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A Solução de Deus

Por: Harold Walker

A Bíblia é um livro que fala do propósito de Deus para o homem na terra. Não é apenas uma coletânea de histórias interessantes e desconexas. Através dela temos a descrição de como o plano de Deus está se desenvolvendo para chegar a sua consumação. Para sabermos como viver em nossa geração, precisamos saber o que Deus está fazendo hoje e o que ele quer realizar através de nós. Por isto precisamos saber em que fase o plano eterno de Deus se encontra hoje.

As duas principais divisões da Bíblia são o Velho Testamento e o Novo Testamento. Falam de duas alianças que Deus fez com o homem: uma através da lei e outra através da graça, uma através de nossas obras e outra através da obra consumada de Jesus na cruz. Como se pode notar, são totalmente diferentes entre si. Na primeira Deus fala (a lei) e o homem faz (esforço humano para obedecer) e na segunda Deus faz (a morte de Cristo no cruz) e o homem fala (confessa com a boca e crê no coração). Porém, há algo em comum entre as duas — o seu alvo é o mesmo. Tanto na Velha como na Nova Aliança o objetivo de Deus é formar um povo à sua imagem e semelhança. Deus é amor, portanto o povo que Deus queria formar nas duas alianças é um povo cuja característica principal é o amor divino. É um povo liberto do amor egocêntrico e que vive uma vida “outrocêntrica”. O resumo da lei é amar a Deus acima de todas as coisas e o próximo como a si mesmo! (Mt 22.34-40) O objetivo da Nova Aliança é o mesmo: “…para que haja neles aquele amor com que me amaste…” (Jo 17.26).

O Fracasso do Homem

Quando lemos o Velho Testamento deparamos com um fato tão enfatizado e repetido, que às vezes se torna até cansativo: o homem nunca consegue atingir este alvo de Deus. Deus é fiel mas o homem é sempre infiel. Vez após vez Deus deu uma nova chance para o povo e este, mesmo fazendo uma aliança de obedecer sua lei, sempre entrou em desobediência e apostasia. Mesmo sendo tremendamente longânimo e misericordioso, no fim Deus perde a paciência, deixa de exortá-los a se arrependerem e passa a prometer destruição e cativeiro. Há vários capítulos no Velho Testamento onde esta situação é descrita por alguém que resume a história do povo de Deus. Salmo 106 e Ezequiel 20 são alguns dos muitos exemplos encontrados na Bíblia. Se alguém ainda crê que o homem é inerentemente bom e que pode cumprir a lei de Deus pelas suas próprias forças, é porque ainda não leu suficientemente o Velho Testamento. A lição do Velho Testamento, (que é três vezes maior que o Novo!) é que o homem é um fracasso.

A Velha Aliança falhou e não atingiu o objetivo de formar um povo que praticasse o amor a Deus e ao próximo. Deus cumpriu a sua parte mas o homem não cumpriu a sua, mesmo que Deus lhe oferecesse chances e muitas exortações pelos profetas.

Há, entretanto, no meio de toda esta deprimente situação um outro elemento que traz luz e esperança. Na hora mais escura de Israel quando os profetas, por causa do pecado do povo, estavam anunciando destruição irremediável e certa, Deus começou a anunciar por meio dos mesmos profetas asua solução para o homem. Nós, evangélicos, temos a tendência de nos contentar com um conhecimento superficial das coisas e não prestar atenção àquilo que Deus realmente quer falar através da Palavra. Muitas vezes damos respostas de “escola dominical” sem aplicação para o assunto em pauta. Por exemplo, se alguém lhe perguntasse agora qual a solução de Deus mais enfatizada em todo o Velho Testamento, qual seria sua resposta? Antes de responder procure se despir da mentalidade gen- tílica e imagine-se um judeu antes da vinda de Cristo que tivesse apenas o Velho Testamento para achar a resposta.

Por um lado, você conhece bem a história do seu povo e de seus repetidos fracassos e, aparentemente, mesmo que houvesse uma restauração, não haveria como evitar uma outra recaída. Por outro lado, você sabe pela leitura dos profetas nas sinagogas todo sábado, que Deus prometeu dar uma solução final que resolveria para sempre o problema. E quando esta solução viesse, haveria um reino eterno de um povo santo e cumpridor da lei que governaria toda a terra. Todas as nações subiriam para Jerusalém para aprender o segredo e nunca mais haveria apostasia. Baseado nisto mais um vez eu perguntaria, que solução era esta?

