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caminho que Jesus trilhou

O Choro por Jerusalém: Jeremias e Jesus

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Por: Christian Chen

A Presença de Deus e o Templo – O Conteúdo e a Casca

Ao ler o Antigo Testamento, devemos sempre ter em mente que quando Jerusalém é mencionada temos uma referência ao testemunho de Deus, pois a cidade de Deus e seu templo são inseparáveis. O templo é a realidade interior, e a cidade é o testemunho exterior – quando Deus está presente, o resultado gerado exteriormente é o seu testemunho na Terra. Da mesma forma, quando a realidade interior é perdida, o testemunho exterior não pode ser mantido.

Não podemos nos enganar: quando a vida divina se esvai, o que vemos é meramente uma organização humana, o resultado do agir das mãos do homem. Por isso não devemos fazer propaganda do testemunho de Deus, dizendo: “Nós somos a igreja, e ninguém mais é”; todos os que falam assim provam que não são a igreja. Aquele que realmente tem a presença de Deus pode falar qualquer coisa, menos essas palavras.

Sem a realidade interior, o homem cria uma falsificação do testemunho de Deus. Chega um ponto em que Deus destrói essa farsa – não deixando pedra sobre pedra. Foi assim logo antes do cativeiro, quando os israelitas adoravam a ídolos em oculto e ainda continuavam exteriormente com o serviço no templo, como se nada estivesse errado. Para Deus, porém, a realidade interior já não existia. Por isso o livro de Ezequiel diz que a glória de Deus se retirou de seu templo para o oeste do monte das Oliveiras e dali ascendeu aos céus (Ez 11.23).

O Choro de Jeremias

A partir daí, a Jerusalém da terra, o templo da terra, se tornou apenas uma casca: bela por fora, mas sem vida por dentro. Por isso Deus permitiu que o exército babilônico invadisse a Cidade Santa e a incendiasse. E, enquanto Jerusalém queimava, o profeta Jeremias estava, provavelmente, escondido numa caverna do monte Gólgota. Ele via a cidade sendo incendiada; o fogo estava queimando fora de Jeremias, mas a Bíblia nos indica que, na realidade, o fogo ardia dentro de seus ossos, queimando até esgotarem suas lágrimas. Passou a ser conhecido como o profeta que chorava (cf. Lm 3.49).

O livro de Lamentações registra o choro de Jeremias por Jerusalém. Ela não era a cidade do grande Rei? O próprio Deus havia dito que a escolhera e que nela habitaria. Ele desejava morar em Sião, queria ter nela seu lugar de descanso. Mas, por causa da idolatria dos israelitas, Deus permitiu que Nabucodonosor invadisse Jerusalém e a incendiasse. E Jeremias chorou ao ver a consumação de todo esse processo.

Que contraste com a época em que os israelitas se reuniam em Jerusalém nas festas! Ali não havia ninguém de mãos vazias, pois cada um levava o produto da terra de Canaã, a terra que manava leite e mel. Aqueles milhares de israelitas, como um só homem, davam um único testemunho de Deus na Terra, cantando: “Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!”. Quando havia a realidade interior, Deus permitia sua manifestação exterior.

Jerusalém estava sempre no coração dos filhos de Israel, mesmo quando estavam no cativeiro babilônico. Toda vez que se lembravam de Sião, eles choravam. A única coisa que podiam fazer era pendurar as harpas nos salgueiros junto aos rios de Babilônia, pois não lhes era possível entoar as belas canções de sua terra (Sl 137.1-4). Onde quer que eles estivessem, jamais se esqueceriam de Jerusalém, pois ela representava o testemunho de Deus. Por essa razão não havia israelita que não rejubilasse ao chegar em Jerusalém, que não derramasse lágrimas de alegria, pois todas as dores e dificuldades da jornada já haviam passado. Aqueles que realmente conheciam o testemunho de Deus, ao ver Jerusalém, eram tomados de incontida e espontânea alegria.

