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Ciência e Fé – O Desafio do Cristão: Andar na Lama Sem Se Sujar

Por: Francis Scheaffer

E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Rm 12:12

Não se conformar com este século é não se conformar com o espírito deste mundo.  O desafio de todo cristão é andar na lama sem se sujar, ou seja, estar no mundo sem ser contaminado pelo espírito do mundo. Qual é a atitude básica do espírito do mundo desde o início, desde a queda de Satanás e depois do homem? É um espírito antilei, em revolta contra Deus. É o homem colocando a si mesmo no centro de todas as coisas, fazendo de si mesmo o padrão e a medida de todas as coisas. É o homem com H maiúsculo dizendo: “Eu só aceitarei conhecimento que eu mesmo posso gerar a partir de mim mesmo. É a criatura se recusando a obedecer ao seu Criador.”

Qual a solução para não nos conformarmos com este mundo? Isolar-nos dele? Não, porque corremos o risco de fazer isso e levar dentro de nós o espírito do mundo. Jesus orou em João 17.15: “Não peço que os tires do mundo, e, sim, que os guardes do mal”.  Temos de entender que a batalha principal está na mente, no mundo do pensamento. Por isso, o apóstolo Paulo disse “transformai-vos pela renovação da vossa mente”. O interno sempre precede ao externo. Se estamos conformados exteriormente irá sempre depender de estarmos conformados internamente ao espírito deste mundo. Isto quer dizer que é possível a pessoa pensar que crê em Deus e na sua palavra e, inconscientemente, estar vivendo um evangelho humanista, um evangelho que coloca o homem no centro de todas as coisas, onde o mais importante não é agradar a Deus e fazer sua vontade, mas conseguir seus favores e bênçãos.

Há somente duas visões de mundo: a visão bíblica e a visão humanista. A primeira coloca Deus no centro e a segunda, o homem. Desde que Satanás recebeu as chaves do mundo da mão do homem, esta tem sido a atitude básica do espírito do mundo e da visão humanista: o homem em revolta contra Deus, recusando-se a sujeitar-se a ele. Mas precisamos estar atentos, porque cada época, cada geração manifesta o espírito em sua forma peculiar. O espírito do mundo é muito sutil e se não queremos nos sujar enquanto andamos através da lama, precisamos entender que forma ele está tomando hoje e não nos conformarmos com ele, primeiro no mundo do nosso pensamento, e depois na vida prática. Por isso, vamos ver primeiro o que diz o espírito do mundo em termos filosóficos e morais.

O Espírito do Mundo na Filosofia e na Moral

Em termos filosóficos e morais, podemos falar de várias formas que manifestam o espírito do mundo em nossa geração. Porém, o principal deles é que o homem moderno tem perdido a esperança em valores absolutos e universais.

Platão, um dos primeiros filósofos gregos, entendeu algo crucial – que se não houver nenhum absoluto as coisas individuais(os particulares) não têm valor. Por particulares entendemos as coisas que nos cercam, as pedras na praia, as moléculas que formam as pedras, eu como um indivíduo e você como um indivíduo são particulares. Podemos nos referir a qualquer tipo de particulares, mas sem absoluto ou universal – algo sobre o qual todos os particulares se encaixam dando-lhes unidade e significado no todo – os particulares não possuem nenhum significado ou propósito. Platão disse que isso se aplica até na linguagem. Existem muitas variedades de maçãs (particulares), mas sintetizamos todas elas usando a palavra maças(absoluto ou universal).

