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Avivamento em Shantung – Parte III

Embora talvez pouco conhecido pela maioria dos cristãos, o Avivamento de Shantung é considerado um dos avivamentos mais significativos na China e foi, com certeza, o mais poderoso que já houve no meio dos batistas. Shantung (ou Shandong) é uma província no litoral nordeste da China. Pouco antes da invasão do país pelo Japão em 1937, no meio da turbulência política causada por atividade comunista na região, Deus enviou uma poderosa onda de avivamento que durou aproximadamente dez anos (1927-1937). A seguir, a terceira parte de uma série de relatos e testemunhos dessa importante visitação. 

Charles Culpepper, presidente do seminário batista em Shantung, na cidade de Hwanghsien, foi uma das peças importantes que Deus usou durante o avivamento naquela região. Depois que a missionária norueguesa, Marie Monsen, perguntou para ele se já havia sido batizado no Espírito Santo, Culpepper ficou profundamente incomodado e iniciou uma busca intensa em oração que levou quatro anos até receber a resposta. Na segunda parte desta série, vimos como ele foi poderosamente batizado no Espírito Santo enquanto, simultaneamente, Deus já estava visitando outras cidades na província.

Logo após o batismo de Culpepper, Deus começou a agir na escola que os missionários mantinham na mesma cidade. A história do que aconteceu está na continuação do testemunho do próprio Culpepper.

Avivamento nas Escolas

Na noite daquele domingo [um dia após o meu batismo no Espírito], uns três ou quatro casais reuniram-se em nossa casa, outra vez. Oramos por aproximadamente duas horas, e o grupo inteiro de 10 a 12 pessoas foi tremendamente visitado. Todos ficaram cheios de alegria, alegria transbordante e indizível, cheio de glória. Rimos, choramos, louvamos a Deus por muito tempo. Estávamos cheios de gozo, mas não sabíamos o que Deus estava para fazer. Ele estava preparando tudo para um grande avivamento, trabalhando em nossos corações, não só em Hwanghsien, mas em vários outros lugares ao mesmo tempo.

A missão batista tinha uma escola em Hwanghsien, para alunos de 12 a 18 anos. Havia umas 600 garotas na escola feminina e uns 1000 garotos na escola masculina. Na segunda-feira, as escolas estavam recomeçando as aulas, depois das férias de inverno. Embora fosse uma escola missionária, só havia uns 150 garotos e 120 garotas batizados. Os outros eram, quase todos, de famílias cristãs, mas que ainda não tinham experimentado uma conversão.

Ao chegarem à escola naquela segunda de manhã, os alunos encontraram um ambiente já fortemente carregado com a presença do Espírito Santo. Sem que ninguém organizasse nada ou tomasse qualquer iniciativa, os alunos começaram a sentir forte convicção de pecados. Tomados de surpresa, os professores nos chamaram, no seminário, para ir até lá e ajudá-los.

Quando cheguei lá, havia quatro ou cinco garotos e o mesmo número de garotas em salas desocupadas. Sentindo grande convicção de pecados e chorando, confessaram que haviam mentido aos pais, colado nas provas, roubado objetos uns dos outros e sido desonestos em outras ocasiões. Ficamos com eles por algumas horas, até acertarem a vida com Deus e alcançarem a paz.

Pensamos que no dia seguinte tudo voltaria ao normal e que as aulas começariam para valer. Mas não foi o que aconteceu. O diretor das duas escolas mandou um recado para mim e para o Pr. Wong (um dos pastores chineses), dizendo que Deus estava enviando um avivamento e que ele iria cancelar as aulas por um tempo. Pediu que eu assumisse uma reunião por dia (às 10 horas da manhã) e o Pr Wong, a outra (às 19 horas).

Os alunos enchiam a capela, mais ou menos 1.500 pessoas, em cada reunião. Um bom grupo daquelas 200 pessoas que haviam sido visitadas na semana anterior [veja a parte II desta série] estava presente também. Ficavam em pé, em volta do auditório, nas paredes.

Começávamos a reunião, eu lia alguns textos nas Escrituras e explicava como podiam ser salvos. Mal terminava a explicação, sem esperar o início dos cânticos, os garotos e as garotas da escola já corriam para frente, chorando e caindo de joelhos. Aqueles que já haviam encontrado com Deus na semana anterior vinham e ajoelhavam-se ao lado de cada um, ajudando-os a achar o caminho da conversão e da paz com Deus. Dezenas de alunos tiveram experiências com Deus em cada reunião. Ao final de dez dias, cada uma das 600 alunas já estava convertida. Dos 1000 garotos, 900 tiveram experiências de salvação.

