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As Lágrimas de Timóteo e O Caminho das Lágrimas

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Por: João A. de Souza Filho

Lembrado das tuas lágrimas, estou ansioso por ver-te, para que eu transborde de alegria…” (2 Tm 1.4).

Duas coisas na vida de Timóteo marcaram a vida do apóstolo Paulo: as lágrimas que Timóteo derramava e a fé genuína, sem fingimento. Paulo está dizendo: “Lembro-me das suas lágrimas e quero muito ver você outra vez para que eu possa ficar cheio de alegria”. As lágrimas de Timóteo eram a alegria de Paulo. E era a lembrança de ver o moço chorando que levava Paulo a orar por ele noite e dia.

Paulo, certamente, via Timóteo chorar. Não se pode afirmar que Timóteo costumava derramar lágrimas enquanto orava nem que o moço era emocionalmente sensível e chorava por qualquer coisa. O certo é que as lágrimas de Timóteo deixaram marcas profundas em Paulo.

Às vezes certas coisas e acontecimentos de nossas vidas deixam marcas nas pessoas que as farão lembrar-se de nós por toda a vida. Depois de anos sem contato, elas nos encontram e mencionam certas coisas sobre nós que nem nos lembrávamos mais. Uma palavra dita, um comentário, um trejeito, um gesto, um acontecimento…

Que marcas deixamos nos outros? A marca do autoritarismo, do temperamento descontrolado, do serviço espontâneo, das horas gastas em oração e jejuns, do ardor pelas almas, da paixão por Jesus, da adoração intensa, da reação às injustiças ou às palavras blasfemas contra nós, de nosso comportamento em casa com a esposa e filhos… São marcas que ficarão na memória dos que nos conhecem.

Por que razão Timóteo chorava? É possível imaginar que Timóteo sentia saudade de casa. Saudade da mãe e da avó que marcaram profundamente sua vida. Quando estava orando, Timóteo não percebia que, misturadas ao calor do evangelho, algumas das lágrimas que lhe rolavam na face eram de saudade de casa. Ou chorava de saudade de seus familiares – às vezes só, escondido – e, quem sabe, surpreendido por Paulo numa dessas ocasiões.

Nada há nas Escrituras que permita tirar conclusões sobre as razões das lágrimas de Timóteo; tudo o que se pode dizer são meras conjecturas. No entanto, para poder responder à pergunta acima, é necessário encontrar uma base histórico-bíblica da razão das lágrimas do jovem discípulo. E, depois de pesquisar, descobre-se que Timóteo aprendeu a chorar com o apóstolo Paulo.

Timóteo chorava porque recebeu de Paulo a marca do sofrimento e do choro. Ele aprendeu com Paulo a derramar-se em lágrimas; sim, aprendeu com o Paulo colérico, durão, às vezes insuportável – porque conseguiu tirar a Barnabé e a João Marcos do sério –, a chorar diante de Deus.

Timóteo estava presente quando Paulo, dirigindo-se aos líderes de Éfeso e Mileto, duas vezes refere-se às lágrimas que derramava, testemunhando de seu ardor pelo evangelho.

Por isso pode-se afirmar que Timóteo aprendeu a chorar com Paulo diante do sofrimento que lhe era imposto pelos perseguidores do evangelho:servindo ao Senhor com toda a humildade, lágrimas e provações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram” (At 20.19). Esses dois homens de Deus sabiam que as lágrimas derramadas pelas perseguições ao evangelho são guardadas por Deus como relicário de uma vida devotada a Deus. “Contaste os meus passos quando sofri perseguições; recolheste as minhas lágrimas no teu odre; não estão elas inscritas no teu livro?” (Sl 56.8). Três coisas são destacadas por Davi: Os passos do perseguido são contabilizados por Deus; as lágrimas são recolhidas numa vasilha e ficam registradas nos anais divinos.

Timóteo aprendeu com Paulo a chorar diante de Deus pela vida dos irmãos. É sobre isso que Paulo se refere quando exorta os líderes da igreja: “Portanto, vigiai, lembrando-vos de que, por três anos, noite e dia, não cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um” (At 20.31). Foram três anos de choro e derramamento de lágrimas pela vida dos irmãos de Éfeso e Mileto. Noite e dia Timóteo via a Paulo orar em lágrimas pelas igrejas, mencionando nome por nome diante de Deus. Paulo escreveu: “Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai…” (Ef 3.14); “fazendo sempre, com alegria, súplicas por todos vós, em todas as minhas orações…” (Fp 1.3).

Timóteo aprendeu com Paulo a chorar diante de Deus pela incompreensão e desprezo dos irmãos que, apesar dos sofrimentos, das perseguições que este sofria dos judeus, não compreendiam o coração do apóstolo e não aceitavam suas exortações. Paulo escreve sobre isso: “Porque, no meio de muitos sofrimentos e angústias de coração, vos escrevi, com muitas lágrimas, não para que ficásseis entristecidos, mas para que conhecêsseis o amor que vos consagro em grande medida” (2 Co 2.4). Timóteo via as lágrimas de seu mentor molharem a carta que Paulo escrevia para as igrejas. Que dedicação de Paulo! Quantas lágrimas Paulo derramava – e Timóteo chorava junto com Paulo.

