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A Origem dos Preconceitos

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Por: Ezequiel Netto

Não existe uma só pessoa no mundo que deseje viver com preconceitos. Apesar de não os buscar, não conseguimos nos livrar deles. Os preconceitos representam uma categoria de pensamentos com expressão marcante em nossa vida diária, que praticamos habitualmente, mesmo sem ter consciência disto. Por mais que fujamos deles, estão mais ligados a nós do que a nossa própria sombra.

Pelo fato de nossa vida cotidiana necessitar de respostas imediatas e práticas, de estar firmada em motivações para o momento, e de não dispor de muito tempo para raciocínios, temos por hábito rotular tudo e todos, associando-os com uma marca (estigma) de fácil identificação. Desta forma, o nosso dia-a-dia torna-se um terreno fértil para a produção de todo tipo de julgamentos pré-formados, ou seja, de uma vida de preconceitos.

Existem dois fatores marcantes no comportamento humano que também favorecem o surgimento dos preconceitos. O primeiro chama-se conformismo, onde a pessoa poupa tempo e não aproveita o seu pensamento individual, adotando a norma do “mínimo esforço possível”, que a leva a acatar sem questionamento, ponderação ou conhecimento dos fatos, as idéias que lhe são oferecidas.

Assim, rotula-se uma pessoa de fria, imatura, infiel, grosseira ou também de adjetivos positivos, sem mesmo conhecê-la, baseando-se apenas no que alguém lhe contou. No meio cristão este hábito é muito comum, gerando comentários (principalmente negativos) sobre igrejas, servos de Deus, ou modelos práticos, com base muitas vezes em boatos, que vieram de fontes talvez desconhecidas, mas que são divulgados assim mesmo.

O segundo é a generalização, onde a partir de uma experiência individual e isolada, chegamos a opiniões preconcebidas, nas quais achamos que o mesmo fato se repetirá todas as vezes que acontecer algo semelhante. Em minha profissão, como médico veterinário, observo muito isto. Por exemplo, alguém tem um animal de determinada raça que adoece com facilidade e talvez até morra de um defeito cardíaco.

A partir daí, a pessoa acha que todos os animais daquela raça não são bons, pois morrem de doença cardíaca. Ou então, o caso de um homem que vai a um barbeiro, que é descendente de espanhóis, e que não faz um bom trabalho em seu cabelo. A partir deste fato, ele acha que todos os descendentes de espanhóis são péssimos barbeiros.

Este comportamento se estende além da vida cotidiana, alcançando as decisões morais, religiosas, profissionais e políticas, absorvendo o indivíduo completamente. Tanto o conformismo quanto a generalização produzem regras de comportamento, que podem ser modificadas se aplicarmos a experiência, o pensamento, a análise e a ponderação dos fatos, mas quase nunca estamos dispostos a aplicar este método para a elaboração de nossas convicções pessoais. A não correção deste pensamento conformista e generalizador gera o preconceito, expresso por uma visão, opinião ou certeza distorcida sobre um fato.

O preconceito é o conceito ou opinião formado antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos; idéia preconcebida; julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que os conteste (dicionário Aurélio); pode ser refutado pela ciência e por uma experiência cuidadosamente analisada, mas se conserva inabalável contra todos os argumentos da razão.

Os preconceitos estão intimamente ligados à fé (ou a superstições), sejam estas particulares ou coletivas, e por isto a grande maioria dos preconceitos é religiosa. Quando o preconceito está baseado naquilo em que o homem acredita, sua fé tem o poder de fortalecê-lo em extremo, tornando-o inabalável e resistente à razão, ao pensamento, à experiência ou à comprovação científica dos fatos. Quantas fábulas e histórias existem na igreja que, mesmo sendo fantasiosas, continuam vivas por várias gerações. Passamos a crer em nossas próprias mentiras. Crer em preconceitos é cômodo.

Quando o preconceito é baseado na confiança, no saber ou no pensamento, tende a desaparecer rapidamente, pois com o conhecimento equilibrado dos fatos, concluímos que estávamos baseados em posições extremadas e na consideração de apenas uma parte da verdade. Porém, geralmente não é fácil para a própria pessoa determinar se um juízo ou um comportamento está ligado à fé, ou à confiança.

O preconceituoso dificilmente é capaz de corrigir o seu ponto de vista pré-estabelecido ou investigar acerca da profundidade da integração destes indivíduos com os rótulos que receberam.

Uma reserva emocional importante na questão de preconceito, que sempre aparece no caso da fé, é o par de sentimentos amor-ódio. O nosso ódio é dirigido àquilo ou àqueles que acreditamos fazerem parte do lado mal, e que por isso são nocivos, e também aos que não crêem da mesma forma que nós (intolerância). Este sentimento divide os preconceitos em positivos e negativos.