Numa ocasião, no meio da primeira semana, depois de ter pregado e feito o convite, dezenas de alunos vieram para frente e oramos com cada um. Estávamos quase prontos para encerrar a reunião quando um dos professores veio correndo e disse: “Irmão Culpepper, um rapaz, lá no fundo, embaixo da cadeira, está chamando você”.

Fui até lá e ajoelhei-me ao seu lado. Ele disse: “Sr. Culpepper, o senhor não me conhece. Sou um ateu, sou comunista. A escola não sabe disso, ninguém sabe. Mas temos aqui uma célula de uns oito ou dez alunos que também são comunistas. E estávamos planejando matar o senhor e todos os missionários. Queríamos queimar as igrejas, exterminar o cristianismo. Hoje ouvi falar sobre esse avivamento. Falei: ‘Não existe nenhum Deus e não existe nenhum fenômeno que possa ser chamado de avivamento. Aquele missionário está hipnotizando as pessoas, e eu vou lá esta noite para impedi-lo’. Cheguei aqui e ouvi o senhor pregar, vi as pessoas indo para frente, confessando os pecados e chorando. Então eu disse: ‘Vou calar esse homem agora!’. Comecei a levantar-me do meu lugar, mas nem cheguei a ficar totalmente em pé quando algo me atingiu bem no coração. Sei que foi Deus que me derrubou e me jogou aqui embaixo desta cadeira. Agora aqui estou e quero lhe dizer, sr. Culpepper, que o senhor está certo e eu estou errado.”

Na noite seguinte, o Pr. Wong estava dirigindo a reunião. Um garoto do meu lado caiu da cadeira e ficou esticado no chão rígido como uma tábua, rangendo os dentes e apertando os punhos. Depois de despedir a reunião, quando os outros haviam ido embora, os professores ficaram em volta do rapaz, orando por ele. Mas ele disse: “Não orem por mim, levem-me para casa para morrer”. Continuamos a orar, e finalmente ele disse: “Oh, Deus, se não me matares, confessarei meus pecados”. Em seguida, confessou praticamente a mesma coisa que o primeiro do grupo comunista havia confessado.

No final, metade daquele grupo de 10 comunistas foi convertida e metade fugiu.

Avivamento nas Igrejas

Na semana seguinte, um dos pastores veio falar comigo. Ele era responsável por uma igreja que eu conhecia bem. Por dois ou três anos, eu havia dado assistência lá. Com um total de 30 e poucos membros, geralmente a frequência nos cultos oscilava entre 15 e 20 pessoas. Era uma igreja seca, sem vida. Nada do que fazíamos surtia qualquer resultado. Quando havia um ou dois convertidos dentro do período de um mês, ficávamos muito felizes.

Mas, naquela semana depois do avivamento na escola, esse pastor chegou e disse: “Irmão Culpepper, o povo está chegando aos montões. Estão enchendo a casa e a área do lado de fora. Preciso de ajuda.”

Fui naquela mesma noite, e realmente o local estava abarrotado. Tinha gente dentro do pequeno edifício e em todo o espaço em volta dele. Tentavam ouvir através das janelas e das portas. Fizemos reuniões durante uma semana, e cada vez que eu pregava, dezenas de pessoas vinham para frente. Ao todo, 100 pessoas fizeram uma decisão por Jesus, e batizei 86 pessoas no mesmo dia.

Eu estava transbordando de alegria. Nunca havia batizado mais do que cinco ou seis pessoas, talvez 8, no mesmo dia. Geralmente, tínhamos que esperar dois ou três meses para ajuntar esse número. Meu gozo estava completo, quase insuportável, de poder ficar quase como espectador, vendo Deus agir e fazer milagres tão tremendos!

Poucas semanas depois, outro pastor veio, desta vez de uma região mais distante, a uns 150 km da missão. Fui para a cidade dele, e tivemos duas semanas de reuniões. Deus agiu poderosamente, e 300 pessoas se converteram. Batizei 203 em um só dia. Mais uma vez, senti tanta alegria que mal conseguia contê-la.

