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Avivamento em Shantung – Parte V

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Nesta quinta parte da série de relatos sobre a visitação de Deus na província de Shantung, na China, de 1927 a 1937, contamos como a missionária norueguesa Marie Monsen foi protegida por Deus durante um sequestro por piratas. 

Na primavera de 1929, Marie Monsen embarcou no porto chinês de Tientsin com destino a Hwanghsien, na província de Shantung, onde iria ministrar em uma série de reuniões. Na soberania de Deus, ela acabou pegando um navio que partiu um dia antes da data planejada. Ela também foi dirigida por Deus, sem entender o motivo, a comprar dois ou três quilos de maçãs, para levar na viagem. Além disso, levou quatro caixas de chocolate.

“Nunca antes, eu havia guardado tanto chocolate”, ela contou depois. “Desde o final de fevereiro, comecei a receber esses pacotes de chocolate, e cada vez que chegava um, eu ouvia as palavras: ‘Guarde isso para uma emergência’. Eu tinha alguns biscoitos, biscoitos secos. Várias vezes, eu quis deixar essas coisas para trás, mas sempre ouvi as mesmas palavras: ‘Guarde-as para uma emergência’.”

No segundo dia da viagem, Marie descobriu para que precisaria de tudo isso. Logo de manhã, quando estavam se aproximando da costa de Shantung, ela ouviu o som de tiros vindo de várias direções do navio. Uns vinte ladrões haviam se infiltrado no navio como passageiros comuns e estavam, naquele instante, tomando o controle de tudo. Enquanto isso, Marie ouviu as seguintes palavras no seu espírito: “Esta é a prova da sua fé”. Ao invés de sentir medo, ela sentiu um forte impulso de alegria e expectativa.

“Fui lembrada, imediatamente”, ela contou, “de um texto que eu havia usado muito nos últimos anos. Está em Isaías 41.10, e era assim que eu o lia: ‘Não temas, Marie, porque eu sou contigo; não te assombres, Marie, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, Marie, com a minha destra fiel. Não temas, Marie’.

De repente, as portas foram abertas e os piratas ordenaram que os passageiros saíssem das cabines e fossem para o convés. Marie não se mexeu. Ela sabia que estava justamente naquele navio, que partira um dia antes do previsto, porque o Senhor queria que ela estivesse lá. Até a cabine em que estava fora uma resposta à oração, porque quando chegara para procurar passagem, não havia vaga nenhuma no navio, e um oficial lhe cedera a cabine dele. Por isso, resolveu não sair de lá.

Um jovem ladrão entrou na cabine e exigiu o relógio dela. Depois mandou guardá-lo, pensando em voltar mais tarde para buscá-lo. Só que pouco depois, um outro ladrão chegou e exigiu que Marie lhe desse o relógio como presente. Quando ela se recusou, o ladrão ameaçou atirar nela.

“Ah, não”, ela respondeu. “Você não pode atirar em mim. Não pode atirar em mim só porque você quer.”

Então, ela citou a promessa de Deus e explicou o significado dela. “Meu Deus disse que nenhuma arma forjada contra mim prosperaria. Você não pode usar sua pistola à hora que quiser e atirar contra mim. É preciso ter uma permissão especial do Deus vivo para fazer isso.”

Gesticulando, o ladrão apontou a arma para ela novamente. “Você não pode fazer isso, não pode”, ela insistia. “Tenho uma promessa de Deus de que nenhuma arma forjada contra mim prosperará.”

Ela repetiu isso umas quatro vezes para o ladrão. Depois disso, várias vezes durante os 23 dias em que estiveram no navio, ela ouviu o moço repetir as palavras para si mesmo. Embora não quisesse aceitá-las, parecia que não tinha como se livrar delas.

“Imagine, ela disse que não posso atirar contra ela quando quero porque Deus lhe prometeu que nenhuma arma forjada contra ela prosperaria!”

Outra promessa que Marie tomou para si foi do profeta Malaquias. “Poupá-los-ei, como um homem poupa a seu filho que o serve. Então vereis outra vez a diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve” (Ml 3.17,18).

Marie pediu a Deus que houvesse uma diferença tal entre ela, como filha de Deus, e os outros duzentos passageiros no navio, que todos pudessem ver que ela tinha um Deus vivo, que o Deus dela era verdadeiramente Deus, merecedor de todo louvor. E suas orações foram respondidas.

Um muro de fogo

A seguir, um testemunho da proteção de Deus nas palavras da própria Marie.

