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Missões: A Outra Parte do Corpo de Cristo

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Por Douglas Mônaco

Consciência e Ação

Em 19 de julho de 2005, cerca de duzentos oficiais formaram um cordão de isolamento na Igreja Menonita Vietnamita em Ho Chi Min – antiga Saigon, então capital do Vietnã do Sul –, enviando uma enorme força tarefa que destruiu parte da igreja, incluindo a casa do pastor Nguye Hong Quang e sua família. O reverendo Quang foi preso por resistir às autoridades. Sua esposa, Le Thi Phu Dung, estava em casa com os três filhos quando as autoridades chegaram. Seu telefone celular foi clonado, de modo que ela não pôde alertar as pessoas. Tudo que ela e seus filhos puderam fazer foi assistir e orar em angústia. Apesar da destruição de boa parte do Centro Menonita ocorrida no dia 19, quinze membros se reuniram no que restou do prédio para uma reunião de oração, às 7 horas da noite do dia 24 de julho. Assim que a reunião começou, cerca de trinta oficiais, incluindo a polícia, forças de segurança e forças de defesa locais, bem como o líder da comunidade, chegaram para interromper o encontro.

Alguns meses antes, em outro país, Bangladesh, no dia 8 de março, o pastor e evangelista Dulal Sarkar foi decapitado. Sarkar, de trinta e cinco anos, trabalhava na Igreja Batista Livre de Bangladesh em Jalapur, sudoeste da região de Khula. Ele tinha estabelecido várias igrejas na área e também trabalhara como vigia e assistente geral da igreja. Na semana anterior à sua morte, ele compartilhara sua fé com vários muçulmanos, que se tornaram cristãos. Estes foram levados até a igreja para discipulado. No dia 8 de março, Sarkar novamente pregou o evangelho para mais muçulmanos. No seu caminho de casa, ele foi atacado por um grupo de homens armados, que, segundo uma fonte, “separaram sua cabeça do restante do corpo”. Os assassinos foram identificados como um grupo de dez extremistas locais islâmicos. O pastor deixou sua esposa com cinco filhos em sérias dificuldades financeiras.

Um pouco mais atrás no tempo, no dia 21 de abril de 1997, em Arbil, capital regional do Curdistão iraquiano, Mansour Hussein Sifir foi morto a tiros, na livraria cristã onde trabalhava, por um assaltante desconhecido. Um observador, que tinha escritório na rua onde aconteceu o assassinato, quis saber o porquê e o perguntou à multidão que estava ao redor da livraria na manhã do crime. Disseram-lhe: “Ele era um curdo que se convertera ao cristianismo e havia convertido dois outros curdos, por isso alguém o matou”. Mansour deixou a esposa, Ruth, e um filho, de somente um ano e meio de idade. Oito meses depois da sua morte, sua esposa deu à luz o segundo filho.

Os fatos acima referem-se à Igreja Perseguida de que a Bíblia e a história da igreja tanto falam. O que é notável é que são recentes.

Mas, em pleno 2005, a Igreja no mundo todo e, infelizmente, também no Brasil revela um conhecimento ainda incipiente da questão da perseguição a cristãos, tanto de um ponto de vista bíblico como histórico e factual contemporâneo. Nesse contexto, as necessidades de duzentos milhões de cristãos espalhados pelo planeta e que vivem sob forte discriminação estão à espera de nosso apoio.

Os casos são muitos e de características variadas:

• Dezenas de milhões de irmãos chineses e vietnamitas vivendo na ilegalidade por não aceitarem o monitoramento permanente das igrejas oficiais.

• Irmãos do Laos e da Coréia do Norte em campos de trabalhos forçados e sob humilhação em dois dos mais fechados regimes ainda vigentes no mundo.

• Irmãos da Igreja nascente no Uzbequistão, no Turcomenistão e Azerbaijão enfrentando oposição dos remanescentes do comunismo e do predomínio islâmico.

• Irmãos colombianos, sob o fogo cruzado do governo e narcotraficantes, tendo que resistir às tentativas de cooptação que vêm dos dois lados.

• Irmãos sudaneses oprimidos pela tentativa do governo de islamizar a parte cristã do país.

• Irmãos cubanos veladamente ameaçados e sutilmente discriminados pela burocracia do governo, que é lenta para todos e mais lenta e restritiva para os protestantes.

• Irmãos indianos, paquistaneses, iranianos, sauditas, indonésios, turcos e de mais de quarenta outros países em que o extremismo religioso tenta eliminar a presença cristã.

Eles precisam de Bíblias onde são escassas; precisam da capacitação de seus pastores, pois a debilidade doutrinária é um fator de dispersão dos rebanhos; precisam de apoio legal, às vezes financeiro, para presos e suas famílias ou até para famílias de irmãos assassinados. Acima de tudo, eles precisam saber que nós não os ignoramos.