Na província de Pingtu, onde o avivamento começou (antes de chegar à nossa província), houve 3000 conversões no primeiro ano. Jamais sonhamos em ver tantas conversões em apenas um ano. O número de igrejas dobrou-se, triplicou-se. Não havia mais problemas financeiros na obra de Deus, pois as pessoas traziam seu dinheiro, traziam seus corações. Elas cantavam, decoravam os salmos, creio que memorizaram mais de 30 salmos e os adaptaram a melodias chinesas. Amavam a Bíblia, liam muito a Palavra de Deus. Coisas maravilhosas aconteciam todos os dias.

É claro que o inimigo não estava satisfeito e não ficou sem ação, não deixou que avançássemos sem oposição. Usou todos os seus recursos para nos atacar. Tentou impedir-nos, confundir-nos, imitar-nos. Tentou de tudo para parar a obra de Deus. Contudo, Deus deu-nos discernimento. Para isso, dou todo o crédito a ele. Não éramos nós os “entendidos” ou os “espertos”. Era simplesmente Deus concedendo discernimento ao seu povo.

Testemunhos da Ação de Deus

Houve vários casos de restituição. Um dia, estávamos orando, todos de joelhos. No final, quando nos levantamos, vimos um pacote de dinheiro em cima da mesa. Havia moedas (de valor equivalente a um dólar) e algumas notas. Junto com o pacote, havia uma nota escrita pela esposa de um dos pastores, dizendo que era o dinheiro do dízimo que ela roubara do Senhor, retendo-o para si mesma.

Em outra ocasião, um diácono da igreja veio ao culto de santa ceia trazendo uma cesta carregada de moedas (também com valor aproximado de um dólar cada). Estava pesada, tinha umas 500 moedas. Ele chegou e colocou a cesta em cima da mesa da ceia do Senhor. Dentro da cesta, havia um bilhete explicando que era o dízimo que roubara de Deus durante muito tempo. Várias outras pessoas começaram a sentir o mesmo toque de Deus para acertar a vida nessa área.

Certa manhã, um homem chegou à reunião de oração com o rosto inchado e vermelho, lágrimas escorrendo pelas faces. Foi naquela primeira semana, quando a reunião começou numa terça e continuou, sem interrupção, durante quatro dias. Sempre havia gente na sala de oração, às vezes pouco mais de dez pessoas, em outras até 200. Naquela manhã específica, havia umas 50.

“Vocês sabem”, ele nos disse, “que minha esposa não é convertida. Deus mostrou-me ontem à noite que ela não é convertida por causa de mim. É impossível ela se converter. Estou vivendo uma vida hipócrita.

“Vocês não conhecem minha esposa. Tenho medo dela, pois é um verdadeiro terror. Ela não quer que eu dê meu dízimo à igreja. Então tenho mentido para ela. Tiro o dízimo do meu dinheiro e depois chego em casa e digo que é só isso que tenho.

“Também em outro assunto eu a tenho enganado. Ela não quer que eu vá para os cultos. Acha que é uma perda de tempo. Sempre há tanta coisa para arrumar, para consertar em casa, e ela quer que eu faça essas coisas no lugar de perder tempo indo para os cultos. Se eu insistisse em ir para os cultos, ela ameaçava seguir-me até o local e entrar na reunião, gritando, caindo no chão, fazendo um escândalo e me envergonhando. Vocês não conhecem minha esposa – ela seria capaz de fazer exatamente isso! Tenho medo dela!

“Então, aos domingos, falo que preciso ir ao mercado. Vou ao culto primeiro e depois passo no mercado e faço algumas compras. É assim que a tenho enganado.

“Mas ontem à noite, Deus tratou duramente comigo. Preciso ir para casa e confessar que tenho mentido para ela. Preciso contar tudo que tenho feito. Quero que orem por mim.”

Em seguida, ele saiu, enquanto o grupo ficou em oração. Depois de uma hora ou mais, ele voltou, os olhos ainda cheios de lágrimas, só que desta vez eram lágrimas de alegria. Em seguida, contou-nos como Deus operara.

Ao bater na porta, a esposa saiu xingando, pois ele não voltara para casa na noite anterior. Xingou e humilhou o marido com todo o vocabulário que conhecia. Mas ele disse: “Pare de xingar. Voltei para casa para confessar meus pecados para você”.

Quando ouviu as palavras “confessar pecados”, a esposa parou. Pela primeira vez na vida, algo calou os seus lábios. Ela estava surpresa, atônita. Ele, então, entrou e contou-lhe tudo que Deus lhe havia mostrado como pecado em sua vida. Ao terminar, ele disse: “Agora já lhe contei tudo que Jesus apontou em minha vida”.

