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Para Ser Glorificado nos Seus Santos

Por Christopher Walker

A Bíblia não é um mero livro de doutrinas, mandamentos e conduta ética, assim como tantos outros livros sagrados nas diversas religiões criadas por homens. Pelo contrário, é um relato inspirado da fascinante história que Deus vem escrevendo juntamente com o homem durante alguns milhares de anos – e que ainda não chegou à parte mais importante: o final! A rigor, é o final de apenas um capítulo, já que a história deve continuar por toda a eternidade; porém, para poder iniciar as próximas etapas, é essencial que o capítulo atual seja devidamente finalizado.

Como enfatizamos em artigo anterior (Que Tipo de Consumação?), se quisermos ter uma escatologia correta, devemos buscar uma visão adequada do quadro maior, da história como um todo, para ver se o fim que esperamos é, de fato, o fim que Deus quer.

Uma história de guerra

O drama que Deus está desenvolvendo com a humanidade é tão grandioso que pode ser descrito de várias formas: é uma história de amor (um romance), de uma família, de uma cidade, de um reino. Mas, também, é uma história de guerra.

Antes mesmo de o homem ser criado, uma guerra foi iniciada entre alguns seres criados, liderados por Lúcifer, e o Criador. Não sabemos muito sobre o que aconteceu naquela primeira rebelião no Céu. O que sabemos é que o primeiro homem recebeu a incumbência divina de sujeitar toda a Terra ao domínio de Deus. Exposto à voz de Deus, mas também à voz da serpente, o homem deu ouvidos ao inimigo e, sem saber exatamente o que estava fazendo, entregou o domínio da Terra e de si mesmo a Satanás.

Ali, de certa forma, ficou definida uma característica que continuaria durante o resto da história. Nas palavras de Deus à serpente:

“Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15).

Satanás já havia desafiado o Criador, querendo ser maior do que ele (Is 14.13,14). Agora, estava tomando domínio sobre o coração do homem, criado à imagem de Deus, na tentativa de frustrar o plano divino de estabelecer seu Reino e sua morada na Terra. Estava lançado o desafio; a partir daí, só poderia haver guerra entre os dois até resolver definitivamente a questão.

Deus, obviamente, tinha todo o poder necessário para derrotar seus inimigos num estalar de dedos. Entretanto, isso feriria sua natureza e não lhe traria glória (veja também a explicação sobre as regras do jogo no artigo Céus e Terra no Plano de Deus, nesta edição). Observe como Deus definiu a inimizade no texto acima: “entre ti e a mulher…”. Deus não queria medir forças com Satanás. Ele não iria rebaixar-se para lutar de acordo com os métodos do inimigo. A guerra seria entre Satanás e a mulher. É uma guerra que envolve diretamente o homem. Não estamos nessa história simplesmente assistindo a um espetáculo – fazemos parte dela!

Durante todas as etapas subsequentes, em cada passo da história, a guerra entre o povo de Deus e o inimigo tem persistido. Usando todas as suas armas e astúcia, Satanás tem procurado destruir o prometido descendente da mulher e frustrar os propósitos divinos. Seus instrumentos foram os mais variados: Faraó e os egípcios, Balaque e Balaão, Golias e os filisteus, os sucessivos reinos humanos personificados principalmente por Babilônia, dentre outros. Em diversos momentos históricos, o inimigo chegou muito perto do seu objetivo, quase destruindo a linhagem da semente ou levando o povo de Deus a praticamente perder sua identidade e missão.

No meio de tantas crises e batalhas, a história do Velho Testamento quase parece um relato de fracassos. Deus não só perdeu a primeira batalha envolvendo o coração do homem no jardim do Éden, mas muitas outras posteriores com seu povo escolhido, Israel.

Entretanto, por intermédio dos profetas, Deus mostrou que não estava perdido. Ele sabia exatamente o que estava fazendo. Por mais que parecesse que o inimigo estava levando vantagem, os profetas declaravam que o final da história revelaria o verdadeiro vencedor. No fim, diziam eles, Deus vencerá. Haverá um grande conflito final, o Senhor executará juízo sobre os inimigos e reinará em glória e paz para sempre sobre toda a Terra.