No que se aplica a nós, positivos (auto-justificação) e “aos demais”, negativos. Os preconceitos negativos se expressam na forma de ressentimentos, de raciocínios e de comportamentos (discriminação, tortura física, extermínio). Acreditamos que este “mal” precisa ser destruído e, como hoje não se queimam mais as bruxas nas fogueiras da inquisição, nos afastamos delas. Muitas divisões e quebras de relacionamentos têm este sentimento como base.

A pessoa predisposta ao preconceito estabelece rótulos para tudo e todos, enquadrando-os em grupos definidos. O preconceituoso dificilmente é capaz de corrigir o seu ponto de vista pré-estabelecido ou investigar acerca da profundidade da integração destes indivíduos com os rótulos que receberam. Uma vez estabelecido um preconceito contra um indivíduo ou classe, o preconceituoso passa a não mais observar as qualidades do objeto rotulado.

Todo homem, em maior ou menor intensidade, tem preconceitos. Devemos, contudo, avaliar a que se destinam estes preconceitos, qual a sua intensidade, se são mais ou menos perigosos, para que possam ser, de forma correta, questionados e levados ao desaparecimento.

A libertação dos preconceitos não é fácil. Devemos conhecer as alternativas, ter controle das particularidades individuais, não escolher o fácil por mero conformismo, colocar em questão os nossos juízos. Devemos lembrar, por outro lado, que quem permite o desmantelamento dos preconceitos pode ter a sensação que está perdendo junto com eles as suas convicções.

Se na medida em que o conhecimento e a experiência forem contradizendo nossas idéias e as negarmos, se confiarmos em ideais e convicções como indivíduos, se formos capazes de julgar o individual, se assumirmos os riscos de reconhecermos o erro, seremos capazes de nos libertar dos preconceitos e reconquistar a liberdade de escolha.

Glórias sejam dadas ao nosso Senhor Jesus Cristo pela maravilhosa graça do arrependimento e do perdão, que nos trazem de volta ao caminho.

Ezequiel Netto é médico veterinário, reside em Valinhos – SP e é um dos responsáveis pelo site www.revistaimpacto.com.

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Citações de Alexander Soljenitsin

“Para fazer o mal, o ser humano precisa, antes de tudo, crer que o que está fazendo é bom, ou que é um ato bem pensado em conformidade com a lei natural. Felizmente está na natureza do ser humano procurar uma justificativa para suas ações… Ideologia – é isto que dá à prática do mal a justificativa que tanto procura e ao malfeitor a necessária firmeza e determinação. Ideologia é a teoria social que faz com que as ações do malfeitor pareçam boas ao invés de más aos seus próprios olhos e aos olhos de outros, para que ele não ouça reprimendas e maldições e sim louvores e honras. Foi desta forma que os agentes da Inquisição fortificaram suas vontades – invocando o Cristianismo; os conquistadores de terras estrangeiras – exaltando a grandeza de suas pátrias; os colonizadores – a civilização; os nazistas – a raça…”

Parafraseando: Antes de praticar o mal contra um semelhante o ser humano precisa primeiro colocar um rótulo sobre ele. Ele não consegue maltratar, torturar ou exterminar um semelhante sem primeiro fazer uma distinção, do contrário, não conseguiria se olhar no espelho. Mas uma vez que chame alguém de homossexual, negro, judeu, cigano, muçulmano, bruxa, feiticeiro, indígena, comunista, subversivo, católico, espírita, pagão ou qualquer outro rótulo, imediatamente se sente totalmente livre para praticar qualquer atrocidade sem o menor constrangimento. Ele já não está perseguindo, torturando ou matando um semelhante, mas está livrando a terra de uma praga nociva!

“Ah! Se fosse tão simples assim! Se realmente existissem pessoas más em algum lugar praticando obras más e a solução fosse apenas separá-las do resto de nós e destruí-las. Mas a linha divisória entre o bem e o mal atravessa o coração de cada ser humano. E quem está disposto a destruir um pedaço do seu próprio coração?”

Nascido em 1918, é o maior autor russo da atualidade. Escreveu várias obras a respeito da repressão e desumanidade do regime stalinista, que conheceu por experiência própria durante onze anos, entre 1945 e 1956. Uma das suas obras principais é o “Arquipélago Gulag”. Depois de viver no Ocidente como exilado, desde 1974, voltou para sua pátria em 1994, onde reside até hoje. 

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Uma resposta

  1. Texto muito bem escrito, focado, e, muito didático.
    Muito instrutivo. Exatamente como imagino o assunto, porém não consigo concatenar as palavras tão bem.

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