Os gentios também, apesar de não olharem as coisas do ponto de vista de Deus e da sua palavra, anseiam por uma sociedade perfeita onde reinam a paz, o amor, a justiça e a alegria. Hoje há muitos “ismos” por aí declarando que descobriram a solução: comunismo, capitalismo, socialismo etc. Porém, à medida que são praticados, logo prova-se seu fracasso. Por mais que o homem seja civilizado, educado, orientado e desenvolvido, a maldita raiz de egocentrismo estraga tudo e produz guerra, crime, corrupção e injustiça. Já imaginou como seria o mundo se o amor regesse tudo e todos os esforços gastos em segurança e armamentos fossem investidos no bem-estar de outros? Mas pelo que a história nos ensina, tanto a sagrada (de Deus com seu povo) quanto a secular (dos gentios — gregos, romanos, chineses, e até nós hoje) temos que admitir que esta sociedade de amor é uma utopia.

A Solução Apresentada Pelos Profetas

Qual será, então, do ponto de vista de Deus, a solução permanente e definitiva para esta situação? Para responder, vamos analisar alguns dos muitos exemplos do Velho Testamento que falam sobre isto.

Os versículos 12 a 14 de Isaías 32 descrevem a lamentação que será feita diante da terrível destruição que virá por causa do pecado de Israel: Os palácios serão destruídos e o campo fértil produzirá espinheiros. Já os versículos 15 a 18 mostram uma outra situação onde vemos o deserto se transformando em campo fértil e justiça, paz e sossego vindo sobre o povo de Deus. Onde podemos encontrar a chave para uma mudança tão drástica? Depois de falar de destruição, passa logo para uma restauração maravilhosa, mas onde está a causa desta transformação? Encontramos a resposta no início do versículo 15: “…até que se derrame sobre nós o espírito lá do alto…” A destruição e lamentação vão durar até que o espírito seja derramado sobre o povo. A chave para transformar destruição em restauração é o derramamento do espírito lá do alto.

Agora leia Isaías 43 do versículo 18 até o capítulo 44, versículo 5. Nesta passagem podemos ver as emoções de Deus. Como ele oscila entre ira por causa dos pecados do povo e esperança por causa do seu plano maravilhoso! Nos versículos 18 a 21 ele fala que não podemos nos basear nas coisas passadas para predizer o futuro porque ele está para fazer algo nunca antes visto. Realmente, para concretizar seu plano de ter um povo para si mesmo e para seu louvor (v.21), algo novo precisa acontecer. Toda nossa esperança deve ser colocada nesta solução de Deus, na coisa nova que promete trazer à luz.

Nos versículos 23 a 28 Deus fala sobre a atitude rebelde e ingrata do povo, que peca contra ele desde o início. A menção e lembrança dessas coisas é o suficiente para Deus ficar desgostoso e declarar que foi por isto que entregou Israel ao opróbrio (v.28). Entretanto, no início do capítulo 44 ele muda totalmente de tom e começa a consolar e dar esperanças ao povo. Qual o motivo desta brusca mudança de tom? O povo se arrependeu?

Voltou atrás e praticou obras de justiça? Não! Ele muda o tom de juízo para promessas maravilhosas porque tem convicção absoluta do sucesso de sua solução! “Não temas, ó Jacó,… porque derramarei água sobre o sedento e correntes sobre a terra seca, derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade…” (44.2,3). O que muda a situação é o derramamento do Espírito de Deus sobre nós. Deus está absolutamente seguro que isto vai criar o povo que sempre ansiou ter na terra. A promessa do derramamento do Espírito faz com que Deus passe a falar mansa e bondosamente com Israel ao invés de prometer juízo e vingança. Pelo Espírito ele os tornará agradáveis a si mesmo e Israel vai dizer: “Eu sou do Senhor”.