Os Fatos tem Raiz Bíblica

Será que estes fatos devem nos alarmar? Não necessariamente, pois temos de ter consciência que a perseguição aos que professam a fé cristã, seja no plano verbal seja no das atitudes, é uma “promessa bíblica”.

Em João 15.20, Jesus diz: “Não é o servo maior do que o seu senhor. Se eles me perseguiram, também vos perseguirão”. Em 2 Timóteo 3.12, Paulo escreve: “E na verdade todos os que desejam viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições”.

E, de fato, desde a época da igreja primitiva, inúmeros homens e mulheres perderam suas vidas por sua fé cristã, e a perseguição tem sido a experiência diária de incontáveis cristãos. Até o dia da volta de Jesus, é mais provável que os cristãos sejam pressionados do que elogiados. Outrossim, o estudo cuidadoso do livro de Apocalipse revela que quanto mais perto da Segunda Vinda de Cristo, mais a perseguição aumentará.

Será, então, o fatalismo a atitude correta? Decididamente não. A Palavra nos ensina a ter esperança. Em Romanos 8.36 a 39, lemos que nada nos separará “do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor”. Além disso, a perseguição é um sinal de aprovação do cristão. É bem claro o texto de Mateus 5.11: “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa”.

Duas Situações

O que fazer então? Há sempre dois casos: quando se é perseguido e quando se sabe de alguém que é perseguido.

Quando se é perseguido, a Palavra nos ensina a resistir e perseverar. Quando estava preso por ser um pregador, Paulo afirma, em 2 Timóteo 2.12: “Se perseverarmos, com ele também reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará.” E, em Filipenses 4.13, diz: “Posso todas as coisas naquele que me fortalece”.

Quando se recebe notícia de irmãos perseguidos, a Palavra também é clara: “Se um membro padece, todos os membros padecem com ele” (1 Co 12.26); e: “Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles, e dos maltratados, como sendo-o vós mesmos também no corpo”(Hb 13.3).

Assim, o nosso apelo é simples: precisamos retornar ao modelo bíblico do sofrimento na vida da igreja. Isso significa o reconhecimento que, para muitos, o dizer publicamente: “Eu aceito a Cristo” é um convite para ser discriminado em tudo até à morte. Essa foi a experiência da igreja do Novo Testamento. Essa é também a experiência de milhões de crentes evangélicos através do mundo hoje.

É de suma importância apoiar cada esforço para informar os cristãos que hoje vivem em liberdade sobre essa realidade mundial. Como Paulo disse a Timóteo: “Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor… antes participa comigo das aflições do evangelho…” (2 Tm 1.8).

E são precisamente esses cristãos que “testificam sem acanhamento”, como Paulo encorajou, que, com freqüência, enfrentam o impacto da perseguição. Em países restritos, são os pregadores que correm risco de prisão, os evangelistas que são obrigados a fugir da polícia, e os recém-convertidos, tachados de “criminosos”.

Ao ajudar nossos irmãos perseguidos, na verdade estamos defendendo e avançando a causa da Grande Comissão. Há pelo menos quatro formas claras de apoiar nossos irmãos perseguidos.

1. Oração – O Elo Vital

Pergunte a um cristão perseguido como você poderá ajudá-lo, e a resposta invariável será: “Por favor, ore por nós”. Eles aprenderam o poder da oração. Um irmão cristão, preso injustamente e sozinho na cela de uma prisão no Peru, diz: “Nós só podemos continuar por causa da forma como vocês nos ajudam em oração”.

Quando trabalhamos para fortalecer a Igreja Perseguida, descobrimos uma nova e empolgante dimensão nos relacionamentos de oração com os crentes que sofrem. A Igreja Livre reaprende a orar de forma altruísta (sem visar benefício próprio) pela Igreja Perseguida e é revigorada quando vê como Deus responde a essas orações. Imagine a alegria do médico holandês, que, num grupo de oração de Portas Abertas, foi comovido por Deus a dar alguns remédios específicos para um amigo entregador de Bíblias que ia viajar para o Leste Europeu. Quando o mensageiro chegou, a irmã do seu contato estava morrendo; o entregador descobriu então que havia trazido exatamente o (raro) remédio de que ela necessitava.

Esse vigor essencial é cada vez mais reconhecido pelos cristãos ao redor do mundo, como se evidencia no tremendo crescimento do Dia Internacional de Oração pela Igreja Perseguida. De pequenos começos, essa envolvente atividade tem crescido a ponto de reunir mais de 300 mil igrejas em 130 países.