As mensagens proféticas constituem uma das partes mais importantes do Velho Testamento (só os livros dos profetas maiores e menores representam mais de 25% do total). Várias vezes, os autores do Novo Testamento se referem ao Velho como a lei e os profetas. Sabemos que uma das funções dos profetas era anunciar a vinda do Messias, mas é menos conhecido o fato de que mencionaram muito mais a Segunda Vinda (o dia do Senhor) do que a Primeira. E, quando descreviam esse grande evento de consumação, quase sempre falavam de uma grande batalha final. Veja, por exemplo, Isaías 24, 63.1-6, Jeremias 51, Ezequiel 38 e 39, Daniel 7 e 8, Joel 3, Habacuque 3,  Ageu 2.4-9, 20-22 e Zacarias 12-14, só para citar algumas passagens.

Porém, no meio de toda essa visão profética da grande vitória final, há um fator que não pode ser ignorado: embora o evento venha a ser indiscutivelmente a maior intervenção divina de toda a história, Deus está esperando algo acontecer com seu povo para entrar em ação. Se fosse só uma questão de Deus querer agir, por que ele não o teria feito há muito tempo? Por que tem segurado sua ira por todos esses séculos? Por que permite que o inimigo triunfe sobre seu povo e envergonhe o seu nome?

A resposta é que ele obterá muito maior glória vencendo o inimigo por meio do próprio homem que Satanás pensa que está sob seu domínio. Lembre: as regras do jogo são que o descendente da mulher terá de esmagar a cabeça de Satanás.

Por isso, estude com cuidado as passagens proféticas (Jeremias 30 e 31, por exemplo) e observe como Deus usa os inimigos para disciplinar e purificar seu povo da idolatria e infidelidade. Somente quando esse processo se completar é que Deus estará liberado para entrar em ação e trazer juízo final e estabelecer seu Reino definitivamente na Terra.

Como Jesus glorificou a Deus

Sabemos que Jesus foi o descendente da mulher ao qual Deus se referira em Gênesis 3.15. Ele veio como homem, filho de Adão, e tomou de volta o direito de sujeitar a Terra ao domínio de Deus, por ter vivido na carne sem pecado.

Além de ter vivido sem pecado, sem ceder às tentações de Satanás, ele mostrou como se deve glorificar a Deus na guerra contra o inimigo. Este é o ponto mais importante da estratégia divina: ele não será glorificado se vencer a guerra simplesmente porque é mais poderoso que seu adversário. Ele é glorificado quando vence por causa de sua natureza de amor, quando se humilha, tornando-se servo e morrendo no lugar daqueles que foram enganados e dominados pelo traidor.

Satanás não consegue entender isso, porque é consumido por apenas um pensamento: usar qualquer artifício (mentir, enganar, subornar, trapacear) para se exaltar, para tornar-se maior e poder dominar os outros. Acho interessante quando algumas pessoas pensam que não devem revelar suas intenções em voz alta, para Satanás não conseguir armar uma estratégia para obstruí-las. “O diabo não consegue ler pensamentos”, dizem. “Então, se não falarmos em voz alta, ele não vai saber o que pretendemos fazer.”

Não se preocupe! Jesus dizia abertamente que seria morto pelos escribas e sacerdotes e, mesmo assim, Satanás não se deu conta da estratégia divina. Quando conseguiu colocar o Filho de Deus numa cruz, ele achou que tinha marcado o maior gol da história. Caiu na armadilha direitinho! Foi pela morte que Jesus venceu Satanás, e foi assim que glorificou o Pai.

Em João 12, pouco antes de sua crucificação, Jesus disse:
“É chegada a hora de ser glorificado o Filho do Homem. Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto” (vv. 23,24).

Ele sabia que sua missão era glorificar o Pai pela morte. Porém, angustiado em sua natureza humana, chegou a ficar dividido:

“Agora, está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente com este propósito vim para esta hora. Pai, glorifica o teu nome” (vv. 27,28, ênfase acrescentada).

Da mesma forma, assim que Judas saiu da mesa para concretizar sua traição, Jesus declarou:
“Agora, foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele; se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará nele mesmo; e glorificá-lo-á imediatamente” (Jo 13.31,32).

Um homem, filho de Adão, fez algo que Satanás e todos os principados e potestades abaixo dele jamais seriam capazes de fazer. Deus foi glorificado porque o descendente da mulher o amou a ponto de dar a própria vida para fazer a vontade dele; Satanás foi derrotado e envergonhado, porque perdeu totalmente sua aposta de que o homem, contaminado pelo vírus de amor-próprio e autopreservação, jamais negaria a si mesmo; e, finalmente, Jesus foi glorificado quando foi ressuscitado dos mortos e exaltado à destra do Pai (Fp 2.5-11).