Ezequiel 36.24-28 é outra passagem onde Deus promete restaurar a sorte do seu povo. Mas se ele prometesse apenas tirá-los das nações e levá-los de volta à sua terra não haveria muito motivo de alegria. As experiências passadas provam que novamente pecariam e seriam levados para o cativeiro. Por isto, além de prometer a restauração do cativeiro, Deus explica claramente o que fará para que nunca mais retornem ao cativeiro: “Ainda porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos e guardeis as minhas ordenanças, e as observeis” (v.27). Pelo Espírito derramado teriam força para fazer algo que nunca conseguiram fazer: guardar a lei de Deus. E isto tornaria possível a permanente morada de Deus no meio deles (v.28).

Joel 2.28,29 é uma passagem muito conhecida por nós, mas deve ter sido muito forte para os judeus que a leram antes da vinda de Jesus. Eles não tinham este tipo de menosprezo pelo Espírito Santo que nós temos por estarmos tão familiarizados com o mover superficial que vemos ao nosso redor hoje. Para eles até o nome de Jeová era tão santo que não podia ser pronunciado de qualquer maneira ou por qualquer pessoa. Eles sabiam o que acontecia quando o Espírito descia sobre os seus juizes e profetas. Era algo tão tremendo que produzia palavras e acontecimentos que até hoje nos comovem só de ler a respeito deles. E agora Joel está dizendo que na restauração do cativeiro Deus vai derramar este Espírito, não mais sobre alguns privilegiados profetas, mas sobre toda a carne: servos e servas, velhos e jovens, filhos e filhas. Isto deve ter sido quase inacreditável para os judeus e no entanto está claramente expresso aqui. Para os judeus sinceros, apesar de sua história de derrota e vergonha, havia uma tremenda esperança. Tudo isto seria esquecido e apagado pelo derramamento em massa do Espírito prometido por Deus. Pense bem. Se só o fato do Espírito ter sido derramado sobre alguns homens durante os séculos tornou os judeus um povo privilegiado e separado dos outros povos, o que não aconteceria no mundo se todo o povo estivesse cheio deste mesmo Espírito?

A Proclamação de João Batista

Há muitas outras passagens no Velho Testamento que confirmam esta verdade, mas vamos partir agora para o Novo Testamento. No início de cada um dos quatro evangelhos não conseguimos encontrar Jesus sem primeiro nos deparar com um homem rude e singular — João Batista. Até mesmo no evangelho de João que começa nas alturas celestiais falando sobre o Pai, o princípio e o Verbo, este homem aparece logo no versículo 6. E qual o significado deste homem? Aproximadamente 400 anos depois que o último profeta do Velho Testamento se calou (Ml 4.4-6) João aparece para retomar o fio da meada no ponto exato. Malaquias profetizou a vinda de Elias para preparar o caminho para a vinda de Jesus e João veio para cumprir este ministério.

Assim como qualquer autoridade ou personalidade ao comparecer numa cerimônia importante vem precedida por outros mensageiros ou autoridades de menor escalão, também a vinda de Jesus, o Filho de Deus, foi precedida por muitos profetas culminando com o maior de todos — João Batista (Lc 7.28). Ora, se João foi o maior profeta e se o ministério principal dos profetas era anunciar a vinda de Jesus, certamente o que ele tinha para falar era fundamental para se compreender o ministério de Jesus. Imagine-se no lugar de João, incumbido de dar a última palavra sobre Jesus. Como você o descreveria? Como aquele que morreria pelos pecados do mundo ou como aquele que curaria enfermos e ressuscitaria mortos, ou ainda como o filho de Deus encarnado?

Veja como João o anunciou, conforme o registro dos quatro evangelhos: Mateus 3.11; Marcos 1.7,8; Lucas 3.15,16; João 1.31-33. Entre todos os mais ricos e variados aspectos do ministério de Jesus, João destacou aquele que do ponto de vista de Deus e dos profetas antigos era o mais importante—Jesus como o batizador no Espírito Santo. Todo o resto do ministério terreno de Jesus tinha esta finalidade — tornar possível o derramamento do Espírito de Deus sobre o homem e assim cumprir todas as profecias do Velho Testamento. Deus jamais poderia enviar seu Espírito sobre os homens se Jesus não tivesse se encarnado, morrido pelos nossos pecados, ressuscitado para nossa justificação e subido aos céus para de lá junto com o Pai derramar esta promessa aguardada há tanto tempo. Mas o fato é que nossos olhos têm se desviado para os aspectos de perdão dos pecados e salvação do inferno em detrimento da atenção devida ao propósito final de tudo isto: tornar possível que o Espírito Santo, o Espírito de Deus, habitasse em nós, dando-nos sua natureza, seu amor, e fazendo-nos manifestar suas obras como povo neste mundo.

