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A Liderança que Procuramos

John Noble

A importância de um novo tipo de liderança que funcione na igreja à antiga maneira de Jesus

As pessoas costumam falar e ensinar muitas coisas sobre o livro de Apocalipse. Mas, se o examinarmos com mais atenção, perceberemos que, apesar das muitas figuras e profecias, o livro possui um assunto central.

No começo, Jesus diz: “Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono” (Ap 3.21). No capítulo 4, João vê a cena de adoração ao redor do trono de Deus. No capítulo 12, é descrita a figura de uma criança que foi gerada e levada ao trono.

Em todo o livro, a palavra “trono” aparece mais de 30 vezes. Apocalipse começa com um trono e termina com as águas que fluem do trono de Deus para a cidade, a Nova Jerusalém. Eu creio que este seja o destino da Igreja: o trono de Deus. O trono é uma figura que representa autoridade, e esse tem sido um dos aspectos mais difíceis de se tratar no meio do povo de Deus até hoje.

Há séculos, no mundo, a autoridade tem-se expressado por diversas atitudes masculinas dominadoras. Olhando para a História da humanidade, vemos que a autoridade sempre foi imposta e expressa por meio de bandeiras, uniformes, juízes, policiais, regras e coisas semelhantes. Na Igreja, não tem sido muito diferente. Vemos líderes eclesiásticos usando uniformes, roupas especiais e, muitas vezes, até chapéus para demonstrar autoridade. Essas coisas, na verdade, pertencem mais à dispensação da lei, e muitos cristãos hoje estão descobrindo que não funcionam mais. Quando o Espírito veio, a lei tornou-se obsoleta. Há dois mil anos, entramos na era da graça, mas parece que ainda não a entendemos muito bem.

Minha esposa e eu criamos uma família de cinco filhos. Certo dia, as crianças estavam assistindo a um programa na televisão, e a música me fez lembrar o meu passado ruim. Então, senti-me condenado pela lei, desliguei a televisão e gritei com eles! Eu estava tentando influenciá-los usando um tipo errado de autoridade. Mas não demorou muito para que o Espírito Santo falasse comigo, e logo entendi que precisava me desculpar.

Voltei para lá, pedi perdão e falei: “Crianças, o Senhor acabou de me dizer que eu errei. Esta música é muito boa, os cantores são muito talentosos. Porém, a letra não é boa, e vocês precisam aprender a discernir entre aquilo que é bom e aquilo que não é tão bom”. Agora eu estava agindo no Espírito. Não estava mais tentando controlá-los, mas ensiná-los pelo Espírito. E é assim que deve ser na igreja.

LIDERANDO PELO ESPÍRITO

A nossa autoridade não deve ser como a autoridade do mundo; deve vir do Espírito Santo. Em meu livro The Shaking (“O Abalo”, sem tradução no Brasil), eu falo que há um grande abalo por vir sobre o mundo; quando vier, as antigas estruturas da Igreja não suportarão. Por isso, precisamos, mais do que nunca, encontrar as novas estruturas do Espírito Santo. A lei do Espírito é vida. O tipo de liderança de que precisamos na Igreja é uma que esteja submissa ao Espírito Santo.

Observando o ministério de Jesus, o que ele fez com seus discípulos? Chamou-os para si mesmo e andou com eles. É como se Jesus dissesse “me observem”. Então, os discípulos viram os milagres e ouviram os ensinamentos. Depois, Jesus os levou para outro nível e convidou-os a ministrar ao lado dele, até o ponto de liberá-los para agirem sozinhos.

Em Atos, a igreja primitiva, embora pequena, foi um modelo que nos ensina até hoje o que devemos saber sobre como a igreja deve ser. Era uma comunidade cheia do Espírito, encontrava-se nas casas, partia constantemente o pão, amava a doutrina dos apóstolos, tinha todas as coisas em comum e compartilhava seus bens. Alguns teólogos tentam nos dizer que aquele tipo de igreja não pode existir hoje, alegando que as denominações atuais representam uma evolução em relação a Atos e que é assim que vai ser até Jesus voltar. Eu não acredito nisso. Se o Espírito Santo pôde dar à luz aquela igreja dinâmica há dois mil anos, então ele pode fazer algo semelhante outra vez. Por isso, há até hoje um clamor em meu coração que diz: “Faça de novo, Senhor!”.

