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caminho que Jesus trilhou

A Entrada do Rei

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Naqueles dias foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do império para recensear-se. Este, o primeiro recenseamento, foi feito quando Quirino era governador da Síria. Todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. José também subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, para a Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém, por ser ele da casa e família de Davi, a fim de alistar-se com Maria sua esposa, que estava grávida. Entrando eles ali, aconteceu completarem-se-lhe os dias, e ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura porque não havia lugar para eles na hospedaria (Lc 2:1-7).

Para fazer o recenseamento, a família real precisa viajar cerca de 135 km. José anda, enquanto Maria, grávida de nove meses, vai atravessada na sela de um jumento, sentindo cada sacudida, cada valeta, cada pedra, na estrada. Quando chegam ao seu destino, o pequeno povoado de Belém está inchado com um enorme influxo de viajantes. A estalagem está superlotada. E quem conseguiu negociar até mesmo um pequeno espaço no chão, sente-se sortudo.

Agora está muito tarde, todos estão dormindo, e não há mais lugar. Mas felizmente o hospedeiro não pensa só em siclos e leptos (centavos). De fato, seu estábulo está abarrotado com animais dos hóspedes, mas se conseguissem espremer de lá um cantinho de privacidade, podiam ficar à vontade. José olha para Maria, mas ela está concentrada em resistir uma contração.

“Está bem, ficamos lá”, ele disse ao hospedeiro, sem mais hesitação. A noite está calma, totalmente em silêncio, quando José vai furtivamente no escuro em direção à porta do estábulo. Chegando lá, um coro de animais do estábulo, em notas discordantes reclamam da intrusão. O mau cheiro é envolvente e penetrante; não houve suficientes horas no dia para cuidar dos hóspedes, muito menos dos animais. Uma pequena lamparina de óleo, emprestada pelo hospedeiro, com sua chama trêmula, faz as sombras dançarem nas paredes. Um lugar inquietador para uma mulher no meio dos espasmos de dor de parto; longe de casa, longe da família, longe do que ela esperava para o seu primogênito. Mas Maria não faz nenhuma reclamação. É um alivio simplesmente poder sair enfim daquele jumento.

Ela se inclina de costas para a parede, os seus dedos inchados. Suas costas estão doendo, as contrações estão ficando mais fortes e mais próximas. Os olhos de José percorrem rapidamente todo o estábulo, não há um minuto a perder. Rápido – uma cocheira vai ter que servir como berço. A palha servirá como colchão – cobertores, cobertores – ah, sua túnica vai servir. Aqueles trapos pendurados para secar vão ajudar.

Uma contração violenta faz Maria dobrar-se de dor, e José sai correndo para buscar um balde de água. 0 nascimento não será fácil nem para a mãe, nem para o filho, pois todo e qualquer privilégio real deste filho acabara na concepção. Um grito de Maria cortou a calma daquela noite quieta. José volta ofegante, a água entornando do balde de madeira. A cabeça do bebê já está se empurrando para fora para chegar a este mundo. Suor está escorrendo do rosto contorcido de Maria, enquanto José, o parteiro menos preparado de toda a Judéia, corre para o seu lado. As contrações involuntárias não são suficientes. e Maria precisa empurrar com toda sua força, como se Deus estivesse se recusando a entrar no mundo sem a ajuda dela. José coloca uma vestimenta debaixo dela, e então com um impulso final e um longo suspiro, seu trabalho de parto está terminado.

O Messias chegou. Uma cabeça alongada, devido à jornada constringente para fora do útero; pele clara, pois levaria dias ou até semanas para o pigmento vir à superficie; muco nas suas orelhas e narinas; molhado e coberto de líquido amniótico, o filho do Deus Altíssimo, incongruentemente amarrado por um cordão umbilical a uma diminuta moça judia.

O bebê engasga e tosse. José, como por instinto o vira para baixo, e limpa a sua garganta. Então vem o primeiro choro. Maria abre o peito e estende a mão para pegar o bebê tremendo de frio. Ela o coloca no seu peito e seu choro impotente vai se acalmando. Sua cabecinha balança para cá e para lá até acostumar-se neste local desconhecido. É a primeira coisa que o bebê real vai aprender. Maria pode sentir o seu coração acelerado batendo, enquanto ele vai tentando achar o peito para mamar. A divindade mamando de uma jovem garota. Pode haver algo mais espantoso? Pode haver algo mais profundo?

José se assenta exausto, calado, cheio de admiração. 0 bebê termina de mamar, e suspira, o verbo de Deus reduzido a alguns poucos sons ininteligíveis. Então, pela primeira vez, seus olhos fixam-se sobre os olhos da sua mãe, a divindade se esforçando para focalizar. A luz do mundo tentando enxergar. Lágrimas se ajuntam nos olhos dela. Ela toca na sua cabecinha e as mãos que uma vez esculpiram as montanhas agarraram-se aos seus dedos. Ela olha para cima para José, e através de um véu aquoso, suas almas fazem contato. Ele se aproxima, a face dele em contato com a face da sua noiva. Juntos olham em admiração para o bebê Jesus, cujas pálpebras pesadas começam a fechar-se. Foi uma longa viagem, e o rei está cansado.

E assim quase sem ser notado e sem criar repercussão alguma, Deus deu o passo para entrar nesta grande massa da humanidade, sem protocolo ou pretensão. Onde você esperaria anjos, só havia moscas. Onde você esperaria chefes de estado, só havia jumentinhos, algumas vaquinhas amarradas, um bando nervoso de ovelhas, um camelo encabrestado, e uma disparada furtiva de camundongos curiosos. Com exceção de José, não havia ninguém para dividir a dor de Maria ou a sua alegria. Sim, os anjos apareceram para anunciar a chegada do Salvador, mas foi somente para um bando de operários(pastores). E sim, uma estrela magnificente brilhou no céu para marcar o lugar onde nasceu, mas somente três estrangeiros se deram ao trabalho de olhar para cima e segui-la.

Assim, na pequenina vila de Belém, naquela noite quieta, o nascimento real do filho de Deus ocorreu à surdina, enquanto o mundo dormia.

Querido Jesus,

Embora não houvesse lugar para ti na estalagem, concede-me neste dia que possa abrir um espaço abundante para ti no meu coração. Embora os teus não te receberam, concede-me nesta hora que eu possa abraçar-te de braços abertos. Embora a cidade de Belém não percebeu a tua chegada no meio da confusão dos sentidos, concede-me a graça neste momento de silêncio para aquietar-me e saber que Tu és Deus. Tu, cujo único palácio foi um estábulo, cujo único trono foi uma cocheira para animais, cujas únicas roupas reais foram faixas, de joelhos confesso que estou condicionado demais à pompa e às cerimônias deste mundo para reconhecer Deus balbuciando numa manjedoura. Perdoa-me, por favor, ajuda-me a compreender pelo menos um pouco do que o teu nascimento veio ensinar – que o poder divino não vem através de força, mas através de fraqueza, e que a verdadeira grandeza não se alcança por reivindicação de direitos, mas por soltá-los. Que até as coisas mais seculares podem ser sagradas quando tu estás no meio delas.

E naqueles momentos quando tu anseias por minha comunhão, quando ficas à minha porta, batendo, concede-me uma sensibilidade especial para o teu toque na porta, para que eu seja rápido para me pôr de pé e abrir a porta para ti. Guarda-me de deixar-te lá fora no frio, e que eu nunca te mande embora para um estábulo. Que meu coração seja caloroso e convidativo, para que ao bateres na porta, sempre haja um lugar digno te aguardando.

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