No Velho Testamento Deus não torna muito claro como ele faria este milagre de derramar seu Espírito sobre toda a carne. Ele simplesmente declarou que o faria e os judeus fiéis tinham de crer nisto e deixar os detalhes para ele. Porém, com a vinda de João Batista o plano começou a se delinear, pois João veio batizando em água na base de arrependimento e anunciando a vinda daquele que batizaria no Espírito Santo. Todos que aceitaram a mensagem de João Batista receberam Jesus com facilidade, mas os que rejeitaram João não conseguiram aceitar a mensagem de Jesus (Lc 7.29,30). O nome Messias ou Cristo significa Ungido e isto mostra que o fato dele ser ungido com o Espírito de forma especial era mais importante do que sua função de reinar ou vencer inimigos terrenos, como os judeus esperavam dele naquele tempo. De fato, a unção era para reis e Jesus é Rei, mas eles não entendiam que seu reino só viria através do derramamento do seu Espírito sobre um povo e através da sua união com este povo.

Então, o ministério principal de Jesus é batizar no Espírito Santo e por isto João Batista enfatizou este aspecto de seu ministério ao anunciar sua vinda. Mas note algo importante. Apesar do seu ministério principal ser batizar no Espírito Santo, Jesus não batizou ninguém no Espírito enquanto estava na terra. Para isto acontecer ele teria que morrer e ser glorificado (Jo 7.37-39). Jesus não veio para ser contemplado como um ser extraordinário que fez coisas que ninguém mais poderia fazer, nem tampouco como um exemplo para que tentássemos imitá-lo. Ele veio para tornar possível o derramamento do mesmo Espírito que estava sobre ele para que pudéssemos fazer as mesmas obras que ele fez e viver o mesmo amor que ele viveu (Jo 14.12-14; 17.22,26). Os discípulos ficaram tristes quando disse que partiria mas era necessário que ele fosse para enviar o Consolador (Jo 16.7).

Em Atos 1.1-8, temos as últimas instruções de Jesus para seus discípulos. Note como ele voltou a enfatizar a importância do Espírito ser derramado. No versículo 4 ele se refere à “promessa do Pai” e no versículo 5 diz que esta promessa é o batismo no Espírito Santo. A promessa do Pai é a solução definitiva de Deus anunciada por séculos pelos profetas diante do fracasso do homem em cumprir a lei. Nos versículos 6 e 7 os discípulos mostram desinteresse por este assunto e perguntam sobre a vinda do reino. E mais uma vez Jesus focaliza sua atenção neste ponto central: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo…” (v.8). A época exata quando viria o reino era assunto exclusivo do Pai, mas o derramamento do Espírito era o fato mais revolucionário que estava prestes a acontecer.

Diante de tudo isto podemos enxergar o dia de Pentecoste com uma perspectiva bem mais completa e obter uma compreensão mais profunda do seu significado. O derramamento do Espírito em Atos 2 era o cumprimento do Velho Testamento e dos evangelhos—o alvo ou consumação do ministério dos profetas e do próprio Filho de Deus. No dia de Pentecoste a promessa do Pai foi cumprida pela primeira vez, provando que a obra de Jesus fora completa e eficaz. A pregação de Pedro demonstra isto, pois começa citando uma passagem do profeta Joel (At 2.16-21) e termina mostrando o derramamento do Espírito como prova de que Jesus ressuscitou e foi feito por Deus Senhor e Cristo (At 2.32-36).

Onde Estão os Resultados dos Derramamentos do Espírito?

