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CAP 11 – O DEUS QUE GUARDA ANOTAÇÕES?

Certa vez, fui aconselhar um casal em conflito. Esperavam que, com minha sabedoria ao descrever a essência do casamento, ou a beleza de se tornar “um”, eu consertasse aquele relacionamento em uma hora. Em pouco tempo, ambos estavam em lágrimas e, enquanto eu explicava sobre “como alcançar o coração da esposa”, meu telefone toca. Era minha esposa, e suas primeiras palavras foram: “Quero me separar!” Fiquei completamente sem expressão e respondi: “Sim, tudo bem, conversamos sobre isso mais tarde”. Continuei o aconselhamento sem nenhum entusiasmo, a apenas três passos daquele casal. Assim que cheguei a casa, minha esposa estava às gargalhadas, porque sabia o que tinha acontecido. Se desculpou várias vezes, pois, como tivemos dois filhos seguidos, após três anos ela teve seu primeiro ciclo menstrual, e suas emoções estavam um furação. Eu já imaginara isso e demos boas risadas juntos, e o incidente foi resolvido.

Este foi um dos incidentes que eu poderia guardar em minha mente e apresentar sempre que quisesse alguma coisa dela. Ou pior, poderia fazer o mesmo com ela. Como ela abriu a porta, eu tinha todos os direitos de tratá-la da mesma maneira quando discutíssemos. Tomei a decisão de nunca usar isto contra ela pelo resto de minha vida. Sabia das futuras possibilidades de destruição e separação que viriam se eu não tomasse esta decisão. Meu casamento entrou em contagem regressiva para o divórcio e tudo estava em minhas mãos. Pela graça de Deus, tomei a decisão correta.

Havia diferentes razões para eu agir daquela forma. Primeiro, por não ser aquilo que ela queria dizer. Eu a conhecia bem. Segundo, por amá-la tanto que não suportaria vê-la com a tristeza de bagunçar nosso casamento. Tirei o acontecido de minha mente e quando me lembro dele é de forma positiva, e não em momentos sombrios. Finalmente, eu sabia que se mantivesse o assunto em nossas mentes, ele poderia se repetir todas as vezes que ela tivesse uma mínima alteração emocional, e destruir nosso casamento.

Toda vez que guardamos algo ruim que alguém fez contra nós, aprisionamos a pessoa num ciclo de repetir aquilo por várias e várias vezes. Este é o grande motivo pelo qual as pessoas não se livram do ciclo do pecado. O único jeito de libertá-las é jogar fora todas as lembranças do passado e dar a elas um quadro totalmente limpo.

A condenação é devastadora para o coração humano, e a pessoa sempre se lembra de algo errado que fez no passado. O poder do pecado está em trazer de volta o sentimento de condenação e este alcança diretamente nossa fé. Por isso que nossa crença está mais voltada em fazer algo com objetivo de irmos para o céu do que com termos intimidade com Deus.

Quando nossa filha era um bebê, ficou doente e o médico pediu que prestássemos atenção na quantidade de fraldas que ela estava sujando. Fomos religiosos nisso e, a cada vez que seu intestino funcionava, a fralda era trocada e marcávamos um sinal na lista. Após três dias de anotações, ao voltar para casa perguntei: “Onde está nossa maquininha de fazer cocô?” Eu estava definindo meu bebezinho pelas anotações que guardava acerca dela. Certamente que eu estava brincando, mas o conceito é válido quando enfraquecemos os relacionamentos pelas coisas que guardamos. Quando converso com pessoas divorciadas, é interessante ouvir os títulos que um põe no outro: “ela é mentirosa, resmungona”. E a esposa diz: “ele trabalha muito, é controlador”. Mantendo um registro das faltas da outra pessoa, começamos a definir a vida dela por estas lembranças. Eles deram um novo nome ao seu amor, esquecendo completamente daquele que usavam em intimidade, e não sentindo mais a alegria que tinham ao simplesmente pronunciar o nome um do outro.