O filosófo francês Jean Paul-Sartre (1905-1980) mostrou que isso se aplica até na realidade. Seu conceito era que um ponto finito é absurdo se ele não tem um ponto infinito de referência. Este conceito é mais entendido na área de moral. Se não há nenhum padrão absoluto de moral, então ninguém pode dizer no final das contas que algo é certo ou errado. É especialmente fácil ser contaminados pelo espírito do mundo na área de moral. O mundo hoje não apenas possui falsos padrões morais – ele não tem nenhum padrão moral com algum sentido absoluto. Isso não se refere só a moral sexual, que é o que vem primeiro a nossa mente, mas toda a moral da vida pública e privada. O homem moderno, na ausência de valores absolutos e universais, tem poluído todos os aspectos da moralidade, fazendo padrões completamente hedonistas (prazer é o fator único e principal da vida) e relativistas – algo que muda de acordo com a cultura ou as circunstâncias. Hoje temos o que chamamos de “situações éticas” – cada situação é julgada subjetivamente sem nenhum absoluto para o qual apelar.

Recentemente, foi publicado um artigo na Veja cujo tema era a necessidade de escolher sua ética antes de lutar por suas ambições. Era um artigo muito bem escrito mostrando como o ser humano transgride à lei, pisa nas pessoas, para conseguir suas ambições. Mas a pergunta crucial é: Que tipo de ética vamos escolher? Ética bíblica baseada em valores absolutos e imutáveis da Palavra de Deus? Ou ética humanista baseada em valores relativos que hoje são aceitos porque a maioria da sociedade pensa assim, mas que amanhã podem ser mudados de acordo com as circunstâncias? O MEC diz que devemos formar cidadãos críticos, responsáveis e éticos, mas baseados numa ética que prega tolerância ao pecado em nome das diferenças. Bob Mumford, pregador profético americano, disse em uma mensagem recente que “vivemos numa sociedade pós-modernista e que pós-modernismo é uma das coisas mais assustadoras dos últimos tempos – significa simplesmente ‘creia naquilo que você quiser, aja como quiser’. Como cristãos, se não tivermos algo que é absoluto, sem relativismo, não teremos nada para dizer ao mundo dentro de vinte e cinco anos.”

Portanto, tem de existir verdade absoluta se for haver moral e tem de verdade absoluta para haver significado e propósito na vida do homem. Se o que temos são verdades relativas baseadas nas idéias do homem, não há argumento final para julgar entre indivíduos e grupos cujos julgamentos morais são conflitantes. O que nos resta são opiniões conflitantes.

Os jovens têm sentido a ausência de absolutos e têm dado à luz um idealismo que está ligado à rejeição da hipocrisia da moral da geração anterior. Mas o dilema, certamente, é que a utopia que eles dão à luz também não possui nenhum padrão. E em vez de acharem o que buscam, enveredam por novos sofrimentos e novas aflições.

Podemos citar Vincent van Gogh, que tentou cumprir seu idealismo através de começar uma comunidade no sul da França. Ele estava desesperado em busca de algo belo. Todavia, à medida que estudamos seus auto-retratos, podemos vê-los a cada ano mais  desintegrados, até

que no fim de sua vida eles nem parecem humanos. Devemos gemer por nosso mundo presente, porque os idealistas que têm gritado aos brados contra a falsidade e hipocrisia da cultura plástica têm findado suas vidas numa situação bem pior – de desumanidade e destruição de tudo que eles esperavam acontecer.