Chegamos agora à pergunta central deste artigo. Se o derramamento do Espírito é a solução de Deus para o levantamento de um povo perfeito em amor, por que os derramamentos do Espírito Santo não produziram isto até hoje? Ao invés de levantar uma igreja cheia de amor, vivendo em união e cumprindo a lei pela graça, vemos cada vez mais divisões, culto às personalidades e egocentrismo. O que está errado? Será que a solução de Deus também não funciona? Estaria a Nova Aliança falhando da mesma forma que a Velha?

Se analisarmos a história da igreja e a situação mundial atual seremos tentados a dar uma resposta afirmativa às perguntas acima. De fato, muitos hoje quando vêem a igreja pregando uma coisa e vivendo outra não conseguem crer em Jesus. E o próprio Jesus em João 17.21 declara que é a nossa perfeita união em amor com ele e uns com os outros que vai provar ao mundo que ele veio do Pai, ou seja, que a solução de Deus funciona. Se algum salmista ou profeta moderno fosse fazer um resumo da história da igreja, o resultado seria bem semelhante àqueles capítulos do Velho Testamento que resumem a triste história de Israel. Relatórios de avivamentos maravilhosos seriam registrados mas logo depois apareceria o tom menor da apostasia—o domínio do homem sobre aquilo que Deus derramou e o abandono do amor, fervor e santidade encontrados no avivamento.

Estas considerações legam à nossa geração um grande desafio: Somos chamados para ser a demonstração da verdade da palavra de Deus. Nossas vidas vão provar que a solução de Deus funciona. Para isto precisamos em primeiro lugar resolver este aparente paradoxo: Em toda a Bíblia o derramamento do Espírito é apresentado como a chave, a solução final, e no entanto em nosso século os derramamentos do Espírito não estão produzindo este resultado. De fato, do ponto de vista teórico, se o Espírito do Deus santo, todo-poderoso, cheio de amor e misericórdia, habita em nós, certamente não deveríamos ter problema algum em ultrapassar as exigências da lei e formar uma sociedade perfeita, cheia de harmonia e
amor. Por que isto não acontece na prática quando recebemos o batismo no Espírito?

Para responder todas estas inquietações e indagações voltemos ao relato de Atos 2 quando o Espírito foi derramado pela primeira vez.

Observe o alvo da exortação de Pedro no versículo 38. “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado… e recebereis o dom do Espírito Santo. Porque a promessa vos pertence a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe…” O alvo de arrependimento e batismo nas águas não é ser salvo do inferno ou tornar-se membro de alguma igreja — é receber a promessa do Pai, o dom do Espírito Santo. Nos versículos seguintes vemos o que aconteceu com os que aceitaram esta palavra. Perderam todo interesse em seus próprios bens materiais e passaram a ter tudo em comum (vv.44,45). Qual foi a chave que transformou os assassinos de Jesus (v.36) em uma comunidade de amor? O dom do Espírito Santo.

Por que Deus nunca conseguiu uma morada permanente no meio do seu povo no Velho Testamento? Porque não tinham forças para cumprir a lei. O que é o resumo da lei? Amor (Mt 22.36-40; Rm 13.8-10). Qual foi a solução de Deus para este fracasso? Derramar o seu Espírito, o Espírito de amor, sobre toda a carne (Rm 5.5). Quando o Espírito foi derramado, o amor de Deus foi derramado nos corações dos homens que voluntariamente se despojaram de todo excesso material para o bem-estar de outros.

O Espírito Batiza no Corpo!

Mas há um outro fator sem o qual este processo não chegaria ao resultado certo. Sublinhe todas as referências à igreja nos versículos 40 a 47 e ficará impressionado. Note: “Salvai-vos desta geração perversa” (v.40). Não diz: “Salvai-vos do inferno” mas “Salvai-vos do mundo!” E como sair do mundo? Juntando-se com os “chamados para fora do mundo”, a “eclésia” ou igreja. “Agregaram-se” (v.41).

Mas onde se agregaram? Na igreja. De fato formaram a igreja. Não foram batizados para em seguida andarem pelo mundo como indivíduos avulsos. Após o batismo foram “agregados” num corpo, numa comunidade. “Perseveraram” (v.42). Em quê? Em quatro atividades comuns: doutrina dos apóstolos, comunhão, partir do pão e orações. “Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum” (v.43). Crer não era um assunto individual ou particular. Se você cria, ajuntava-se com outros que criam e ainda tudo que tinha ou possuía passava a pertencer aos outros. “Perseveran- do unânimes todos os dias no templo” (v.46). “E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos” (v.47). O fato de serem acrescentados implica num corpo, numa comunidade ao qual eram acrescentados.