O amor guarda um registro dos erros? Muitos pais não conseguem ouvir um elogio a seus filhos sem corrigir a pessoa, dizendo que apenas estão agindo bem naquele momento. Às vezes isto é feito como piada, mas de que forma chega aos ouvidos dos filhos? Eles sabem o que os registros têm contra eles, e passam a agir de acordo com os nomes que os pais os chamam. Considere o fato que quando alguém está na fase de mudanças significativas em sua vida, sua família é sua maior desencorajadora. Convencer o pai e a mãe que você não é mais a mesma pessoa, que cresceu, é muitas vezes impossível. Por este motivo, comumente aconselho pessoas a manter certa distância de sua família durante o período de suas mudanças pessoais.

Possivelmente, a grande evidência que as pessoas acreditam que Deus guarda um registro de seus erros é que elas mesmas guardam um registro acurado de seus próprios erros. Se acreditássemos de todo o coração que o Criador não guarda essas memórias, por que nós guardaríamos então? Isto se torna um hábito e não nos permite experimentar nenhum tipo de conforto, além de nos tirar a liberdade. Esquecer nossos erros parece irresponsável e até mesmo fraudulento. Após este fato, as pessoas começam chamar a si mesmas pelo nome do pecado que cometeram. Elas fazem isto porque creem que, aos olhos de Deus, é o que merecem. Eventualmente, quando se encontram no momento de fraqueza pessoal, acreditam que esta é a voz de Deus falando em seus corações. O resultado deste pensamento distorcido é que as pessoas se tornam focadas no pecado. O relacionamento com Deus é baseado na lista de todos os erros que cometeram. As orações são saturadas de pedidos de perdão e promessas de santidade. Gastam muito tempo tentando não fazer certas coisas e ficar livres de outras, e entendem que isso é ser um crente.

Como citei, a maior parte dos cristãos guarda um registro de seus erros, e também dos erros de outras pessoas. E entendem que Deus também faz isso. E eles vão se transformando na imagem deste Deus que, de fato, é exatamente o oposto, o Acusador. Não estou certo se as pessoas já pensaram sobre o quanto de sua fé está relacionada com um Deus que registra os nossos pecados. Muitos acreditam que seu chamado está relacionado com os erros que fizeram no passado. Se for um ex-viciado em drogas, imediatamente pensa que Deus o chamou para ministrar ao mundo das drogas. Se foi uma prostituta, certamente seu chamado é em alcançar outras prostitutas. É uma mentalidade de registrar os pecados, crendo que Deus associa nosso passado com o futuro, e isto não é correto.

O negócio de Deus é restaurar pessoas e não rotulá-las. Note que o divórcio é um pecado imperdoável em muitas igrejas. No momento em que alguém se divorcia, recebe uma marca para o resto de sua vida. Isto é fruto de uma geração que acredita que Deus guarda o registro de todos os seus erros. A crença em um Deus arquivista é tão perversiva que muitos cristãos têm medo de jamais serem perdoados por terem cometidos o “pecado imperdoável”. Isto também é lançado sobre as pessoas como uma forma de manipulação. Eu vivi desta forma no inicio de minha caminhada até perceber que o amor me liberta desta noção ridícula. Este foco nos pecados é demonstrado nos testemunhos que ouvimos, quando a ênfase está no que a pessoa praticou no passado. Um testemunho deveria ser sobre o que Deus é no presente, e só isto já seria poderoso para alcançar milhões de corações. Deus não fica impactado sobre de onde você veio. O que mexe com ele é o relacionamento que vocês têm agora.