Vi dois ladrões do lado de fora da minha cabine. Eu já vira vários ladrões antes na China, mas nunca vi ninguém com aspecto mais sinistro do que aqueles dois. Um empurrou o outro para dentro da minha cabine e fechou a porta. Ele tentou trancá-la, mas a chave estava quebrada. Então, lá estava esse homem dentro do cubículo que era minha cabine. Senti que o próprio diabo em pessoa estava ali. O rosto, o pescoço e as mãos dele estavam cheios de feridas horríveis, feridas abertas.

Ele sentou na minha mala, quase respirando sobre meu rosto. Repeti a promessa que já me sustentara muitas vezes na província infestada de ladrões onde eu morava: “O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra” (Sl 34.7). E lembrei-me de uma outra promessa naquele momento: “Pois eu lhe serei, diz o Senhor, um muro de fogo em redor” (Zc 2.5). Um muro de fogo em meu redor.

Uma vez, quando precisei atravessar um distrito cheio de ladrões, na noite anterior o Senhor permitiu que eu o visse. Acordei de repente e parecia que o telhado fora retirado da casa. Vi uma muralha de fogo mais alta do que a casa, em toda a minha volta, e ouvi uma voz que dizia: “O Senhor é como um muro de fogo em redor de seu povo”. Eu via flechas vindo de fora, uma quantidade incalculável de flechas; mas as chamas as consumiam, e nenhuma conseguiu atravessar aquela muralha de fogo que me cercava. Já conhecia aquele texto há muitos anos, mas nunca compreendera o significado como naquele momento.

Então tomei posse da promessa de que o Senhor seria como uma muralha de fogo ao meu redor ali na cabine do navio. E, logo em seguida, aquele homem infame sentado à minha frente estava preso contra a parede, antes que pudesse tocar em mim.

Comecei a conversar com ele. “Sua mãe ainda está viva?”

“Sim”, ele respondeu.

“Quantos anos ela tem?”

Quando ele me contou, eu disse: “Bem, é mais ou menos a minha idade”. Perguntei a respeito de seu pai e do resto de sua família, e acabamos conversando muito. Pedi que ele abrisse a porta, e ele me atendeu. Descobri que ele conhecia um missionário. “É um homem muito bom, não há homem melhor no mundo”, ele disse. Ele conhecia alguns outros cristãos verdadeiros também. Conversamos por uma hora e, quando ele saiu, estava com lágrimas nos olhos. Ele saiu com aspecto bem quebrantado, e nunca mais o vi perto da minha porta.

O sustento de Deus

Durante cinco dias e noites, os piratas assaltaram toda embarcação que encontravam e mandavam o saque para o acampamento deles em terra. No segundo dia, um outro barco chegou com mais armas e munição, e o número de bandidos aumentou para 50 ou 60 homens.

Entre os bens roubados das diversas embarcações, havia toda espécie de enlatados e finas iguarias alimentícias. Os piratas comiam perto da cabine de Marie. Sempre ofereciam para ela também, mas ela sempre recusava.

“Não posso comer aquilo que foi roubado”, ela dizia.

“Mas você vai morrer de fome.”

“Não, meu Pai é capaz de me sustentar”, ela afirmava.

Durante nove dias, o sustento dela veio das maçãs, dos chocolates e dos biscoitos que trouxera, sem saber por quê. No décimo dia, o segundo oficial do navio, que lhe cedera a cabine, veio e bateu à porta dela. Perguntou se ela tinha alguma coisa para comer e, quando descobriu que já acabara tudo, disse-lhe: “Bem, eu tenho uma caixa de ovos nesta cabine que comprei em Tientsin com meu próprio dinheiro, dinheiro limpo. Tenho uma caixa de bolos chineses também. Você pode ficar com tudo.”

“Do décimo dia até o final dos 23 dias”, ela contou, “Tive um ovo de manhã, um ovo para o almoço, às vezes dois, e um ovo para a refeição da tarde. Eu orava para que o Senhor fizesse daquele ovo uma verdadeira refeição, que valesse para mim como se fosse legumes e fruta e tudo aquilo de que necessitava. Foi exatamente isso que ele fez. Não tive problema nenhum por falta de comida; quando terminava de comer um ovo, sentia-me tão satisfeita que não daria conta de mais nada, mesmo que tivesse algo mais para comer.”

Todos os dias, enquanto os piratas comiam, Marie entregava folhetos para os homens. Um lia em voz alta, e os outros explicavam o significado. Muitas vezes, segundo seu testemunho, via lágrimas nos olhos deles. Diziam: “Só podemos ser muito maus. Você, não. Você nasceu boa. Não nos odeia como os outros passageiros”.