Podemos concluir, então, que o efeito mais imediato e revolucionário causado pelo Espírito logo após ser derramado foi o surgimento da igreja. E a igreja nada mais é do que o corpo visível e material que manifesta a vontade, natureza e obras do Espírito invisível. Este corpo foi formado espontaneamente por causa do amor que foi derramado pelo Espírito nos corações daqueles que antes assassinaram Jesus.

É interessante notar que em Atos 1.8 Jesus não falou nada sobre a igreja mas ressaltou que o batismo no Espírito faria com que os discípulos fossem suas testemunhas até os confins da terra. Mas o primeiro resultado do derramamento do Espírito no Pentecoste não foi espalhar os discípulos para pregar a palavra — foi a formação do corpo. Portanto, podemos concluir que o meio do Espírito nos transformar em testemunhas de Jesus é a igreja. Somente através da prática e expressão do “outrocen- trismo” (o amor divino derramado em nossos corações pelo Espírito) no contexto de igreja, é que podemos ser testemunhas autênticas. Mais tarde com a perseguição, os cristãos de Jerusalém foram espalhados por toda parte e onde quer que pregassem, surgia a igreja. Ao ouvirem a pregação do evangelho e serem batizadas nas águas as pessoas recebiam o Espírito. Ao receberem o Espírito não restava outra coisa a fazer: espontaneamente formavam o corpo, uma manifestação viva de Jesus naquela localidade. De acordo com as próprias palavras de Jesus: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13.35).

Portanto, se o derramamento do Espírito não produz o amor de Deus em nós e se este amor não é expressado na igreja, algo está fundamentalmente errado. O mundo espiritual é um mistério para nós mas sabemos que há muitos outros espíritos. Só podemos ter certeza que é o Espírito Santo que está operando e não um outro espírito através de conferirmos os resultados de sua operação com este testemunho em Atos. Não é suficiente termos poderosos aviva- mentos do Espírito. Temos também que dar liberdade para o Espírito mudar nossas estruturas de igreja e nossas vidas materiais em todo sentido para que ele possa se expressar ao mundo.

Caso isto não aconteça, qualquer mover que começa genuinamente do Espírito pode rapidamente degenerar num movimento controlado pelo homem e influenciado por outros espíritos. Somente o corpo vivo de Cristo, a comunidade de amor descrita em Atos 2, pode autenticar a operação do Espírito e provar que é realmente ele que está agindo. A solução de Deus funciona. Começou a funcionar em Atos, e de acordo com os escritos de Paulo em Efésios e outras epístolas temos certeza que é plano de Deus que esta solução funcione hoje em escala mundial e numa permanência nunca vista até hoje. De fato, Deus vai fazer uma coisa nova!

João Batista veio para batizar na água. Jesus veio para batizar no Espírito. O Espírito veio para batizar no corpo (1 Co 12.12,13; Ef 4.4). Há um só Espírito e um só corpo. É somente através do meu corpo que você pode conhecer meu espírito. É somente através do corpo de Cristo que podemos conhecer o Espírito Santo. O Espírito Santo só pode ser a solução de Deus para o mundo se lhe for permitido formar um corpo para se manifestar ao mundo.

Em Atos 3.19-21, Pedro está imbuído de um forte espírito profético e dá uma das mais claras descrições da Bíblia sobre a história da igreja incluindo a própria segunda vinda de Cristo. Ele fala sobre avivamen- tos, “tempos de refrigério”, que aconteceriam durante toda a caminhada e sobre reforma, “tempos de restauração”, que viriam logo antes da volta de Jesus. Estamos vivendo hoje numa época histórica e decisiva: olhando para trás podemos ver o cumprimento desta profecia de Pedro sobre os tempos de refrigério e olhando para frente podemos perceber os indícios dos tempos de restauração que prepararão a cena para a volta de Jesus. Jesus não pode voltar sem que antes a sua obra na primeira vinda encontre seu pleno cumprimento, ou seja, sem que a solução de Deus seja manifestada ao mundo, às potestades e ao próprio Sa- tanás. Deus vai manifestar pela igreja sua multiforme sabedoria aos principados e potestades (Ef 3.9-11) e é através da união de Jesus com sua noiva gloriosa que todas as coisas serão sujeitas aos seus pés, ou seja, o reino de Deus virá (Ef 1.22,23).