Deus não guarda o registro de erros

Fui procurado por uma jovem casada há dois anos. O temperamento de seu marido piorava a cada dia. Começou com gritos chegando ao ponto da agressão física. Ao conversar com o esposo ele me contou sobre uma montanha de erros e ele simplesmente não sabia por onde começar. Essa situação me fez lembrar minha cozinha depois do jantar de Ação de Graças, onde a pia ficava com uma pilha de pratos, copos, vasilhas e só de pensar em começar limpar tudo já me deixava deprimido. Por onde começar? Esta é a pergunta que muitos fazem em seus relacionamentos, inclusive para com Deus. Eles não podem fazer a coisa certa até todos os erros serem limpos. E por não sabermos como começar, terminamos por repetir os mesmos erros e nos encontramos cada vez pior do que estávamos. O marido tomou a decisão de limpar a cozinha do seu casamento. A esposa decidiu destruir todas as lembranças que tinha do passado dele. Ela nunca trouxe seu passado de volta e dedicou o seu tempo a encorajá-lo para boas maneiras. E depois que sua pia estava limpa e seca, eles experimentaram bons momentos de intimidade. Ele sentiu que poderia fazer as mudanças necessárias e foi exatamente o que fez, apoiado pelo fato de a esposa não guardar os registros dos erros dele.

Imagine um Pai que faça o mesmo. Ele não guarda os registros de seus pecados pela mesma razão que a esposa não fez. Ele não quer que você viva com vergonha e desapontamento, porque sabe que isso é mortal para o espírito. Ele quer que você vá em frente. Acredite ou não, a única munição que Deus tem contra seus pecados é o perdão. Aliado ao arrependimento essa é a única arma que funciona. O Pai não guarda o registro dos seus pecados porque se Ele fizesse isso você ficaria enjaulado num ciclo de repetições dos pecados. E é por essa razão que as pessoas cometem sempre os mesmos erros. Eles acreditam que Deus guarda o registro de todos os seus pecados em algum lugar dos céus e falam que, quando morrerem, assistirão um vídeo constrangedor sobre tudo o que fizeram na vida. Por acreditar nesta mentira ficam prisioneiros das lembranças que imaginam que Deus está guardando.

O Pai não registra os pecados porque Ele não quer nada feio guardado em sua mente. Ele é especialista em rasgar essas anotações. O que as Escrituras falam sobre o “pecado imperdoável” é aplicado unicamente aos fariseus que intencionalmente atribuíam as obras de Jesus ao diabo. Eles não eram cristãos. Eu também gostaria de falar que não acredito que o suicídio é um caminho sem volta para o inferno. As denominações que pregam isso não conseguem uma prova escritural para essa opinião. Sem duvida, o suicídio é uma atitude egoísta terrível, mas não quer dizer que seja uma garantia para ir direto ao inferno.

Você é precioso para Deus e quando ele olha pra você, o que vê é um quadro de sua perfeita criação. Ele não quer nada imundo ou não atraente aparecendo nesta obra prima. Imagine se você anotasse todos os erros que seus filhos fizessem e colasse isso na cabeça deles. Quando você ama, esta é a ultima coisa que pensaria em fazer, e Deus não é diferente. Ele é o Pai Amoroso que está sempre limpando seu rosto e ajeitando seus cabelos para uma foto de família. Ele quer que você mostre o que tem de melhor, independente de onde você esteve, ou do que tenha feito.

Deus também não define seu futuro a partir de seu passado. Embora muitas pessoas tenham certa afeição por aqueles que ainda mantêm o seu velho estilo de vida, isso não quer dizer que tenha um ministério relacionado com seu passado. O propósito de Deus pode não ter nada a ver com a vida que a pessoa levava, pois Ele não guarda estes registros nos céus. Deus quer te ver livre do passado, e não quer que você fique falando para as pessoas o quão ruim você era. Acredite ou não, ele jogou isso no mar do esquecimento. Ele não se refere a nós como “um pecador salvo pela graça”, como muitos cristãos proclamam ser. Se você, Jesus e Billy Graham chegassem diante do Pai para ver quem seria o mais limpo e perfeito, Deus declararia a você que os três eram iguais.

