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A Grande Questão Escatológica

Por Christopher Walker

Escatologia é uma daquelas palavras teológicas que, geralmente, são de uso exclusivo de pastores, seminaristas, estudiosos e mais alguns autodidatas apaixonados por nomenclaturas e definições. Porém, em virtude do assunto em questão – o fim do mundo –, o termo não é tão desconhecido quanto se poderia imaginar. Quem não gostaria de ter uma vantagem sobre todos os outros mortais e descobrir como será o desfecho da história na Terra e como se pode sair bem a despeito de todas as calamidades e pragas que estão previstas para aquela época?

Fale em fim do mundo, e logo começará uma discussão interminável sobre o anticristo, a marca da besta, a tribulação e o arrebatamento. O que é mesmo essa marca da besta? Será que o mundo já está caminhando para o fim e, quando acordarmos, estaremos “marcados” por algum chip ou identificação tecnológica que permitirá que sejamos manipulados pela temível e sinistra figura do anticristo ou pelo sistema que tomará conta do mundo inteiro?

Alguns, atraídos a esses assuntos como por um poderoso ímã, devoram leituras, assistem a filmes, conhecem as previsões e projeções, detalhe por detalhe. Falam com tanta segurança e convicção sobre o desenrolar dos eventos preditos nas profecias que parecem estar citando fatos passados. Tamanha certeza há que não cabe questionamento ou discordância. Duvidar de suas premissas centrais é o mesmo que negar os fundamentos da fé, questionar a autenticidade das Escrituras. Não dá, definitivamente, para se ter um diálogo saudável e aberto com eles sobre tais assuntos.

No outro extremo, há aqueles que não se interessam por tais discussões, acham tudo uma grande complicação e preferem dizer que o importante é estar com o Senhor quando ele voltar, quer seja nos ares, quer seja no Céu ou na Terra. Quando passam pelos livros de Daniel e Apocalipse, sentem-se intimidados como se não fossem aptos a ler e compreender suas profecias. É mais ou menos como a síndrome da matemática; em algum momento, por ter-se sentido incapaz de resolver uma questão ou entender uma explicação, o aluno se fecha totalmente para qualquer possibilidade de gostar do conteúdo, muito menos de compreendê-lo.

Qual deve ser, afinal, a atitude correta diante dessa confusão? Devemos ser curiosos, especialistas, dogmáticos, passivos, indiferentes, interessados, flexíveis? Para ajudar a pensar sobre o assunto, de forma a não sermos nem presunçosos nem ignorantes, quero propor alguns princípios gerais sobre a atitude do cristão em relação à escatologia.

1. O que não podemos saber

Dentro da escatologia bíblica, há um fato que ninguém pode saber. Jesus avisou enfaticamente que o dia e a horade sua vinda não eram revelados nem jamais o poderiam ser (Mt 24.36). Se a data da Segunda Vinda está oculta aos anjos e até ao próprio Filho de Deus, como alguém pode ter a ousadia de dizer que a descobriu? Mesmo assim, por incrível que pareça, várias vezes ao longo da história, começando já no segundo século depois de Cristo, líderes enganados têm tentado predizer essa data.

Por ocasião da assunção de Jesus, conforme relatado em Atos 1, os apóstolos lhe perguntaram se havia chegado o tempo de restaurar o reino a Israel. Jesus respondeu que não lhes competia conhecer tempos ou épocas, “que o Pai reservou para sua exclusiva autoridade” (v. 7). Isso reforça ainda mais a área de conhecimento que está fora do nosso alcance: a definição de cronogramas detalhados dos eventos do fim.

Se você fizer uma análise de todas as profecias na Bíblia, descobrirá que são muito raras as ocasiões em que Deus deu ao homem uma revelação precisa do futuro, com a definição do tempo de cumprimento. Mesmo quando revelou um cronograma (como no caso das setenta semanas de Daniel 9), ele o deixou envolto em enigmas. Sabendo que o conhecimento de datas futuras pode ser altamente prejudicial ao homem, Deus esconde seus segredos e vela sobre os mesmos com grande zelo.

2. O que podemos e devemos saber sobre o tempo do fim

Entendendo que há uma área proibida, podemos concentrar a atenção naqueles pontos que estão dentro do nosso alcance. Aliás, é importante deixar aqui uma afirmação bem enfática: um dos assuntos centrais no Novo Testamento é a volta de Cristo e a consumação de todo o plano de Deus. Não é um assunto opcional, reservado para especialistas ou estudiosos. Eu diria mais: é impossível viver a vida cristã, conforme projetada por Deus, sem uma visão bíblica e equilibrada da Segunda Vinda de Jesus. Se você tem assumido uma posição de indiferença ou neutralidade, é melhor acordar (veja, por exemplo, 1 Ts 5.1-11)!