Além de haver necessidade de absolutos para existir moral e para que haja significado para existência, a minha, a sua, a existência do homem, muito mais profundo ainda, temos de ter absolutos para que haja uma sólida epistemologia (uma teoria de conhecimento – como sabemos, ou como sabemos que sabemos). Essas três coisas são os principais problemas filosóficos do homem: o problema da moral, o problema metafísico (da existência) e o problema epistemológico. O homem começando de si mesmo, pode definir e analisar esses três problemas, mas não consegue gerar de si mesmo a resposta para eles. Só o Cristianismo tem resposta porque ele apresenta o absoluto que dá significado e propósito para o homem e o universo. Essa verdade absoluta é que o Deus do Cristianismo existe, é infinito e pessoal e fala. Porque ele existe e é infinito (não tem começo nem fim, existe e não foi criado) ele pode ser o ponto infinito de referência para o homem finito. Porque ele existe e é pessoal, o homem criado à sua imagem e semelhança também é uma pessoa e nele pode achar o propósito para sua vida – um relacionamento pessoal de amizade com Deus. Porque ele existe, é infinito e pessoal, e fala, temos verdades absolutas que providenciam um padrão absoluto de moral – podemos saber se algo é certo ou errado porque ele falou no tempo e no espaço suas proposições verbalizadas. Porque ele existe e fala, e falou verdades sobre o cosmos e sobre si mesmo, não temos problemas na área de epistemologia, porque mesmo os primeiros cientistas,  como Galileu, Copérnico, Kepler, Francis Baxon, entenderam que o universo não era um sonho, mas realidade, pois deve sua existência a Deus que o criou. E eles criam que porque Deus era um Deus razoável alguém podia descobrir a verdade do universo pela razão. E foi assim, dentro de um ponto de vista cristão, que a ciência moderna nasceu.

O Espírito do Mundo na Área de Entretenimento

Temos falado de moral como um área onde o espírito do mundo se manifesta. Outra área é entretenimento como fuga. As pessoas hoje estão com medo de ficarem sozinhas. Esse medo é uma característica marcante de nossa sociedade. Por que muitas pessoas passam horas e horas na frente da TV, assistindo a filmes e novelas sobre a vida de outras pessoas? Simplesmente porque querem evitar sua própria existência, não querem enfrentar seus problemas particulares. Entretenimento preenche cada cantinho de nossa cultura para que não tenhamos de pensar.

Álcool tem sido sempre uma forma de escape, e as drogas também. Os jovens estão misturando álcool e drogas. Mas alcoólatras e drogados não os únicos que tentam escapar. Aquele que passa a maior parte do dia com o ouvido “plugado” ouvindo música, aquele que passa horas surfando na Internet, aquele que passa horas jogando video-games,  esse é também um escapista. Ninguém parece querer (e ninguém pode achar) um lugar para meditar – porque quando você está quieto, você tem de enfrentar a realidade. Muitos em nossa geração não ousam fazer isso porque possuem uma estrutura de vida onde realidade leva para falta de significado; por isso preenchem suas vidas com entretenimento, mesmo que seja apenas barulho.

As pessoas hoje procuram escape em férias e viagens cujo ritmo é alucinante. Quanto mais diversão e aventura, melhor. Cada momento tem de ser preenchido com alguma atividade. É costume dizer que ficamos mais cansados após as férias. Num sentido temos de chorar, pois entretenimento faz parte do espírito de nossa época contra o qual  Paulo nos exorta a resistir. O cristão deve agir de modo totalmente oposto. Há espaço para entretenimento sadio, mas não devemos ser envolvidos numa  roda vida que nos impede de ficar quietos. Antes, todas essas coisas devem vir em segundo plano para que possamos criar espaço para Deus falar conosco e nos confrontar.

Portanto, quando Paulo diz “não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”, ele não está falando a respeito de crenças filosóficas e teológicas. Ele está falando sobre resistir à pressão de conformar com falsos padrões morais e sobre resistir ao escapismo através de um ritmo maluco de vida, os quais são ainda mais difíceis de resistir do que perigos filosóficos e teológicos.