A Igreja Perseguida é uma igreja de oração. Na China, eles se levantam às 3 horas da manhã para “a primeira reunião de oração do dia”. Sim, é um elo estimulante e vital levar essas pessoas especiais perante o Senhor e saber que, em troca, eles estão orando por nós.

2. Ministério da Presença

Quando os cristãos se unem em oração, o Senhor chama muitos para “colocarem pés em suas orações” e estabelecerem contato pessoal com a Igreja Perseguida. Apesar da dura discriminação e até agressões físicas que os crentes lá freqüentemente enfrentam, eles são fortalecidos para suportar a perseguição na medida em que sabem que não estão esquecidos.

Uma estratégia chave do inimigo é isolar e oprimir. A nossa presença na Igreja Perseguida vai evitar que isso aconteça e, posteriormente, capacitará as próprias pessoas lá a levar o evangelho para áreas que somente elas podem alcançar.

3. Remessa das Escrituras

Simultaneamente, quando os cristãos respondem à necessidade de ir e “alimentar os cordeiros”, reafirmam o papel central da Bíblia na vida cristã. Na China, na África – no mundo todo –, a necessidade maior e o vácuo mais intenso nas vidas dos novos crentes expostos, isolados e ameaçados é o fato de não terem acesso à Palavra de Deus. Um novo e urgente chamado profético deve ser feito à Igreja Livre para reconhecer e responder a essa necessidade, para reafirmar sua própria identidade fundamentada na Bíblia, ao mesmo tempo em que protege o futuro dos crentes da Igreja Perseguida.

Esta reafirmação – baseada nas Escrituras – significa também que a igreja que não sofre restrições reconhece que usa mal sua liberdade se não leva alívio e libertação aos que ainda estão cativos e oprimidos. Isto requer redescobrir os temas tão enfáticos dos antigos profetas do Velho Testamento sobre justiça e retidão e reconhecer que se aplicam com efetiva pertinência ao comportamento das nações e das bases corruptas do poder em relação ao povo de Deus hoje em dia. E o mesmo apelo para que seu povo se arrependa precisa de uma resposta. O pecado da recusa, que encobriu o sofrimento de milhões de cristãos sob o comunismo soviético, precisa ser confessado. O conceito de unidade precisa passar de “compromisso” ou “correção política” para incluir a verdadeira solidariedade em ações práticas com nossos irmãos sofredores em suas necessidades.

4. Cuidado com os Convertidos

A necessidade de dar atenção especial aos novos convertidos existe tanto no mundo livre como nos lugares em que há resistência ao evangelho. Isso implica uma profunda necessidade desses novos membros do corpo de Cristo por verdadeira espiritualidade e discipulado. Novos convertidos são uma categoria de “alto risco” devido à falta de conhecimento e discipulado. São alvos favoritos dos inimigos do evangelho.

O simples registro dos números de convertidos não é suficiente. O regozijo no reavivamento precisa ser contrabalançado com a preocupação com o preço pago por milhões que se convertem. Em algumas sociedades muçulmanas, converter-se ao cristianismo é um risco muito alto, quase morte certa se for descoberto. Essas sociedades são agora as mais resistentes ao evangelho. Se realmente nos importamos com a divulgação do evangelho “a todas as nações” e com o crescimento de uma igreja forte e sadia, cuidar dos convertidos nesses lugares deve ser de igual forma vital.

Mensagem à Igreja Brasileira

E o que é que a igreja brasileira pode fazer? Nossa igreja é grande e continua crescendo. Temos um potencial enorme para nos envolver e ser abençoados. Conforme já foi dito, apoiar a Igreja Perseguida é cooperar com o esforço missionário mundial, uma vez que os cristãos perseguidos são testemunhas de Jesus Cristo nos territórios mais inóspitos do mundo.

Mas, para isso, é preciso consciência, pois somente ela modifica a atitude e impulsiona à ação. A ação é fundamental, pois sem ela a consciência fica estéril. Ressalte-se, porém, que a ação a serviço do Evangelho transforma os que são ajudados e também os que ajudam, ao mesmo tempo.

Nossa escala de valores é aprimorada quando servimos nossos irmãos em suas limitações mais elementares ao exercício da fé. Ao ver sua luta e perseverança para ter sua primeira Bíblia ou para conseguir reunir-se em culto, aos poucos, nossos alvos “deste século” vão descendo em importância e os alvos eternos vão subindo.

Quer ser um dos que vão ganhar consciência e agir? Nossa esperança é ter essa realidade permeando o dia-a-dia de toda a Igreja Brasileira.

Douglas C. Mônaco é secretário geral da Missão Portas Abertas no Brasil. Para entrar em contato com a missão, acesse www.portasabertas.org.br, ou escreva para [email protected], ou para Caixa Postal 55.111, 04733-970 São Paulo, SP.

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