Como a Igreja glorificará Jesus

Como cristãos modernos, gostamos de citar as palavras de Paulo sobre Jesus:
“sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos” (2 Co 8.9).

A mensagem hoje é que Jesus sofreu para não precisarmos sofrer; morreu para livrar-nos da morte.

De fato, essa é uma grande verdade – mas é apenas parte do quadro. O Novo Testamento está cheio de textos mostrando que a vida de Jesus em nós produz a mesma atitude, o mesmo sentimento que havia nele (Fp 2.5; 1 Pe 4.1).

Na verdade, nossa missão é a mesma de Jesus. Quem serve a Cristo, deve segui-lo para o mesmo lugar em que ele esteve naquele momento, escolhendo não amar a vida até a morte e glorificando o Pai (Jo 12.25,26; veja também Ap 12.11). Assim como Jesus triunfou sobre principados e potestades, expondo-os à vergonha por causa de sua atitude de entregar-se à morte (Cl 2.15), a Igreja também é chamada para revelar essa sabedoria totalmente contrária à sabedoria dos poderosos aos mesmos seres celestiais caídos (Ef 3.10; 1 Co 1.23-28; 2.6-8).

O final da guerra já foi determinado: Satanás será derrotado e lançado no lago de fogo (Ap 20.10). Todos os inimigos serão subjugados a Cristo (1 Co 15.24-26). Mas algo muito importante deve acontecer na Segunda Vinda de acordo com 2 Tessalonicenses 1.7-10. Quando Jesus vier, juntamente com os anjos, em chamas de fogo para derrotar e destruir todos os inimigos, ele também será “glorificado nos seus santos e […] admirado em todos os que creram” (v.10).

Ali está uma das chaves para entender por que Jesus não voltou ainda. Se o Senhor voltasse hoje, será que seríamos uma honra ou uma vergonha para ele? A glória da vitória será dele, mas a maior vergonha para Satanás e a maior glória para Deus será um povo, conquistado pelo amor de Jesus, totalmente entregue à vontade do Pai, dispondo da própria vida para ser fiel a ele.

É por isso que o livro do Apocalipse, falando sobre a batalha final, mostra uma aparente derrota do povo de Deus diante das forças das trevas:

“Foi-lhe dado [à besta], também, que pelejasse contra os santos e os vencesse” (Ap 13.7; Dn 7.21-25).

Essa será, entretanto, apenas mais uma armadilha para o inimigo, que não entende a sabedoria de Deus nem a estratégia que será usada contra ele. Pois os santos vencerão o diabo (Ap 12.11) e a besta (Ap 15.2) com o sangue do Cordeiro, a palavra do testemunho e ações que são fruto de amar a Deus mais do que a própria vida.

A visão que João teve do tempo do fim incluiu muita guerra e um grande confronto entre as trevas e os exércitos de Deus. Ele viu, também, a imensa glória que virá da multidão de fiéis que engrandecerão o Rei ao passar pela grande tribulação:

“Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos; […] Um dos anciãos tomou a palavra, dizendo: Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde vieram? Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Ap 7.9-14).

Quem são esses que passaram pela tribulação? Não judeus naturais da nação de Israel nem alguns remanescentes que se converteram depois que a Igreja foi arrebatada. São a grande multidão de todas as nações, tribos, povos e línguas – em outras palavras, toda a Igreja!

Quero desafiar você, leitor, a examinar as Escrituras com todo cuidado para chegar à sua própria conclusão. Mas estude a Bíblia toda e procure obter uma ampla visão da história de Deus na Terra para poder entender o fim que ele espera.

Particularmente, não posso conciliar essa visão com um final em que a Igreja não vence o desafio, não manifesta a natureza de Jesus na Terra, continua escrava de sua tendência egocêntrica de autopreservação e é retirada da cena de ação justamente quando a batalha chega ao ponto crítico e Deus espera ser glorificado por um povo que o ama acima de todas as coisas! Se Jesus voltasse dessa forma, seria uma vitória com gosto de derrota.

E, então? Vamos contentar-nos em pedir que o Senhor nos salve da hora da tribulação ou devemos entender que viemos ao mundo precisamente para glorificar o nome de Deus, honrando-o na maior de todas as tribulações, na maior de todas as batalhas?

Se amamos e desejamos, de fato, a sua vinda (2 Tm 4.8), devemos também ansiar ardentemente que ele seja glorificado e admirado em todos os seus santos (2 Ts 1.10).

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