. Para Jacó, os dois acampamentos, o de sua gente e o dos anjos, eram reais. Tanto sua família como os anjos eram seres igualmente válidos e reais e igualmente próximos.

São tantos os exemplos na Bíblia do mundo sobrenatural invadindo o natural… Aliás, a Bíblia seria um livro como outro qualquer se não existisse o mundo sobrenatural. Não posso deixar de citar a passagem clássica de 2 Reis 6.16,17. Eliseu era um profeta que vivia na prática o mundo sobrenatural. O rei da Síria estava irado porque Eliseu atrapalhava sua guerra contra Israel ao contar para o rei onde as tropas da Síria iriam atacar. O moço de Eliseu acordou bem cedo e viu tropas, cavalos e carros cercando a cidade para atacá-los e ficou com muito medo. Quem não ficaria com medo?

Mas Eliseu não temeu – ele sabia que no mundo sobrenatural havia recursos muito mais poderosos do que os do rei da Síria. Ele orou para que os olhos do moço fossem abertos para enxergar esta outra parte da realidade e ele passou a ver os recursos do mundo invisível – lá também há cavalos e carros, mas de fogo! Até quando vamos lutar nossas guerras com os recursos limitados deste mundo natural quando temos à disposição armas poderosas do mundo celestial?

O próprio Jesus viveu na prática o universo sobrenatural. Quando a multidão teve fome, ele pegou o que tinha, cinco pães e dois peixes, olhou para o alto, abençoou-os e multiplicou-os para alimentar a multidão faminta. Era o sobrenatural invadindo o mundo natural. E não houve trovões nem relâmpagos naquele momento. Tudo ocorreu com ordem e decência, mas de forma sobrenaturalmente natural.

Quando Pedro chegou dizendo que precisava de dinheiro para pagar o imposto, Jesus calmamente mandou pescar um peixe, e encontrar nele a moeda para suprir a necessidade. Tudo naturalmente sobrenatural.

E o que dizer do Monte da Transfiguração? A glória do mundo sobrenatural desceu no monte onde Jesus e alguns discípulos oravam. Além dos anjos que estavam ali, vieram Moisés e Elias para consolar Jesus sobre sua morte iminente. Schaeffer diz que lá no monte, Jesus e os discípulos não partiram para algum “outro” filosófico, uma esfera totalmente desconexa com o mundo da realidade. Se tivessem relógios no pulso, estes não teriam parado; teriam continuado funcionando. E quando desceram do monte, a vida normal não havia parado.

Ninguém pode explicar isto melhor do que Schaeffer: “Encontramos aí o mundo sobrenatural em relacionamento com a linha de continuidade normal e com as relações espaciais do mundo presente”.

Estou realmente convicta nestes dias que sem esperança no mundo sobrenatural, e sem viver nele na prática, somos as pessoas mais infelizes. Por que tantos cristãos estão entrando em desespero e depressão? Estão ficando sufocados pelo espírito naturalista de nossa época. A maioria possui uma fé teórica no mundo sobrenatural mas na prática vive como se só existisse o mundo natural. Precisamos renovar nossa mente, pela Palavra e pelo Espírito, para entender o que é o universo do ponto de vista bíblico. Ele é formado de duas partes e não apenas de uma. E a parte sobrenatural que normalmente não vemos é tão real quanto o mundo natural, ou mais ainda!

Tudo que existe, tudo que é visível, veio a partir do invisível. As coisas visíveis vão passar, são temporais, e temos uma pátria celeste que não é aqui. Pense na letra de outro hino, Mensagem Real:

Sou forasteiro aqui,
em terra estranha estou;
Do reino lá do céu embaixador eu sou!

Os cientistas fazem Ciência Natural, mas nós, cristãos, somos chamados a fazer Ciência Sobrenatural. Qual a diferença entre as duas? Os cientistas fazem ciência usando leis impessoais e a percepção dos cinco sentidos em conjunto com o raciocínio natural. A Ciência Sobrenatural é baseada em encontros pessoais com Deus e nas percepções espirituais: intuições e revelações em conjunto com o raciocínio iluminado pelo Espírito Santo.

A ciência natural é muito limitada porque só enxerga o mundo natural e interpreta a verdade como é vista nesse cenário de fundo. Mas o cristão que vive na prática o mundo sobrenatural senta na cadeira da fé e olha para o universo de modo diferente que o cientista moderno – pois vê a realidade total do universo e percebe que a verdade é ilimitada e infinita, e que para investigá-la precisamos dos recursos do Espírito.

C. S. Lewis, outro autor cristão que viu a realidade do mundo sobrenatural, diz que ter um olhar voltado para a eternidade não quer dizer fuga ou ilusão, nem que devamos deixar o mundo como está. Diz que se consultarmos a história, veremos que os cristãos que mais fizeram por este mundo foram justamente os que creram neste mundo sobrenatural. É quando os cristãos param de viver na prática o mundo sobrenatural que eles começam a falhar nesta vida.

“Quem almejar o céu, terá a Terra como acréscimo; quem almejar a Terra, não terá nem uma nem outra coisa” (Cristianismo Puro e Simples, p. 76).

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Arrogância Científica

Leon Tolstói indignava-se com a atitude preconceituosa dos intelectuais que pretendiam entender e validar ou não os ensinamentos de Cristo, a partir de um método cientifico por eles considerado exato. Tinham a arrogância de considerar o método cientifico como infalível e atribuir-lhe valores absolutos para, a partir disso, interpretar as palavras de Cristo e concluir que ele não queria dizer exatamente o que disse. Tais intelectuais julgavam que poderiam compreender isso e dar a interpretação correta graças à capacidade crítica que possuíam. Com isso reduziam a doutrina de Cristo somente àquilo que era considerado prático, segundo o ponto de vista dos mesmos.

Tolstói dizia que tais intelectuais erravam por usar uma ferramenta inferior – o método cientifico – para julgar algo superior – a divindade – e que na verdade, o que julgavam não era a doutrina de Cristo na sua essência, mas aquilo que a igreja corrompida demonstrava, o que a nivelava com outras religiões.

“O que acontece porém na maioria dos casos e dos grandes erros, é que homens de grau intelectual inferior deparam-se com fenômenos de ordem superior e, ao invés de se colocarem num ponto de vista suficientemente elevado para julgá-lo com sinceridade, explicam-nos de seu ponto de vista inferior, e com audácia tanto maior quanto menos compreendem do que se trata. Para a maioria dos doutores que examinam a doutrina moral e viva de Cristo da perspectiva inferior do conceito social da vida, esta doutrina não é mais do que um amálgama sem coesão, de ascetismo hindu, de doutrinas estóicas e neoplatônicas, e de utópicos sonhos anti-sociais que não têm qualquer importância séria para o nosso tempo. Para eles tudo se concentra nas manifestações externas: o catolicismo, o protestantismo, os dogmas e a luta contra o poder secular. Definindo o significado do cristianismo segundo manifestações similares, eles assemelham-se a surdos que julgam o valor e a importância da música pelo movimento dos músicos.” 1

Pedro Arruda

Fontes:
1 – O Reino de Deus Está em Vós – 1893. Considerada pelo autor – Leon Tolstói, como obra máxima de sua bibliografia. Foi vetada pelo Czar e provocou a excomunhão do autor da Igreja Ortodoxa.

Leon Tolstoy (1828 – 1910), foi grande escritor russo, mais conhecido pela sua obra “Guerra e Paz”.

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