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A cada um, o seu trabalho

F.B. Meyer

A vida cristã se manifesta em atividade santa tão certamente quanto a planta se manifesta em flor e fruto. É perfeitamente válido falar de tais atividades como trabalho ou tarefa – “a cada um sua tarefa” (Mc 13.34). Porém, descrevê-las como fruto traz à tona outros aspectos de significado e aponta a nossa necessidade de depender totalmente da viva conexão com o glorioso Senhor para produzir qualquer trabalho bem-sucedido na sua obra.

O próprio Senhor Jesus é o grande Trabalhador. Ele veio completar a obra que seu Pai lhe deu para realizar. Marcos acertadamente descreve-o durante a sua carreira terrena como um ágil e incansável trabalhador, cujos dias eram repletos de incidentes desde o alvorecer até noite a dentro. “Importa que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; vem a noite, quando ninguém pode trabalhar” (Jo 9.4).

É um grande equívoco supor que seu trabalho tenha cessado. Os Evangelhos nos contam somente o que ele começou a fazer e ensinar. Porém, o livro dos Atos dos Apóstolos, que poderia ser intitulado o livro dos Atos do Senhor Ressurreto e Glorificado, retoma a história maravilhosa e nos conta o que ele continuou a fazer e a ensinar depois que subiu, para além das nuvens e das estrelas, até à direita de Deus. Ele continua sendo o grande Trabalhador durante todas as eras, tanto no universo, quanto na Igreja.

Ao mesmo tempo, não é verdade que o Senhor, depois da ascensão,procura instrumentos para expressar seus pensamentos e realizar seus poderosos propósitos? Ele é a Cabeça do Corpo, a Igreja, e necessita de membros como instrumentos para poder transmitir seus planos de graça e poder ao mundo. Assim como no passado ele passava as bênçãos que pulsavam no coração para as mãos, os lábios e a presença do seu corpo mortal, da mesma maneira hoje ele precisa de seus amados para serem suas mãos, seus lábios, seus pés, seu corpo – por meio do qual as pessoas possam receber virtude e cura. Paulo,portanto, estava sendo coerente com a mais profunda verdade quando declarou em detalhes quantas coisas “Deus fizera” entre os gentios pelo seu ministério (At 15.12). E nós só conseguiremos trabalhar com eficácia quando compreendermos que não se exige de nós originar ou executar obras para Cristo, mas apenas desenvolver as estratégias e planos que ele criou na força do seu próprio poder.

Quem entre nós não almeja ser o mais útil possível nesta sua breve vida, a fim de realizar todo o seu potencial e conquistar aquilo para o qual Cristo o conquistou? Porém, isso nunca será possível enquanto todos os dons, as habilidades e os talentos naturais que Cristo já redimiu não forem depositados inteiramente à sua disposição por meio desta oração: “Faze comigo, em mim, para mim e por mim segundo a tua vontade; tão somente faze de mim o máximo que for possível do lado de cá da eternidade. Executa tudo segundo o teu próprio plano e ideal. Cumpre em mim todo o bom agrado da tua vontade. Cumpre plenamente o teu propósito para minha vida”.

O fabricante do órgão é quem melhor consegue desenvolver os tons doces e potentes que ficam adormecidos dentro do instrumento. O inventor de uma máquina engenhosa é quem sabe melhor desvendar as suas diversas aplicações e utilidades. E certamente é razoável afirmar que aquele que sabe o que está dentro de nós é quem pode melhor identificar nossas capacidades, usá-las e manuseá-las para a sua glória e para a nossa alegria. Imagine o que o Senhor poderia realizar por nosso intermédio se fôssemos tão somente totalmente rendidos a ele!

Vamos relacionar algumas orientações que podem ser úteis a obreiros cristãos.

Trabalhar com motivação pura

Infelizmente, grande parte do nosso trabalho passa despercebida e sem aprovação no céu porque foi produzida com motivações que não passam pelo critério divino. Que vergonha muitos de nós sentiríamos se pudéssemos ver as motivações desprezíveis e indignas que estiveram por trás das nossas ações. Ganhar sustento, fazer um nome, receber aplausos, superar um concorrente, alcançar uma vitória, realizar uma tarefa difícil e quase impossível; essas motivações foram as que nos inspiraram a realizar a maioria das ações no serviço cristão, as quais receberam elogios da parte dos que julgam pelas aparências, não pelo coração. Como seria possível Deus ficar satisfeito conosco ou aceitar nosso serviço? Nossos feitos mais esplêndidos foram contaminados irreparavelmente pela vileza das motivações que os geraram.