Em termos gerais, devemos buscar entendimento em três áreas relacionadas ao tempo do fim:

a) O que vai acontecer: Não podemos saber quando, mas devemos saber o quê. Quais são os grandes acontecimentos claramente preditos na Palavra de Deus? Em Hebreus 6.1,2, há uma relação de princípios elementares, essenciais para o cristão que deseja prosseguir para a maturidade. Os últimos dois assuntos nessa lista são a ressurreição dos mortos e o juízo eterno. Portanto, o cristão precisa saber o que a Bíblia diz sobre isso. Evidentemente, um estudo sobre a ressurreição e o juízo final nos mostrará que esses são os dois eventos principais que acompanharão a vinda de Cristo. Se, por um lado, não podemos saber muito sobre a sequência exata dos acontecimentos, por outro devemos buscar todo o conhecimento possível sobre a realidade desses fatos e o que significam no plano de Deus para que não sejam ideias vagas, distantes e sem efeito para nossa vida prática.

b) Sinais da proximidade do fim: Não devemos andar nas trevas, ou seja, a volta de Jesus não deve pegar-nos de surpresa (1 Ts 5.4). Jesus dedicou um bom tempo, no discurso do Monte das Oliveiras, para explicar aos discípulos as diversas características e sinais que apontariam para sua vinda (Mt 24, Lc 17 e 21, Mc 13). Nas epístolas, também encontramos muitas advertências e descrições sobre o que acontecerá antes do grande clímax final.

c) Como estar preparado: Essa é a parte mais importante para nossa caminhada cristã. Um exame abrangente do Novo Testamento revelará que grande parte de seu conteúdo visa exatamente a isto: mostrar a grande e bendita esperança da Vinda de Cristo e como devemos preparar-nos individual e coletivamente para aquele dia. Essa deveria ser a maior motivação a nos impulsionar para o alvo de Deus.

3. A questão escatológica mais importante não é a tribulação, o anticristo ou o arrebatamento; pelo contrário, é a finalização do maravilhoso e incrível drama que Deus vem desenvolvendo desde a fundação do mundo!

Talvez, essa afirmação não lhe cause muito impacto, porém você pode acreditar que tal mudança de foco afetaria radicalmente a perspectiva e a interpretação da escatologia hoje na igreja.

Como o evangelho pregado hoje é muito centrado no homem, em seu bem-estar e na solução de seus problemas do aqui e agora, a perspectiva escatológica que se vê por aí sofre a mesma influência. A grande preocupação é com o nosso conforto e segurança, com a possibilidade de estarmos aqui durante a tribulação. Entretanto, a maior questão escatológica não deveria ser o que vai acontecer conosco; deveria ser a vinda de Jesus e como esse acontecimento culminará e coroará tudo o que Deus vem fazendo desde o início.

Podemos dizer isso de outra forma, como um princípio-chave nesse assunto: é impossível entender escatologia corretamente sem um amplo entendimento do plano de Deus como um todo.

A quem Deus revelou seus maiores segredos proféticos nas Escrituras? A pessoas que formaram um relacionamento de amizade com ele, que tinham interesse em seus planos, naquilo que estava desenvolvendo na Terra. O grande exemplo é Daniel, que passava dias em jejum, orando e indagando sobre o que ainda faltava para Deus completar seu grande projeto com a nação de Israel (9.2,3,24; 10.2,3). Quando Deus começou a revelar-lhe algumas coisas, Daniel quis entender mais. Ele não se satisfez em saber que o cativeiro em Babilônia estava chegando ao fim. Continuou buscando e indagando. No fim, Deus teve de dizer-lhe que não dava para mostrar mais nada, pois o restante estava reservado para o tempo do fim (12.4,9). A impressão é que Deus acabou lhe mostrando mais do que pretendia, mais do que deveria – por causa do coração intenso e interessado que ele tinha pela causa do Senhor. Poderíamos mostrar o mesmo princípio quando os discípulos perguntaram a Jesus sobre os acontecimentos finais em Mateus 24.3, quando Paulo ouviu coisas inexprimíveis em visões e revelações (2 Co 12.2-4) e quando João recebeu o Apocalipse na ilha de Patmos.

A escatologia não é um assunto separado, divorciado do restante do plano divino. É parte integral e só faz sentido dentro do contexto completo daquilo que Deus vem fazendo desde o início. Deus não começa as coisas de acordo com certo pensamento para depois mudar e terminar de qualquer jeito. Ele é um sábio planejador que vem executando todos os passos de acordo com um plano mestre formulado antes da fundação do mundo. Qualquer visão escatológica que esteja em desarmonia com o propósito original de Deus ou que não o complemente adequadamente só pode estar errada.

Isso nos dá uma chave preciosa, muito mais segura do que a utilização de interpretações duvidosas ou discutíveis de textos isolados. O único problema é que conhecer o plano de Deus requer muito mais tempo e dedicação do que a análise de textos individuais.

Com isso, tira-se, também, a tensão entre pessoas que pensam de modo diferente sobre aspectos secundários da escatologia. Uma vez definida nossa prioridade – ter uma compreensão razoável do propósito de Deus em toda a história (também chamado propósito eterno de Deus) –, podemos usar essa chave para definir todas as demais ramificações da escatologia. E podemos aceitar divergências quanto a aspectos menores, já que, com toda certeza, haverá grandes surpresas nos detalhes – para todos nós – durante o desenrolar dos acontecimentos.

Deus prometeu a Daniel que, embora muitas coisas ainda estivessem encobertas para ele, no tempo do fim o conhecimento (do plano dele, não conhecimento natural ou científico!) seria muito mais amplo dentre os sábios, dentre aqueles que tivessem o mesmo coração de Daniel (Dn 12.4,10). Se quisermos estar incluídos nesse grupo privilegiado, é melhor começarmos desde já, preparando o coração e buscando o entendimento da maneira certa. Em outras palavras, devemos dar toda a atenção à grande questão escatológica: de que forma a vinda de Cristo completa o plano eterno de Deus, e como a Igreja pode contribuir para isso?

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2 respostas

  1. Abençoada a pessoa que tem esse entendimento e o passa adiante!
    Uma grande alegria invadiu meu coração. Realmente esse assunto é tabu.

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