Embora a igreja primitiva tenha sido dinâmica e viva, ela não estava isenta de liderança. Porém, não era o tipo de liderança que há no mundo. Não tinha nada a ver com controle, com o tipo de autoridade mundana que dá ordens às pessoas sobre o que deve ser feito. A liderança ali funcionava encorajando, dando visão e, principalmente, liberando as pessoas.

REPARTINDO A UNÇÃO

Minha esposa, Christine, já pregou para mais de cinco mil pessoas em um evento, e centenas de pessoas aplaudiram, foram à frente, receberam oração e foram curadas. Mas eu acredito que o maior investimento que ela fez foi estar com poucas pessoas que realmente pegaram a visão. Então, se tenho um ministério apostólico, profético, evangelístico, pastoral ou de ensino, o que eu devo fazer? Preciso encontrar pessoas às quais eu possa passar essa unção. Porque se a retiver, só poderei influenciar um número limitado de pessoas que está ao meu redor. Mas se repassar essa unção, poderei influenciar o mundo.

O objetivo de todo ministro deve ser colocar a unção sobre toda a Igreja. O Salmo 133.1,2 diz: Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos! É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Arão, e desce para a gola de suas vestes”. Nessa passagem, o óleo da unção é um símbolo do Espírito Santo. Jesus é a cabeça sobre a qual esse óleo é derramado e passa a escorrer para todo o corpo. O óleo que vai descendo representa os ministérios que cuidam do Corpo de Cristo. Então, podemos concluir que a unção que estava em Jesus durante seu ministério na Terra (como apóstolo, profeta, evangelista, pastor e mestre) flui por todo o seu Corpo – a Igreja.

Meu anseio é ver a unção profética fluir por toda a Igreja a ponto de todo o Corpo tornar-se profético – onde quer que o Corpo de Cristo esteja, em qualquer canto do mundo, que tenha a função de um evangelista, um pastor, um mestre. Porque o objetivo dos ministérios é levar a Igreja à maturidade.

A RESTAURAÇÃO DOS MINISTÉRIOS NA HISTÓRIA

Observando a História da Igreja, eu percebo algumas lições. Quando o Espírito Santo foi derramado, houve uma unção na igreja em Atos que produziu os ministérios e fez com que houvesse grande crescimento e manifestação de poder. Pouco tempo depois, porém, os ministérios do apóstolo e do profeta foram esquecidos. Logo depois, foi a vez de os ministérios de mestre e pastor também serem marginalizados.

Na Idade Escura, a Igreja chegou ao centro do poder e tornou-se uma ferramenta humana para manter as pessoas submissas. Aconteceram pequenos avivamentos aqui e ali, mas no fim até a Bíblia ficou inacessível por estar numa língua que o povo comum não podia entender. O diabo, sabendo que a Palavra era poderosa, decidiu escondê-la para que as pessoas não pudessem ser tocadas por ela.

Depois de muito tempo, alguns homens sentiram a necessidade de colocar as Escrituras numa linguagem acessível para pessoas de todas as nações e línguas. Os reformadores deram a vida pela tradução da Bíblia, e logo o ministério de ensino (de mestre) voltou à Igreja. Na Reforma, o púlpito foi restaurado, e as pessoas aprenderam novamente sobre a graça.

Com a Bíblia aberta para o povo, a Igreja também foi recebendo mais do ministério pastoral. Depois de mais um tempo, a Igreja entrou num grande despertamento espiritual que gerou o início de um período notável de evangelização. Especialmente na Europa, muitos missionários começaram a sair por toda parte do mundo para espalhar o Evangelho. Homens como John Wesley, George Whitefield, Jonathan Edwards, William Carey e David Brainerd fizeram parte da restauração do ministério de evangelista (ou missionário).

Deus estava restaurando a sua Igreja. E, em 1900, no início do século 20, houve um derramamento do Espírito Santo que trouxe de volta os dons carismáticos. Começamos a ver o ministério do profeta sendo restaurado. Finalmente, nos últimos anos, começamos a enxergar a necessidade do ministério apostólico.

