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A Igreja Gloriosa Está Limitada a 10%?

Luiz Montanini

 Certo irmão em Cristo esteve em certa casa certa vez e, em certo momento, o amigo que o hospedava percebeu que ele não estava tão certo do que dizia a respeito dos dízimos. Ele falava com desenvoltura contra aquela prática e utilizava argumentos bíblicos razoáveis. Parecia tudo muito certo. Mas algo não batia.

— Sim, é verdade que os 10% são da Lei. Mas, infelizmente, há muitos que se utilizam dessa premissa para esconder sua própria avareza — observou o amigo.

Aquela frase tocou o coração do visitante, porque ele próprio vivia de forma avarenta. Então, admitiu que, em seu dia a dia, procurava até ajudar alguns necessitados, mas sempre com valores que no final das contas eram bem menores do que os tradicionais 10% que antes entregava em certa congregação. Quando decidiu deixar aquela comunidade, teve a “revelação” de que o dízimo era obrigatoriedade do Velho Testamento e sentiu-se livre da Lei.

Mas aquela revelação também revelou seu coração. Ele passou a usar a liberdade da Lei do Antigo Testamento referente ao dízimo para dar vazão a uma atitude egoísta em relação aos próprios recursos. Isso demonstrou que não entendera ainda o caminho natural da graça, que é a obediência ao mandamento do “eu, porém, vos digo” de Jesus registrado em Mateus 5. Não compreendera que aquelas premissas do Novo Testamento eram ordenanças novas e mais complexas, capazes de levar os discípulos a ir além em tudo. E este tudo incluía o dízimo que, no caso, deixava de ser limitado a 10%, menos ou mais.

Não entendeu que Jesus não abolira o dízimo, antes o confirmara, sem lhe dar ênfase, dizendo que não deveria ser omitido porque pretendia ensinar algo além, como se vê em Mateus 23.23: Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da lei, a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas”.

A história do avarento do início do texto demonstra que quem interpreta a graça levianamente incorre em erro também gratuito. No texto de Mateus 5, fica evidente que, se já é difícil cumprir a Lei, por seu turno é impossível cumprir as implicações da graça sem a ajuda do Espírito Santo. Na graça, para ser perfeito e igreja gloriosa — veja o capítulo inteiro —, apenas se encolerizar contra o irmão, desprezando-o, amaldiçoando-o ou chamando-o de louco, é crime semelhante ao de assassinato, passível de prisão. Olhar de forma impura para alguém é pecado semelhante ao do adultério; não levar desaforo para casa é ação semelhante à vingança do olho por olho, dente por dente; não bendizer os maldizentes é atitude que merece a deserção do Pai.

No verso 20 do mesmo capítulo de Mateus, Jesus apresenta a característica principal do novo e revolucionário estilo de vida de um filho de Deus criado à sua imagem e semelhança: Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus”.

Essa é a questão e o alvo a ser perseguido: uma igreja gloriosa excede a justiça meramente religiosa, e isto sim impacta o sistema e o transforma. Mas, infelizmente, ainda vivemos limitados à Lei e às interpretações evangélicas antigas que tentam amoldar-nos à incredulidade e ao senso comum.

Temos a tendência de interpretar este Reino dos Céus como uma experiência para um futuro distante, para quando “formos para o Céu”. Esquecemo-nos, com isso, da mais conhecida e profética oração de Jesus, a do Pai Nosso, que nos leva a orar pela vinda do Reino de Deus à Terra, e não por nossa ida a um nirvana cristão, a fim de morar entre nuvens ou em mansões celestiais jamais citadas na Bíblia.

A questão do dízimo ilustra essa incredulidade. Quem não se amolda a essa prática corre o risco de tornar-se ou crítico contumaz ou vítima da própria avareza. E quem o aprova sem refletir fica, muitas vezes, escravo da religiosidade hipócrita. E ainda surge outra classe de pessoas: a do dizimista que oferece algo em troca da bênção. Esse é tão avarento quanto o fiel mesquinho do início do texto.

Encontrei certo irmão certo dia que me disse algo incerto:

— Semana passada, fiz prova com Deus. Só tinha R$ 50,00 no bolso e lhe dei como oferta, dizendo que precisava de R$ 500,00 em dois dias. E ele me deu essa bênção. Nesta semana, vou dar R$ 500,00 de oferta, porque quero receber R$ 5 mil.

Trágico? Ficará ainda mais se entendermos que o dízimo, praticado no molde tradicional de um décimo da renda, é um fator limitador da fé para o surgimento da igreja gloriosa dos últimos dias, porque traz consigo uma espécie de entorpecimento de consciência que impede o fiel de ver além. Os 10% acabam sendo como uma porcentagem-fim e porcentagem-limite para ele próprio, tanto na questão financeira quanto na questão da espiritualidade pessoal e coletiva.