O Choro de Jesus

Mas, ao lermos a Bíblia, encontramos alguém que teve uma reação diferente ao ver Jerusalém. O caminho que o Senhor percorreu com os discípulos no último meio ano de seu ministério era quase o mesmo que os israelitas usavam para ir a Jerusalém na época das festas, era o caminho de Sião. Nessa etapa final de seu ministério, Jesus seguiu resolutamente para a Cidade Santa e disse algumas vezes aos discípulos: “Eis que subimos para Jerusalém” (Mt 16.21; 20.18; Mc 10.32, 33; Lc 9.51, 53; 13.22; 17.11; 18.31; 19.28). Jerusalém era seu alvo.

Em Mateus 16, lemos que Jesus perguntou aos seus discípulos quem o povo dizia ser ele. Alguns personagens foram mencionados, e havia também quem dissesse ser ele Jeremias. Por que Jesus se parecia com Jeremias? Por que citaram o nome desse profeta e não o de Isaías ou Ezequiel? Porque, em toda a Bíblia, só houve duas pessoas que choraram por Jerusalém: Jeremias e o Senhor Jesus.

Quando ele e os discípulos finalmente chegaram a Jerusalém – ao contrário dos outros israelitas que choravam no caminho por causa das dificuldades, mas alegravam-se ao ver a Cidade de Deus –, nosso Senhor chorou ao contemplar a cidade! No Antigo Testamento, o livro das Lamentações de Jeremias é um longo poema que expressa todo o sentimento profundo do profeta. Agora, lendo atentamente as palavras do Senhor Jesus, vemos que elas também são um poema. Há vários poemas ditos pelo Senhor e registrados nos Evangelhos, mas há um que é especial: este que se identifica com as lamentações de Jeremias. A constituição desse poema é lamentação, é dor. Há poemas que, por meio de suas rimas e estrutura, nos dão um sentimento de alegria, mas tanto Lamentações quanto essa declaração de Jesus são cheias de lamento e dor.

O poema está registrado em Mateus 23.37:

Jerusalém, Jerusalém,
que matas os profetas
e apedrejas os que te foram enviados!
Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos,
como a galinha ajunta os seus pintinhos
debaixo das asas,
e vós não o quisestes!
Eis que a vossa casa vos ficará deserta.
Declaro-vos, pois, que, desde agora,
já não me vereis, até que venhais a dizer:
Bendito o que vem em nome do Senhor!

Os especialistas em poesia hebraica dizem que esse trecho da palavra do Senhor Jesus tem uma estrutura de poema igual à de Lamentações de Jeremias.

Quando o Senhor chora por Jerusalém, ele concentra seu sentimento nestas palavras: “Jerusalém, Jerusalém (…) Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas“. Jerusalém é uma cidade, é a capital de Israel. É uma cidade que pode ser achada no mapa, que foi edificada sobre um monte. A história não registra nenhuma cidade do mundo que tenha passado tantos sofrimentos como essa. Segundo alguns autores, desde o início dos registros históricos, Jerusalém já foi destruída e reconstruída por pelo menos vinte vezes.

Mas quando o Senhor Jesus chorou por Jerusalém, ele não estava chorando por uma cidade material, um amontoado de edifícios e ruas. A cidade pela qual ele chorou era uma cidade que podia escolher, podia decidir, podia optar por ser reunida pelo Senhor sob suas asas. O Senhor Jesus queria reunir os filhos de Jerusalém como a galinha ajunta os pintinhos debaixo das asas, mas os israelitas responderam dizendo: “Crucifica-o! Crucifica-o!”. Crucificaram o Senhor fora da cidade, como lixo que não podia permanecer dentro da Cidade Santa. Preferiram um salteador.