Timóteo era o companheiro de lágrimas de Paulo. Daí a alegria do apóstolo.

Agora na cela de sua prisão em Roma, havendo já recebido a sentença de morte por decapitação, a mente de Paulo fazia um circuito pelas regiões por onde andara e parou para pensar em cada um de seus companheiros de labuta. Lembrou-se de João Marcos, arrependeu-se de o haver tratado tão mal e agora conseguia enxergar a importância de tê-lo por perto; de Trófimo – como estaria o guerreiro que deixara enfermo em Mileto? Lembrou-se de Epafras ou Epafrodito que adoeceu mortalmente e foi restabelecido por Deus. Que falta lhe fazia a capa que deixou na casa de Carpo em Trôade, e os livros de que tanto gostava – deixara tudo quando fugiu para salvar sua vida. Lembrou-se de Alexandre, sendo agora castigado por Satanás pelos males que lhe infligira, de Demas que renunciou à fé preferindo os prazeres do mundo. E, dentre todas as lembranças, uma cena não lhe saía da mente: as lágrimas de Timóteo.

Lembrado das tuas lágrimas, estou ansioso por ver-te, para que eu transborde de alegria…”.

Lágrimas derramadas em profundo arrependimento marcam o trono de Deus. Ezequias, marcado para morrer – pelo próprio Deus –, em lágrimas, sabendo de sua iminente morte, chorou muitíssimo. Lembrando a Deus que sempre lhe fora fiel e que vivera inteiramente para ele, recebeu do profeta uma boa notícia. Isaías saíra da casa do rei e nem atravessara a praça da cidade quando Deus lhe disse: “Volta e dize a Ezequias, príncipe do meu povo: Assim diz o Senhor, o Deus de Davi, teu pai: Ouvi a tua oração e vi as tuas lágrimas; eis que eu te curarei; ao terceiro dia, subirás à Casa do Senhor” (2 Rs 20.5).

“Vi as tuas lágrimas”. Deus viu as lágrimas de Paulo; viu as de Timóteo; viu as lágrimas de Ezequias – e não verá as nossas?

João A. de Souza Filho é casado com Vanda Beatriz, tem dois filhos e três netos. Exerce seu ministério junto ao corpo de Cristo, a Igreja, em Santa Bárbara D’Oeste, SP. Para mais informações sobre seu ministério, seus artigos e seus livros acesse: www.pastorjoao.com.br

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O Caminho das Lágrimas
Morris Chalfani

Quando Alexander Maclaren foi convidado para ocupar o púlpito de uma grande igreja batista em Manchester, Inglaterra, ele se reuniu com os seus diáconos e disse: “Cavalheiros, precisamos acertar uma coisa antes de eu assumir essa posição. Vocês querem a minha cabeça ou os meus pés? Vocês podem ter ou uma ou os outros, mas não podem ter os dois. Eu posso ir por aí fazendo isto ou aquilo e tomando chá, se é o que vocês querem; mas não esperem que eu lhes traga algo que possa sacudir esta cidade”.

Deus não chama homens para o púlpito a fim de serem pau para toda obra, entregando recadinhos. Ele os chama para se prostrarem rosto em terra diante de sua presença. Os diáconos do Dr.Maclaren entenderam a mensagem; mas quem é que se prostra rosto em terra diante de Deus hoje em dia?

Hudson Taylor, fundador da China Inland Mission (Missão para o Interior da China), conta que quando era estudante universitário, ficou encarregado de cuidar de um homem com um pé gangrenado. Era sua obrigação fazer o curativo no pé do homem todos os dias. Logo ficou sabendo que seu paciente não era cristão e que não entrava numa igreja há mais de quarenta anos. Era tão grande o seu ódio pela religião que se recusou a entrar na igreja por ocasião do enterro da sua esposa.

O jovem Hudson decidiu falar a esse homem a respeito da sua alma cada vez que o visitasse. O homem o xingava e não permitia que ele orasse. O estudante persistiu em lhe apresentar Cristo até um dia em que disse para si mesmo: “É inútil”, e levantou-se para sair do quarto.

Quando chegou à porta, Hudson se voltou e viu o homem olhando para ele como se dissesse: “Como assim, você vai embora hoje sem me falar de Cristo?”. Nisso, o jovem prorrompeu em lágrimas e, voltando para perto da cama, disse: “Quer o senhor queira, quer não, eu preciso liberar a minha alma. Permite que eu ore com o senhor?”.

O homem assentiu, foi tocado e começou a chorar. O coração duro, que parecera impenetrável, finalmente se abrira.

O testemunho de Hudson Taylor sobre essa experiência foi: “Deus quebrou o meu coração a fim de poder, por meu intermédio, quebrar o coração daquele homem ímpio”.

Peça agora ao Espírito Santo que lhe dê um coração sensível e que faça dos seus olhos uma fonte de lágrimas, a fim de que possa, com a compaixão de Cristo, buscar os que estão perdidos e próximos à morte.

Extraído de um artigo publicado originalmente no periódico em inglês “The Herald of His Coming” (edição de julho de 2004), e em “O Arauto da Sua Vinda” (edição de março/abril de 2005).

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