Com isso, por não ter fé para dar tudo de coração e, em decorrência, viver por fé, que é a característica principal de um filho de Deus genuíno, ele se limita aos 10%. Aplaca sua consciência religiosa, mas jamais experimenta os 100% de Deus em sua vida, e a igreja não chega à plenitude (Ef 1.10), em cuja estrada estamos há alguns séculos. Ao baixar seu compromisso aos 10%, o fiel acaba por reduzir proporcionalmente a sua fé a esse patamar e, com isso, impõe um limite à plenitude. Deixa de sonhar e dar tudo, todo o coração, em favor do surgimento da igreja gloriosa e torna-se um escriba e fariseu, um religioso medíocre.

Em decorrência e por extensão, a igreja torna-se também apenas religiosa e medíocre, não passa desta média que aí está; sua justiça não excede, não suplanta a justiça do homem caído. Terminamos por ficar no mesmo nível — com o agravante do mau testemunho que temos dado em todas as áreas —, e o mundo, em vez de impactado e até transtornado em ver algo de fora dele, “de outro mundo”, como deveria ser, despreza-nos e com razão.

E isto não se aplica apenas a dízimos, a dinheiro. Ao baixar nosso nível de fé nas outras ordenanças da graça, colocamos fatores impeditivos ao surgimento da igreja gloriosa: ficamos encolerizados, desprezamos, amaldiçoamos, olhamos de forma impura, não levamos desaforo para casa, pagamos mal com mal e maldizemos os maldizentes.

Nunca se deu tanto dinheiro à igreja; contudo, ela jamais foi tão pobre. Líderes cujo deus é o ventre (Fp 3.19) estão faturando milhões enquanto outros milhões de seus conservos passam por dificuldades. Milhares de famílias de missionários estão no campo, vivendo à míngua e esquecidas. Fossem 5% da arrecadação de um grande conglomerado religioso destinados ao envio e sustento de missionários em regiões como o sertão nordestino, por exemplo, o resultado e o testemunho dos de fora seriam outros, e a igreja já teria caído na graça de todo o povo. Infelizmente, nosso testemunho está comprometido, e, em vez de cair na graça do povo, causamos-lhes repulsa e vergonha e fazemos outros se desviar do caminho da verdade.

Há quem espere que Deus intervenha e mude esse estado de coisas. Sou um destes. Creio, como muitos, que o juízo comece, e começará, pela casa de Deus, a Igreja. “Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus?”, alerta Pedro em sua primeira carta (4.17; ARC). Ouso profetizar: o juízo está começando pela casa de Deus. É tempo de esquadrinharmos nossos caminhos, nosso coração e nossas motivações. É tempo de clamarmos a Deus por algo novo, a começar por nós. Temamos.

É tempo de excedermos em justiça a nossa religiosidade barata e contraproducente. É tempo de cairmos sobre a pedra, ainda que sejamos despedaçados por ela; caso contrário, ela cairá sobre nós e seremos reduzidos a pó (Lc 20.18).

Há muitos que esperam uma volta da igreja ao verdadeiro evangelho. Sou, também, um destes. Estamos nas dores de parto, mas no momento exato o novo virá. Já está saindo à luz e, em breve, haverá a revelação dos filhos de Deus ao mundo, todos à imagem e semelhança de Jesus. E esse povo preparará o caminho da segunda e definitiva volta do Leão de Judá, o Rei Jesus, à Terra, para retomar o governo e aqui reinar com sua igreja aperfeiçoada, gloriosa. Creiamos.

Luiz Montanini é um dos pastores de uma comunidade em Valinhos, SP. É casado com Lia, e tem três filhos: Rafaela, Daniel e Rebeca. Faz parte do Conselho Editorial da revista Impacto.

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2 respostas

  1. Excelente mensagem. Toca, primeiro, na minha responsabilidade de obedecer a Deus, depois disso, o desejo de semear a mensagem ansiando que a Igreja de Jesus Cristo seja santificada e preparada para recebê-lo.

  2. Volto aqui hoje, 10 ago 2015, e surpreendo-me com meu próprio comentário. Não lembrava mais que havia postado. A graça e a misericórdia de Deus esteve sobre a minha vida nesse espaço de tempo, o Senhor tem acrescentado conhecimento e responsabilididade. A mensagem continua viva em meu coração; Ele fala comigo de novo. Tenho me esforçado para alcançar esse padrão aí da mensagem … agora, procurando subsídio para um estudo bíblico, deparo-me comigo mesmo, diante de Deus e da mensagem. Continuo precisando de graça de de misericórdia … Obrigado meu Deus por teu amor e tua pedagogia ao longo dessa estrada …

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