Como poderíamos, então, resumir a solução de Deus para a formação deste povo aperfeiçoado em amor? A solução é a igreja, o corpo de Cristo, a casa de Deus, que é a habitação ou templo do Espírito Santo. Note bem. Se pararmos o processo de Deus em qualquer ponto, a solução de Deus não funcionará. Quem lia os profetas mas não aceitava o batismo de João estava perdido porque João era o cumprimento das profecias sobre Elias. Quem aceitava o batismo de João mas rejeitava Jesus estava perdido porque o alvo principal do ministério e mensagem de João era apontar para Jesus, aquele que batizaria no Espírito Santo e em fogo.

Quem concordasse que Jesus era Filho de Deus e o Messias mas não recebesse o Espírito Santo, teria perdido tudo (sem o Espírito, Pedro negou Jesus três vezes). E agora chegamos ao âmago do assunto: Quem recebe o batismo no Espírito mas não permite que o Espírito o batize no corpo perde todo o plano de Deus e em muitos aspectos está na mesma situação dos que viviam debaixo da Velha Aliança. Continuará egoísta, transgressor da lei, e não manifestará o amor de Deus ao mundo, nem se preparará para a vinda de Jesus.

O Espírito Santo não vem para nos transformar em robôs que automaticamente cumpram as regras da lei de Deus. Os demônios é que tomam posse das pessoas e as manipulam. O Espírito Santo vem para nos constranger pelo amor, para nos atrair com sua atração irresistível para sermos cooperadores com ele no plano de remir toda a criação para Deus através de um constante doar de si mesmo (2 Co 5.14-21). Somos chamados para ser governados pela “lei do Espírito da vida em Cristo Jesus” (Rm 8.2), pela “lei da liberdade” (Tg 1.25; 2 Co 3.17).

Portanto, o derramamento do Espírito Santo não produz o corpo automaticamente como podemos constatar com tristeza se conferirmos os resultados do movimento pentecostal e do movimento carismático. É possível receber o Espírito e não ser batizado por ele no corpo. Por outro lado, assim como seria impossível receber o Espírito sem crer em Jesus, porque ele é o bati- zador no Espírito, também é impossível ser batizado no corpo sem o Espírito, porque ele é o batizador no corpo. Ou seja, seria impossível o corpo de Cristo ser formado nestes dias sem os poderosos avivamen- tos que o Senhor já enviou neste século e que ainda enviará — mas estes avivamen- tos em si não são suficientes para que isto aconteça. Assim como o trem precisa de trilhos onde possa se locomover, o Espírito Santo em nós precisa de reforma, um caminho bem delineado pela palavra restaurada, para que ele possa nos moldar e integrar num corpo bem consolidado e ajustado. Ele não quer vir para ficar preso dentro de nosso ser e sem liberdade para ditar as regras do jogo por causa das imposições das estruturas externas, (tradições, denominações, liturgias, sistema capitalista, materialista) e do domínio de nossa própria alma com seus enganos e egocentrismo.

No dia de Pentecoste, bastou o derramamento do Espírito para que a solução de Deus funcionasse. Por que? Porque havia apóstolos que conviveram com Jesus, a própria palavra encarnada (I Jo 1.1-3), e que fundamentavam a igreja na sua doutrina (At 2.42). Nestes últimos dias também, devemos estar atentos para a restauração desta doutrina dos apóstolos (reforma) que estabelecerá os trilhos certos para o Espírito Santo nos livrar de todas as estruturas externas e internas que nos aprisionam e nos integrar num corpo vivo e funcional onde os dons interajam para liberar os frutos de uma vida “outrocêntrica”, livre do materia- lismo e pronto para manifestar o amor de Deus ao mundo através das obras que ele preparou antes da fundação do mundo para que andássemos nelas (Ef 2.10).

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