Enfrentando A Realidade

Os hippies dos anos 60 fizeram e os jovens de hoje fazem, de forma apropriada, a seguinte pergunta: “Por que eu não posso escapar usando drogas quando meu pai e minha mãe e meus tios e tias escapam usando álcool? Qual a diferença?” Não há diferença. A pessoa que escapa com álcool, televisão, remédios para depressão, trabalho, viagens, ativismo religioso, comida etc., e depois fica chocada quando seu filho usa drogas não está sendo razoável. O cristão não precisa de um escape – seja lá o que for. Não que às vezes não escolhamos o caminho mais fácil. Às vezes o fazemos, pois ninguém é de ferro. Mas esse não é padrão que lutamos por alcançar. Tanto na teoria como na prática, o cristão pode ter a ousadia de enfrentar a realidade da vida. Não temos necessidade dessas coisas para preencher cada cantinho de nossa vida. Na verdade, devemos ter o desejo de enfrentar a realidade: a glória do mundo que Deus criou e a maravilha do ser humano – sim, e até mesmo a horrorosa realidade da queda e da tragédia de homens e mulheres corruptos, até mesmo as falhas de nosso próprio caráter. Não devemos ser pessoas que procuram escape. O cristão é chamado para enfrentar a realidade e não para fugir dela.

Porque a verdade de Deus tem uma aplicação tanto individual como coletiva, podemos também afirmar que uma congregação local está errada se está constantemente buscando diversão e atividade. Um pouco de entretenimento e atividade é permitido, mas quando olhamos para a igreja o que vemos é trágico, pois freqüentemente a igreja está usando entretenimento ou ativismo para atrair os incrédulos. Isso é doentio. E mais doentio ainda é se temos de segurar pessoas depois que se tornam cristãos. Que Deus tenha misericórdia de nós se isso for verdade. Pois estamos prestando aos cristãos um desserviço; estamos capacitando-os para que evitem o mundo e a si mesmos. Essa também é uma forma de ficar bêbado. E certamente o relativismo moral desta geração tem penetrado nas igrejas evangélicas nestes dias. Basta considerar a crescente aceitação do divórcio por razões não bíblicas (até mesmo entre líderes cristãos) por parte das igrejas evangélicas, em vez de sujeição aos mandamentos de Deus sobre o assunto.

A Verdadeira Compaixão

Voltando ao mandamento de Paulo em Romanos 12 de ser transformado ao invés de conformado, podemos ver que não é nem banal nem pietista no mau sentido. Deveria ser uma realidade tanto em nosso pensar como em nosso agir. Não ser conformado ao espírito do mundo na filosofia e na moral não nos dá o direito de ser conformados a essas outras coisas.  Na  proporção em que não estou conformado ao ensinamento da Bíblia, a Palavra de Deus em minha vida, estou atolado na lama do mundo. Na proporção em que não estou praticando os princípios bíblicos, estou caminhando através da lama e me sujando. O mesmo é verdade para a igreja ou grupo cristão. Devemos chamar pecado pecado, e resisti-lo, não é suficiente livrar-se dele através de uma explicação psicológica.

Dizemos que devemos ter compaixão pelo mundo perdido e não sermos duros demais. Isso é verdade. Devemos mostrar amor e simpatia. Mas se eu tenho compaixão, se eu quero mostrar amor ao mundo, eu individualmente, e nós em nossos grupos, devemos obedecer aos mandamentos de Deus. Quando estou conformado ao pecado do mundo, não somente ofendo a Deus com este pecado, mas diminuo o poder de atração do evangelho.

Jesus disse:

Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte;  Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa.  Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus. Mateus 5:13-16

Os cristãos não devem permitir que o mundo os corrompa. Se o mundo nos vê conformados ao seu padrão e ao seu relativismo, ele não ouvirá o que estamos dizendo. O  mundo  não terá nenhuma razão para isso.

O mundo está se voltando para respostas falsas em todo o lado, e nós dizemos que queremos alcançar pessoas com a verdade. Algumas pessoas estão de fato procurando respostas verdadeiras e fundamentais em meio a confusão de nossa geração. Mas se olham para nós cristãos que enfatizam que a Bíblia é a verdade e vêem uma falta de absolutos em nosso pensar e agir (tanto individual como coletivamente), ou se tudo o que vêem é outra forma de escapismo baseado em palavras seculares ou religiosas, quem pode culpá-los se dão as costas e vão embora?

Adaptado por Elenir Cordeiro do livro “No Little People” de Francis Sheaffer e de vários outros escritos do mesmo autor.

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