Nossas motivações precisam ser puras. A raiz afeta todo o fruto. A corrente não pode subir acima de sua nascente. Temos que eliminar o foco incessante no “eu”. Temos que nos tornar impermeáveis aos louvores ou acusações dos homens. Temos que deixar o sol do amor divino consumir o fogo de ambição egoísta e objetivos pessoais. Temos que apresentar nosso coração fraco e cansado ao divino Cardiologista, pedindo-lhe que o purifique pela inspiração do seu Santo Espírito, desembaraçando a maldade grudenta que vem do “eu” e enchendo-nos com seu próprio amor doce, puro e perfeito. Queira Deus que nossos corações queimem com a chama pura de devoção que treme no coração dos serafins! Este é nosso clamor na vida e na morte: “Glória a Deus nas alturas!”.

Trabalhar segundo o plano de Deus

Um dos textos mais sugestivos na Bíblia, abrangente nas suas inúmeras aplicações, são as palavras de Deus para Moisés:“Vê que faças todas as coisas de acordo como modelo que te foi mostrado no monte (Hb 8.5). Nenhuma estaca, cortina ou partícula de especiarias flagrantes foi deixada para a engenhosidade dos artífices ou para a imaginação do legislador. Tudo foi revelado a Moisés com elaborados detalhes,deixando para o seu encargo apenas a reprodução desse plano em obediência cuidadosa e exata até que fosse plenamente concretizado diante da multidão maravilhada de Israel. E Deus providenciou material em abundância para executar o plano. Se cumprirmos as suas ordens, não precisaremos ter ansiedade alguma sobre a provisão de matéria prima;ele mesmo se responsabilizará por tudo isso.

Será que isso não explica a maioria dos nossos fracassos? Raciocinamos: “Parece ser um projeto viável; tem um bom potencial, outros já estão fazendo, o sucesso parece estar ao meu alcance e traria um fruto muito aprazível; com certeza, vou me empenhar para buscá-lo”. Nem paramos para perguntar se essa é uma das boas obras que Deus tem preparado de antemão para nós (Ef 2.10). Não procuramos saber, em oração, esperando no Senhor, se esse plano é realmente de Deus para nós. Não aguardamos com humildade para ser ensinados se Deus deseja nossa cooperação nessa direção específica.

Somente depois que já mergulhamos no projeto e enfrentamos toda sorte de desencorajamento é que começamos a questionar se deveríamos ter iniciado a obra. Nessa hora, corremos para pedir que Deus nos tire da situação, nos ajude e nos perdoe por ter construído, lançado e fretado nossos navios sem sequer perguntar se estávamos agindo segundo a sua vontade. É um fato: nós iniciamos o empreendimento e prontamente pedimos que Deus nos ajude, ao invés de perguntar primeiro o que ele está fazendo e se haveria a possibilidade de cooperar com ele.

Não pense que se não agirmos sem antes consultar ao Senhor nos tornaremos sonhadores sem rumo. Ninguém é mais energético, mais veloz, mais eficaz em suas atividades santas do que aquele que sabe que está alinhado com Deus, dando sua pequena contribuição para uma grandiosa estratégia escolhida por ele, certo de que o plano dele quando consumado o justificará amplamente, e lançando toda a responsabilidade da obra sobre a perfeita sabedoria dele.

Não corra para lá e para cá pedindo algo para fazer. Como alguém pode lhe dizer o que o Mestre quer que você faça? O melhor que podemos fazer é dar palpite. Vá direto ao Senhor Jesus você mesmo. Diga-lhe que você não suporta ficar fora da sua gloriosa comunhão. Suplique que lhe mostre o seu lugar de contribuição. E não se contente até que, como Pedro, você consiga passar da visão para a tarefa e, ao ouvir os mensageiros de longe batendo na porta, você seja convocado para o trabalho que Deus ordenou e que precisa da sua função.

Trabalhar como quem acabou de ser purificado

Os sacerdotes precisavam lavar pés e mãos na bacia de bronze antes de executar o serviço do santuário. Os que carregam os vasos do Senhor precisam ser limpos. Aquele que quiser ser “vaso para honra, santificado e útil ao Senhor, preparado para toda boa obra” (2 Tm 2.21) precisa purificar-se de toda iniquidade.

