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Autoridade e Obediência

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Por Tom Marshall

Este século (o século XX) tem se caracterizado por uma tal desordem e falta de lei que não é de se admirar que, dentro da igreja, haja uma nova ênfase em relação à autoridade e à obediência. Precisamos lembrar, talvez como nunca antes, que só temos liberdade em todos os nossos relacionamentos quando estamos dentro dos limites da ordem divina. Porém, alguns princípios de autoridade e obediência estão sendo tão seriamente deturpados e mal interpretados, até por pregadores e líderes da igreja, que precisamos avaliar com cuidado as questões envolvidas neste assunto.

Algumas vezes, por exemplo, a obediência parece ser considerada uma espécie de remédio moral – é repugnante, por conseguinte deve ser bom para nós. E, pior ainda, é confundida com conformismo, e conformismo é uma das mais sérias características da sociedade moderna. É a maneira que a pessoa tem para se esquivar da sua responsabilidade moral. A obrigação de tomar decisões morais é jogada em cima do líder superior, do pastor ou da liderança do partido. Assim, se a pessoa simplesmente faz como lhe ordenam, a natureza das ações ou as conseqüências que possam advir delas não são da sua responsabilidade.

A Bíblia mostra claramente que a obediência, meramente como obediência, não é necessariamente uma coisa boa. Tanto podemos obedecer à injustiça quanto à justiça; podemos obedecer aos homens quando deveríamos obedecer a Deus. Portanto, é muito importante que entendamos a verdade viva em relação à autoridade e à obediência, e que aprendamos a separá-las das imitações e das aplicações erradas.

Vamos começar pela análise das circunstâncias em que geralmente aparecem questões relacionadas à autoridade e à obediência. Elas podem ser classificadas, de maneira geral, em três categorias: as situações de tarefa, em que um serviço precisa ser feito; as situações de ensino, em que um princípio ou uma prática tem de ser aprendido; e as situações morais ou espirituais, em que uma lei ou um preceito espiritual ou ético está envolvido.

Precisamos entender que em cada uma dessas três classes de circunstâncias a autoridade é exercida de maneira diferente. Da mesma forma, a natureza da reação à autoridade, ou seja, da obediência, terá de ser diferente. De fato, muitos dos nossos problemas surgem quando usamos um determinado tipo de autoridade e esperamos uma obediência que não é apropriada para aquela situação. É significativo notar que o Novo Testamento usa três palavras diferentes para obediência que se encaixam perfeitamente nas três categorias que descrevemos acima.

Situações de Tarefa

A autoridade de tarefa é a mais simples e fácil de se entender. Nessa situação, há um serviço para ser feito; há um líder responsável que dá as ordens; e, abaixo dele, há uma equipe cuja responsabilidade é obedecer com o máximo de presteza e eficiência às suas instruções. Nessas circunstâncias, os subordinados são apenas extensões das capacidades do líder. Eles representam uma multiplicação de pés ou mãos que agem em resposta a uma só mente.

Nas circunstâncias apropriadas, essa forma de autoridade é inteiramente legítima e efetiva. Ela funde um grupo de pessoas numa única unidade de operação. É a melhor, talvez a única, forma de autoridade capaz de resolver situações de emergência.

O Novo Testamento usa a palavra peitharcheo (obedecer a um chefe ou governador) para tais situações. Ela é empregada no sentido de obedecer aos magistrados (Tt 3.1) e no sentido de obedecer mais a Deus do que aos homens (At 5.29). Essa autoridade reconhece especificamente o senhorio de Cristo e o seu direito inalienável de nos dirigir na sua obra sem obrigação de explicar seus motivos. “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2.5). Desobediência é anupotaktos (insubordinação) e, se não for contida, levará à desordem.

Situações de Ensino

Porém, quando passamos às situações de ensino, o propósito em vista não é simplesmente a realização de uma tarefa. O objetivo não é apenas que o serviço seja feito, mas, principalmente, que o aluno aprenda a fazê-lo para que, no futuro, não dependa de instruções detalhadas. Nessas circunstâncias, ao contrário das situações de tarefas, fazem parte do processo de aprendizagem perguntas e respostas, explicações de motivos e resolução das objeções. Nesse contexto, a palavra para obediência é peitho (ser persuadido).