“Foi Jesus que mandou você me contar tudo isso?”, ela perguntou.

“Sim, foi Jesus. Eu não poderia continuar vivendo sem confessar essas coisas, sem acertar minha vida com você.”

“Então, acho que preciso de Jesus na minha vida também”, ela respondeu.

Foi assim que, no espaço de umas duas semanas, ela se converteu e também todos os seus filhos.

Sentimento de Indignidade

Esse foi apenas um exemplo das coisas maravilhosas, dos milagres que Deus operou naqueles dias. Em tudo, nos sentíamos muito insignificantes, era apenas assistir, ficar de lado observando enquanto Deus agia. Eu me sentia tão indigno que queria morrer, sumir de tão indigno.

Senti-me como os discípulos, quando Jesus estava no barco deles e ordenou que se dirigissem para o meio do lago e lançassem as redes. “Senhor”, eles responderam, “trabalhamos a noite inteira e não pegamos nada. Porém, sobre tua palavra, o faremos.”

Abaixaram as redes e pegaram peixes para encher dois barcos. Ficaram tão estupefatos que caíram aos pés de Jesus. “Senhor”, disse Pedro, “retira-te de mim, porque sou pecador.”

Era exatamente assim que me sentia. Antes do avivamento, labutávamos, nos esforçávamos, empurrávamos, usávamos nossos métodos e recursos, tudo que podíamos imaginar para ganhar pessoas para Cristo, para achar o avivamento, para fazer a obra de Deus. Depois, quando o avivamento chegou, de acordo com a ordem de Deus, ele desceu com o poder do seu Espírito. Vimos multidões sendo salvas. Coisas impressionantes aconteceram, e isso continuou por mais ou menos 15 anos.

O Propósito de Deus no Avivamento

Havia períodos de explosão, quando o avivamento espalhava-se como chamas de fogo fora de controle durante alguns meses. Depois, acalmava-se, entrando em uma fase mais quieta em que o Espírito Santo aprofundava a obra. Nesses períodos, havia mais ensinamento, mais estudo da Palavra. Depois de algum tempo, as chamas irrompiam outra vez.

O avivamento espalhou-se por toda nossa província de Shantung e por mais cinco províncias no norte. Continuou sem parar por quase 15 anos, até a chegada dos comunistas. Até durante a guerra com o Japão, quando todos os missionários foram expulsos, os pregadores e obreiros chineses continuaram levando a Palavra.

Tenho muita convicção de que Deus, sabendo o que viria para a China (a guerra com os japoneses e, depois, a vinda dos comunistas), enviou o avivamento para preparar o seu povo. Ele sabia que todos os missionários, todos os auxílios e suportes que foram dados para fundamentar e fortalecer a Igreja na China seriam retirados. E ele queria que os próprios chineses, os pastores e obreiros e todos os homens e mulheres na igreja pudessem realmente conhecer a Deus, face a face, e ser cheios de poder.

Hoje, quando não há mais missionários lá, ninguém pode pregar abertamente e as igrejas estão fechadas, as pessoas lá têm a presença de Deus. Não têm permissão de possuir Bíblias, não podem reunir-se em igrejas. Porém, têm um sistema subterrâneo, um jeito de superar isso que é maravilhoso. E Deus está ali com eles.

Creio firmemente que Deus queria prepará-los para o que viria e, por isso, enviou esse grande avivamento no tempo apropriado. Agora, recebemos notícias deles por vias que não podemos revelar.

Embora seja ilegal possuir Bíblias, eles ainda têm algumas. Nunca podem levar uma Bíblia a uma reunião. Mas usam uma senha secreta e reúnem-se em grupos de quatro ou cinco pessoas, em noites escuras, debaixo de uma ponte ou outro local afastado. Escondem uma página da Bíblia dentro de um tubo de bambu, ajoelham-se juntos, embaixo de uma coberta, usando uma lanterna, choram juntos, lêem uma passagem, oram e consolam um ao outro. Para eles, a Bíblia é um tesouro de valor infinito. Dariam tudo para desfrutar das oportunidades que temos aqui no mundo livre.

Deus sabe o quanto precisamos de um avivamento como aquele em nossos dias, aqui no mundo ocidental. No avivamento, Deus mesmo age. Ninguém mais nos poderá ajudar. Somente Deus.

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