Além disso, Deus não rotula pessoas “divorciadas” porque não é isso que mais o incomoda. O pecado do divórcio é aquele contra a intimidade e unidade que muitos casais permitem que se instalem no casamento depois que os papéis são assinados. Infelizmente existem milhões de casais cheios de justiça própria na igreja, que não percebem que estão tão sujos quanto às pessoas que eles estão apontando o dedo.

Deus não fica impressionado e nem está mais disposto a te abençoar por você ter avançado tanto em sua espiritualidade. Ele te ama por você ser seu filho e fazer parte em sua família. Também não é questão de seguir as regras e não pecar, como costumava fazer. Deus nos abençoa porque é abençoador. Quando você for abençoado simplesmente aceite isso e saiba que é porque você é filho. Ele também não guarda um registro das coisas certas que você faz, pois não precisa de uma razão para te abençoar ou te amar. Por você fazer parte da família de Deus, a graça dele foi estendida a você para sempre, independente do que você faça. Essa é a verdade sobre o coração de Deus. E quanto mais conhecermos esta fonte de amor melhor e mais livre nos tornaremos.

Tradução livre e resumida do cap. 11 de Misunderstood God – The lies religion tells about God (O Deus mal compreendido – As mentiras que a religião conta sobre Deus), de Darin Hufford.

 

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5 respostas

  1. DIVÓRCIO
    O pequeno livro de Malaquias está cheio de pregação clara sobre os erros das pessoas que estavam decaindo para a hipocrisia e o ritual vazio. Malaquias mostrou a necessidade deles servirem a Deus com o coração, oferecendo-lhe o que tinham de melhor.
    “Eu odeio o divórcio; eu odeio o homem que faz uma coisa tão cruel assim. Portanto, tenham cuidado, e que ninguém seja infiel à sua mulher” (2:16).
    Malaquias lembra-nos aqui que a vontade de Deus, a respeito do casamento, sempre foi a mesma. Enquanto alguns podem procurar justaficativas baseadas nos abusos que eram tolerados durante a era patriarcal, ou sob a lei de Moisés, Jesus nos diz que a vontade básica de Deus sempre foi a mesma: “Não tendes lido que o Criador, desde o princípio os fez homem e mulher, e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne? . . . Portanto o que Deus ajuntou, não o separe o homem” (Mateus 19:4-6). (Dennis Allan)

    SUICÍDIO
    Conheço pessoas que não se suicidaram ainda, por acreditar que isso os levaria ao inferno, agora diante da colocação acima, eu temo que elas leiam isso, aliás uma delas já leu e comentou comigo. Não acha que isso é um tanto quanto perigoso, de quem seria a responsabilidade caso alguma delas recorram ao suicídio embasados nesta matéria?

    1. Caro irmão Damada,
      Eu traduzi este artigo e o achei maravilhoso, libertador. Não consegui vê-lo com os mesmos olhos que você, como se o artigo defendesse o divórcio e o suicídio. Por outro lado, entendi que aponta a solução para uma importante causa para os mesmos, que seria o registro dos erros e pecados na mente da pessoa, mostrando que é mais fácil separar ou morrer, do que “limpar a pia” (como disse o autor), resolver os problemas, e partir para uma vida saudável. Recomendo a releitura do artigo, sem nenhuma predeterminação para rejeitá-lo. Por outro lado, independente do que for, não podemos atribuir a Bíblia algo que ela não diz, como na questão do suicídio. Os evangélicos condenam os católicos por assumirem que seguem a Bíblia e também as tradições da igreja. Só que muitas coisas que os crentes afirmam ser bíblicas não passam de tradições ou interpretações teológicas influenciadas pelos conceitos da denominação.
      Quanto ao responsável por alguém ler o artigo e encontrar apoio para um suicídio, digo que qualquer escrita pode sofrer interpretações erradas que favorecem o desejo da pessoa, inclusive a própria Bíblia. Creio que, se o leitor estiver numa busca sincera, e não com olhar condenatório, encontrará alívio, um renovo em seu casamento, e nova disposição para viver.

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