Então ela explicava que nascera com o mesmo coração mau que todos os homens têm. E falou da única maneira de ter o coração transformado.

Todos os dias, o homem que era considerado o chefe do grupo vinha no começo da noite, enquanto Marie ficava no convés para respirar um pouco de ar fresco.

“Conversamos durante horas, todos os dias”, ela contou. “Mesmo na última noite (eu não sabia que seria a última noite), conversamos durante umas duas horas sobre os assuntos que eu queria. Falei sobre o futuro, sobre a volta de Jesus, sobre a tribulação que viria sobre a terra e como o Senhor viria para buscar seu povo.”

Às vezes, alguns tentavam provocá-la. “Você não sabe que vale muito dinheiro? Não está impaciente? Não está louca para ser libertada e ficar livre de nós?”

“Não”, ela respondeu. “Deus me enviou para a China para pregar o evangelho, e agora ele quer que eu pregue para vocês. Então estou disposta a ficar aqui enquanto ele quiser. Foi ele que permitiu que isso acontecesse.”

Eles ficavam admirados com a sua tranquilidade. “Você consegue entender a paz que ela tem? Dá para ver no rosto dela. Olhe para os passageiros; estão pálidos, exaustos e mais impacientes a cada dia que passa.”

Marie agradeceu a Deus por ter respondido sua oração e mostrado para eles a diferença.

Tirando a presa do valente

Nos últimos cinco dias, a maior questão para os piratas era o que fazer com Marie Monsen. Em três ocasiões diferentes, planejaram tudo para fugir do navio, levando-a consigo, mas cada vez algo acontecia para frustrar os planos. Eles tinham quarenta ou cinquenta embarcações que haviam assaltado e confiscado e que estavam lotados com os bens saqueados. Pretendiam colocar Marie em uma delas, quando surgiu uma forte tempestade, impedindo-os de deixarem o navio. Cada vez, ficava mais forte a percepção de que o Deus dela não estava permitindo que a levassem.

O vigésimo terceiro dia caiu num domingo. Às três horas da tarde, ouviu-se um tiro. Uma embarcação armada estava se aproximando. A maioria dos ladrões abandonou o navio. Deixaram apenas dez. Houve uma perseguição acirrada durante umas duas horas. Os piratas queriam deixar o navio e levar Marie junto.

“Precisamos levar a estrangeira”, diziam. “Não vão atirar contra nós se virem o rosto estrangeiro.”

No fim, entraram num dos barcos. Marie ouviu a conversa deles: “O que adianta trazer a estrangeira? Ela não come quase nada há 23 dias. Não conseguirá correr, não conseguirá nem andar. Veja as circunstâncias em que estamos; deixem-na para trás!”

“Assim fui deixada pelos piratas”, testemunhou Marie. “É claro que fui. Como diz a Escritura: ‘Por certo que os presos se tirarão ao valente, e a presa do tirano fugirá’ (Is 49.25).”

Marie também testemunhou a respeito da importância da oração durante todo esse período de provação. “Durante os primeiros quatro ou cinco dias, os amigos e irmãos em Cristo não sabiam o que estava acontecendo; por isso, ninguém estava orando. Naqueles dias, senti que estava nadando contra a correnteza; mesmo assim, tive confiança que receberia forças e que teria a vitória. Depois que as notícias chegaram, e as pessoas começaram a orar, senti uma grande diferença. Era como se estivesse flutuando nas águas, sem fazer esforço algum, apoiada firmemente nas promessas. Nos últimos sete dias do seqüestro, meus familiares receberam uma notícia equivocada de que eu já fora libertada. Então fizeram reuniões de louvor e gratidão. Na verdade, foram os dias mais difíceis, quando houve uma luta terrível entre as forças das trevas e as forças da luz. Entretanto, foi justamente nesse período que fiquei transbordando de alegria; mais de uma vez, parecia que ia explodir de tanta alegria no Senhor.”

Depois que os últimos piratas deixaram o navio, os passageiros vieram correndo e cercaram Marie Monsen. Pediram os folhetos que ela tinha para distribuir. Disseram-lhe: “Vimos que o seu Deus é o Deus verdadeiro e queremos crer nele também”.

“Agradeço a Deus”, ela concluiu, “pelo Livro maravilhoso de promessas. Agradeço-lhe também pela sua fidelidade e por ter tido o privilégio de experimentá-la em minha vida.”

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