Se Jerusalém fosse, de fato, em sua realidade interior, uma cidade santa, como poderia não receber o Santo Senhor Jesus? Portanto o Senhor Jesus não chorou apenas pela Jerusalém do mapa, a Jerusalém da história. Aos olhos do Senhor Jesus, Jerusalém era algo muito mais elevado do que simplesmente uma cidade: ela representava o testemunho de Deus e, por isso, estava relacionada ao eterno propósito de Deus.

Quando era apenas um menino, Jesus disse: “Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai?” (Lc 4.29). O templo de Jerusalém era, no sentimento do Senhor, a casa do Pai. Mas ao chorar por Jerusalém, ele disse: “Eis que a vossa casa vos ficará deserta”. O templo de Deus deveria ser o lugar de descanso de Deus; se, de fato, fosse, o Senhor teria dito: “Esta é a casa de meu Pai”. Mas, a partir do momento em que a realidade interior da presença de Deus não existe mais, por estar o verdadeiro templo de Deus em desolação, o Senhor referiu-se a ele como “a vossa casa”. Os israelitas, no Antigo Testamento, já manifestavam essa indisposição de se arrependerem de seus pecados enquanto se consolavam dizendo que Jerusalém não seria destruída, pois o templo de Deus estava ali: “Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor é este” (Jr 7.4), eles repetiam para se entorpecer.

Na verdade, a glória de Deus já se havia retirado dali, contudo eles ainda falavam: “Este é o templo de Deus, a cidade de Jerusalém não será destruída, pois uma vez que tenhamos o templo de Deus, ele será eternamente o templo de Deus!”. É como os que dizem hoje: “Uma vez que somos a Igreja de Deus, seremos eternamente a Igreja de Deus”. A Igreja de Deus não é a casa do Pai? Sim, no princípio, de fato, era assim. Mas ao chorar por Jerusalém, ele disse: “Eis que a vossa casa vos ficará deserta”. Em Lucas 19.41, ele acrescentou: “Não deixarão em ti pedra sobre pedra”. E a história comprova que essa palavra foi cabalmente cumprida.

O Clamor do Senhor

Portanto, irmãos e irmãs, o choro do Senhor por Jerusalém manifesta a tristeza dele pelo fato de o testemunho de Deus estar em desolação. Por que está em desolação? Porque hoje não vemos nele a face de Deus. Ao ver a situação da Igreja de Deus, sentimo-nos muito envergonhados, porque temos de reconhecer que os filhos de Deus estão, de fato, se dividindo e subdividindo. Por isso precisamos hoje de arrependimento; precisamos ouvir hoje o choro do Senhor: “Jerusalém, Jerusalém…”.

A Igreja somos nós, chamados por Deus para fora do mundo, para sermos testemunhas dele. Quando a Igreja está em desolação, indicada pelo fato de o Senhor Jesus chorar por Jerusalém, ele não chama Jerusalém apenas uma vez, mas clama: “Jerusalém, Jerusalém”. Hoje ele não chora apenas por uma cidade, mas pelo que a cidade representa. Será que estamos ouvindo esse choro? Estamos ouvindo quando ele clama?

Este texto foi extraído e adaptado do livro “O Duplo Chamamento: O Declínio e a Restauração do Testemunho de Deus”, por Christian Chen, Editora dos Clássicos, 2003. Nesse livro, o autor usa as sete ocasiões em que Deus fez um duplo chamamento a alguém (como: “Abraão, Abraão!”) para mostrar o caminho de restauração do testemunho de Deus na Terra. Você pode adquirir este livro através do telefone (19) 3462 9893, pelo e-mail [email protected] ou pelo site www.revistaimpacto.com.

Christian Chen, ex-professor de Física Nuclear na Universidade de São Paulo (USP) e em Taiwan Chung Yuan University, é autor e conferencista, profundo estudioso da Bíblia e das riquezas espirituais acumuladas pelos santos do passado. Reside atualmente em Nova York, EUA.