A ESSÊNCIA DO MINISTÉRIO APOSTÓLICO

Muitas pessoas têm falado sobre apóstolos. Eu penso que, quando Deus está restaurando algo para a Igreja, Satanás sempre quer roubar ou desvirtuar essa obra; sua estratégia normalmente é manter as palavras de Deus, mas poluir a verdade. Quando começamos a falar e escrever sobre apóstolos, as pessoas diziam que não podíamos ter apóstolos hoje e nos chamaram de hereges. Mas hoje isso mudou. Eu cheguei a ver nos Estados Unidos um “kit apostólico” que ensinava como começar um ministério apostólico sozinho – estava à venda por 62 dólares numa livraria cristã. Hoje, o ministério do apóstolo é algo poluído pelo inimigo.

Há alguns anos, vimos o Movimento do Discipulado, no qual muitos líderes começaram a determinar com quem seu discípulo deveria casar-se, que casa poderia comprar, qual valor deveria doar. Discipulado não é controle, é olhar para os dons de uma pessoa e dizer: “Eu vejo o que você tem”, encorajá-la para o crescimento e liberá-la para cumprir o que Deus a chamou para fazer. Não devemos controlar ninguém, mas sim liberar.

Quando vemos na Bíblia a expressão “primeiramente apóstolos” (1 Co 12.28), isso não significa superioridade. Significa que eles devem começar o trabalho, supervisionando-o para ter certeza de que haverá a qualidade genuína de vida. Portanto, não é uma escada de hierarquia. Tem mais a ver com um círculo de dança, que começa com uma pessoa dando o pequeno puxão, e o resto acompanhando. O ministério apostólico dá um puxão, e a igreja se move nessa direção; depois, o ministério profético puxa mais um pouco.

Uma característica-chave do ministério apostólico é a reconciliação. Jesus era extremamente reconciliador. Ele podia pegar Pedro, João, Tiago e todos os outros discípulos, cada um completamente diferente do outro, e manter todos juntos. Como o primeiro apóstolo, seu principal trabalho foi a reconciliação (a Cruz). Deus enviou Jesus, Jesus enviou o Espírito Santo, e o Espírito Santo envia unção apostólica por toda a face da Terra – para unir e reconciliar.

Sem esse ministério de reconciliação, os ministérios, que também são diferentes uns dos outros, ficam fragmentados e envolvem-se apenas com sua própria tarefa. Realizam muita coisa, mas no fim das contas podem falhar no objetivo principal se não houver unidade. Precisamos de uma Igreja que seja unida e diversificada ao mesmo tempo. A palavra “universidade” é a junção de duas palavras: unidade e diversidade. Estamos na universidade de Deus: somos um em Cristo, porque ele nos uniu, mas cada um de nós tem cor diferente, um dom único e especial. Às vezes, até parece que esses dons estão em tensão entre si, mas em Cristo são unidos.

LIDERANDO PARA LIBERAR

Hoje, estamos até vendo grandes líderes atuando, mas o problema é que as igrejas estão servindo apenas a eles, para promover e dar crescimento aos seus ministérios. Ter um canal de televisão ou um jato particular para pregar o Evangelho não significa ter um grande ministério. Eu não tenho problema algum com o fato de um ministério usar televisão ou ter um jato. Porém, ser um grande líder é, em primeiro lugar, investir nos outros, assim como Jesus investiu nos discípulos. Ele andou com um pequeno grupo de pessoas e depois disse: “Agora vocês vão e façam como ensinei”. Liderar é chegar ao ponto de dar um passo para trás e ver os outros entrar em ação. Alguns líderes, infelizmente, não podem fazer isso porque querem sempre estar no controle.

Precisamos de um tipo de liderança que encoraje os outros. Jesus era o Filho de Deus, tinha toda a autoridade, mas ainda assim ousou dizer que seus discípulos fariam obras maiores do que ele. Precisamos de uma liderança que saiba liberar. Mais do que nunca, há necessidade de líderes que saibam quando devem recuar e abrir espaço; isso não significa que deixarão de existir ou ter funções, mas simplesmente que vão ficar muito felizes quando virem seus discípulos indo mais adiante e realizando as tarefas melhor do que eles.

Adaptado das palestras da conferência “A Vida Orgânica da Igreja”.

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