Se estivermos com pressa para dar um gole de água refrescante para um viajante, tomaremos da prateleira a primeira vasilha limpa ao nosso alcance. Passaremos por cima do cálice elegante e decorado e escolheremos um vaso de barro se o mesmo estiver nas condições de limpeza que o mais sofisticado não apresentar. E nosso Senhor Jesus nos usará com alegria para seu serviço,ainda que sejamos vasos comuns, se apenas estivermos purificados e prontos para ser usados.

Trabalhar na força de Deus

Ninguém é enviado para a batalha por conta própria.Entretanto, muitos cristãos alegam que trabalhar é uma ordem constante do céu. Ninguém é chamado para uma obra que Deus sabe que está fora dos limites da força que ele já concedeu ou que está pronto a conceder para todo coração aberto e voluntário. Ele não quer a nossa força –que muitas vezes é um impedimento porque estamos tão prontos a depender dela ao invés de confiar nele. Ele quer a nossa fraqueza, as nossas enfermidades, nosso nada – “para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós” (2 Co 4.7).

Ao invés de seu sentimento de impotência ser uma barreira para seu trabalho eficaz, é um dos elementos mais fortes para o seu sucesso – se você buscar de todo coração apropriar-se da força de Deus e ficar em paz. “Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois,mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo” (2 Co 12.9).

Ao solicitar que cristãos se encarreguem de certos tipos de trabalho na obra de Deus, frequentemente se ouve a desculpa: “Não consigo fazê-lo, não estou equipado para isso. Não tenho dom da palavra”.  Tais pessoas necessitam voltar ao deserto para aprender a importante lição do cajado que Moisés tinha em sua mão. Ele estava questionando sua suficiência para se encarregar do trabalho que estava sendo colocado em seus ombros, mas teve de aprender que se o cajado for lançado no chão diante de Deus, ele recebe novos poderes. O cajado (aquilo que já temos em mãos e que não tem poder algum em si mesmo), quando entregue a Deus, pode ser investido de poder sobrenatural a ponto de realizar aquilo que seria impossível por natureza, como abrir um caminho no meio das ondas do mar, afastar as hostes de Amaleque e tirar água da pedra dura.

Porque não podemos ser como o cajado nas mãos de Cristo? Sem ele,somos meros caniços quebrados; nele e com ele nos tornamos colunas no templo de onde nunca mais sairemos. “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13).

E não há maneira melhor para receber a força do Senhor do que ser estudioso da sua preciosa Palavra. Esse é o meio de transmitir força para o nosso ser mais profundo,assim como o grão transmite a força da terra para nutrir a vida natural. Leia a sua Bíblia, trabalhador cristão, se quiser ser forte. Faz todo sentido que o Espírito Santo use pronta e poderosamente aquele cuja mente é impregnada e saturada com os pensamentos e terminologia das Escrituras, que foram estabelecidos por ele como transmissor das verdades eternas ao coração humano.

Trabalhar com expectativa de fé

Quantas vezes se tem dito, com toda razão, que Deus nunca usa uma pessoa desanimada. Pouco sucesso chegará àquele que não crê, nem espera receber. Nisso, como em todo trabalho espiritual, somos governados por uma lei imutável: “Seja feito segundo a sua fé” (Mt 9.29). “Tão somente sê forte e mui corajoso…” (Js 1.7).

E porque não sairemos com a certeza daqueles que sabem sem dúvida que voltarão com alegria, trazendo com eles os seus feixes? Estamos realizando as incumbências de Deus;fomos providos com as suas sementes; fomos direcionados por sua sabedoria inerrante para nosso lugar específico no campo;estamos seguros de sua cooperação em dar o sol e a garoa, o orvalho e a chuva. Pode ser que tenhamos que esperar, como todo lavrador, mas não podemos duvidar do resultado final.

Oh, quão glorioso é o nosso trabalho – dar vazão aos anseios do amor divino; ser instrumentos do propósito redentor de Deus; ser parceiros de Cristo na salvação dos perdidos; resgatar homens como tições do fogo e levantá-los como tochas para o avanço do Rei; apressar o dia glorioso da sua vinda; ser seus arautos e embaixadores!

É um privilégio ser chamado a fazer isso; e mil vezes melhor saber que será a nossa ocupação nas eras eternas, como está escrito: “e os seus servos o servirão” (Ap 22.3).

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