A obediência procede de um entendimento dos motivos e propósitos por trás das ordens. Quando o autor de Hebreus diz: “Obedecei aos vossos guias” (Hb 13.17), peitho é a palavra usada, porque, na igreja, o que se pratica é geralmente uma autoridade de ensino e não uma autoridade de tarefa, e o pastor que se recusa a responder perguntas legítimas como “Por quê?” ou “Para quê?”, precisa entender isso. A aplicação da autoridade de tarefa em situações de ensino nunca resultará em aprendizagem.

É óbvio que quando uma pessoa não assimila os princípios, ela apenas repetirá a lição como um papagaio. Não estou dizendo com isso que o aluno deve sempre entender o porquê antes de obedecer. Longe disso. Muitas vezes, se não obedecer primeiro, ele nunca vai entender os motivos; mas a partir deste ponto é essencial que ele seja levado a entender os princípios envolvidos. E ele nem sempre vai procurar isso espontaneamente. A maioria das pessoas se contenta em meramente copiar e se conformar aos outros, ao invés de assumir a tarefa mais difícil que é descobrir os princípios e os motivos pelos quais se deve ou não agir de certa forma. O bom professor nunca se acomodará com a aprendizagem mecânica, pois sabe como esse método é limitado.

Situações Morais ou Espirituais

Ao considerarmos situações morais e espirituais, mais uma vez temos um outro alvo. O propósito primário não é que o discípulo aprenda a fazer, mas que aprenda a ser. Em outras palavras, trata-se de uma mudança de caráter e de questões de motivação. Por essa razão, a obediência é relacionada tantas vezes à santidade nas Escrituras.

Precisamos descobrir o que significa realmente essa reação moral que é o objetivo dessas situações. A característica essencial de um comportamento moral é a reação espontânea da nossa vontade a uma verdade que está sendo registrada na nossa consciência. A testificação da verdade em nossa consciência é vital. Somente quando estou respondendo às suas exigências e ouvindo a sua voz na consciência, é que será então comportamento moral. Se modifico minhas ações ou atitudes por qualquer outro motivo, mesmo que isso seja prudente ou aconselhável perante a sociedade, não será uma reação moral. Será mero conformismo a uma pressão exterior.

A palavra mais usada no Novo Testamento para obediência confirma essa verdade. É hupakouo, que significa ouvir por baixo de. Esse ouvir ocorre na consciência. Desobediência, portanto, seria parakoe (recusa de ouvir). Implica uma teimosia, uma rejeição proposital e deliberada ao impacto da verdade.

Agora, se a autoridade de tarefa é deficiente nas situações de ensino, precisamos entender que é mortal no nível moral ou espiritual. Ela produz legalismo e é a letra que mata (2 Co 3.6). Cria conformistas ou rebeldes, e os conformistas correm o perigo de serem hipócritas, pois, na realidade, não crêem no padrão no qual vivem nem na doutrina que confessam.

A Verdadeira Autoridade

O que é, então, a verdadeira natureza da autoridade espiritual e da obediência espiritual? Em primeiro lugar, o pregador precisa compreender que a sua autoridade é a autoridade da verdade. Portanto, ele tem a responsabilidade de ensinar o povo a ouvir a verdade e a obedecer fielmente às exigências que ela faz à sua consciência. Se a voz da verdade não for ouvida na sua consciência, ela nunca produzirá fruto nas suas vidas. Se eles não estão ouvindo, o pregador precisa saber o porquê. O erro está nele ou no povo?

Em tudo isso, o mais importante é que precisamos aprender a confiar no Espírito Santo para aplicar a verdade nos corações humanos, porque só assim a conhecerão e só dessa maneira a obediência à verdade os libertará (Jo 8.32).

Esta mensagem foi traduzida de um artigo intitulado “Authority and Obedience”, no volume 18 da revista Fulness (Inglaterra), e publicada originalmente em português no livreto “Autoridade e Submissão” em 1979, pelo ministério de publicações John Walker, Rubiataba, GO.

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