Experimente Chorar

Leonard Ravenhill

Bem-aventurados aqueles que de coração quebrantado
Com profundo sentimento choram seu pecado.

Nessas linhas estão contidos três elementos vitais: coração quebrantado, choro e pecado. Primeiro, “coração compungido e contrito não o desprezarás, ó Deus”. Aliás, ele só usa vasos quebrados. Quando Jesus multiplicou o pão, primeiro pegou os pães do menino e partiu-os. E só então pôde alimentar a multidão. O vaso de alabastro é outro exemplo. Só depois que ele foi quebrado, o aroma encheu o aposento – e o resto do mundo. E Jesus também disse: “Isto é o meu corpo, que é partido por vós”. E se para o Senhor foi assim, não deverá ser também para o servo? Pois quando procuramos salvar nossa vida, não apenas a perdemos, mas também destruímos a de outros.

Em seguida, chorar pelo pecado. Jeremias clamou: “Oxalá a minha cabeça se transformasse em águas”; e o salmista diz: “Torrentes de águas nascem dos meus olhos”. Irmãos, nossos olhos estão secos porque nosso coração também está. Em nossos dias, é possível ver-se uma religiosidade despida de compaixão. Que coisa mais estranha!

Certa vez, alguns oficiais do Exército da Salvação escreveram a William Booth dizendo que haviam empregado todos os métodos possíveis para levar pessoas a Cristo; e nada. Sugeriram que se fechasse a pequena missão. Booth respondeu através de um telegrama, com apenas duas palavras: “Experimentem chorar”. Foi o que fizeram, e Deus mandou um avivamento.

As escolas bíblicas e seminários não ensinam seus alunos a chorar, e é claro que nem o poderiam. Essa lição só se aprende com o Espírito Santo. Qualquer pregador, por mais títulos e doutorados que possua, não conseguirá muita coisa enquanto não experimentar uma profunda amargura de alma por causa dos pecados que se cometem hoje. David Livingstone costumava orar assim: “Senhor, quando irá cicatrizar-se a chaga do pecado deste mundo?”. E nós, acaso sentimos o peso da perdição da humanidade quando oramos? Será que ensopamos de lágrimas o travesseiro com uma agonizante intercessão como fazia John Welch?

Conta-se que quando Andrew Bonar, deitado em seu leito, ouvia as pessoas caminhando pela rua nos sábados à noite, dirigindo-se para bares ou teatros, sentia o coração pesado e clamava: “Eles estão perdidos, estão perdidos!”.

Infelizmente, irmãos, não possuímos esse peso pelos perdidos. A maioria dos crentes conhece apenas uma longa seqüência de pregações – eloqüentes, sim –, mas sem alma, sem lágrimas, sem ardor espiritual. É tudo que os pregadores têm para oferecer hoje.

E, em terceiro lugar, o que dizer do pecado? Diz a Bíblia que “os loucos zombam do pecado” (e quem zomba do pecado é louco mesmo). Os sábios da igreja apontaram “sete pecados capitais”. É claro que sabemos que eles estavam muito enganados; todos os pecados são capitais. Mas esses sete são o ventre do qual nasceram mais setenta vezes sete milhões de outros pecados. São as sete cabeças de um mesmo monstro que está devorando esta geração a um ritmo aterrador. Estamos vendo uma juventude amante de prazeres, que não liga a mínima para Deus. Enfatuados com seu pseudo-intelectualismo, totalmente indiferentes às coisas espirituais, eles rejeitam os padrões de moralidade vigentes.

Caiamos de joelhos, irmãos. Abandonemos a louca idéia de borrifar perfumes na impiedade individual e internacional com nossas colônias teológicas. Lancemos para toda essa putrefação rios de lágrimas, de oração e de pregações ungidas, para que seja purificada.

Extraído do livro: “Por Que Tarda o Pleno Avivamento?”, de Leonard Ravenhill, Editora Betânia.

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